Gotthilf Heinrich von Schubert

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Gotthilf Heinrich von Schubert
Gotthilf Heinrich von Schubert
Fotografia por Franz Hanfstaengl (1859)
Nascimento 26 de abril de 1780
Hohenstein-Ernstthal
Morte 1 de julho de 1860 (80 anos)
Laufzorn
Cidadania Reino da Saxônia
Alma mater
Ocupação médico, naturalista, botânico, filósofo, professor universitário, escritor
Prêmios
Empregador(a) Universidade de Munique, Universidade de Erlangen-Nuremberga
Assinatura

Gotthilf Heinrich von Schubert (26 de abril de 1780, em Hohenstein-Ernstthal—1 de julho de 1860, em Laufzorn, uma vila em Oberhaching) foi um médico alemão, naturalista, místico e filósofo natural da era romântica. Sua abreviatura oficial de autor botânico é "Schub."

Biografia[editar | editar código-fonte]

Gotthilf Heinrich Schubert era filho de um pastor e começou a estudar teologia em Leipzig, mas depois trocou seus estudos para medicina, mudando-se a Jena em 1801 e doutorando-se em 1803.[1][2] Na cidade, teve contato com as aulas de Friedrich Schelling, que estavam famosas na divulgação do idealismo e de sua Naturphilosophie. Schubert estabeleceu-se como médico em Altenburg e exerceu a prática médica até 1806, quando então desistiu dela e se dedicou ao trabalho científico autônomo em Dresden.[1] Em Dresden, publicou "Intimações de uma História Geral da Vida" (Ahndungen einer allgemeinen Geschichte des Lebens). Essa obra impactou grandemente a ciência da natureza romântica.[2] Schelling depois alocou Schubert ao cargo de Reitor da Escola de Ciências (Realschule) de Nurembergue.[2][3] Em 1816, tornou-se tutor dos filhos do Grão-Duque Frederico Luís de Meclemburgo em Ludwigslust.[1]

Ele deu palestras altamente aclamadas sobre o "lado noturno" da ciência natural (magnetismo animal, clarividência, sonhos). Em 1819, conseguiu uma cátedra de história natural em Erlangen. Schubert lá deu preleções sobre botânica (abreviatura botânica: Schub.[4]), geognosia, mineralogia e silvicultura e mudou de residência pela última vez em 1827, desde que foi nomeado professor de história natural geral em Munique; foi onde encontrou um amargo adversário em Lorenz Oken.[3] Ele foi o chefe das coleções zoológicas-zootômicas da Academia (hoje Coleção Estatal Zoológica de Munique) e como tal sucedeu Johann Baptist von Spix. Schubert permitiu que jovens zoólogos (Agassiz, Wagler, Wagner e Perty) processassem cientificamente o material de Spix do Brasil.

Em 1836/1837 liderou uma expedição à Palestina, onde foi coletado material zoológico e botânico. Michael Pius Erdl, que acompanhou Schubert, determinou através de extensas medições barométricas que o Vale do Jordão, descendo até o Mar Morto, estava muito abaixo do nível do Mar Mediterrâneo.[5]

Obra[editar | editar código-fonte]

"Naturgeschichte der Reptilien, Amphibien, Fische ... Zum Anschauungs-Unterricht für die Jugend" de Schubert (10ª edição, 1890).

Schubert deu seguimento à Naturwissenchaft do idealismo alemão, ajudando a popularizar a Naturphilosophie de Schelling.[6] Porém, em contraste à atitude analítica de Schelling, a abordagem da ciência de Schubert era mais emotiva, de forma a definir uma versão romântica da Natureza que despertasse sentimentos nos leitores. Ele definiu a Natureza como "um mundo de sonhos encarnado, uma linguagem profética em hieróglifos vivos" e defendeu o empirismo das sensopercepções para desvendá-la.[7] Seu intercâmbio com Schelling foi fundamental à virada intelectual desse último filósofo em 1808-1809. Schubert estudou também com Johann Gottfried von Herder.[6]

Ele estava interessado em uma interpretação geral do cosmos fundamentada religiosamente. Contemporâneos que incluíam Johann Wolfgang von Goethe, Jean Paul, Justinus Kerner e Heinrich von Kleist eram favoráveis ao seu trabalho. Sua principal obra, O Simbolismo dos Sonhos, publicada em 1814, foi um dos livros mais influentes de sua época, cujo impacto vai de E. T. A. Hoffmann a Sigmund Freud e Carl Gustav Jung.[3]

Iniciou a investigação daquilo que chamou de "o lado noturno da natureza", a partir de uma série de palestras que deu em 1808 chamada "Opiniões sobre o Lado Noturno da Ciência Natural" (Ansichten von den Nachtseite der Naturwissenschaft). Nela, defendeu o estudo dos fenômenos obscuros e misteriosos, que possuíam um aspecto de "noite" ou do "oculto". Consistiu de uma exposição romântica que mesclou arte, poesia, ciência e linguagem religiosa, descrevendo uma história humana em que o objetivo da ciência deveria ser o reestabelecimento de uma totalidade unificada que teria existido de início com Deus sob uma Era de Ouro perdida. As Ansichten, junto posteriormente com O Simbolismo dos Sonhos, influenciaram também Schelling e Hegel.[6] Nelas, deu importância ao sobrenatural, defendendo o magnetismo animal como evidência de que o homem poderia se comunicar com a totalidade da "alma do mundo", além de outros fenômenos sonambulísticos transgressivos, como sonhos, êxtase religioso, inspiração artística, doença e loucura, como estados que permitiriam atingir a essência da Natureza.[8] Junto com Schelling, as especulações de Schubert foram importantes aos nascentes estudos sobre a psique, como nas tentativas de descrição da alma e em noções do inconsciente.[9]

Ele refutava a opinião de Descartes e Kant de que os animais seriam apenas máquinas, e defendeu que eles possuem alma com sensações, emoções e memórias.[10]

Justinus Kerner dedicou-lhe a obra A Vidente de Prevorst. O livro de Schubert O Simbolismo dos Sonhos (1814) foi citado por Freud em A Interpretação dos Sonhos e Henri Ellenberger, em The Discovery of the Unconscious, destacou essa obra e A História da Alma por suas antecipações de ideias psicodinâmicas modernas.[6]

Para Schubert, a linguagem dos sonhos era uma linguagem abreviada e hieroglífica mais adequada à natureza da mente do que a linguagem de palavras lenta, ao mesmo tempo menos expressiva e de acordo com leis de associação rápidas "fantasmagóricas".[11] Ele afirmou que os fenômenos dos sonhos eram produto de uma "álgebra superior" conduzida pelo "poeta escondido dentro de nós",[12] e que tal era análoga à linguagem simbólica da Natureza, também encontrada nos mitos antigos.[12][10] Assim, tem uma estrutura semelhante à associação fatal de eventos da vida, com o efeito de que eventos futuros podem ser previstos.[11]

"Com essa relação também pode ser possível recuperar a chave perdida daquela parte da linguagem de sinais da Natureza que ainda não foi desvendada, e isso significaria muito mais para nós do que uma simples extensão de nosso conhecimento arqueológico e mitológico—nós ganharíamos uma compreensão da natureza ao nosso redor que nossos estudos médios da natureza nunca teriam sonhado"[10]

Ele também abordou sobre o desenvolvimento da personalidade, comentando sobre "os fenômenos que usualmente são chamados arrependimento e a transformação do caráter".[12]

"O amor superior é também um espelho no qual a alma se olha todos os dias e aprende a saber o que era e o que significa estar sem esse amor (...). De fato, a metamorfose que ocorre sob a influência desse amor (...) parece-nos estranha (...). Este arrependimento profundo nunca pode enraizar-se numa alma demasiado confiante no seu próprio valor, mas, antes, assume sobretudo a forte necessidade de ajuda de um nível superior e uma consciência de sua própria insuficiência."[12]

Busto em Hohenstein-Ernstthal dedicado por ocasião de seu centésimo aniversário em 1880

Inspirado pelos filósofos da era romântica, Schubert inaugurou um “cristianismo despertador” de amplitude ecumênica para seus alunos, referindo-se aos traços de Deus na natureza e na alma humana. Através de sua síntese de crença simples na Bíblia e filosofia natural de Schelling, ele finalmente se tornou um conquistador bem-sucedido do Esclarecimento Tardio (Spätaufklärung). Em sua obra A História da Alma, publicada em 1830, Schubert fez uma última tentativa de submeter a filosofia romântico-idealista da natureza e da cultura de Herder e Schelling a uma interpretação cristã global.

Em 1824, Carl Friedrich Philipp von Martius nomeou o gênero de planta Schubertia (família Apocynaceae) em sua homenagem.[13]

Distinções[editar | editar código-fonte]

Obras selecionadas[editar | editar código-fonte]

  • Die Kirche und die Götter. Roman. 2 volumes. 1804 – A Igreja e os Deuses.
  • Ansichten von der Nachtseite der Naturwissenschaft. Arnold, Dresden 1808 – Visões do Lado Noturno da Ciência.
  • Handbuch der Naturkunde. 2 volumes. Schrag, Nürnberg 1813 (Vol 1: Handbuch der Mineralogie, Vol 2: Handbuch der Geognosie und der Bergkunde) – Manual de História Natural.
  • Die Symbolik des Traumes. Kunz, Bamberg 1814 – O Simbolismo dos Sonhos.
  • Altes und Neues aus dem Gebiet der innren Seelenkunde, 5 volumes 1817-44 – Velho e Novo no Campo da Psicologia Interior.
  • Reise durch das südliche Frankreich und Italien. 2 volumes. Palm und Enke, Erlangen 1827-1831 – Jornada ao longo do Sul da França e Itália.
  • Die Geschichte der Seele, 2 volumes. Cotta, Stuttgart 1830; – História da Alma.
  • Biographieen und Erzählungen. 4 volumes em 3 tomos. Heyder, Erlangen 1847–1848 – Biografias e Histórias.
  • Der Erwerb aus einem vergangenen und die Erwartungen von einem zukünftigen Leben. Eine Selbstbiographie. 5 volumes. Palm und Enke, Erlangen 1854–1856 – A aquisição de um passado e as expectativas de uma vida futura. Uma autobiografia.
  • Naturgeschichte des Tier-, Pflanzen- und Mineralreichs. Schreiber, Esslingen und München (8ª edição, 1886) – História Natural do Reino Animal, Vegetal e Mineral.[14]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Andreas Eichler: G. H. Schubert – ein anderer Humboldt. Mironde, Niederfrohna 2010, ISBN 978-3-937654-35-5.
  • Waldemar Fromm, ed. (2007). «Schubert, Gotthilf Heinrich von». Neue Deutsche Biographie (NDB) (em alemão). 23. 2007. Berlim: Duncker & Humblot . pp. 612 et seq..
  • Wilhelm Heß (1891). "Schubert, Gotthilf Heinrich v.". In Allgemeine Deutsche Biographie (ADB) (em alemão). 32. Leipzig: Duncker & Humblot. pp. 631–635.
  • Dieter Wölfel: Schubert, Gotthilf Heinrich. In: Biographisch-Bibliographisches Kirchenlexikon (BBKL). Volume 9, Bautz, Herzberg 1995, ISBN 3-88309-058-1, Sp. 1030–1040.
  • Alice Rössler: Personenregister zu: Gotthilf Heinrich von Schubert: Der Erwerb aus einem vergangenen und die Erwartungen von einem zukünftigen Leben. Eine Selbstbiographie. Universitätsbibliothek Erlangen-Nürnberg, Erlangen 2003, ISBN 3-930357-60-7.

Referências

  1. a b c Werner E. Gerabek: Schubert, Gotthild Heinrich. In: Werner E. Gerabek, Bernhard D. Haage, Gundolf Keil, Wolfgang Wegner (Hrsg.): Enzyklopädie Medizingeschichte. de Gruyter, Berlin/ New York 2005, ISBN 3-11-015714-4, S. 1309.
  2. a b c Ffytche, Matt (10 de novembro de 2011). The Foundation of the Unconscious: Schelling, Freud and the Birth of the Modern Psyche (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press 
  3. a b c Schubert, Gotthilf Heinrich von (bayerischer Personaladel 1853) at Deutsche Biographie
  4. Gotthilf Heinrich von Schubert at the International Plant Names Index (ipni.org)
  5. Schubert, Gotthilf Heinrich von (1850). Neuer Nekrolog der Deutschen für das Jahr 1848. Em "Dossier: Erdl, Michael Pius, Dr. med". Arquivado na Wayback Machine em 7 de fevereiro de 2017.
  6. a b c d Fabisiak, Thomas (15 de junho de 2015). The Nocturnal Side of Science in David Friedrich Strauss's Life of Jesus Critically Examined (em inglês). [S.l.]: SBL Press 
  7. Stuckrad, Kocku von (15 de abril de 2016). Western Esotericism: A Brief History of Secret Knowledge (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  8. Barkhoff, Jürgen (9 de julho de 2009). «Romantic science and psychology». In: Nicholas, Saul. The Cambridge Companion to German Romanticism (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press 
  9. ffytche, Matt (2008). "Psychology in Search of Psyches: Friedrich Schelling, Gotthilf Schubert and the Obscurities of the Romantic Soul". In: Faflak, Joel (ed.). Romantic Psyche and Psychoanalysis. Romantic Circles Praxis Series. Praxis.
  10. a b c Stuckrad, Kocku von (15 de fevereiro de 2022). A Cultural History of the Soul: Europe and North America from 1870 to the Present (em inglês). [S.l.]: Columbia University Press 
  11. a b Faksimiledruck der Ausgabe 1814, Heidelberg 1968, S. 1 ff.
  12. a b c d Montiel, Luis (dezembro de 1995). Beer, M. D., ed. «The Symbolism of Dream (1814) by Gotthilf Heinrich von Schubert: another link in the Aurea Catena». History of Psychiatry. 6 (24): 521–532. ISSN 0957-154X. doi:10.1177/0957154x9500602409 
  13. BHL Taxonomic literature : a selective guide to botanical publications
  14. Gotthilf Heinrich von Schubert de.Wikisource

Ligações externas[editar | editar código-fonte]