Nautilidae

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaNautilidae
Ocorrência: Triássico - Recente
Fotografia de uma espécie do gênero Nautilus em Lifou, na Nova Caledônia (Nautilus macromphalus).
Fotografia de uma espécie do gênero Nautilus em Lifou, na Nova Caledônia (Nautilus macromphalus).
Vista externa de uma concha de molusco cefalópode do gênero Nautilus.
Vista externa de uma concha de molusco cefalópode do gênero Nautilus.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Cephalopoda
Subclasse: Nautiloidea
Ordem: Nautilida
Família: Nautilidae
Blainville, 1825[1]
Distribuição geográfica
A região do Indo-Pacífico é o habitat das espécies dos gênero Nautilus e Allonautilus (a partir de 30° de latitude norte, para 30° de latitude sul e 90° a 185° de longitude oeste).[2]
A região do Indo-Pacífico é o habitat das espécies dos gênero Nautilus e Allonautilus (a partir de 30° de latitude norte, para 30° de latitude sul e 90° a 185° de longitude oeste).[2]
Gêneros viventes
Nautilus Linnaeus, 1758
Allonautilus Ward & Saunders, 1997[1]
Vista interna da concha madreperolada de um molusco cefalópode do gênero Nautilus, mostrando suas câmaras compartimentadas. O animal vive na cavidade que desemboca na abertura, com o restante servindo como câmaras de flutuação. Um tubo fino, o sifão, liga todas as câmaras ao corpo, acreditando-se que controle a flutuabilidade, regulando a proporção de gás ou de líquido nas câmaras.[2][3]

Nautilidae Blainville, 1825 (nomeados, em inglês, pearly nautiluses[2]; na tradução para o português, "nautiloides perolados", ou simplesmente denominados nautiloides, nome vernáculo, em português, náutilo[4]) é uma família de moluscos cefalópodes nectônicos marinhos do Indo-Pacífico caracterizada por ter uma grande concha externa calcária (de tipo brevicone)[5], dividida em câmaras (fragmocone)[6] que são perfuradas por um sifão e utilizadas como dispositivo de proteção e flutuação. Sua flutuabilidade é controlada pelo bombeamento de líquido ou gás para dentro e para fora destas câmaras, por osmose[2]; dotando-lhes de movimentos verticais[7], enquanto seus movimentos horizontais são propiciados por jatos de água, expelidos por tubos afunilados, visíveis entre os dois tentáculos mais baixos, impulsionando-lhes para frente ou para trás.[3][8] São considerados fósseis vivos[3], sendo os únicos atualmente pertencentes ao grupo de cefalópodes mais primitivo de todos, a subclasse Nautiloidea, com o ponto alto de sua evolução se situando no período Paleozóico (entre o Ordoviciano e o Devoniano) e com a família Nautilidae aparecendo apenas no Triássico Superior.[1][9] Nautilus e Allonautilus são os últimos gêneros vivos de cefalópodes com concha externa, cujo desenrolar forma uma espiral logarítmica perfeita, porém não atingindo a proporção áurea.[10]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Todas as espécies de Nautilidae descritas para o Holoceno são caracterizadas por apresentar conchas moderadamente lisas e de coloração externa esbranquiçada, de 18[11] ou pouco mais de 22[12] centímetros (comprimento máximo), com uma série de manchas raiadas de coloração avermelhada, sendo dotadas de uma região negra próxima da abertura e cujas voltas da espiral se inserem para o seu interior (espiral convoluta).[11][13][14] Este é madreperolado e dividido em 30[15] até 38 câmaras[3] que apresentam um orifício (sifúnculo) subcentral, com a existência de gargalos sifunculares ortocoaníticos[16][17] que ligam todas as câmaras ao corpo, através do sifão.[3] A abertura é muito larga e sua margem (lábio externo) é bastante fina.[14] O animal, ocupando a câmara mais externa, tem uma cabeça dotada de olhos sulcados, primitivos mas proeminentes[3], porém desprovidos de lente[10], com 60 a 90 apêndices tentaculares, sem sucção, cada um com uma extensão retrátil chamada cirrus. Se perturbado, puxa seus tentáculos para dentro da concha e fecha seu capuz sobre a abertura, como um alçapão.[3][15]

Hábitos e habitat[editar | editar código-fonte]

Estes cefalópodes possuem movimentos lentos, sendo considerados primitivos quando comparados com os seus parentes mais rápidos.[10] Podem nadar entre profundidades de 50[14] ou 90[15] até 300[2] ou quase 500 metros[10] (mas a uma profundidade de aproximadamente 800 metros a sua concha pode implodir)[2], habitando o leste do oceano Índico (ilhas Andamão)[12] até o Pacífico ocidental tropical (nas costas da Indonésia, Palau e Filipinas, até a Nova Guiné, ilhas Salomão, Nova Caledônia e Fiji), em encostas profundas de recifes de coral.[2][10][11][12][15] Possuem hábitos predadores e necrófagos, se alimentando de peixes e crustáceos, manipulando suas presas e passando a comida para a boca (localizada dentro do círculo de tentáculos), onde uma mandíbula semelhante a um bico a rasga em mordidas. Descem durante o dia, para evitar predadores, e durante a noite sobem até os recifes para caçar suas presas.[15][18] Conchas de indivíduos mortos podem flutuar até as costas da África oriental ou do Japão.[11]

Nomenclatura[editar | editar código-fonte]

A denominação Nautilus provém da latinização do grego, nautilos (ναυτίλος), e significa ”marinheiro”, sendo derivado de naus, navio.[19][20]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Algumas populações de Nautilus estão em declínio devido ao excesso de coleta de suas belas conchas. Enquanto sua exportação é proibida em alguns países (como a Indonésia, que proibiu sua coleta e exportação desde 1987), outros países continuam a permitir o seu comércio.[10][18] Em maio de 2016 o Center for Biological Diversity dos Estados Unidos solicitara a proteção das espécies de Nautilidae na Endangered Species Act. Na 17ª Conferência das Partes (CoP17) da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES), realizada na África do Sul, em setembro de 2016, toda a família foi listada no Apêndice II do tratado. A partir de 2 de janeiro de 2017, estas listagens entraram em vigor e a documentação da CITES será necessária para a importação e exportação dessas espécies. Dado o seu crescimento lento, maturidade tardia, baixo rendimento reprodutivo e baixa mobilidade, os nautilóides são particularmente vulneráveis ​​à sobrepesca e extinção; também sendo ameaçados pela acidificação oceânica, o que pode prejudicar a capacidade dos moluscos de construir as conchas de que necessitam para sobreviver.[21][22][23]

2023: três novas espécies do gênero Nautilus[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 2023 um artigo científico publicado na revista ZooKeys identificou três novas espécies do gênero Nautilus: Nautilus samoaensis (em áreas ao redor de Pago Pago, na Samoa Americana), Nautilus vanuatuensis (em Éfaté, Vanuatu) e Nautilus vitiensis (em Viti Levu, Fiji), todas descritas por Barord et al.; o que aumentou para sete o seu número de espécies. De acordo com o estudo, proposto a partir de análises genéticas, há um forte componente geográfico afetando a taxonomia, com as novas espécies provenientes de grupos de ilhas maiores e separadas por pelo menos 200 quilômetros de águas profundas.[24][25][26][27][28]

Taxonomia das espécies viventes[editar | editar código-fonte]

Durante o século XVIII até século XX houve apenas um gênero de Nautilidae (Nautilus), porém a partir do ano de 1997 um estudo publicado por Peter D. Ward e W. Bruce Saunders, "Allonautilus: A New Genus of Living Nautiloid Cephalopod and Its Bearing on Phylogeny of the Nautilida" (Journal of Paleontology Vol. 71, No. 6, pp. 1054-1064), determinou a existência de dois gêneros atuais para esta família.[1][29]

Gêneros, espécies, subespécies[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d «Nautilidae Blainville, 1825» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  2. a b c d e f g Young, Richard E. «Nautiloidea / Nautilidae Blainville, 1825 - Pearly nautiluses» (em inglês). Tree of Life Web Project. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  3. a b c d e f g DUGDALE, H. K.; FAULKNER, D. (janeiro de 1976). Exquisite Living Fossil: The Chambered Nautilus (em inglês). National Geographic. Vol. 149, Nº 1. p. 38-41. 146 páginas.
  4. https://michaelis.uol.com.br/busca?id=yVppl
  5. «brevicone». Michaelis - UOL. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018. ZOOL. Concha curta de curva rombuda, característica de certos moluscos cefalópodes, nautiloides e fósseis. 
  6. «fragmocone». Michaelis - UOL. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018. ZOOL. Concha de molusco cefalópode dividida em câmaras por septos transversais. 
  7. LINDNER, Gert (1983). Moluscos y Caracoles de los Mares del Mundo (em espanhol). Barcelona, Espanha: Omega. p. 240. 256 páginas. ISBN 84-282-0308-3 
  8. Neil, Thomas R.; Askew, Graham (janeiro de 2018). «Swimming mechanics and propulsive efficiency in the chambered nautilus» (em inglês). Royal Society Open Science 5(2). (ResearchGate). 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  9. Monks, Neale. «A Broad Brush History of the Cephalopoda» (em inglês). The Cephalopod Page: Octopus, Squid, Cuttlefish, and Nautilus. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  10. a b c d e f «Nautilus pompilius, Nautiluses» (em inglês). The Cephalopod Page: Octopus, Squid, Cuttlefish, and Nautilus. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  11. a b c d ABBOTT, R. Tucker; DANCE, S. Peter (1982). Compendium of Seashells. A color Guide to More than 4.200 of the World's Marine Shells (em inglês). New York: E. P. Dutton. p. 377. 412 páginas. ISBN 0-525-93269-0 
  12. a b c «Nautilus pompilius Linnaeus, 1758 - emperor nautilus» (em inglês). SeaLifeBase. 1 páginas. Consultado em 23 de outubro de 2018 
  13. «Concha de Nautilidae». i.pinimg.com. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  14. a b c SABELLI, Bruno; FEINBERG, Harold S. (1980). Simon & Schuster's Guide to Shells. An Easy-to-Use Field Guide, With More Than 1230 Illustrations (em inglês). New York: Simon & Schuster. p. 422. 512 páginas. ISBN 0-671-25320-4 
  15. a b c d e «Nautilus, A "Living Fossil" With an Unusual Lifestyle» (em inglês). Waikiki Aquarium (University of Hawaii). 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  16. Departamento de Geologia. «7.2. IDENTIFICAÇÃO DE FÓSSEIS DE CEPHALOPODA» (PDF). Faculdade de Ciências - Universidade de Lisboa. p. 45. 53 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  17. Jaydehawk (23 de julho de 2006). «Nautilus pompilius L.» (em inglês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  18. a b «CHAMBERED NAUTILUS: Nautilus pompilius» (em inglês). National Aquarium - Baltimore, MD. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  19. «nautilus» (em inglês). The Free Dictionary. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018. via Latin from Greek nautilos sailor, from naus ship. 
  20. «"nautilus" in Greek» (em inglês). bab.la. 1 páginas. Consultado em 25 de outubro de 2018 
  21. Valdivia, Abel (31 de maio de 2016). «Protection Sought for Nautilus, Ancient Mollusk Vanishing Due to Shell Trade» (em inglês). Center for Biological Diversity. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  22. «Chambered Nautilus» (em inglês). United States Fish and Wildlife Service. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018. Effective January 2, 2017: The entire family of chambered nautiluses (Nautilidae), which includes two species from the genus Allonautilus (A. perforatus and A. scrobiculatus) and five species from the genus Nautilus (N. belauensis, N. macromphalus, N. pompilius, N. repertus, and N.stenomplahus), has been listed in CITES Appendix II. This means that CITES documentation will be required for import and re-export of these species and items made from them. 
  23. «CONVENTION ON INTERNATIONAL TRADE IN ENDANGERED SPECIES OF WILD FAUNA AND FLORA» (PDF) (em inglês). Seventeenth meeting of the Conference of the Parties, Johannesburg (South Africa), 24 September – 5 October 2016 (CITES). 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  24. Barord, Gregory J.; Combosch, David J.; Giribet, Gonzalo; Landman, Neil; Lemer, Sarah; Veloso, Job; Ward, Peter D. (25 de janeiro de 2023). «Three new species of Nautilus Linnaeus, 1758 (Mollusca, Cephalopoda) from the Coral Sea and South Pacific» (em inglês). ZooKeys 1143. pp. 51–69. Consultado em 23 de março de 2023 
  25. Anderson, Natali (3 de fevereiro de 2023). «Marine Biologists Identify Three New Nautilus Species» (em inglês). Science News. 1 páginas. Consultado em 23 de março de 2023 
  26. a b «Nautilus samoaensis Barord, Combosch, Giribet, Landman, Lemer, Veloso & Ward, 2023» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 23 de março de 2023 
  27. a b «Nautilus vanuatuensis Barord, Combosch, Giribet, Landman, Lemer, Veloso & Ward, 2023» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 23 de março de 2023 
  28. a b «Nautilus vitiensis Barord, Combosch, Giribet, Landman, Lemer, Veloso & Ward, 2023» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 23 de março de 2023 
  29. Ward, Peter D.; Saunders, W. Bruce (novembro de 1997). «Allonautilus: A New Genus of Living Nautiloid Cephalopod and Its Bearing on Phylogeny of the Nautilida» (em inglês). Journal of Paleontology Vol. 71, No. 6. (JSTOR). pp. 1054–1064. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  30. «Allonautilus Ward & Saunders, 1997» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  31. «Nautilus Linnaeus, 1758» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  32. «Nautilus belauensis Saunders, 1981» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 23 de março de 2023 
  33. «Nautilus pompilius Linnaeus, 1758» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  34. «Nautilus pompilius suluensis Habe and Okutani, 1988» (em inglês). ITIS. 1 páginas. Consultado em 21 de outubro de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ícone de esboço Este artigo sobre Cefalópodes, integrado no Projeto Invertebrados é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.