França Equinocial
França Equinocial France Équinoxiale Colônia da Coroa francesa | |||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
| |||||||||||||
| |||||||||||||
Continente | América do Sul | ||||||||||||
Região | Maranhão | ||||||||||||
Capital | Saint Louis (São Luís) | ||||||||||||
Língua oficial | Francês e Línguas indígenas | ||||||||||||
Religião | Catolicismo, Religiões Indígenas | ||||||||||||
Forma de governo | Colônia | ||||||||||||
Tenente-geral
• 1612–1615: Daniel de La Touche | |||||||||||||
História | |||||||||||||
|
Denomina-se França Equinocial aos esforços franceses de colonização da América do Sul em torno da linha do Equador (antigamente denominada de linha Equinocial), no século XVII. O mais significativo legado desse empreendimento colonial é a cidade de São Luís, atual capital do estado brasileiro do Maranhão, originalmente uma feitoria francesa.
História
O império colonial Francês
O Império colonial Francês no Novo Mundo também incluía a Nova França ("Nouvelle France") na América do Norte, particularmente no que é hoje a província do Québec, no Canadá, e a França Antártica ("France Antarctique"), na atual cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. As nações ibéricas consideravam que esses assentamentos violavam não apenas a bula papal de 1493, como o Tratado de Tordesilhas (1494), documentos que dividiam o globo igualmente entre ambas, excluindo as demais nações dessa partilha.
Desde 1594, Jacques Riffault estabelecera em "Upaon-açu" (ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de seu compatriota Charles dês Vaux, que havia conquistado a amizade dos indígenas, alcançando inclusive o domínio da língua nativa. Dês Vaux, indo à França, causaria a vinda de Daniel de La Touche, por determinação de Henrique IV de França numa viagem de reconhecimento.
Não obstante aquele soberano ter sido assassinado nesse meio-tempo, La Touche, entusiasmado com a terra, obteve da rainha Maria de Médicis, regente na menoridade de Luís XIII de França, a concessão para estabelecer uma colônia ao sul do Equador, 50 léguas para cada lado do forte a ser construído.[1]
A França Equinocial
A empresa marítima despertou o interesse de particulares calvinistas, como o banqueiro Nicolau de Harley e de François de Rasilly, os quais, em conjunto com a Coroa Francesa, proporcionaram os recursos para o empreendimento. O estabelecimento da chamada França Equinocial iniciou-se em Março de 1612, quando uma expedição francesa partiu do porto de Cancale, na Bretanha, sob o comando de Daniel de La Touche, Senhor de la Ravardière.[1]
Este nobre, que em 1604 havia explorado as costas da Guiana com o navegador Jean Mocquet, havia tido os seus planos de colonização do Novo Mundo adiados devido à morte de Henrique IV de França em 1610. Agora, com cerca de quinhentos colonos a bordo de três navios - "Régente", "Charlote" e "Saint-Anne" -, dirigia-se à costa norte do atual estado brasileiro do Maranhão.
Os franceses, após passarem pelo arquipélago de Fernando de Noronha, desembarcaram, em julho de 1612, na ilha de Upaon-Mirim (atual ilha de Santana, em Humberto de Campos), transferindo-se para Upaon-Açu.[1]
Para facilitar a defesa, os colonos estabeleceram-se numa ilha, onde fundaram um forte denominado de "Saint Louis" (atual Palácio dos Leões), em homenagem ao soberano, Luís XIII de França (1610-1643). No dia 8 de Setembro de 1612, frades capuchinhos rezaram a primeira missa, tendo os colonos iniciado a construção do "Fort Saint Louis".[1]
O forte está localizado entre os rios Anil e Bacanga, de frente para o Golfão Maranhense, proporcionando uma visão estratégica do litoral da ilha.
Segundo relato de Claude d'Abbeville, havia cerca de 12 mil índios na ilha, distribuídos em 27 aldeias, compostas cada uma de 4 cabanas ordenadas.[1] Em sua extensão máxima, o território sob domínio da França Equinocial se estendia desde o litoral maranhense, até o norte do atual estado do Tocantins, dominando também quase todo o leste do Pará e boa parte do Amapá. Os franceses se estabeleceram em São Luís, explorando a região até o Rio Tocantins, no território do Pará. Os franceses foram os primeiros europeus a chegar à foz do Rio Araguaia (região do Bico do Papagaio) em 1613.[2]
Relações com os indígenas
Os padres capuchinhos presentes entre os colonos eram Claude d'Abbeville e Yves d'Évreux, que produziram importantes relatos sobre a presença francesa no Maranhão: "História dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas", escrita por Abbeville e "Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 e 1614", escrita por Evreux.[3]
A chegada dos padres franceses foi em Jeviree (atual São Francisco), aldeia que servia de porto aos tupinambás. Após, seguiu até o Forte (atual Palácio dos Leões) e até o Convento São Francisco, ponto de partida para as visitas pelas aldeias da ilha. A primeira aldeia visitada, foi Turoup (atual bairro do Turu). A última foi Taperoussou (na ilha de Tauá-Mirim), aldeia que foi visitada pelo padre Arsênio, estando o padre Abbeville no Forte, após os conturbados acontecimentos ocorridos em Eussauap.[4] No percurso, os franceses visitaram a aldeia de Juniparã (região da atual Jeniparana), foram à Itapari (atual Itapari), passando por Carnaupió e Uatimbou (atual Timbuba). Na outra margem de Itapari, situava-se Euaive (atual Iguaíba). Porém, para ser visitada, os franceses primeiro foram para Timboí (região da atual praia de Panaquatira), depois fizeram caminho inverso até Juniparã. Desta aldeia, partiram para Eussauap (atual Vinhais Velho), passando por Maioba (atual Maioba) e Coieup (bairro Pão de Açúcar). Os franceses também visitaram outras aldeias da ilha, até retornar ao Forte Saint Louis.[4]
Abbeville enumera 27 aldeias na Ilha Grande,[5] entretanto, muitas dessas aldeias mudavam de local ou se uniam a outras, gerando dificuldade em se saber a sua localização exata. Algumas delas são: Maracana-pisip (atual Maracanã), Araçui Jeuve (atual Araçagi), Pindotube (Pindoba) e Meurutieuve (Miritiua). Algumas dessas aldeias originaram bairros e povoados ou comunidades rurais da ilha, marcando a formação cultural[6] da região.[4]
Os franceses estabeleceram relações com os chefes dessas aldeias em busca de alianças contra os portugueses. Alguns desses chefes (conhecidos como morubixabas) eram: Japiaçu, chefe de Juniparanã (maior aldeia da ilha) e principal aliado dos franceses; Cachorro Grande, chefe de Eucatu (atual povoado de Rio dos Cachorros); Marcoia Peró (onde hoje fica o povoado Maracujá); Su-assuac, da aldeia Coieup; Jacuparim, chefe da aldeia Maioba. Os morubixabas eram escolhidos com base em qualidades pessoais, como a idade, experiência na guerra, oratória, número de familiares, dentre outras.[4]
A sociedade tupinambá, por vezes, era marcada pela disputa entre aldeias, captura de inimigos, rituais de antropofagia e poligamia. As leis francesas tentaram coibir os rituais antropofágicos.[4][7]
Os franceses buscaram catequizar os índios, atribuindo-lhes nomes cristãos, e estabelecendo alianças contra os portugueses. Realizaram também trocas de mercadorias. Exploraram os rios Mearim e Gurupi e iniciaram plantação de algodão, tabaco e cana.[1] Os portugueses, no entanto, viriam a conquistar o Maranhão em 1615.[4]
Expulsão dos franceses
Cientes da presença francesa na região, os portugueses reuniram tropas a partir da Capitania de Pernambuco, sob ordem de Alexandre de Moura e comando de Jerônimo de Albuquerque. Em Guaxenduba, na região do Munim, ocorreu a Batalha de Guaxenduba, vencida pelos portugueses, embora os franceses estivessem em vantagem numérica e de infraestrutura.[1] Os reforços solicitados pelos franceses não chegaram a tempo, encontrando-se a França envolvida em questões dinásticas.[1]
As operações militares culminaram com a capitulação francesa em 4 de novembro de 1615.[8]
Os franceses assinaram um armistício, propondo que a questão da propriedade da terra fosse decidida pela via diplomática, por países contendores. A proposta foi recusada pelos lusitanos, que deram um ultimato para a retirada dos franceses num prazo de cinco meses.[1]
Poucos anos mais tarde, a partir de 1620, iniciou-se o afluxo de colonos oriundos da Capitania de Pernambuco e do Reino de Portugal, tendo a povoação de São Luís começado a crescer, com uma economia baseada principalmente na agro-manufatura açucareira.
Por sua vez, os franceses fizeram novas tentativas de colonização mais ao norte, na foz do rio Amazonas e fracassaram (de onde também foram expulsos) e na região da atual Guiana Francesa, em 1626 onde lograram sucesso. Caiena viria a ser fundada em 1635 por iniciativa da "Compagnie de la France Équinoxiale" (criada nesse ano e recriada em 1645, tendo sido encerrada por duas vezes por dificuldades de gestão).
O estabelecimento francês na Guiana só viria a firmar-se, entretanto, após 1674, quando passou para a administração direta da Coroa Francesa, administrada por um Governador nomeado pelo soberano. Atualmente, a Guiana Francesa é um departamento da França continental.
Legado
Embora não tenham deixado construções, no legado deixado pelos franceses no Maranhão, encontram-se:
- O povoado fundado pelos franceses manteve-se após o domínio português, tendo o seu nome sido aportuguesado para "São Luís";
- É a única capital de estado brasileira fundada por franceses;
- Ao contrário do estabelecimento da França Antártica, na baía de Guanabara, a França Equinocial não conheceu disputas entre católicos e protestantes.
- A Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche foi fundada em 8 de setembro de 2014 e tem como proposta ser um museu de artes, cultura, história e memória da fundação francesa de São Luís, e tem como objetivo o fortalecimento da identidade cultural franco-protestante, também identificada como huguenote que foi a nomenclatura dada aos Reformistas Protestantes da França do Século XVI
- Algumas localidades de São Luís são homenagens aos franceses: Avenida dos Franceses (ligando o aeroporto ao Centro da cidade); Avenida São Luís Rei de França (ligando a Cohab ao Turu); Avenida Daniel de La Touche (ligando a Cohama ao bairro Maranhão Novo); o Palácio La Ravadiére (sede da Prefeitura de São Luís); o Hotel Abbeville; o Colégio Batista Daniel de La Touche; dentre outras.
- O Palácio dos Leões, sede do Governo do Maranhão, foi construído no local do antigo forte fundado pelos franceses.
- O Palácio La Ravardière, sede da Prefeitura de São Luís, tem seu nome em homenagem a Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière.
Ver também
Referências
- ↑ a b c d e f g h i Botelho, Joan (2008). Conhecendo e debatendo a história do Maranhão. [S.l.: s.n.]
- ↑ «Tocantins River». Encyclopedia of Latin American History and Culture
- ↑ Crônica e História: a Companhia de Jesus e a Construção da História do Maranhão, acesso em 26 de novembro de 2016.
- ↑ a b c d e f DARLAN RODRIGO SBRANA (2014). ENTRE REIS, MORUBIXABAS, PRÍNCIPES E PRINCIPAIS: CHEFES TUPINAMBÁ DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS NO TEMPO DA ALIANÇA COM OS FRANCESES (1612 – 1614). [S.l.]: Universidade Federal do Maranhão
- ↑ Arkley Marques Bandeira (2015). «DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS SÍTIOS TUPI NA ILHA DE SÃO LUÍS, MARANHÃO SPATIAL DISTRIBUTION OF TUPI SITES IN SÃO LUÍS ISLAND, MARANHÃO»
- ↑ «Turma do Quinto aposta em toada de Bumba Meu Boi | O Imparcial». O Imparcial. 18 de outubro de 2017
- ↑ DARLAN RODRIGO SBRANA* TAYANNÁ SANTOS CONCEIÇÃO DE JESUS*. «Leis francesas em território tupinambá: uma análise durkheimiana do julgamento de Japiaçu» (PDF)
- ↑ «França Equinocial: colonização francesa no Maranhão». Toda Matéria
Bibliografia
- ABBEVILLE, Claude d'. Historie de la mission des pères capucins en l'isle de Maragnan et terres circonvoisines. Paris, 1614.
- GAFFAREL, Paul Louis Jacques. Histoire du Bresil français au seizième siècle. Paris: Maison Neuve, 1878.