Florestan Fernandes: diferenças entre revisões

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== Biografia ==
== Biografia ==

Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância. Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de [[Carlos Augusto Bresser]] e [[Anna Bresser]], Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina."<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo. pp. 30 a 32</ref> Filho de mãe solteira, não conheceu o pai. O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo, tendo morrido por tuberculose, e a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. 191 pp.</ref> Ganhou o nome do motorista alemão de sua madrinha, amiga de sua mãe. Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade. Também foi [[engraxate]]. Viveu entre a "grande casa" de Dona Hermínia e cortiços, em diversos pontos da cidade.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. p. 29</ref> Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom.<ref name="Brasil Escola">{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/biografia/florestan-fernandes.htm|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012|obra=UFCG.org |publicado=Brasil Escola}}</ref><ref name="Coleção Educadores">OLIVEIRA, Marcos Marques de. ''Florestan Fernandes''. Recife: Massangana, 2010.</ref>
=== Origem e primeiros anos ===
Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância.<ref>{{Citar web |url=https://www.ebiografia.com/florestan_fernandes/ |titulo=Biografia de Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=eBiografia |lingua=pt-br}}</ref> Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de [[Carlos Augusto Bresser]] e [[Anna Bresser]], Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina."<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo. pp. 30 a 32</ref><ref>{{citar web |ultimo=Santos |primeiro=Robinson |url=https://lastro.ufsc.br/?page_id=1367 |titulo=Florestan Fernandes: a formação pela práxis |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal de Santa Catarina]]}}</ref><ref>{{citar web |url=https://docs.ufpr.br/~coorhis/gilmar/florestan.html |titulo=Historiografia Brasileira |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal do Paraná]]}}</ref>

Filho de mãe solteira, não conheceu o pai.<ref>{{citar web |url=https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2011/08/08/em-debate-florestan-fernandes-e-apontado-como-exemplo-para-o-pais |titulo=Em debate, Florestan Fernandes é apontado como exemplo para o país |data=08/08/2011 |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Senado Federal do Brasil]]}}</ref> O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo, tendo morrido por tuberculose, e a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. 191 pp.</ref> Ganhou o nome do motorista alemão de sua madrinha, amiga de sua mãe.<ref>{{citar web |ultimo=Howes |primeiro=Guilherme |url=https://diariosm.com.br/colunistas/2.4254/os-100-anos-de-florestan-1.2245246 |titulo=Os 100 anos de Florestan |data=22 de julho de 2020 |acessodata=14/05/2021 |publicado=Diário de Santa Maria}}</ref> Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade.<ref name=":0">{{Citar web |url=http://cultura.rj.gov.br/centenario-destaca-a-visao-social-da-obra-de-florestan-fernandes-o-patrono-da-sociologia-no-brasil/ |titulo=Centenário destaca a visão social da obra de Florestan Fernandes, O patrono da Sociologia no Brasil |data=2020-12-07 |acessodata=2021-05-14 |website=SECEC-RJ}}</ref> Também foi [[engraxate]].<ref name=":0" /> Viveu entre a "grande casa" de Dona Hermínia e cortiços, em diversos pontos da cidade.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. p. 29</ref><ref>{{Citar web |url=https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/florestan-fernandes.htm |titulo=Florestan Fernandes: biografia, pensamento, obras |acessodata=2021-05-14 |website=Mundo Educação |publicado=[[UOL]] |lingua=pt-br}}</ref>

Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do Bar Bidu, no centro de [[São Paulo]], onde trabalhava como garçom.<ref name="Brasil Escola">{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/biografia/florestan-fernandes.htm|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012|obra=UFCG.org |publicado=Brasil Escola}}</ref><ref name="Coleção Educadores">OLIVEIRA, Marcos Marques de. ''Florestan Fernandes''. Recife: Massangana, 2010.</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Orlandi |primeiro=Ana |url=https://revistapesquisa.fapesp.br/um-intelectual-na-periferia/ |titulo=Um intelectual na periferia |data=2020 |acessodata=2021-05-14 |website=Revista da [[Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]] |lingua=pt-br}}</ref>


Em seus relatos, Florestan contou as dificuldades vivenciadas pelas pessoas que considerava ''lumpen-proletários'' para conseguir até os mais simples empregos, grupo no qual se identificava: "Os preconceitos contra&nbsp;''esse tipo gente''&nbsp;atingiam tais proporções que, nem com o apoio de Clara Augusta Bresser, irmã de minha madrinha, jamais logrei outra espécie de emprego. O mínimo que se pensava, sobre aquele&nbsp;''tipo de gente, é''&nbsp;que éramos&nbsp;''ladrões ou imprestáveis!..."''<ref>{{Citar periódico|ultimo=Fernandes|primeiro=Florestan|data=1994-12-01|titulo=Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante|jornal=Estudos Avançados|volume=8|numero=22|paginas=123–138|issn=0103-4014|doi=10.1590/S0103-40141994000300011|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141994000300011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|acessodata=2017-03-31|arquivourl=https://web.archive.org/web/20101220072916/http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract|arquivodata=2010-12-20|urlmorta=yes}}</ref>&nbsp;
Em seus relatos, Florestan contou as dificuldades vivenciadas pelas pessoas que considerava ''lumpen-proletários'' para conseguir até os mais simples empregos, grupo no qual se identificava: "Os preconceitos contra&nbsp;''esse tipo gente''&nbsp;atingiam tais proporções que, nem com o apoio de Clara Augusta Bresser, irmã de minha madrinha, jamais logrei outra espécie de emprego. O mínimo que se pensava, sobre aquele&nbsp;''tipo de gente, é''&nbsp;que éramos&nbsp;''ladrões ou imprestáveis!..."''<ref>{{Citar periódico|ultimo=Fernandes|primeiro=Florestan|data=1994-12-01|titulo=Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante|jornal=Estudos Avançados|volume=8|numero=22|paginas=123–138|issn=0103-4014|doi=10.1590/S0103-40141994000300011|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141994000300011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|acessodata=2017-03-31|arquivourl=https://web.archive.org/web/20101220072916/http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract|arquivodata=2010-12-20|urlmorta=yes}}</ref>&nbsp;


=== Formação ===
Em 1941, Florestan ingressou na [[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo]], formando-se em [[ciências sociais]]. Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do [[professor]] [[Fernando de Azevedo]], na cadeira de Sociologia II. Na [[Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo|Escola Livre de Sociologia e Política]], obteve o título de mestre com a dissertação "A organização social dos [[Tupinambá]]". Em 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método [[Funcionalismo (ciências sociais)|funcionalista]].
No ano de 1941, Florestan ingressou na [[Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo]] (FFCL), instituto vinculado a [[Universidade de São Paulo]] (USP), formando-se no curso de [[Ciências sociais]].<ref>{{Citar web |ultimo=Viana |primeiro=Eliete |url=http://www.fflch.usp.br/2277 |titulo=Ciclo de seminários homenageia centenário de Florestan Fernandes |data=03/07/2020 |acessodata=2021-05-14 |website=[[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo]] |lingua=pt-br}}</ref>

Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do [[professor]] [[Fernando de Azevedo]], na cadeira de Sociologia II.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-69922010000100009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Entre sociólogos: versões conflitivas da "condição de sociólogo" na USP dos anos 1950-1960 |data=2010-04 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Sociedade e Estado |número=1 |ultimo=Ramassote |primeiro=Rodrigo Martins |paginas=135–142 |lingua=pt |doi=10.1590/S0102-69922010000100009 |issn=0102-6992}}</ref> Na [[Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo|Escola Livre de Sociologia e Política]], obteve o seu título de mestre com a dissertação "''A organização social dos [[Tupinambá]]''".<ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/68176 |titulo=A Organização Social dos Tupinambá |data=1950-03-06 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Revista de História |número=1 |ultimo=Ayrosa |primeiro=Plínio |paginas=112–115 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-9141.v1i1p112-115 |issn=2316-9141}}</ref> No ano de 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método [[Funcionalismo (ciências sociais)|funcionalista]].<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/906219207|título=A funcao social da guerra na sociedade tupinamba|ultimo=Florestan.|primeiro=Fernandes,|data=1970|editora=Livraria Pionera Editora|oclc=906219207}}</ref>


Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica".<ref name="InfoEscola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/sociologia/florestan-fernandes/|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012 |autor=Caroline Borges |coautores= |data=14 de novembro de 2007 |ano= |mes= |formato= |obra= |publicado=InfoEscola |páginas= |língua=pt |citação= }}</ref> Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na [[Campanha de Defesa da Escola Pública]], em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.<ref name="Meu Artigo"/>
Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141996000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=A Sociologia de Florestan Fernandes |data=1996-04 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Estudos Avançados |número=26 |ultimo=Ianni |primeiro=Octávio |paginas=25–33 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-40141996000100006 |issn=0103-4014}}</ref> Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica".<ref name="InfoEscola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/sociologia/florestan-fernandes/|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012 |autor=Caroline Borges |coautores= |data=14 de novembro de 2007 |ano= |mes= |formato= |obra= |publicado=InfoEscola |páginas= |língua=pt |citação= }}</ref><ref>{{citar web |ultimo=Fernandes |primeiro=Florestan |url=https://repositorio.usp.br/single.php?_id=001342356 |titulo=Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1967) |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Universidade de São Paulo]]}}</ref> Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na [[Campanha de Defesa da Escola Pública]], em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.<ref name="Meu Artigo" />


Em 1960, juntamente com outros intelectuais brasileiros, participa da criação da União Cultural Brasil-União Soviética, atual [[União cultural pela amizade dos povos|União Cultural pela Amizade dos Povos]].<ref>[http://www.ucpadp.org.br/pages/historico http://www.ucpadp.org.br/historico.html] Visitado em 15 de junho de 2016</ref>
No ano de 1960, juntamente com outros intelectuais brasileiros, participa da criação da União Cultural Brasil-União Soviética, atual [[União cultural pela amizade dos povos|União Cultural pela Amizade dos Povos]].<ref>{{citar web |url=http://www.ucpadp.org.br/pages/historico |titulo=Histórico |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[União Cultural pela Amizade dos Povos]]}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://teoriaedebate.org.br/estante/nos-e-o-brasil-de-florestan-fernandes/ |titulo=Nós e o Brasil de Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=Teoria e Debate |lingua=pt-BR}}</ref>


=== Carreira ===
=== Carreira ===
[[Imagem:Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964).tif|thumb|Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964)]]
[[Imagem:Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964).tif|thumb|Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964)]]
Durante o período de 1954 e 1964, foi regente da cátedra, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês [[Roger Bastide]] em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na [[cátedra]], com a tese "A integração do negro na sociedade de classes". Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira.<ref name="Meu Artigo"/>
Durante o período de 1954 e 1964, foi regente da cátedra, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês [[Roger Bastide]] em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na [[cátedra]], com a tese "A integração do negro na sociedade de classes".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books/about/A_integra%C3%A7%C3%A3o_do_negro_na_sociedade_de.html?id=pMVQAAAAMAAJ&source=kp_book_description|título=A integração do negro na sociedade de classes: No limiar de uma nova era|ultimo=Fernandes|primeiro=Florestan|data=1965|editora=Dominus Editôra|lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.5216/sec.v5i1.551 |titulo=O dilema racial brasileiro: de Roger Bastide a Florestan Fernandes ou da explicação teórica à proposição política |data=2007-12-05 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Sociedade e Cultura |número=1 |ultimo=SOARES |primeiro=ELIANE VERAS |ultimo2=DE SANTANA BRAGA |primeiro2=MARIA LÚCIA |doi=10.5216/sec.v5i1.551 |issn=1980-8194 |ultimo3=COSTA |primeiro3=DIOGO VALENÇA}}</ref> Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira.<ref name="Meu Artigo"/>


Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista.<ref>{{citar livro|título=A experiência do Cesit: sociologia e política acadêmica nos anos 1960|ultimo=Romão|primeiro=Wagner Melo|editora=FFLCH-USP|ano=2003|local=São Paulo}}</ref><ref name="InfoEscola"/> Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.<ref name="Meu Artigo"/>
Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista.<ref>{{citar livro|título=A experiência do Cesit: sociologia e política acadêmica nos anos 1960|ultimo=Romão|primeiro=Wagner Melo|editora=FFLCH-USP|ano=2003|local=São Paulo}}</ref><ref name="InfoEscola"/> Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.<ref name="Meu Artigo"/>


Aposentado compulsoriamente pela [[ditadura militar]] em 1969, foi ''Visiting Scholar'' na [[Universidade de Columbia]], professor titular na [[Universidade de Toronto]] e ''Visiting Professor'' na [[Universidade de Yale]] e, a partir de 1978, professor na [[Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]] (PUC-SP).<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2238-38752018000100069&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=A CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL DE FLORESTAN FERNANDES |data=2018 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Sociologia &amp; Antropologia |número=1 |ultimo=Blanco |primeiro=Alejandro |ultimo2=Brasil Jr. |primeiro2=Antonio |paginas=69–107 |lingua=pt |doi=10.1590/2238-38752016v813 |issn=2238-3875 |ultimo3=Blanco |primeiro3=Alejandro |ultimo4=Brasil Jr. |primeiro4=Antonio}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2344:catid=28&Itemid=23#:~:text=Aposentado%20compulsoriamente%20pela%20ditadura%20militar,Universidade%20Cat%C3%B3lica%20de%20S%C3%A3o%20Paulo. |titulo=Perfil - Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=[[Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada]]}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Costa |primeiro=Claúdia |url=https://jornal.usp.br/cultura/a-unica-heranca-que-vou-deixar-para-voces-e-o-diploma-universitario/ |titulo=“A única herança que vou deixar para vocês é o diploma universitário” |data=2020-07-17 |acessodata=2021-05-14 |website=[[Jornal da USP]] |lingua=pt-BR}}</ref>
Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi ''Visiting Scholar'' na [[Universidade de Columbia]], professor titular na [[Universidade de Toronto]] e ''Visiting Professor'' na [[Universidade de Yale]] e, a partir de 1978, professor na [[Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]]. Em 1975, veio a público a obra "A revolução burguesa no Brasil",<ref name="InfoEscola"/> que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do [[capitalismo]] no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom [[weberiano|Max Weber]] com interpretações alinhadas à [[dialética marxista]].<ref name="Brasil Escola"/> No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em [[Cuba]], a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais. Em suas análises sobre o [[socialismo]], apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda. Em 1986, foi eleito deputado constituinte pelo [[Partido dos Trabalhadores]], tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita.<ref name="Brasil Escola"/> Em 1990, foi reeleito para a Câmara. Tendo colaborado com a Folha de S.Paulo desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal.


No ano de 1975, veio a público a obra ''A revolução burguesa no Brasil'', que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do [[capitalismo]] no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom [[weberiano|Max Weber]] com interpretações alinhadas à [[dialética marxista]].<ref name="Brasil Escola" /><ref name="InfoEscola" /> No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em [[Cuba]], a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141996000100014&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Florestan Fernandes: a criação de uma problemática |data=1996 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Estudos Avançados |número=26 |ultimo=Cardoso |primeiro=Miriam Limoeiro |paginas=89–128 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-40141996000100014 |issn=0103-4014}}</ref>
Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido no Hospital das Clínicas de São Paulo, realizado pelo professor [[Silvano Raia]]. Porém morreu de problemas em uma diálise devido a falha humana.<ref>{{citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0804200210.htm|titulo=Médico diz foi vítima de uma disputa entre grupos rivais da USP|data=08-04-2002|acessodata=05-06-2020|publicado=Folha de S.Paulo|ultimo=|primeiro=}}</ref>

Em suas análises sobre o [[socialismo]], apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.20396/rho.v12i48.8640025 |titulo=Florestan Fernandes e o marxismo: dois momentos de uma longa trajetória (1946 e 1983) |data=2013-03-21 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Revista HISTEDBR On-line |número=48 |ultimo=Barão |primeiro=Gilcilene de Oliveira Damasceno Barão |paginas=324 |doi=10.20396/rho.v12i48.8640025 |issn=1676-2584}}</ref> No ano de 1986, foi eleito deputado constituinte pelo [[Partido dos Trabalhadores]] (PT), tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita.<ref name="Brasil Escola" /><ref>{{citar web |url=https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao-cidada/constituintes/parlamentaresconstituintes/deputados-constituintes |titulo=DEPUTADOS CONSTITUINTES |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Câmara dos Deputados do Brasil]]}}</ref> Em 1990, foi reeleito para a Câmara.<ref>{{Citar web |url=https://sig.tse.jus.br/ords/dwtse/f?p=1945:1:::NO:RP:P0_HID_MOSTRA:S |titulo=Candidatos eleitos - Período de 1945 a 1990 |acessodata=2021-05-14 |website=[[TSE]]}}</ref> Tendo colaborado com a [[Folha de S.Paulo]] desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal até o ano de 1995.<ref>{{Citar web |url=http://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,florestan-fernandes,709,0.htm |titulo=Florestan Fernandes - personalidades - Estadao.com.br - Acervo |acessodata=2021-05-14 |website=Acervo - [[Estadão]]}}</ref>

== Morte ==
Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido no [[Hospital das Clínicas de São Paulo]], realizado pelo professor [[Silvano Raia]]. Porém morreu de problemas em uma diálise devido a falha humana.<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0804200210.htm |titulo=Médico diz foi vítima de uma disputa entre grupos rivais da USP |data=08-04-2002 |acessodata=05-06-2020 |publicado=[[Folha de S.Paulo]]}}</ref>


=== Legado ===
=== Legado ===
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.<ref>{{Citar web|url=http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|data=|acessodata=|obra=|título=FLORESTAN FERNANDES (1920-1995)|língua=|autor=Profa. Sylvia Gemignani Garcia|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160812110231/http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|arquivodata=2016-08-12|urlmorta=yes}}</ref>
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.<ref>{{Citar web|url=http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|data=|acessodata=|obra=|título=FLORESTAN FERNANDES (1920-1995)|língua=|autor=Profa. Sylvia Gemignani Garcia|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160812110231/http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|arquivodata=2016-08-12|urlmorta=yes}}</ref>


O ex-presidente da República [[Fernando Henrique Cardoso]], que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo.<ref name="InfoEscola"/>
O ex-presidente da República [[Fernando Henrique Cardoso]], que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo.<ref name="InfoEscola"/><ref>{{Citar web |ultimo=Serrano |primeiro=Luiz |url=https://jornal.usp.br/tv-usp/florestan-era-o-que-havia-de-melhor-na-usp-diz-fhc/ |titulo=“Florestan era o que havia de melhor na USP”, diz FHC |data=2020-07-10 |acessodata=2021-05-14 |website=[[Jornal da USP]] |lingua=pt-BR}}</ref>


A biblioteca da [[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo]] recebeu o nome de Biblioteca Florestan Fernandes.<ref>{{Citar web|url=http://biblioteca.fflch.usp.br/|data=|acessodata=19 de agosto de 2017|obra=|título=Biblioteca Florestan Fernandes}}</ref>
A biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo recebeu o nome de [[Biblioteca Florestan Fernandes]].<ref>{{Citar web|url=http://biblioteca.fflch.usp.br/|data=|acessodata=19 de agosto de 2017|obra=|título=Biblioteca Florestan Fernandes}}</ref>


O teatro do campus-sede da [[Universidade Federal de São Carlos]] leva o nome de Florestan Fernandes, e a biblioteca situada em frente a ele possui, em seu último andar, o acervo de livros que Florestan deixou em sua residência. Este acervo conta com clássicos da literatura mundial, obras fundamentais da sociologia, filosofia, política e antropologia, bem como diversos livros da produção literária e científica latino-americana. Parte do acervo está disponível para empréstimo.
O teatro do campus-sede da [[Universidade Federal de São Carlos]] leva o nome de Florestan Fernandes, e a biblioteca situada em frente a ele possui, em seu último andar, o acervo de livros que Florestan deixou em sua residência.<ref>{{Citar web |url=http://www.caev.ufscar.br/florestan-fernandes |titulo=Teatro Universitário Florestan Fernandes — Coordenadoria de Apoio a Eventos Acadêmicos - CAEv |acessodata=2021-05-14 |website=[[Universidade Federal de São Carlos]]}}</ref> Este acervo conta com clássicos da literatura mundial, obras fundamentais da sociologia, filosofia, política e antropologia, bem como diversos livros da produção literária e científica latino-americana. Parte do acervo está disponível para empréstimo.<ref>{{Citar web |url=https://www.bco.ufscar.br/acervos/fundo-florestan-fernandes |titulo=Fundo Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=BCo - Biblioteca Comunitária |publicado=[[Universidade Federal de São Carlos]] |lingua=pt-br}}</ref>


== Principais obras ==
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Revisão das 23h13min de 14 de maio de 2021

Florestan Fernandes
Florestan Fernandes
Nascimento 22 de julho de 1920
São Paulo, SP
Morte 10 de agosto de 1995 (75 anos)
São Paulo, SP
Cidadania Brasil
Alma mater Universidade de São Paulo
Ocupação antropólogo, escritor, político, sociólogo, professor universitário, escritor de não ficção
Profissão sociólogo
Prêmios
Empregador(a) Universidade de Toronto, Universidade de São Paulo

Florestan Fernandes (São Paulo, 22 de julho de 1920 – São Paulo, 10 de agosto de 1995) foi um sociólogo e político brasileiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Patrono da sociologia brasileira sob a lei nº 11.325,[1] também foi deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo participado da Assembleia Nacional Constituinte.[2][3] Recebeu o Prêmio Jabuti em 1964, pelo livro Corpo e Alma do Brasil[4] e Foi agraciado postumamente em 1996 com o Prêmio Anísio Teixeira.[5][6]

Biografia

Origem e primeiros anos

Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância.[7] Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de Carlos Augusto Bresser e Anna Bresser, Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina."[8][9][10]

Filho de mãe solteira, não conheceu o pai.[11] O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo, tendo morrido por tuberculose, e a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica.[12] Ganhou o nome do motorista alemão de sua madrinha, amiga de sua mãe.[13] Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade.[14] Também foi engraxate.[14] Viveu entre a "grande casa" de Dona Hermínia e cortiços, em diversos pontos da cidade.[15][16]

Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do Bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom.[17][18][19]

Em seus relatos, Florestan contou as dificuldades vivenciadas pelas pessoas que considerava lumpen-proletários para conseguir até os mais simples empregos, grupo no qual se identificava: "Os preconceitos contra esse tipo gente atingiam tais proporções que, nem com o apoio de Clara Augusta Bresser, irmã de minha madrinha, jamais logrei outra espécie de emprego. O mínimo que se pensava, sobre aquele tipo de gente, é que éramos ladrões ou imprestáveis!..."[20] 

Formação

No ano de 1941, Florestan ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL), instituto vinculado a Universidade de São Paulo (USP), formando-se no curso de Ciências sociais.[21]

Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II.[22] Na Escola Livre de Sociologia e Política, obteve o seu título de mestre com a dissertação "A organização social dos Tupinambá".[23] No ano de 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método funcionalista.[24]

Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia.[25] Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica".[26][27] Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.[3]

No ano de 1960, juntamente com outros intelectuais brasileiros, participa da criação da União Cultural Brasil-União Soviética, atual União Cultural pela Amizade dos Povos.[28][29]

Carreira

Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964)

Durante o período de 1954 e 1964, foi regente da cátedra, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastide em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na cátedra, com a tese "A integração do negro na sociedade de classes".[30][31] Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira.[3]

Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista.[32][26] Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.[3]

Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi Visiting Scholar na Universidade de Columbia, professor titular na Universidade de Toronto e Visiting Professor na Universidade de Yale e, a partir de 1978, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).[33][34][35]

No ano de 1975, veio a público a obra A revolução burguesa no Brasil, que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do capitalismo no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom Max Weber com interpretações alinhadas à dialética marxista.[17][26] No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em Cuba, a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais.[36]

Em suas análises sobre o socialismo, apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda.[37] No ano de 1986, foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita.[17][38] Em 1990, foi reeleito para a Câmara.[39] Tendo colaborado com a Folha de S.Paulo desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal até o ano de 1995.[40]

Morte

Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido no Hospital das Clínicas de São Paulo, realizado pelo professor Silvano Raia. Porém morreu de problemas em uma diálise devido a falha humana.[41]

Legado

O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.[42]

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo.[26][43]

A biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo recebeu o nome de Biblioteca Florestan Fernandes.[44]

O teatro do campus-sede da Universidade Federal de São Carlos leva o nome de Florestan Fernandes, e a biblioteca situada em frente a ele possui, em seu último andar, o acervo de livros que Florestan deixou em sua residência.[45] Este acervo conta com clássicos da literatura mundial, obras fundamentais da sociologia, filosofia, política e antropologia, bem como diversos livros da produção literária e científica latino-americana. Parte do acervo está disponível para empréstimo.[46]

Principais obras

Florestan começou a escrever no final dos anos 40, e ao longo de sua vida, publicou mais de 50 livros e centenas de artigos. Suas principais obras foram:

  • Organização social dos Tupinambá (1949);
  • A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1952);
  • A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questionamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil, até os anos 50);
  • Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959);
  • Mudanças sociais no Brasil (1960) (nesta obra Florestan faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil);
  • Folclore e mudança social na cidade de São Paulo (1961) (esta obra reúne trabalhos e pesquisas realizadas nos anos em que Florestan foi aluno de Roger Bastide na USP, dedicados a várias manifestações de cultura popular entre crianças da cidade de São Paulo).
  • A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações raciais no Brasil);
  • Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968);
  • Capitalismo dependente e Classes Sociais na América Latina (1973);
  • A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975) (reedição em volume de artigos anteriormente publicados em revisas científicas e dedicados à produção recente da antropologia brasileira);
  • A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica (1975);
  • Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana (1979);
  • O que é Revolução (1981);
  • Poder e Contrapoder na América Latina (1981).

Ver também

Referências

  1. «Lei nº 11.325». www.planalto.gov.br. Consultado em 31 de agosto de 2020 
  2. «Deputado Florestan Fernandes». Câmara dos Deputados. Consultado em 21 de julho de 2017 
  3. a b c d Bianca Wild. «Florestan Fernandes». Meu Artigo. Consultado em 22 de julho de 2012 
  4. «Premiados do Ano | 62º Prêmio Jabuti». www.premiojabuti.com.br. Consultado em 31 de agosto de 2020 
  5. «Agraciados». Prêmio Anísio Teixeira 
  6. Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «FERNANDES, FLORESTAN». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  7. «Biografia de Florestan Fernandes». eBiografia. Consultado em 14 de maio de 2021 
  8. GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo. pp. 30 a 32
  9. Santos, Robinson. «Florestan Fernandes: a formação pela práxis». Universidade Federal de Santa Catarina. Consultado em 14 de maio de 2021 
  10. «Historiografia Brasileira». Universidade Federal do Paraná. Consultado em 14 de maio de 2021 
  11. «Em debate, Florestan Fernandes é apontado como exemplo para o país». Senado Federal do Brasil. 8 de agosto de 2011. Consultado em 14 de maio de 2021 
  12. GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. 191 pp.
  13. Howes, Guilherme (22 de julho de 2020). «Os 100 anos de Florestan». Diário de Santa Maria. Consultado em 14 de maio de 2021 
  14. a b «Centenário destaca a visão social da obra de Florestan Fernandes, O patrono da Sociologia no Brasil». SECEC-RJ. 7 de dezembro de 2020. Consultado em 14 de maio de 2021 
  15. GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. p. 29
  16. «Florestan Fernandes: biografia, pensamento, obras». Mundo Educação. UOL. Consultado em 14 de maio de 2021 
  17. a b c «Florestan Fernandes». UFCG.org. Brasil Escola. Consultado em 22 de julho de 2012 
  18. OLIVEIRA, Marcos Marques de. Florestan Fernandes. Recife: Massangana, 2010.
  19. Orlandi, Ana (2020). «Um intelectual na periferia». Revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Consultado em 14 de maio de 2021 
  20. Fernandes, Florestan (1 de dezembro de 1994). «Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante». Estudos Avançados. 8 (22): 123–138. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141994000300011. Consultado em 31 de março de 2017. Arquivado do original em 20 de dezembro de 2010 
  21. Viana, Eliete (3 de julho de 2020). «Ciclo de seminários homenageia centenário de Florestan Fernandes». Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Consultado em 14 de maio de 2021 
  22. Ramassote, Rodrigo Martins (abril de 2010). «Entre sociólogos: versões conflitivas da "condição de sociólogo" na USP dos anos 1950-1960». Sociedade e Estado (1): 135–142. ISSN 0102-6992. doi:10.1590/S0102-69922010000100009. Consultado em 14 de maio de 2021 
  23. Ayrosa, Plínio (6 de março de 1950). «A Organização Social dos Tupinambá». Revista de História (1): 112–115. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.v1i1p112-115. Consultado em 14 de maio de 2021 
  24. Florestan., Fernandes, (1970). A funcao social da guerra na sociedade tupinamba. [S.l.]: Livraria Pionera Editora. OCLC 906219207 
  25. Ianni, Octávio (abril de 1996). «A Sociologia de Florestan Fernandes». Estudos Avançados (26): 25–33. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141996000100006. Consultado em 14 de maio de 2021 
  26. a b c d Caroline Borges (14 de novembro de 2007). «Florestan Fernandes». InfoEscola. Consultado em 22 de julho de 2012 
  27. Fernandes, Florestan. «Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1967)». Universidade de São Paulo. Consultado em 14 de maio de 2021 
  28. «Histórico». União Cultural pela Amizade dos Povos. Consultado em 14 de maio de 2021 
  29. «Nós e o Brasil de Florestan Fernandes». Teoria e Debate. Consultado em 14 de maio de 2021 
  30. Fernandes, Florestan (1965). A integração do negro na sociedade de classes: No limiar de uma nova era. [S.l.]: Dominus Editôra 
  31. SOARES, ELIANE VERAS; DE SANTANA BRAGA, MARIA LÚCIA; COSTA, DIOGO VALENÇA (5 de dezembro de 2007). «O dilema racial brasileiro: de Roger Bastide a Florestan Fernandes ou da explicação teórica à proposição política». Sociedade e Cultura (1). ISSN 1980-8194. doi:10.5216/sec.v5i1.551. Consultado em 14 de maio de 2021 
  32. Romão, Wagner Melo (2003). A experiência do Cesit: sociologia e política acadêmica nos anos 1960. São Paulo: FFLCH-USP 
  33. Blanco, Alejandro; Brasil Jr., Antonio; Blanco, Alejandro; Brasil Jr., Antonio (2018). «A CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL DE FLORESTAN FERNANDES». Sociologia & Antropologia (1): 69–107. ISSN 2238-3875. doi:10.1590/2238-38752016v813. Consultado em 14 de maio de 2021 
  34. «Perfil - Florestan Fernandes». Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Consultado em 14 de maio de 2021 
  35. Costa, Claúdia (17 de julho de 2020). «"A única herança que vou deixar para vocês é o diploma universitário"». Jornal da USP. Consultado em 14 de maio de 2021 
  36. Cardoso, Miriam Limoeiro (1996). «Florestan Fernandes: a criação de uma problemática». Estudos Avançados (26): 89–128. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141996000100014. Consultado em 14 de maio de 2021 
  37. Barão, Gilcilene de Oliveira Damasceno Barão (21 de março de 2013). «Florestan Fernandes e o marxismo: dois momentos de uma longa trajetória (1946 e 1983)». Revista HISTEDBR On-line (48). 324 páginas. ISSN 1676-2584. doi:10.20396/rho.v12i48.8640025. Consultado em 14 de maio de 2021 
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  39. «Candidatos eleitos - Período de 1945 a 1990». TSE. Consultado em 14 de maio de 2021 
  40. «Florestan Fernandes - personalidades - Estadao.com.br - Acervo». Acervo - Estadão. Consultado em 14 de maio de 2021 
  41. «Médico diz foi vítima de uma disputa entre grupos rivais da USP». Folha de S.Paulo. 8 de abril de 2002. Consultado em 5 de junho de 2020 
  42. Profa. Sylvia Gemignani Garcia. «FLORESTAN FERNANDES (1920-1995)». Arquivado do original em 12 de agosto de 2016 
  43. Serrano, Luiz (10 de julho de 2020). «"Florestan era o que havia de melhor na USP", diz FHC». Jornal da USP. Consultado em 14 de maio de 2021 
  44. «Biblioteca Florestan Fernandes». Consultado em 19 de agosto de 2017 
  45. «Teatro Universitário Florestan Fernandes — Coordenadoria de Apoio a Eventos Acadêmicos - CAEv». Universidade Federal de São Carlos. Consultado em 14 de maio de 2021 
  46. «Fundo Florestan Fernandes». BCo - Biblioteca Comunitária. Universidade Federal de São Carlos. Consultado em 14 de maio de 2021 

Bibliografia

  • Prado Júnior, Caio; Florestan Fernandes (2000). CLÁSSICOS SOBRE A REVOLUÇÃO BRASILEIRA (PDF). 1 Primeira ed. Brasil: [s.n.] 160 páginas. 666. Consultado em 2 de maio de 2014. Arquivado do original (PDF) em 29 de maio de 2014 

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