Racismo ambiental: diferenças entre revisões

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No Brasil, o racismo e a injustiça ambiental vem se recrudescendo nos últimos anos com o fenômeno do [[bolsonarismo]].<ref>{{Citar web |ultimo=Redação |url=https://www.ecodebate.com.br/2021/04/23/como-a-politica-anti-meio-ambiente-brasileira-reforca-o-racismo-ambiental/ |titulo=Como a política anti meio ambiente brasileira reforça o racismo ambiental |acessodata=2021-05-06 |lingua=pt-BR}}</ref> Os rumos da [[Política ambiental do governo Jair Bolsonaro|política ambiental do governo Bolsonaro]] somam ameaças aos esforços globais de preservação do meio ambiente<ref>{{citar web |URL=https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50851921 |título=Como política ambiental de Bolsonaro afetou imagem do Brasil em 2019 e quais as consequências disso |data=31 de dezembro de 2019 |publicado=BBC News Brasil |autor=}}</ref> à [[necropolítica]].<ref name=":8">{{Citar web |ultimo=Barcelos |primeiro=Liege |url=http://www.ihu.unisinos.br/589963-bolsonaro-e-a-necropolitica |titulo=Bolsonaro e a necropolítica. Artigo de Erick Kayser |acessodata=2021-05-06 |website=www.ihu.unisinos.br |lingua=pt-br}}</ref> Dentro do que se entende como necropolítica, destacam-se as ações contra os povos indígenas e quilombolas, o incentivo aos desmatamentos e a liberação de agrotóxicos.<ref name=":8" />
No Brasil, o racismo e a injustiça ambiental vem diminuindo nos últimos anos com o fenômeno do [[bolsonarismo]].<ref>{{Citar web |ultimo=Redação |url=https://www.ecodebate.com.br/2021/04/23/como-a-politica-anti-meio-ambiente-brasileira-reforca-o-racismo-ambiental/ |titulo=Como a política anti meio ambiente brasileira reforça o racismo ambiental |acessodata=2021-05-06 |lingua=pt-BR}}</ref> Os rumos da [[Política ambiental do governo Jair Bolsonaro|política ambiental do governo Bolsonaro]] somam aos esforços globais de preservação do meio ambiente<ref>{{citar web |URL=https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50851921 |título=Como política ambiental de Bolsonaro afetou imagem do Brasil em 2019 e quais as consequências disso |data=31 de dezembro de 2019 |publicado=BBC News Brasil |autor=}}</ref>.


=== Favelas ===
=== Favelas ===

Revisão das 02h40min de 15 de janeiro de 2024

Dona Miguela Almeida, anciã guarani-kaiowá ao lado de túmulos de parentes assassinados (Caarapó, Mato Grosso do Sul, Brasil)
Racismo ambiental contra o povo guarani-kaiowá (Caarapó, Mato Grosso do Sul, Brasil)

Racismo ambiental é um termo utilizado para descrever a injustiça ambiental em contexto racializado. Refere-se a como comunidades de minorias étnicas são sistematicamente submetidas a situações de degradação ambiental.[1][2][3] Em sentido mais amplo, descreve as relações ecológicas desiguais entre o Norte e o Sul Global, associando-se ao colonialismo, ao neoliberalismo e à globalização.[4]

Conceito

O racismo ambiental (ou racismo meio ambiental) é um termo usado para descrever situações de injustiça social no meio ambiental em contexto racializado, ou seja, nas quais comunidades pertencentes a minorias étnicas, como as populações indígenas, negras e asiáticas, são particularmente afetadas.[1]

Situações de injustiça ambietal podem incluir a inacessibilidade a recursos naturais (como ar limpo, água potável e outros benefícios ecológicos), a exclusão da tomada de decisão sobre territórios tradicionais[5] e recursos naturais locais,[6] e também o sofrimento das mazelas das degradações ambientais, como:

Normalmente, quando referido dentro de um contexto internacional, o racismo ambiental descreve as relações ecológicas desiguais entre as nações industrializadas (o Norte Global) e países mais pobres (o Sul Global).[4] Neste sentido, associa-se diretamente às heranças da história colonial e do neocolonialismo sobre as minorias étnicas, bem como, às forças do neoliberalismo e da globalização advinda das grandes potências capitalistas sobre a biodiversidade nativa e comunidades locais dos países emergentes.[8]

Contexto histórico

O termo "racismo ambiental" foi cunhado em 1982 pelo norte-americano Benjamin Chavis, ativista do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.[9][10]

Conhecido por ter sido, ainda adolescente, assistente de Martin Luther King Jr., Benjamin Chavis foi, posteriormente, notório membro de várias organizações negras estadounidenses, como a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor.

Benjamin Chavis, ativista que cunhou o termo.

Origem

Acredita-se que a frase foi usada pela primeira vez no ano de 1982, no momento em que Chavis gritou "Isto é racismo ambiental!" ao ser preso, durante protesto contra um aterro químico de Bifenilpoliclorado no estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.[11] Neste contexto, Bejamin Chavis cunhou o termo para se referir à:

Discriminação racial no ataque deliberado às comunidades étnicas e minoritárias por meio de sua exposição à locais e instalações de resíduos tóxicos e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na elaboração, cumprimento e reparação das políticas ambientais.[12] [tradução livre]

Robert D. Bullard, "pai da Justiça Ambiental".

Definição

O conceito foi expandido no livro Confronting environmental racism: voices from the grassroots ("Confrontando o racismo ambiental: vozes do movimento de base", tradução live para o português).[1] Esta obra, publicada no ano de 1993, foi organizada pelo intelectual negro Robert D. Bullard, também norte-americano, conhecido por ter cunhado o termo justiça ambiental.[13] No prefácio ao livro de Bullard, Chavis definiu racismo ambiental como:

Discriminação racial na elaboração das políticas ambientais, aplicação e regulação de leis, o ataque deliberado às comunidades de cor por meio de instalações de resíduos tóxicos, a sanção oficial de venenos e poluentes cuja presença causa risco de vida para nossas comunidades e a história da exclusão de pessoas de cor da liderança dos movimentos ecologistas[12] [tradução livre]

Direitos civis e ambientais

Ao longo das décadas 1960, 1970 e 1980, os movimentos por direitos civis nos Estados Unidos conviveram com os movimentos por justiça ambiental. Suas pautas se aproximaram em vários pontos. Covergiram na mobilização de pessoas preocupadas com suas localidades e com a saúde comunitária, ecoando preocupação ambiental e empoderamento político na luta antirracista.[14]

O reconhecimento da noção de racismo ambiental impulsionou o movimento social de justiça ambiental e redefiniu o ambientalismo, movimento que ganhou força nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos.[15]

Internacionalização

Embora o termo tenha origem estadounidense, o racismo ambiental passou a ser utilizado em nível internacional. Exemplos incluem sua utilização por comunidades marginalizadas do Sul Global frente à importação de resíduos perigosos permitidas pelas políticas ambientais de seus países - liberais em relação às pressões das grandes corporações do Norte Global.[4]

No Brasil, foi realizado no ano de 2001 o "Primeiro colóquio internacional sobre justiça ambiental, trabalho e cidadania" na cidade do Rio de Janeiro, marcando a criação da Rede Nacional de Justiça Ambiental. No ano de 2005 ocorreu o "Primeiro seminário brasileiro contra o racismo ambiental". Desta maneira, estes dois termos, originados no contexto norte-americano, foram importados e adaptados para explicar a realidade brasileira.[16][17]

Racismo e injustiça ambiental

Ver artigo principal: Injustiça ambiental

O racismo ambiental é uma forma específica de injustiça ambiental, na qual acredita-se que a causa subjacente é a discriminação étnico-racial.[9][17]

América Latina

Na América Latina, o termo racismo ambiental se difundiu, com mais força, a partir dos anos 2000.[16]

Além da histórica e elevada desigualdade social e discriminação étnica, as situações de injustiça ambiental emergiram em virtude da situação política e econômica dos países latino-americanos no cenário internacional, marcada pela exploração intensiva e simultânea tanto dos recursos naturais, quanto da força de trabalho.[17]

Brasil

Além de marcado por forte concentração de renda e de poder, inúmeras situações de injustiça ambiental e conflitos étnicos são historicamente observados no contexto brasileiro.[18]

Crime ambiental em Brumadinho (Minas Gerais, Brasil): lama tóxica matou o rio que sustentava os Pataxó.

Dois dos maiores desastres ambientais da história recente do Brasil comprovam as teorias de racismo e injustiça ambiental:

Governo Bolsonaro

No Brasil, o racismo e a injustiça ambiental vem diminuindo nos últimos anos com o fenômeno do bolsonarismo.[22] Os rumos da política ambiental do governo Bolsonaro somam aos esforços globais de preservação do meio ambiente[23].

Favelas

O racismo ambiental também se expressa em sua esfera urbana, apesar da luta ambientalista estar frequentemente ligada aos biomas de floresta ou localidades rurais no geral.

No Brasil, em especial, as favelas e regiões de periferia são regiões racializadas e marcadas por um série de violações de direitos,[24] dentre eles, aqueles que giram em torno da tríade "saneamento, saúde e meio ambiente".[25] A negligência da saúde ambiental em saneamento da população negra das periferias e favelas do Brasil é considerada uma forma institucionalizada de racismo ambiental.[25] Além de se expressar por meio da esfera da saúde ambiental, o racismo ambiental nestes locais também se reflete nas altas taxas de homicídio de jovens negros,[24][25] fenômeno por vezes denominado "genocídio do povo negro".[26]

Contaminação da água por agrotóxicos do agronegócio na aldeia guarani-kaiowá de Pyelito Kue (Iguatemi, Mato Grosso do Sul, Brasil), 2012

Terras Indígenas

Os povos indígenas são também acometidos pelo racismo ambiental no Brasil. A contaminação de suas aldeias por agrotóxicos associados ao avanço do agronegócio em território indígena, a falta de território para a manutenção de seus modos tradicionais de vida, a exploração sexual de menores e a precarização da mão de obra, estão entre as causas, por exemplo, do alto índice de suicídio entre os jovens indígenas.[24] O conflito por terra também é responsável por um alto nível de assassinatos de lideranças e desocupações de comunidades.[27]

No ano de 2019, em face ao racismo ambiental, foram registrados:

A cultura devastadora da cana-de-açúcar nas terras tradicionalmente guarani-kaiowá (Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil), 2012.
Resumo do Relatório da Violência contra os Povos Indígenas no Brasil (2019)[28]
número de casos categoria da violência observações
1.120 violências contra o patrimônio dos povos indígenas 256 casos de exploração ilegal de recursos naturais
135 mortes por assassinato 42 casos no bioma da Amazônia e 40 casos no bioma do Cerrado
133 suicídios 59 casos no Amazonas e 34 no Mato Grosso do Sul
Guarani-Kaiowá da aldeia Guyraroka protestam contra as injustiças ambientais (Caarapó, Mato Grosso do Sul), 2018.

Suicídio

Além das exploração ilegal do meio ambiente e dos assassinatos, uma grande faceta do racismo ambiental é a violência autoinfligida.[29] O suicídio entre indígenas, fenômeno associado aos jovens, reflete as pressões da recorrência de situações violentas e dos racismos cotidianos.[29][10] Nos primeiros 19 anos do século XXI, a população Guarani-Kaiowá, do estado do Mato Grosso do Sul, sofreu uma média de 45 suicídios por ano.[29]

Ativismo

O confronto ao racismo ambiental e a defesa dos direitos do meio ambiente são grandes frentes do ativismo indígena contemporâneo.[30]

Outros casos

Comunidades quilombolas, ribeirinhas e ligadas ao extrativismo sustentável também são grupo afetados pelo racismo e injustiça ambiental no Brasil.[20]

Ver também

Referências

  1. a b c Bullard, Robert D. (Ed.). (1993). Confronting environmental racism: Voices from the grassroots. South End Press.
  2. Pacheco, Tania (2008). Inequality, environmental injustice, and racism in Brazil: beyond the question of colour. Development in Practice, 18(6), 713-725.
  3. Herculano, Selene, & Pacheco, Tania (2006). Racismo ambiental, o que é isso. Rio de Janeiro: Projeto Brasil Sustentável e Democrático: FASE.
  4. a b c Figueroa, Robert, & Mills, Claudia (2001). "Environmental justice". In: Dale Jamieson (Ed.) A companion to environmental philosophy. Massachussets/Oxford: Blackwell Publishers. pp. 426-438. ISBN 1-557586-910-3
  5. (em castelhano) Racismo ambiental, conflictos climáticos y la revuelta Sioux en Dakota del Norte. Eldiario.es. 7 de noviembre de 2016.
  6. (em castelhano) Justicia ambiental y climática: de la equidad al funcionamiento comunitario. Ecología Política. 2011.
  7. «Environmental Racism: A Public Health Crisis | Environmental Working Group». www.ewg.org (em inglês). Consultado em 19 de maio de 2021 
  8. (em castelhano) Racismo ambiental y otros ejemplos de capitalismo salvaje. Público. 1 de junho de 2016.
  9. a b (em inglês) Cutter, Susan L. (1995) Race, class and environmental justice. Progress in Human Geography, 19(1), p. 111-122. DOI: 10.1177/030913259501900111
  10. a b Pacheco, Tania & Faustino, Cristiane (2013). "A iniludível e desumana prevalência do racismo ambiental nos conflitos do mapa". In: Porto, Marcelo Firpo; Pacheco, Tania & Leroy (Org.). Injustiça ambiental e saúde no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, pp. 73-114.
  11. Fears, Darryl; Dennis, Brady. «'This is environmental racism'». Washington Post (em inglês). Consultado em 6 de maio de 2021 
  12. a b Chavis, Benjamin (1993). "Foreword". In: Bullard, Robert D. (Ed.). Confronting environmental racism: Voices from the grassroots.. Cambridge: South End Press, pp. 3-6.
  13. Bullard, Robert D. (1993). "Anatomy of environmental racism and the environmental justice movement". Confronting environmental racism: Voices from the grassroots, 15, 15-39.
  14. Calgaro, Cleide, and Moisés João Rech. "Justiça ambiental, direitos humanos e meio ambiente: uma relação em construção." Revista de Direito e Sustentabilidade 3.2 (2017): 1-16.
  15. Lamim-Guedes, V. (2012). Consciência negra, justiça ambiental e sustentabilidade. Sustainability in Debate/Sustentabilidade em Debate, 3(2).
  16. a b SILVA, Lays Helena Paes (2012). Ambiente e justiça: sobre a utilidade do conceito de racismo ambiental no contexto brasileiro. e-cadernos CES, n. 17.
  17. a b c Porto, Marcelo Firpo; Pacheco, Tania & Leroy, Jean Pierre (2013). "Apresentação". In: ______. (Org.) Injustiça ambiental e saúde no Brasil: o mapa de conflitos. Editora Fiocruz, 2013.ISBN: 9788575414347
  18. Porto, Marcelo Firpo & Milanez, Bruno (2009) Eixos de desenvolvimento econômico e geração de conflitos socioambientais no Brasil: desafios para a sustentabilidade e a justiça ambiental. Ciência & Saúde Coletiva, 14: 1.983-1.994, 2009.
  19. Krenak, Ailton (2019). O insustentável abraço do progresso ou era uma vez uma floresta no Rio Doce. Os Indígenas e as Justiças no Mundo Ibero-Americano (Sécs. XVI-XIX), 19.
  20. a b c Carvalho, Diana; Schimidt De Ecoa, Fernanda (3 de agosto de 2020). «Racismo ambiental: Comunidades negras e pobres são mais afetadas por crise climática». Uol. Consultado em 5 de maio de 2021 
  21. País, Ediciones El (29 de janeiro de 2019). «Galeria de fotos: Lama da barragem em Brumadinho ameaça futuro da aldeia Pataxó Hã-hã-hãe». EL PAÍS. Consultado em 6 de maio de 2021 
  22. Redação. «Como a política anti meio ambiente brasileira reforça o racismo ambiental». Consultado em 6 de maio de 2021 
  23. «Como política ambiental de Bolsonaro afetou imagem do Brasil em 2019 e quais as consequências disso». BBC News Brasil. 31 de dezembro de 2019 
  24. a b c Lopes, Sheryda (16 de junho de 2014). «Entendendo o racismo ambiental |». FASE. Consultado em 5 de maio de 2021 
  25. a b c Jesus, Victor de (2020). Racializando o olhar (sociológico) sobre a saúde ambiental em saneamento da população negra: um continuum colonial chamado racismo ambiental. Saúde e Sociedade [online]. v. 29, n. 2 , e180519. ISSN 1984-0470.
  26. Nascimento, Abdias (2016). O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado. [S.l.]: Editora Perspectiva S.A. ISBN 978-85-273-1080-2 
  27. Wenczenovicz, Thaís Janaina, and Ismael Pereira da Silva (2019). "Terras Indígenas: discursos, percursos e racismo ambiental". In: Zuffo, Alan Mario (Org.). A produção do conhecimento nas Ciências Agrárias e Ambientais. Ponta Grossa: Atena Editora, pp. 132-144.
  28. Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados de 2019. Observatório de Violência contra os Povos Indígenas no Brasil.
  29. a b c Rangel, Luciana Helena (2019). Violência autoinfligida: jovens indígenas e os enigmas do suicídio. DESIDADES: Revista Electrónica de Divulgación Científica de la Infancia y la Juventud, (25), 27-38.
  30. «4 ativistas negras explicam por que precisamos nos levantar contra o racismo ambiental». Vogue. Consultado em 6 de maio de 2021 

Ligações externas