Florestan Fernandes: diferenças entre revisões
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== Biografia == |
== Biografia == |
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Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância. Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de [[Carlos Augusto Bresser]] e [[Anna Bresser]], Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina."<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo. pp. 30 a 32</ref> Filho de mãe solteira, não conheceu o pai. O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo, tendo morrido por tuberculose, e a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. 191 pp.</ref> Ganhou o nome do motorista alemão de sua madrinha, amiga de sua mãe. Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade. Também foi [[engraxate]]. Viveu entre a "grande casa" de Dona Hermínia e cortiços, em diversos pontos da cidade.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. p. 29</ref> Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom.<ref name="Brasil Escola">{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/biografia/florestan-fernandes.htm|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012|obra=UFCG.org |publicado=Brasil Escola}}</ref><ref name="Coleção Educadores">OLIVEIRA, Marcos Marques de. ''Florestan Fernandes''. Recife: Massangana, 2010.</ref> |
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=== Origem e primeiros anos === |
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Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância.<ref>{{Citar web |url=https://www.ebiografia.com/florestan_fernandes/ |titulo=Biografia de Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=eBiografia |lingua=pt-br}}</ref> Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de [[Carlos Augusto Bresser]] e [[Anna Bresser]], Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina."<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo. pp. 30 a 32</ref><ref>{{citar web |ultimo=Santos |primeiro=Robinson |url=https://lastro.ufsc.br/?page_id=1367 |titulo=Florestan Fernandes: a formação pela práxis |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal de Santa Catarina]]}}</ref><ref>{{citar web |url=https://docs.ufpr.br/~coorhis/gilmar/florestan.html |titulo=Historiografia Brasileira |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Universidade Federal do Paraná]]}}</ref> |
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Filho de mãe solteira, não conheceu o pai.<ref>{{citar web |url=https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2011/08/08/em-debate-florestan-fernandes-e-apontado-como-exemplo-para-o-pais |titulo=Em debate, Florestan Fernandes é apontado como exemplo para o país |data=08/08/2011 |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Senado Federal do Brasil]]}}</ref> O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo, tendo morrido por tuberculose, e a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. 191 pp.</ref> Ganhou o nome do motorista alemão de sua madrinha, amiga de sua mãe.<ref>{{citar web |ultimo=Howes |primeiro=Guilherme |url=https://diariosm.com.br/colunistas/2.4254/os-100-anos-de-florestan-1.2245246 |titulo=Os 100 anos de Florestan |data=22 de julho de 2020 |acessodata=14/05/2021 |publicado=Diário de Santa Maria}}</ref> Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade.<ref name=":0">{{Citar web |url=http://cultura.rj.gov.br/centenario-destaca-a-visao-social-da-obra-de-florestan-fernandes-o-patrono-da-sociologia-no-brasil/ |titulo=Centenário destaca a visão social da obra de Florestan Fernandes, O patrono da Sociologia no Brasil |data=2020-12-07 |acessodata=2021-05-14 |website=SECEC-RJ}}</ref> Também foi [[engraxate]].<ref name=":0" /> Viveu entre a "grande casa" de Dona Hermínia e cortiços, em diversos pontos da cidade.<ref>GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. p. 29</ref><ref>{{Citar web |url=https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/florestan-fernandes.htm |titulo=Florestan Fernandes: biografia, pensamento, obras |acessodata=2021-05-14 |website=Mundo Educação |publicado=[[UOL]] |lingua=pt-br}}</ref> |
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Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do Bar Bidu, no centro de [[São Paulo]], onde trabalhava como garçom.<ref name="Brasil Escola">{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/biografia/florestan-fernandes.htm|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012|obra=UFCG.org |publicado=Brasil Escola}}</ref><ref name="Coleção Educadores">OLIVEIRA, Marcos Marques de. ''Florestan Fernandes''. Recife: Massangana, 2010.</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Orlandi |primeiro=Ana |url=https://revistapesquisa.fapesp.br/um-intelectual-na-periferia/ |titulo=Um intelectual na periferia |data=2020 |acessodata=2021-05-14 |website=Revista da [[Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]] |lingua=pt-br}}</ref> |
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Em seus relatos, Florestan contou as dificuldades vivenciadas pelas pessoas que considerava ''lumpen-proletários'' para conseguir até os mais simples empregos, grupo no qual se identificava: "Os preconceitos contra ''esse tipo gente'' atingiam tais proporções que, nem com o apoio de Clara Augusta Bresser, irmã de minha madrinha, jamais logrei outra espécie de emprego. O mínimo que se pensava, sobre aquele ''tipo de gente, é'' que éramos ''ladrões ou imprestáveis!..."''<ref>{{Citar periódico|ultimo=Fernandes|primeiro=Florestan|data=1994-12-01|titulo=Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante|jornal=Estudos Avançados|volume=8|numero=22|paginas=123–138|issn=0103-4014|doi=10.1590/S0103-40141994000300011|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141994000300011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|acessodata=2017-03-31|arquivourl=https://web.archive.org/web/20101220072916/http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract|arquivodata=2010-12-20|urlmorta=yes}}</ref> |
Em seus relatos, Florestan contou as dificuldades vivenciadas pelas pessoas que considerava ''lumpen-proletários'' para conseguir até os mais simples empregos, grupo no qual se identificava: "Os preconceitos contra ''esse tipo gente'' atingiam tais proporções que, nem com o apoio de Clara Augusta Bresser, irmã de minha madrinha, jamais logrei outra espécie de emprego. O mínimo que se pensava, sobre aquele ''tipo de gente, é'' que éramos ''ladrões ou imprestáveis!..."''<ref>{{Citar periódico|ultimo=Fernandes|primeiro=Florestan|data=1994-12-01|titulo=Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante|jornal=Estudos Avançados|volume=8|numero=22|paginas=123–138|issn=0103-4014|doi=10.1590/S0103-40141994000300011|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141994000300011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|acessodata=2017-03-31|arquivourl=https://web.archive.org/web/20101220072916/http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract|arquivodata=2010-12-20|urlmorta=yes}}</ref> |
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=== Formação === |
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Em 1941, Florestan ingressou na [[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo]], formando-se em [[ciências sociais]]. Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do [[professor]] [[Fernando de Azevedo]], na cadeira de Sociologia II. Na [[Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo|Escola Livre de Sociologia e Política]], obteve o título de mestre com a dissertação "A organização social dos [[Tupinambá]]". Em 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método [[Funcionalismo (ciências sociais)|funcionalista]]. |
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No ano de 1941, Florestan ingressou na [[Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo]] (FFCL), instituto vinculado a [[Universidade de São Paulo]] (USP), formando-se no curso de [[Ciências sociais]].<ref>{{Citar web |ultimo=Viana |primeiro=Eliete |url=http://www.fflch.usp.br/2277 |titulo=Ciclo de seminários homenageia centenário de Florestan Fernandes |data=03/07/2020 |acessodata=2021-05-14 |website=[[Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo]] |lingua=pt-br}}</ref> |
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Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do [[professor]] [[Fernando de Azevedo]], na cadeira de Sociologia II.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-69922010000100009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Entre sociólogos: versões conflitivas da "condição de sociólogo" na USP dos anos 1950-1960 |data=2010-04 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Sociedade e Estado |número=1 |ultimo=Ramassote |primeiro=Rodrigo Martins |paginas=135–142 |lingua=pt |doi=10.1590/S0102-69922010000100009 |issn=0102-6992}}</ref> Na [[Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo|Escola Livre de Sociologia e Política]], obteve o seu título de mestre com a dissertação "''A organização social dos [[Tupinambá]]''".<ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/68176 |titulo=A Organização Social dos Tupinambá |data=1950-03-06 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Revista de História |número=1 |ultimo=Ayrosa |primeiro=Plínio |paginas=112–115 |lingua=pt |doi=10.11606/issn.2316-9141.v1i1p112-115 |issn=2316-9141}}</ref> No ano de 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método [[Funcionalismo (ciências sociais)|funcionalista]].<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/906219207|título=A funcao social da guerra na sociedade tupinamba|ultimo=Florestan.|primeiro=Fernandes,|data=1970|editora=Livraria Pionera Editora|oclc=906219207}}</ref> |
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Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica".<ref name="InfoEscola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/sociologia/florestan-fernandes/|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012 |autor=Caroline Borges |coautores= |data=14 de novembro de 2007 |ano= |mes= |formato= |obra= |publicado=InfoEscola |páginas= |língua=pt |citação= }}</ref> Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na [[Campanha de Defesa da Escola Pública]], em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.<ref name="Meu Artigo"/> |
Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141996000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=A Sociologia de Florestan Fernandes |data=1996-04 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Estudos Avançados |número=26 |ultimo=Ianni |primeiro=Octávio |paginas=25–33 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-40141996000100006 |issn=0103-4014}}</ref> Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica".<ref name="InfoEscola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/sociologia/florestan-fernandes/|título=Florestan Fernandes |acessodata=22 de julho de 2012 |autor=Caroline Borges |coautores= |data=14 de novembro de 2007 |ano= |mes= |formato= |obra= |publicado=InfoEscola |páginas= |língua=pt |citação= }}</ref><ref>{{citar web |ultimo=Fernandes |primeiro=Florestan |url=https://repositorio.usp.br/single.php?_id=001342356 |titulo=Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1967) |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Universidade de São Paulo]]}}</ref> Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na [[Campanha de Defesa da Escola Pública]], em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.<ref name="Meu Artigo" /> |
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No ano de 1960, juntamente com outros intelectuais brasileiros, participa da criação da União Cultural Brasil-União Soviética, atual [[União cultural pela amizade dos povos|União Cultural pela Amizade dos Povos]].<ref>{{citar web |url=http://www.ucpadp.org.br/pages/historico |titulo=Histórico |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[União Cultural pela Amizade dos Povos]]}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://teoriaedebate.org.br/estante/nos-e-o-brasil-de-florestan-fernandes/ |titulo=Nós e o Brasil de Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=Teoria e Debate |lingua=pt-BR}}</ref> |
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=== Carreira === |
=== Carreira === |
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[[Imagem:Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964).tif|thumb|Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964)]] |
[[Imagem:Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964).tif|thumb|Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964)]] |
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Durante o período de 1954 e 1964, foi regente da cátedra, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês [[Roger Bastide]] em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na [[cátedra]], com a tese "A integração do negro na sociedade de classes". Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira.<ref name="Meu Artigo"/> |
Durante o período de 1954 e 1964, foi regente da cátedra, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês [[Roger Bastide]] em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na [[cátedra]], com a tese "A integração do negro na sociedade de classes".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books/about/A_integra%C3%A7%C3%A3o_do_negro_na_sociedade_de.html?id=pMVQAAAAMAAJ&source=kp_book_description|título=A integração do negro na sociedade de classes: No limiar de uma nova era|ultimo=Fernandes|primeiro=Florestan|data=1965|editora=Dominus Editôra|lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.5216/sec.v5i1.551 |titulo=O dilema racial brasileiro: de Roger Bastide a Florestan Fernandes ou da explicação teórica à proposição política |data=2007-12-05 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Sociedade e Cultura |número=1 |ultimo=SOARES |primeiro=ELIANE VERAS |ultimo2=DE SANTANA BRAGA |primeiro2=MARIA LÚCIA |doi=10.5216/sec.v5i1.551 |issn=1980-8194 |ultimo3=COSTA |primeiro3=DIOGO VALENÇA}}</ref> Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira.<ref name="Meu Artigo"/> |
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Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista.<ref>{{citar livro|título=A experiência do Cesit: sociologia e política acadêmica nos anos 1960|ultimo=Romão|primeiro=Wagner Melo|editora=FFLCH-USP|ano=2003|local=São Paulo}}</ref><ref name="InfoEscola"/> Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.<ref name="Meu Artigo"/> |
Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista.<ref>{{citar livro|título=A experiência do Cesit: sociologia e política acadêmica nos anos 1960|ultimo=Romão|primeiro=Wagner Melo|editora=FFLCH-USP|ano=2003|local=São Paulo}}</ref><ref name="InfoEscola"/> Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.<ref name="Meu Artigo"/> |
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Aposentado compulsoriamente pela [[ditadura militar]] em 1969, foi ''Visiting Scholar'' na [[Universidade de Columbia]], professor titular na [[Universidade de Toronto]] e ''Visiting Professor'' na [[Universidade de Yale]] e, a partir de 1978, professor na [[Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]] (PUC-SP).<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2238-38752018000100069&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=A CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL DE FLORESTAN FERNANDES |data=2018 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Sociologia & Antropologia |número=1 |ultimo=Blanco |primeiro=Alejandro |ultimo2=Brasil Jr. |primeiro2=Antonio |paginas=69–107 |lingua=pt |doi=10.1590/2238-38752016v813 |issn=2238-3875 |ultimo3=Blanco |primeiro3=Alejandro |ultimo4=Brasil Jr. |primeiro4=Antonio}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2344:catid=28&Itemid=23#:~:text=Aposentado%20compulsoriamente%20pela%20ditadura%20militar,Universidade%20Cat%C3%B3lica%20de%20S%C3%A3o%20Paulo. |titulo=Perfil - Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=[[Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada]]}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Costa |primeiro=Claúdia |url=https://jornal.usp.br/cultura/a-unica-heranca-que-vou-deixar-para-voces-e-o-diploma-universitario/ |titulo=“A única herança que vou deixar para vocês é o diploma universitário” |data=2020-07-17 |acessodata=2021-05-14 |website=[[Jornal da USP]] |lingua=pt-BR}}</ref> |
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Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi ''Visiting Scholar'' na [[Universidade de Columbia]], professor titular na [[Universidade de Toronto]] e ''Visiting Professor'' na [[Universidade de Yale]] e, a partir de 1978, professor na [[Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]]. Em 1975, veio a público a obra "A revolução burguesa no Brasil",<ref name="InfoEscola"/> que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do [[capitalismo]] no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom [[weberiano|Max Weber]] com interpretações alinhadas à [[dialética marxista]].<ref name="Brasil Escola"/> No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em [[Cuba]], a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais. Em suas análises sobre o [[socialismo]], apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda. Em 1986, foi eleito deputado constituinte pelo [[Partido dos Trabalhadores]], tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita.<ref name="Brasil Escola"/> Em 1990, foi reeleito para a Câmara. Tendo colaborado com a Folha de S.Paulo desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal. |
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No ano de 1975, veio a público a obra ''A revolução burguesa no Brasil'', que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do [[capitalismo]] no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom [[weberiano|Max Weber]] com interpretações alinhadas à [[dialética marxista]].<ref name="Brasil Escola" /><ref name="InfoEscola" /> No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em [[Cuba]], a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais.<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141996000100014&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Florestan Fernandes: a criação de uma problemática |data=1996 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Estudos Avançados |número=26 |ultimo=Cardoso |primeiro=Miriam Limoeiro |paginas=89–128 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-40141996000100014 |issn=0103-4014}}</ref> |
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⚫ | Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido no Hospital das Clínicas de São Paulo, realizado pelo professor [[Silvano Raia]]. Porém morreu de problemas em uma diálise devido a falha humana.<ref>{{citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0804200210.htm|titulo=Médico diz foi vítima de uma disputa entre grupos rivais da USP|data=08-04-2002|acessodata=05-06-2020|publicado=Folha de S.Paulo |
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Em suas análises sobre o [[socialismo]], apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda.<ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.20396/rho.v12i48.8640025 |titulo=Florestan Fernandes e o marxismo: dois momentos de uma longa trajetória (1946 e 1983) |data=2013-03-21 |acessodata=2021-05-14 |jornal=Revista HISTEDBR On-line |número=48 |ultimo=Barão |primeiro=Gilcilene de Oliveira Damasceno Barão |paginas=324 |doi=10.20396/rho.v12i48.8640025 |issn=1676-2584}}</ref> No ano de 1986, foi eleito deputado constituinte pelo [[Partido dos Trabalhadores]] (PT), tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita.<ref name="Brasil Escola" /><ref>{{citar web |url=https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao-cidada/constituintes/parlamentaresconstituintes/deputados-constituintes |titulo=DEPUTADOS CONSTITUINTES |acessodata=14/05/2021 |publicado=[[Câmara dos Deputados do Brasil]]}}</ref> Em 1990, foi reeleito para a Câmara.<ref>{{Citar web |url=https://sig.tse.jus.br/ords/dwtse/f?p=1945:1:::NO:RP:P0_HID_MOSTRA:S |titulo=Candidatos eleitos - Período de 1945 a 1990 |acessodata=2021-05-14 |website=[[TSE]]}}</ref> Tendo colaborado com a [[Folha de S.Paulo]] desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal até o ano de 1995.<ref>{{Citar web |url=http://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,florestan-fernandes,709,0.htm |titulo=Florestan Fernandes - personalidades - Estadao.com.br - Acervo |acessodata=2021-05-14 |website=Acervo - [[Estadão]]}}</ref> |
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== Morte == |
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⚫ | Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido no [[Hospital das Clínicas de São Paulo]], realizado pelo professor [[Silvano Raia]]. Porém morreu de problemas em uma diálise devido a falha humana.<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0804200210.htm |titulo=Médico diz foi vítima de uma disputa entre grupos rivais da USP |data=08-04-2002 |acessodata=05-06-2020 |publicado=[[Folha de S.Paulo]]}}</ref> |
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=== Legado === |
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O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.<ref>{{Citar web|url=http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|data=|acessodata=|obra=|título=FLORESTAN FERNANDES (1920-1995)|língua=|autor=Profa. Sylvia Gemignani Garcia|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160812110231/http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|arquivodata=2016-08-12|urlmorta=yes}}</ref> |
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.<ref>{{Citar web|url=http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|data=|acessodata=|obra=|título=FLORESTAN FERNANDES (1920-1995)|língua=|autor=Profa. Sylvia Gemignani Garcia|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160812110231/http://sociologiadaeducacao.com.br/ciencias-sociais/florestan-fernandes/|arquivodata=2016-08-12|urlmorta=yes}}</ref> |
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O ex-presidente da República [[Fernando Henrique Cardoso]], que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo.<ref name="InfoEscola"/> |
O ex-presidente da República [[Fernando Henrique Cardoso]], que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo.<ref name="InfoEscola"/><ref>{{Citar web |ultimo=Serrano |primeiro=Luiz |url=https://jornal.usp.br/tv-usp/florestan-era-o-que-havia-de-melhor-na-usp-diz-fhc/ |titulo=“Florestan era o que havia de melhor na USP”, diz FHC |data=2020-07-10 |acessodata=2021-05-14 |website=[[Jornal da USP]] |lingua=pt-BR}}</ref> |
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A biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo recebeu o nome de [[Biblioteca Florestan Fernandes]].<ref>{{Citar web|url=http://biblioteca.fflch.usp.br/|data=|acessodata=19 de agosto de 2017|obra=|título=Biblioteca Florestan Fernandes}}</ref> |
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O teatro do campus-sede da [[Universidade Federal de São Carlos]] leva o nome de Florestan Fernandes, e a biblioteca situada em frente a ele possui, em seu último andar, o acervo de livros que Florestan deixou em sua residência. Este acervo conta com clássicos da literatura mundial, obras fundamentais da sociologia, filosofia, política e antropologia, bem como diversos livros da produção literária e científica latino-americana. Parte do acervo está disponível para empréstimo. |
O teatro do campus-sede da [[Universidade Federal de São Carlos]] leva o nome de Florestan Fernandes, e a biblioteca situada em frente a ele possui, em seu último andar, o acervo de livros que Florestan deixou em sua residência.<ref>{{Citar web |url=http://www.caev.ufscar.br/florestan-fernandes |titulo=Teatro Universitário Florestan Fernandes — Coordenadoria de Apoio a Eventos Acadêmicos - CAEv |acessodata=2021-05-14 |website=[[Universidade Federal de São Carlos]]}}</ref> Este acervo conta com clássicos da literatura mundial, obras fundamentais da sociologia, filosofia, política e antropologia, bem como diversos livros da produção literária e científica latino-americana. Parte do acervo está disponível para empréstimo.<ref>{{Citar web |url=https://www.bco.ufscar.br/acervos/fundo-florestan-fernandes |titulo=Fundo Florestan Fernandes |acessodata=2021-05-14 |website=BCo - Biblioteca Comunitária |publicado=[[Universidade Federal de São Carlos]] |lingua=pt-br}}</ref> |
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Revisão das 23h13min de 14 de maio de 2021
Florestan Fernandes | |
---|---|
Nascimento | 22 de julho de 1920 São Paulo, SP |
Morte | 10 de agosto de 1995 (75 anos) São Paulo, SP |
Cidadania | Brasil |
Alma mater | Universidade de São Paulo |
Ocupação | antropólogo, escritor, político, sociólogo, professor universitário, escritor de não ficção |
Profissão | sociólogo |
Prêmios | |
Empregador(a) | Universidade de Toronto, Universidade de São Paulo |
Florestan Fernandes (São Paulo, 22 de julho de 1920 – São Paulo, 10 de agosto de 1995) foi um sociólogo e político brasileiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Patrono da sociologia brasileira sob a lei nº 11.325,[1] também foi deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo participado da Assembleia Nacional Constituinte.[2][3] Recebeu o Prêmio Jabuti em 1964, pelo livro Corpo e Alma do Brasil[4] e Foi agraciado postumamente em 1996 com o Prêmio Anísio Teixeira.[5][6]
Biografia
Origem e primeiros anos
Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância.[7] Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de Carlos Augusto Bresser e Anna Bresser, Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina."[8][9][10]
Filho de mãe solteira, não conheceu o pai.[11] O avô materno trabalhou como colono numa fazenda no interior de São Paulo, tendo morrido por tuberculose, e a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica.[12] Ganhou o nome do motorista alemão de sua madrinha, amiga de sua mãe.[13] Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia aos seis anos de idade.[14] Também foi engraxate.[14] Viveu entre a "grande casa" de Dona Hermínia e cortiços, em diversos pontos da cidade.[15][16]
Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do Bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom.[17][18][19]
Em seus relatos, Florestan contou as dificuldades vivenciadas pelas pessoas que considerava lumpen-proletários para conseguir até os mais simples empregos, grupo no qual se identificava: "Os preconceitos contra esse tipo gente atingiam tais proporções que, nem com o apoio de Clara Augusta Bresser, irmã de minha madrinha, jamais logrei outra espécie de emprego. O mínimo que se pensava, sobre aquele tipo de gente, é que éramos ladrões ou imprestáveis!..."[20]
Formação
No ano de 1941, Florestan ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL), instituto vinculado a Universidade de São Paulo (USP), formando-se no curso de Ciências sociais.[21]
Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II.[22] Na Escola Livre de Sociologia e Política, obteve o seu título de mestre com a dissertação "A organização social dos Tupinambá".[23] No ano de 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método funcionalista.[24]
Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia.[25] Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica".[26][27] Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.[3]
No ano de 1960, juntamente com outros intelectuais brasileiros, participa da criação da União Cultural Brasil-União Soviética, atual União Cultural pela Amizade dos Povos.[28][29]
Carreira
Durante o período de 1954 e 1964, foi regente da cátedra, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastide em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na cátedra, com a tese "A integração do negro na sociedade de classes".[30][31] Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira.[3]
Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista.[32][26] Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.[3]
Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi Visiting Scholar na Universidade de Columbia, professor titular na Universidade de Toronto e Visiting Professor na Universidade de Yale e, a partir de 1978, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).[33][34][35]
No ano de 1975, veio a público a obra A revolução burguesa no Brasil, que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do capitalismo no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom Max Weber com interpretações alinhadas à dialética marxista.[17][26] No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em Cuba, a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais.[36]
Em suas análises sobre o socialismo, apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda.[37] No ano de 1986, foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita.[17][38] Em 1990, foi reeleito para a Câmara.[39] Tendo colaborado com a Folha de S.Paulo desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal até o ano de 1995.[40]
Morte
Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido no Hospital das Clínicas de São Paulo, realizado pelo professor Silvano Raia. Porém morreu de problemas em uma diálise devido a falha humana.[41]
Legado
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.[42]
O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo.[26][43]
A biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo recebeu o nome de Biblioteca Florestan Fernandes.[44]
O teatro do campus-sede da Universidade Federal de São Carlos leva o nome de Florestan Fernandes, e a biblioteca situada em frente a ele possui, em seu último andar, o acervo de livros que Florestan deixou em sua residência.[45] Este acervo conta com clássicos da literatura mundial, obras fundamentais da sociologia, filosofia, política e antropologia, bem como diversos livros da produção literária e científica latino-americana. Parte do acervo está disponível para empréstimo.[46]
Principais obras
Florestan começou a escrever no final dos anos 40, e ao longo de sua vida, publicou mais de 50 livros e centenas de artigos. Suas principais obras foram:
- Organização social dos Tupinambá (1949);
- A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1952);
- A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questionamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil, até os anos 50);
- Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959);
- Mudanças sociais no Brasil (1960) (nesta obra Florestan faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil);
- Folclore e mudança social na cidade de São Paulo (1961) (esta obra reúne trabalhos e pesquisas realizadas nos anos em que Florestan foi aluno de Roger Bastide na USP, dedicados a várias manifestações de cultura popular entre crianças da cidade de São Paulo).
- A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações raciais no Brasil);
- Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968);
- Capitalismo dependente e Classes Sociais na América Latina (1973);
- A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975) (reedição em volume de artigos anteriormente publicados em revisas científicas e dedicados à produção recente da antropologia brasileira);
- A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica (1975);
- Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana (1979);
- O que é Revolução (1981);
- Poder e Contrapoder na América Latina (1981).
Ver também
- Darcy Ribeiro
- Gilberto Freyre
- Roger Bastide
- Fernando de Azevedo
- Fernando Henrique Cardoso
- Octavio Ianni
- Movimento negro no Brasil
- Educação no Brasil
- Mudança social
- Karl Mannheim
- Florestan Fernandes Júnior
- Universidade de São Paulo
Referências
- ↑ «Lei nº 11.325». www.planalto.gov.br. Consultado em 31 de agosto de 2020
- ↑ «Deputado Florestan Fernandes». Câmara dos Deputados. Consultado em 21 de julho de 2017
- ↑ a b c d Bianca Wild. «Florestan Fernandes». Meu Artigo. Consultado em 22 de julho de 2012
- ↑ «Premiados do Ano | 62º Prêmio Jabuti». www.premiojabuti.com.br. Consultado em 31 de agosto de 2020
- ↑ «Agraciados». Prêmio Anísio Teixeira
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «FERNANDES, FLORESTAN». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 5 de setembro de 2020
- ↑ «Biografia de Florestan Fernandes». eBiografia. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo. pp. 30 a 32
- ↑ Santos, Robinson. «Florestan Fernandes: a formação pela práxis». Universidade Federal de Santa Catarina. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ «Historiografia Brasileira». Universidade Federal do Paraná. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ «Em debate, Florestan Fernandes é apontado como exemplo para o país». Senado Federal do Brasil. 8 de agosto de 2011. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. 191 pp.
- ↑ Howes, Guilherme (22 de julho de 2020). «Os 100 anos de Florestan». Diário de Santa Maria. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ a b «Centenário destaca a visão social da obra de Florestan Fernandes, O patrono da Sociologia no Brasil». SECEC-RJ. 7 de dezembro de 2020. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ GARCIA, Sylvia G. 2002. Destino Ímpar: Sobre a Formação de Florestan Fernandes. São Paulo: Ed. 34. p. 29
- ↑ «Florestan Fernandes: biografia, pensamento, obras». Mundo Educação. UOL. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ a b c «Florestan Fernandes». UFCG.org. Brasil Escola. Consultado em 22 de julho de 2012
- ↑ OLIVEIRA, Marcos Marques de. Florestan Fernandes. Recife: Massangana, 2010.
- ↑ Orlandi, Ana (2020). «Um intelectual na periferia». Revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Consultado em 14 de maio de 2021
- ↑ Fernandes, Florestan (1 de dezembro de 1994). «Ciências Sociais: na ótica do intelectual militante». Estudos Avançados. 8 (22): 123–138. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141994000300011. Consultado em 31 de março de 2017. Arquivado do original em 20 de dezembro de 2010
- ↑ Viana, Eliete (3 de julho de 2020). «Ciclo de seminários homenageia centenário de Florestan Fernandes». Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Consultado em 14 de maio de 2021
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Bibliografia
- Prado Júnior, Caio; Florestan Fernandes (2000). CLÁSSICOS SOBRE A REVOLUÇÃO BRASILEIRA (PDF). 1 Primeira ed. Brasil: [s.n.] 160 páginas. 666. Consultado em 2 de maio de 2014. Arquivado do original (PDF) em 29 de maio de 2014
Ligações externas
- «Florestan Fernandes, um militante do ensino democrático, Nova Escola, 2016»
- «A revolução burguesa no Brasil»
- «A ciência aplicada e a educação como fatores de mudança cultural provocada, Florestan Fernandes»
- «A sociologia de Florestan Fernandes, Octávio Ianni» (PDF)
- «Florestan Fernandes e criação de uma problemática, Miriam Limoeiro» (PDF)
- «Marxismo e "imagem do Brasil" em Florestan Fernandes por Carlos Nelson Coutinho, 2000, Site Gramsci e o Brasil»
- «Arquivo pessoal de Florestan Fernandes»
- Obras disponíveis na Biblioteca Digital Curt Nimuendajú
- Nascidos em 1920
- Mortos em 1995
- Naturais da cidade de São Paulo
- Alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
- Comunistas do Brasil
- Deputados federais do Brasil por São Paulo
- Escritores de São Paulo
- Sociólogos de São Paulo
- Marxistas do Brasil
- Membros do Partido dos Trabalhadores
- Professores de São Paulo (estado)
- Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
- Professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
- Doutores honoris causa da Universidade Federal do Ceará
- !Wikiconcurso Casa Brasileira (artigos)
- Exilados na ditadura militar no Brasil (1964–1985)
- Opositores da ditadura militar no Brasil (1964–1985)
- Homens ganhadores do Prêmio Jabuti