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Carta de Pero Vaz de Caminha: diferenças entre revisões

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Os portugueses seguem até à praia, onde acontece o primeiro contato com os índios, quando os portugueses praticam o primeiro [[escambo]] com os índios brasileiros. Menciona-se também o [[pau-brasil]] e é narrada a Primeira Missa na nova terra.
Os portugueses seguem até à praia, onde acontece o primeiro contato com os índios, quando os portugueses praticam o primeiro [[escambo]] com os índios brasileiros. Menciona-se também o [[pau-brasil]] e é narrada a Primeira Missa na nova terra.
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== Trecho da Carta ==
== Trecho da Carta ==

Revisão das 16h46min de 19 de maio de 2010

A Carta a el-rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil, popularmente conhecida como Carta de Pero Vaz de Caminha, é o documento no qual Pero Vaz de Caminha registrou as suas impressões sobre a terra que posteriormente viria a ser chamada de Brasil. É o primeiro documento escrito da história do Brasil sendo, portanto, considerado o marco inicial da obra literária no país.

Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Caminha redigiu a carta para o rei D. Manuel I (1495-1521) para comunicar-lhe o descobrimento das novas terras. Datada de Porto Seguro, no dia 1 de Maio de 1500, foi levada a Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota.

A carta conservou-se inédita por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. Foi descoberta em 1773 por José de Seabra da Silva, noticiada pelo historiador espanhol Juan Bautista Muñoz e publicada, pela primeira vez no Brasil, pelo padre Manuel Aires de Casal na sua Corografia Brasílica (1817).

Em 2005 este documento foi inscrito no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Conteúdo da Carta

Carta ao rei D. Manuel, comunicando o achamento da ilha de Vera Cruz.

A Carta é exemplo do deslumbramento do europeu diante do Novo Mundo. Contudo, apresenta informações equivocadas.

Em princípio, Caminha se desculpa pela Carta, a qual considera "inferior". O escrivão documenta os traços de terra e o momento de vista da terra (quando se avistou o Monte Pascoal, a que deu-se o nome de Terra de Vera Cruz).

Os portugueses seguem até à praia, onde acontece o primeiro contato com os índios, quando os portugueses praticam o primeiro escambo com os índios brasileiros. Menciona-se também o pau-brasil e é narrada a Primeira Missa na nova terra.


Trecho da Carta

"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo."

Outros relatos sobre a viagem

Cópia da carta do Rei de Portugal mandada ao Rei de Castela sobre o Descobrimento do Brasil.

Além da Carta de Pero Vaz de Caminha, importante documento na historiografia do país, o primeiro texto impresso que se refere exclusivamente ao descobrimento do Brasil é o panfleto anônimo, escrito em italiano, "Copia de una littera del Re de Portogallo madata al Re de Castella del viaggio & sucesso de India" (Cópia de uma carta do Rei de Portugal mandada ao Rei de Castela acerca da viagem e sucesso da Índia), publicada inicialmente em Roma, em 23 de outubro de 1505, por mestre João de Basicken[1] e logo a seguir em Milão, no mesmo ano:

"Lembra William Brooks Greenlee que 'a autenticidade desta carta é contestável, mas é o mais antigo relato impresso da viagem de Cabral hoje existente.' Apesar disso, como já ressaltou Rubens Borba de Moraes, 'para os brasileiros este panfleto guarda grande interesse, visto que contém as primeiras notícias impressas da descoberta do Brasil pelo "Capitano Generale Petro Alves Cabrale...alla quale terra d'Santa Croce pose il nome..." " (in: Brasiliana da Biblioteca Nacional. p. 33)

Crítica à carta de Pero Vaz de Caminha

A chegada da frota de Cabral às terras americanas, no ano de 1500, desencadeou diversas controvérsias, como a legitimidade da exploração das terras americanas pelos portugueses. Muitas outras nações européias reivindicavam a exploração das novas terras. A solução encontrada pelos portugueses foi a criação de um documento que legitimasse a posse da terra. Sendo um documento oficial, era um relatório de prestação de contas dos fatos públicos, já que nessa perspectiva a história trabalha com documentos. A Carta escrita por Pero Vaz de Caminha tem como principais pontos o mapeamento das condições e possibilidades da terra e a segurança de tornar a nova terra propriedade portuguesa.

Apesar de tudo, a Carta não deixa de ser um laboratório formidável para pesquisa. Analisando a passagem “Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade”, nota-se a forte hierarquização e a posição subalterna do relator. O trecho evidencia que o relator tem um propósito descrever a terra com o interesse específico de informar o rei sobre as possibilidades de exploração. Todo o tempo há uma reverência, seja ao rei, seja ao capitão, seja à Igreja, mostrando que o relator não trata de algo de seu interesse pessoal, mas de interesse maior de um Estado (o português) e de uma entidade religiosa (a Igreja). Isso mostra que os interesses na nova terra não são individuais, mas sim de todo um projeto de exploração, já que Caminha relata toda a visita para pessoas que não estavam ali presentes - e, por isso, tenta a maior objetividade e clareza possível.

A chegada dos portugueses em terras brasileiras mudou completamente o que viria a ser o país Brasil. Mesmo com controvérsias, como a existência ou não do Brasil apenas a partir da chegada européia no território, a Carta de Pero Vaz de Caminha é de importância vital para a historiografia. Dessa maneira, pode-se chegar a conclusão de que não haveria um Brasil antes de 1500, pois a chegada dos portugueses incluiria o Brasil no sistema-mundo, ou seja, inseriria o país no contexto global. A constituição do Brasil como Estado-Nação se dá apenas após a independência no ano de 1822, quando surge uma necessidade de se criar identidade dentro da então colônia que se distanciasse dos moldes metropolitanos devido à insatisfação em relação à postura a metrópole. Ainda assim, a Carta nos confirma que, antes da chegada dos portugueses, já havia sociedades nativas formadas e estabelecidas aqui há muitos anos, cada qual com as especificações de suas culturas; um todo multifacial no território que viria a formar o Estado que temos hoje.

Outro ponto a ser considerado é o fato de que até pouco tempo se discutia bastante se o que é descrito na carta, a chegada lusa em terras americanas, teria ocorrido de forma aleatória ou se os portugueses já tinham conhecimento de tais terras. Tal discussão perdeu bastante força, pois hoje é mais importante não o fato da chegada portuguesa ter sido aleatória ou não, mas sim os tantos anos de colonização e, sobretudo, de exploração sofridos pela antiga maior colônia de Portugual. A configuração atual do Brasil é muito diferente de quando a esquadra de Cabral desembarcou no nordeste brasileiro, e muito, para não dizer quase tudo, do que é visto hoje na cultura, costumes, e no cotidiano brasileiros são conseqüências diretas da colonização portuguesa, como a língua, a religião, as festas, entre outros. Deve-se salientar ainda que nem tudo é advindo dos portugueses, mas da mistura entre ameríndios, europeus e negros africanos que só se deu da forma como conhecemos devido à interferência lusa no processo.

O Pedido Final

O pedido que Caminha faz no último parágrafo da Carta é muitas vezes tido como a primeira tentativa de nepotismo em território brasileiro. O que se verifica é que, na verdade, Caminha quis que D. Manuel libertasse do cárcere o esposo de sua filha Isabel, preso por assalto e agressão[2]. Eis o trecho final no qual o cronista faz o pedido:

"E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê."

Referências

  1. Cópia de uma carta do Rei de Portugal mandada ao Rei de Castela acerca da viagem e sucesso da Índia., Centenário do Descobrimento do Brasil - Memórias da Comissão portuguesa. Página visitada em 24 de abril de 2010.
  2. «A Certidão de Nascimento de um País - Senado.gov.br» 

Ver também

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Ligações externas