Milagre grego

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O milagre grego é uma teoria sobre a origem da filosofia concebida no século XIX. Ela defende que a filosofia teria surgido espontaneamente na Grécia Antiga, sendo um acontecimento singular, vindo de um povo excepcional - os gregos -, sem semelhante prévio ou futuro. Segundo esta tese, a filosofia nasceu por si mesma e representa uma ruptura com a tradição poética de Homero e Hesíodo.

A teoria surge em oposição a teoria "Orientalista" ou de filiação oriental, que defendia que a filosofia teria suas bases em conhecimentos herdados de povos orientais, como a astrologia.

Surgimento[editar | editar código-fonte]

A expressão surgiu em 1883, quando Ernest Renan, em uma passagem de seu livro Oração na Acrópole, conta sobre a sua primeira viagem à Grécia e a impressão que a visão da Acrópole lhe causou. Ele traça um paralelo entre o “milagre judaico” e o “milagre grego”.[1]

Já há muito que deixara de acreditar no milagre, no sentido próprio do termo; no entanto, o destino único do povo judeu, que confluiu em Jesus e no cristianismo, afigurava-se-me como algo de inteiramente à parte. Mas eis que ao lado do milagre judeu se vinha postar, para mim, o milagre grego, algo que só existiu uma vez, que jamais fora visto, que não voltará a ver-se, mas cujo efeito durará eternamente, isto é, um tipo de beleza eterna, sem qualquer mácula local ou nacional.[2]

Esta noção é considerada ultrapassada pela historiografia.[3]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Origem da Filosofia[editar | editar código-fonte]

Tratando-se de uma cosmologia, ou um conhecimento racional do funcionamento do mundo e da natureza, a filosofia surgiu a transição do fim do século VII a.C. para o início do século VI a.C., na cidade de Mileto, sendo Tales o primeiro filósofo.[4]

Teoria da Filiação Oriental[editar | editar código-fonte]

Filósofos como Platão e Aristóteles conceberam que os gregos teriam desenvolvido a filosofia a partir de transformações realizadas em conhecimentos advindos de povos orientais - egípcios, assírios, persas, caldeus e babilônicos. Esse conceito se difundiria ao longo dos séculos seguintes, em especial durante o Império Romano, nos séculos II d.C. e III d.C., sendo defendido em especial por pensadores judaicos que buscavam valorizar seus conhecimentos. Foi em oposição a essa teoria que, no século XIX, se desenvolveria a tese do milagre grego.[4]

Críticas[editar | editar código-fonte]

Entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, com a intensificação do debate sobre a origem do pensamento filosófico[5], estudos de diversas áreas das ciências sociais recusaram a tese do milagre grego e sua oposta, a teoria orientalista.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Grandjean, Catherine; Bouyssou, Gerbert S.; Chankowsky, Véronique; Jacquemin, Anne (2022). «Héritages». La Grèce classique. Col: Mondes anciens (em francês). [S.l.]: Belin .
  2. RENAN, Ernest (2011). Oração na Acrópole (PDF). Covilhã: LusoSofia. p. 6 
  3. Grandjean, Catherine; Bouyssou, Gerbert S.; Chankowsky, Véronique; Jacquemin, Anne (2022). «Héritages». La Grèce classique. Col: Mondes anciens (em francês). [S.l.]: Belin .
  4. a b c CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia (13a. edição). São Paulo: Ática, 2003.
  5. BATISTA, Rodrigo Siqueira. Mito, Filosofia e Medicina na Grécia Antiga. 2003. Tese de Doutorado. PUC-Rio.