Diss

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Diss, também conhecida nos Estados Unidos como diss track (literalmente traduzida por canção de desrespeito ou canção de menosprezo) é uma canção criada com o principal propósito de expor e insultar alguém, geralmente outro artista. Diss tracks são, frequentemente, o resultado de uma rixa ou rivalidade entre duas ou mais pessoas; por exemplo, os artistas envolvidos podem ser de gravadoras rivais ou antigos membros de um grupo em comum.

Seu uso é frequente no hip hop,[1] impulsionado principalmente pela rivalidade entre a Costa Oeste e a Costa Leste nos Estados Unidos na década de 1990. Durante a construção de uma diss track, artistas comumente incluem referências a eventos passados para possibilitar ao ouvinte a imersão no assunto, e artistas que são alvos de diss tracks tendem a elaborar faixas próprias em resposta. Esta situação associada às rivalidades entre artistas torna este tipo de música particularmente viral.

História[editar | editar código-fonte]

Origem e exemplos[editar | editar código-fonte]

Apesar de o termo "diss track" ter sido originado no hip hop, existem vários exemplos na história da música de canções escritas para atacar indivíduos específicos. Algumas foram, inclusive, retroativamente descritas como diss tracks.

Um exemplo em particular foi o álbum de spoken word I Am the Greatest do boxeador Cassius Clay, lançado seis meses antes de primeiro título no Campeonato Mundial de Pesos Pesados contra Sonny Liston, sua conversão ao islamismo e a mudança do seu nome para Muhammad Ali. O álbum ajudou a estabelecer a reputação de Ali como provocador, uma vez que havia diversas afrontas a Liston (como demonstrado na quinta faixa, "Round 5: Will The Real Sonny Liston Please Fall Down") e contra quaisquer futuros adversários. I Am the Greatest é considerado um dos precursores do hip hop.[2][3]

O músico de reggae Lee "Scratch" Perry é conhecido por compor canções para ofender colaboradores musicais. Um exemplo proeminente é a faixa "Run for Cover", de 1967, direcionada ao produtor Coxsone Dodd.[4] Outro exemplo seria a faixa "People Funny Boy", lançada em 1968 e tendo o produtor Joe Gibbs como alvo; Gibbs responderia no mesmo ano, com a composição "People Grudgeful".[5]

John Lennon compôs "Sexy Sadie", uma canção lançada pelos Beatles no álbum de 1968 The Beatles, como uma diss track para Maharishi Mahesh Yogi, um guru que se autointitulava mestre espiritual da banda. A letra original falava especificamente de Yogi, mas a pedido de George Harrison foi alterada para tornar-se algo mais ambíguo.[6][7][8][9] Lennon continuaria escrevendo diss tracks após a separação dos Beatles; uma das mais agressivas seria "How Do You Sleep?", do seu álbum solo de 1971 Imagine. Lennon acreditava que a canção "Too Many People", de Paul McCartney, era sobre ele, algo que McCartney admitiria anos depois,[10] e que outras canções do álbum, como"3 Legs", continham ataques semelhantes.[11] Como resultado, Lennon escreveu "How Do You Sleep?" para ironizar a musicalidade de McCartney. Enquanto McCartney nunca é citado na canção, as muitas referências na letra deixam claro que ele é o alvo, principalmente no trecho "The only thing you done was yesterday/And since you've gone you're just another day", referenciando duas composições de McCartney, the first lyric being a reference to The Beatles' 1965 song "Yesterday", lançada em 1965 pelos Beatles, e "Another Day", lançada em 1971 por Paul McCartney.

A faixa "Death on Two Legs (Dedicated to...)", do álbum A Night at the Opera da banda Queen, é um exemplo de canção de hard rock considerada uma diss track. A música ataca um antigo empresário da banda.[12] The Sex Pistols é outro grupo que gravou várias diss tracks, incluindo "New York", que ataca a banda New York Dolls, e "E.M.I.", que mira a gravadora EMI.[13][14][15]

A canção "Liar", da banda de thrash metal Megadeth, foi descrita como uma diss track contra o antigo guitarrista, Chris Poland, que Dave Mustaine acusava de roubar guitarras e vendê-las para comprar heroína.[16]

Diss no Brasil[editar | editar código-fonte]

Na década de 1930, os sambistas fluminenses Wilson Batista e Noel Rosa trocaram uma série de provocações em letras de samba. Batista havia composto a canção "Lenço no Pescoço", uma exaltação à malandragem. Noel responderia com o samba "Rapaz Folgado", uma crítica àquele estilo de vida. Como resultado, Wilson Batista escreveu "O Mocinho da Vila", "Conversa Fiada", "Frankenstein" e "Terra de Cego", todas direcionadas a Noel Rosa, que concebeu "Feitiço da Vila" e "Palpite Infeliz" como devolutiva.[17]

No ano de 1993, o grupo Câmbio Negro escreveu uma diss track direcionada ao rapper GOG, a qual nunca foi respondida. Na década de 2000, o rap brasileiro foi impulsionado por este tipo de música, destacando-se os embates entre MC Marechal x C4bal e, alguns anos depois, Nocivo Shomon x Emicida.[18] Contudo, em 2016, a cena hip-hop foi abalada pela música "Sulicídio", composta por Diomedes Chinaski e Baco Exu do Blues, que critica a concentração das produções do hip-hop no eixo Rio-São Paulo, bem como a elitização do estilo musical.[19]

Lista de disses[editar | editar código-fonte]

Exemplos incluem "The Bridge is Over" de KRS-One, "Long Kiss Goodnight" e "Who Shot Ya?" de The Notorious B.I.G. "Hit 'Em Up" de Tupac Shakur, "No Vaseline" de Ice Cube, "King of the Hill" de Westside Connection, "2nd Round Knockout" de Canibus, "Dollaz & Sense" de DJ Quik "Ether" de Nas, "The Warning" e "Quitter" de Eminem, "Takeover" de Jay Z, "Fuck wit Dre Day (And Everybody's Celebratin')" de Dr. Dre, "Real Muthaphuckkin G's" de Eazy-E, "Back Down" de 50 Cent e "99 Problems (Lil Flip Ain't One)" de T.I..[20]


Referências

  1. «Rap's Top 10 Diss Songs». rapfix.mtv.com. Consultado em 5 de dezembro de 2010 
  2. Justin Tinsley (8 de junho de 2016). «The Grammy-nominated Cassius Clay». Andscape 
  3. «Muhammad Ali: Famed Pugilist Was Also Hip-Hop Pioneer». Rolling Stone. 4 de junho de 2016. Consultado em 15 de maio de 2018. Cópia arquivada em 15 de maio de 2018 
  4. "The Upsetter", Black Music (January 1975). Arquivado em 2016-03-04 no Wayback Machine "Perry says the song was his way of expressing how he felt about the way Clement Dodd (Sir Coxsone) had treated him financially while he had been working for Dodd. It spoke of revenge: 'You take people for fool, yeah / And use them as a tool, yeah / But I am the av-en-ger...'."
  5. «People Funny Boy». rougheryet.com 
  6. «10 Classic Rock Songs You Didn't Know Were Diss Tracks». Society Of Rock 
  7. «Van Eminem tot Foo Fighters: Dit zijn de hardste disstracks uit de geschiedenis» 
  8. «Diss Tracks In Rock Music». www.ultimate-guitar.com 
  9. «The 10 most vicious songs about real people - BBC Music». BBC. 28 de abril de 2016. Consultado em 4 de maio de 2024 
  10. «Playboy Interview With Paul and Linda McCartney». Playboy Press. 1984. Consultado em 23 de agosto de 2008 
  11. Patrick Cadogan (2008). The Revolutionary Artist: John Lennon's Radical Years. [S.l.]: Lulu. 141 páginas. ISBN 978-1-4357-1863-0 
  12. Emily Barker (29 de julho de 2015). «19 Of The Fiercest Diss Tracks In Hip-Hop, Rock And Pop History». NME. Consultado em 25 de outubro de 2019 
  13. «The 23 Most Savage Rock + Metal Diss Tracks of All Time». Loudwire 
  14. Karis Raeburn (20 de dezembro de 2018). «The Bloody Classics - The Sex Pistols». Alt Revue 
  15. «The Sex Pistols' 'Never Mind The Bollocks' at 35: Classic Track-By-Track». Billboard 
  16. Adrien Begrand (25 de janeiro de 2013). «Megadeth, 'So Far, So Good...So What!'». MSN Music. Consultado em 9 de novembro de 2013. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2013 
  17. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. «Dados artísticos». Consultado em 8 de novembro de 2021 
  18. «O fantástico mundo das Diss.». Oganpazan. 15 de janeiro de 2021. Consultado em 6 de abril de 2023 
  19. Araújo, Gabriell (13 de abril de 2019). «O impacto de Sulicídio na cena do rap nacional». Jornal Metamorfose. Consultado em 6 de abril de 2023 
  20. «FIQL Playlist - Top Ten Rap/Hip-Hop Diss Songs». www.fiql.com. Consultado em 5 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 26 de março de 2011 
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