Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!
Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! | |||||||
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Álbum de estúdio de Raul Seixas | |||||||
Lançamento | março de 1987 | ||||||
Gravação | De 24 de fevereiro a 29 de dezembro de 1986 | ||||||
Estúdio(s) | Estúdio independente São Paulo, em São Paulo, e estúdios da gravadora Copacabana, em São Bernardo do Campo | ||||||
Gênero(s) | Rock and roll, country rock, rhythm and blues, blues, gospel | ||||||
Duração | 31:04 | ||||||
Idioma(s) | Português e inglês (faixa 4) | ||||||
Formato(s) | LP, fita cassete e CD | ||||||
Gravadora(s) | Copacabana | ||||||
Produção | Raul Seixas e Rick Ferreira | ||||||
Cronologia de Álbuns de estúdio por Raul Seixas | |||||||
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Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! é o décimo terceiro álbum de estúdio do cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, lançado em março de 1987 pela gravadora Copacabana e gravado entre 24 de fevereiro e 29 de dezembro de 1986 no estúdio independente São Paulo, em São Paulo, e nos estúdios da gravadora Copacabana, em São Bernardo do Campo. Este disco significou a volta ao mercado fonográfico do cantor baiano após quase 3 anos do lançamento de Metrô Linha 743, pela Som Livre.
O álbum foi bem recebido pela crítica especializada e teve vendagens muito boas, rendendo o terceiro disco de ouro do cantor e tornando-se o terceiro disco mais vendido de sua carreira. Entretanto, Raul não voltaria aos palcos - dos quais estava afastado desde dezembro de 1985 - e continuariam seus problemas com drogas e com a pancreatite crônica que levaria, eventualmente, a sua morte dois anos mais tarde. O álbum é, hoje, considerado um dos últimos lampejos da carreira de Raul Seixas, trazendo o seu último grande sucesso solo, "Cowboy Fora da Lei".
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Após o lançamento de Metrô Linha 743, pela Som Livre, Raul experimentou diversos problemas. Em primeiro lugar, problemas com seu último trabalho fonográfico. Embora o disco lançado fosse de excelente qualidade, recebendo revisões positivas unânimes dos críticos especializados, a gravadora carioca decidiu não promovê-lo, alegando que o estouro do orçamento nas gravações - o álbum custou mais de 80 milhões de cruzeiros[nota 1] - consumiu o dinheiro da divulgação. Além do mais, o lançamento simultâneo de um disco ao vivo pela sua antiga gravadora atrapalhou as vendas do novo álbum, segundo o músico baiano. Com isso, as vendas do disco decepcionaram tanto o cantor, quanto a gravadora.[1][2] Com isso, a fama do cantor entre as gravadoras - de mau profissional - só fez aumentar.[3]
Em segundo lugar, problemas com a sua vida pessoal. Raul começou a experimentar, de forma cada vez mais forte, problemas pelo consumo de álcool e outras drogas, associados a sua pancreatite crônica (que levou à retirada de metade do pâncreas em 1979[4]). Desse modo, a partir de 1984, Seixas começa a enfrentar cada vez mais dificuldades em cumprir uma agenda de shows pelo país. Também, em meados de 1985, Raul separa-se de sua mulher, Kika Seixas. Isto leva o cantor a uma espiral de abuso de drogas e shows cancelados.[5] Assim, em dezembro de 1985, Raul faz sua última apresentação naquele ano[6] e, no início do ano seguinte, interna-se na Clínica Tobias, em São Paulo, para tratar o seu alcoolismo. Ele ficaria internado, entre idas e vindas, praticamente o ano todo.[5] Em 24 de fevereiro, ele entra no estúdio independente São Paulo e passa a gravar uma fita para apresentar às gravadoras na tentativa de conseguir um contrato e gravar um novo disco.[7] Assim, consegue um contrato com a pequena gravadora de música sertaneja Copacabana.[5]
Gravação e produção
[editar | editar código-fonte]Raul entrou em estúdio em 24 de fevereiro de 1986 para gravar uma fita e apresentar às gravadoras para conseguir um contrato[7] e acabou fechando com a pequena gravadora Copacabana. A gravação transcorreu-se de forma demorada devido aos problemas de saúde do cantor, que passou boa parte do ano internado na Clínica Tobias, em São Paulo.[5] Assim, os trabalhos encerraram-se apenas no dia 29 de dezembro[8] e a mixagem deu-se em 5 e 6 de janeiro de 1987. O disco foi gravado praticamente ao vivo em estúdio, com apenas a voz sendo adicionada posteriormente. Raul teve a presença de seu guitarrista Rick Ferreira na produção - já que as gravações das bases transcorriam enquanto o cantor estava internado - e de apenas Rick e o engenheiro de som na mixagem, com quase nenhuma interferência da gravadora. Sua quinta e última mulher, Lena Coutinho, aparece em diversas parcerias, além de ter ficado responsável pela parte gráfica da capa.[9]
Resenha musical
[editar | editar código-fonte]O disco começa com uma abertura jazzística e o grito primal do rock, imortalizado por Little Richard em Tutti Frutti,[10] juntamente com "Quando Acabar o Maluco Sou Eu", com guitarras a lá Chuck Berry, um violão 12 cordas estilo The Byrds[11] e uma letra divertidíssima.[9] Segue-se o country rock de banjo e violão de aço[10] "Cowboy Fora da Lei", grande sucesso do disco, com sua mistura de política e medo da idolatria.[9] "Paranóia II (Baby Baby Baby)" é um rock meio surreal, meio jazzístico, mais para o rock dos anos 60. "I Am (Gîtâ)" é uma versão em língua inglesa para o seu maior sucesso, cantada em um inglês shakespeariano e sem orquestras no arranjo,[11] na qual Raul aproveita para dizer coisas que seriam censuradas em português.[10] "Cambalache" é a segunda versão do disco - de um tango de Enrique Santos Discépolo - e com um arranjo "louco, superintuitivo, em três ritmos: a bateria fica no tango, o baixo em blues e a guitarra em rock; todo quebrado". Continua com "Loba", uma valsa rock que tem um tema característico do rock dos anos 50: letra maliciosa e música ingênua. "Canceriano sem Lar (Clínica Tobias Blues)" é um blues típico com rock and roll, rhythm and blues e gospel,[11] composta sobre a rotina de Raul na clínica em que esteve internado para tratar do alcoolismo. "Gente" é bem mais próxima do rock estilo anos 80.[9] "Cantar" é uma balada mais ou menos no estilo Cliff Richard.[11]
Recepção
[editar | editar código-fonte]Lançamento
[editar | editar código-fonte]O álbum foi lançado em março de 1987 e, devido principalmente ao sucesso de "Cowboy Fora da Lei" e de "Quando Acabar o Maluco Sou Eu", vendeu mais de 100 mil das 250 mil cópias que foram editadas, rendendo ao cantor baiano o seu terceiro disco de ouro[12] e consolidando-se como o terceiro disco mais vendido da carreira de Raul.[13] O disco teve três de suas canções vetadas pela censura federal ("Não Quero mais Andar na Contramão", "Check-up" e "Como o Diabo Gosta"), o que fez com que Raul e a gravadora decidissem excluí-las do álbum. Elas seriam lançadas no ano seguinte em um novo disco pela mesma gravadora, A Pedra do Gênesis.[14] "Cowboy Fora da Lei" fez parte da trilha sonora da novela Brega & Chique e contou com a filmagem de um videoclipe para o programa dominical da Rede Globo, o Fantástico.[11]
Fortuna crítica
[editar | editar código-fonte]Críticas profissionais | |
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Avaliações da crítica | |
Fonte | Avaliação |
Folha de S.Paulo (1986) | Favorável[9] |
Jornal do Brasil (1987) | Favorável[10] |
Revista Bizz (1987) | Favorável[11] |
O Estado de S. Paulo (1987) | Favorável[15] |
O álbum foi bem recebido pela crítica, com uma aclamação unânime aos seus esforços. As críticas elogiavam a concisa parte musical - gravada, praticamente, ao vivo em estúdio - e a simplicidade e beleza dos arranjos, assim como no disco anterior, sem grandes orquestrações e apostando em uma banda básica - guitarra, baixo e bateria - e em letras que falavam dos problemas diários do cantor - internações, remédios e problemas de saúde -, ao invés de grandes problemas metafísicos.[5] Continuava apostando na imagem do "roqueiro clássico", em oposição a "essa moçada de guitarra na mão, meio perdida" que formava o BRock dos anos oitenta.[12] Assim, as críticas focam mais nessa construção imagética do cantor, ficando a análise musical e lírica do álbum em segundo plano: o disco é elogiado por ser um trabalho de Raul Seixas, independentemente de suas qualidades. Entretanto, fica cada vez mais evidente na ausência do artista de shows e de aparições em rádio e TV a dificuldade de manter a carreira. Desse modo, o abuso de substâncias e a doença prejudicam a divulgação do trabalho.[5]
Olympio Barbanti, escrevendo para a Folha de S.Paulo, fez uma crítica bem positiva, na qual elogia a simplicidade e a diversidade dos arranjos, bem como a novidade das letras "sem metafísica".[9] Tárik de Souza, no Jornal do Brasil, escreve que o disco "vale quanto pesa" e enfatiza que o álbum traz a mistura de todas as fases da carreira de Raul, chamando-o de "ecumênico".[10] Sônia Maia, da Revista Bizz, faz uma crítica positiva, chamando o disco de "a aula de rock 'n' roll" de Raul Seixas.[11]
Relançamentos
[editar | editar código-fonte]O álbum foi relançado em CD pela Copacabana em 2011.[16]
Legado
[editar | editar código-fonte]O disco é considerado, hoje, um dos últimos lampejos da carreira de Raul Seixas - o último sendo o seu derradeiro álbum com Marcelo Nova, A Panela do Diabo -, trazendo o seu último grande sucesso em vida, "Cowboy Fora da Lei". Tornou-se o terceiro disco mais vendido da carreira de Raul Seixas - atrás apenas de Gita, de 1974, e de Raul Seixas, de 1983.[13]
Faixas
[editar | editar código-fonte]Lado A | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Abertura" - "Quando Acabar o Maluco Sou Eu" | Raul Seixas - Lena Coutinho - Cláudio Roberto | 3:45 | |||||||
2. | "Cowboy Fora da Lei" | Raul Seixas - Cláudio Roberto | 3:38 | |||||||
3. | "Paranóia II (Baby Baby Baby)" | Raul Seixas - Lena Coutinho - Cláudio Roberto | 3:22 | |||||||
4. | "I Am (Gîtâ)" | Raul Seixas - Paulo Coelho - Versão: Raul Seixas | 4:40 | |||||||
5. | "Cambalache" | Enrique Santos Discépolo - Versão: Raul Seixas | 2:38 | |||||||
Duração total: |
18:03 |
Lado B | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Loba" | Raul Seixas - Lena Coutinho - Cláudio Roberto | 2:33 | |||||||
2. | "Canceriano sem Lar (Clínica Tobias Blues)" | Raul Seixas | 3:30 | |||||||
3. | "Gente" | Raul Seixas - Cláudio Roberto | 3:45 | |||||||
4. | "Cantar" | Raul Seixas - Cláudio Roberto | 3:03 | |||||||
Duração total: |
12:51 |
Certificações
[editar | editar código-fonte]País | Provedor | Certificação | Vendas |
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Brasil | ABPD | Ouro[12] | : 250 mil[12] |
Créditos
[editar | editar código-fonte]Créditos dados pelo Discogs.[16]
Músicos participantes
[editar | editar código-fonte]- Guitarra: Rick Ferreira e Antenor Soares Gandra Neto
- Banjo, Lap Steel Guitar, Piano e Teclados: Rick Ferreira
- Baixo: Pedro Ivo Lunardi - Geraldo Vieira - Lívio Benvenuti Júnior (Nenê)
- Bateria: Albino Cezar Infantozzi - Francisco Di Maria Medori Júnior
Ficha técnica
[editar | editar código-fonte]- Direção artística: Juvenal de Oliveira
- Produção: Raul Seixas e Rick Ferreira
- Arranjos: Raul Seixas e Rick Ferreira
- Engenheiro de som: Paulo Roberto Jurazzo, Getúlio B. C. Júnior e Zécafi
- Mixagem: Paulo Roberto Jurazzo, Rick Ferreira e Raul Seixas
- Corte: Getúlio B. C. Júnior
- Concepção, layout e foto da capa: Lena Coutinho
- Foto da contra-capa: Celso Luiz
- Agradecimentos especiais: Maria Melício, Adiel Macedo de Carvalho e Toninho D'Almeida
Notas
- ↑ cerca de meio milhão de reais em 2017.
Referências
- ↑ Soares, 2011, p. 75.
- ↑ O Globo, 14 de julho de 1984.
- ↑ Frank, 1986.
- ↑ Souza, 2011, p.14.
- ↑ a b c d e f Souza, 2011, pp. 202-207.
- ↑ Morre aos 44 Raul Seixas, o maluco beleza. Folha de S. Paulo, Ilustrada, publicado em 22 de agosto de 1989.
- ↑ a b Seixas no estúdio. Folha de S. Paulo, Ilustrada, publicado em 23 de fevereiro de 1986.
- ↑ Pascowitch, 1986.
- ↑ a b c d e f Barbanti, 1986.
- ↑ a b c d e Souza, 1987.
- ↑ a b c d e f g Maia, 1987.
- ↑ a b c d Petta, 1987.
- ↑ a b Menezes, Thales de (28 de junho de 2015). «Raul Seixas completaria 70 anos; leia curiosidades sobre sua vida». Folha de S.Paulo. Consultado em 30 de março de 2017
- ↑ Três músicas de Raul Seixas são vetadas. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 13 de fevereiro de 1987, p. 42.
- ↑ Villas, 1987.
- ↑ a b «Raul Seixas - Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!». Discogs. N.d. Consultado em 28 de março de 2017
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- ALMEIDA, Mauro de. A volta do cowboy Raul Seixas. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 15 de março de 1985, p. 55.
- BARBANTI JÚNIOR, Olympio. O velho rock volta com Raul Seixas. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 31 de dezembro de 1986, p. 32.
- FRANK, Marion. Volte logo, Raul. Publicado em O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 22 de julho de 1986.
- MAIA, Sônia. Raul Seixas: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!. Publicado em Revista Bizz, março de 1987.
- MENEZES, Thales de. Raul Seixas completaria 70 anos; leia curiosidades sobre sua vida. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, em 28 de junho de 2015. Página visitada em 30 de março de 2017.
- PASCOWITCH, Joyce. Entrelinhas. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 30 de dezembro de 1986, p. 32.
- PETTA, Rosangela. Uah-Bap-Lu-Bap-lah-béin-bum! O Maluco Beleza lança seu 14º disco com 250 mil copias vendidas. Publicado em Jornal do Brasil, 23 de março de 1987, p. 39.
- SOARES, Isaac Soares de. Dossiê Raul Seixas. São Paulo: Universo dos Livros, 2011.
- SOUZA, Tárik de. A volta do roqueiro filósofo. Publicado em Jornal do Brasil, 23 de março de 1987, p. 39.
- SOUZA, Lucas Marcelo Tomaz de. Eu devia estar contente: a trajetória de Raul Santos Seixas. Dissertação de mestrado. Marília: Unesp, 2011.
- VILLAS, Alberto. Eu não quero ser Tancredo. Publicado em O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 20 de fevereiro de 1987, p. 3.
- Três músicas de Raul Seixas são vetadas. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 13 de fevereiro de 1987, p. 42.
- Morre aos 44 Raul Seixas, o maluco beleza. Publicado em Folha de S.Paulo, Ilustrada, 22 de agosto de 1989.