Geologia da Chapada Diamantina
A geologia da Chapada Diamantina procura explicar os processos geológicos que deram origem à Chapada Diamantina, formação orográfica situada na região central do estado brasileiro da Bahia. Toda a sua constituição está no chamado Cráton São Francisco.[1]
A descrição geral do aspecto geológico do acidente geográfico, conforme Roseli Ganem e Maurício Viana, é: "Rochas mais antigas (granito-gnaisses e rochas vulcânicas), de até 3,5 bilhões de anos, ocorrem um pouco mais distantes da área do PNCD, a sudoeste (Brumado, Rio de Contas), ao sul (Tanhaçu) e a leste (após a cidade de Itaetê). Rochas um pouco mais jovens, com idades entre 0,6 e 0,9 bilhão de anos, formadas pela ação de geleiras (conglomerados, arenitos e siltitos), bem como as de origem química marinha (calcários, dolomitos), ocorrem nas proximidades das cidades de Lençóis e Andaraí (a leste delas), ao norte de Palmeiras, em Iraquara e em Itaetê. Há ainda sedimentos quaternários recentes na planície aluvionar dos principais cursos d'água, tais como a do rio Paraguaçu."[2]
Após o surgimento da vida a região teria passado por uma glaciação cerca de 850 milhões de anos atrás, após o que ali teria se formado o Mar Bambuí, voltando a vida com os primitivos estromatólitos até que, por volta de há 650 milhões de anos, a Serra do Espinhaço veio a surgir, coincidindo com o surgimento de vida mais complexa, e teve então início a formação do relevo tal como hoje se encontra.[3] Conforme registrou Oscar P. G. Braun, seu prolongamento dava-se rumo ao norte, possivelmente até o estado do Rio Grande do Norte, dando ao rio S. Francisco outro rumo: "A serra do Espinhaço e seu prolongamento para o norte através da Bahia, até a Chapada Diamantina, provavelmente representava outro grande divisor da drenagem terciária. No cretáceo talvez esse divisor se prolongasse até o Rio Grande do Norte, condicionando o curso do ancestral rio São Francisco a desaguar no Maranhão. A mudança de curso desse rio criou níveis de base locais no Nordeste, em consequência dos quais desenvolveram-se pediplanos peculiares da paisagem nordestina, que não encontram correspondentes no centro-sul do país (ex.: "Superfície Soledade")".[4]
Orogenia[editar | editar código-fonte]
Dez por cento da área brasileira com área sedimentar e metassedimentar, e baixo grau de rocha metamórfica, é ocupada pela Chapada Diamantina, cuja formação data da metade da Era Proterozoica, e são exemplo da evolução da plataforma continental desde então, numa evolução que data de cerca de 1,7 bilhão de anos. Na época o terreno fazia parte do chamado Mar Espinhaço, que a seguir tornou-se o Deserto Tombador para em período subsequente voltar a ser um ambiente aquático, no Mar Caboclo.[3]
A formação do acidente geográfico deve-se a dois processos tectônicos: o primeiro, de soerguimento e abatimento que data de cerca de 1,2 bilhão de anos e duração de 700 milhões de anos, onde a bacia existente foi preenchida por sedimentos que formaram as rochas características; o segundo processo data de 600 milhões de anos, com a formação das montanhas num processo de orogênese chamado de Ciclo Brasiliano, com basculamento e falhamento que, junto a outros fatores externos, originou as atuais formações do relevo sedimentar: planaltos, chapadas tabulares, cuestas, etc.[5]
Estratigrafia[editar | editar código-fonte]
Faz parte do Cráton São Francisco e sua geodiversidade preserva informações para uma compreensão da formação planetária a partir do éon Proterozoico, originando relevos que se tornaram destinos turísticos, como aponta Ricardo Galeno Fraga de Araujo Pereira.[1]
Na área da Chapada a estratigrafia sugerida em 2010 apresenta-se compondo o chamado Supergrupo Espinhaço, que ali se divide em várias formações como a Ouricuri do Ouro, Mangabeira e a Guiné, esta última visível na base do Morro do Pai Inácio onde limita-se com arenito da Formação Tombador, perceptível também na Cachoeira da Fumaça.[3]
Como divisão do Supergrupo tem-se o Grupo Chapada Diamantina, que contém na sua ocorrência rochas das formações Caboclo, Morro do Chapéu e Tombador, que "é a mais visível nos principais atrativos turísticos" além do Pai Inácio como no Serrano, em Lençóis, em que a pedra conglomerada é exposta na superfície; a Formação Morro do Chapéu é exemplo da formação da rocha em "ambiente fluvial desértico" que sucedeu "ambientes de sedimentação do Mesoproterozoico".[3]
Histórico dos estudos geológicos na Chapada[editar | editar código-fonte]
Os primeiros estudos geológicos da região foram feitos por Moraes Rego que, em 1926, realizou um mapa geológico da parte ocidental do estado, na escala de 1:1.000.000, distinguindo na Chapada duas séries distintas: uma algonquiana de Jacobina, mais antiga, e outra mais recente que denominou de Lavras, esta última da era cambriana. Novos estudos foram realizados em 1947, por A. J. Domingues que, identificando caracteres como o gnaisse do grupo Bambuí, atribuiu a mesma datação do pesquisador antecedente. Foi apenas no período da década de 1970 e começo da seguinte que os estudos da área ganharam novo impulso a começar com o trabalho de vários pesquisadores do Departamento Nacional de Produção Mineral e da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais que, em 1974, realizaram um mapa mais detalhado (escala 1:250.000) e "definindo os principais ambientes geológicos e tectônicos"; dois anos depois outros pesquisadores prospectaram fluorita, chumbo e zinco na Serra do Ramalho, o que permitiu expandir o conhecimento a outros crátons do estado (Projeto Fluorita da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral).[6]
Geoparques propostos[editar | editar código-fonte]
Com o surgimento do termo geoturismo em 1994 e o estabelecimento em 2004 da Rede Mundial de Geoparques, no Brasil houve o aumento da instalação de geoparques, surgindo então proposta de instalação destes na região da Chapada, como o Geoparque Serra do Sincorá.[3]
A proposta do Geoparque Serra do Sincorá, feita em 2017, foi elaborada pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e visa disciplinar o uso e conservação de importantes sítios geológicos existentes na chamada "Lavras Diamantinas", que engloba municípios inseridos no contexto do Parque Nacional da Chapada Diamantina e seu entorno, e tendo por objeto sítios como a Rampa do Caim, Caverna Torras, Cachoeira da Donana, o pantanal de Marimbus, etc.[7][3]
Outro geoparque sugerido pela CPRM foi o Alto Rio de Contas, visando as formações existentes na Área de Relevante Interesse Ecológico Nascentes do Rio de Contas e vizinhança.[8]
Referências
- ↑ a b Ricardo Galeno Fraga de Araujo Pereira (4 de junho de 2010). «Geoconservação e desenvolvimento sustentável na Chapada Diamantina (Bahia - Brasil)» (PDF). Universidade do Minho. Consultado em 8 de janeiro de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 16 de agosto de 2017
- ↑ Roseli Senna Ganem; Maurício Boratto Viana (2006). «História ambiental do Parque Nacional da Chapada Diamantina - Ba» (PDF). Câmara dos Deputados. Consultado em 26 de março de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 5 de março de 2022
- ↑ a b c d e f Natália Augusta Rothmann Eschiletti (3 de julho de 2020). «O perfil do geoturista no território proposto para o Geoparque Serra do Sincorá – BA». UCS. Consultado em 16 de março de 2023. Cópia arquivada em 6 de março de 2023.
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- ↑ Oscar P. G. Braun (1970). «Contribuição à Geomorfologia do Brasil Central». IBGE. Consultado em 2 de dezembro de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 2 de dezembro de 2023
- ↑ Jonatas Batista Mattos; Francisco Carlos Fernandes de Paula (2022). «Análise geoambiental de uma microbacia hidrográfica no município de Lençóis, Chapada Diamantina (Bahia), Brasil». Scielo (Sociedade & Natureza, vol. 1, n. 29). Consultado em 16 de abril de 2023. Cópia arquivada em 16 de abril de 2023
- ↑ Marcos Egydio da Silva; Ivo Karmann; Roland Trompette (1989). «Litoestratigrafia do Supergrupo Espinhaço e Grupo Bambuí no Noroeste do Estado da Bahia». Revista Brasileira de Geociências, Volume 19 (USP). Consultado em 6 de maio de 2023. Cópia arquivada em 27 de abril de 2019
- ↑ Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira; Antônio José Dourado Rocha; Augusto J. Pedreira; Carlos Etchevarne; Marjorie Nolasco (2017). «Geoparque Serra do Sincorá (BA) Proposta». CPRM. Consultado em 11 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2023
- ↑ Violeta de Souza Martins; Rogério Valença Ferreira; Thiago Santos Gonçalves; Antônio Raimundo Leone Espinheira; Carlos Alberto Santos Costa; Fabiana Comerlato (2017). «Geoparque Alto Rio de Contas: proposta» (PDF). CPRM. Consultado em 21 de fevereiro de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 24 de setembro de 2018