Polaridade no Sistema Internacional: diferenças entre revisões

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Este tipo de controvérsia envolve claramente definições distintas do que vem a ser poder, como mensurar o poder de um país, quais os elementos de [[poder]] (real e imediato ou potencial) mais relevantes e em que hierarquia de importância este devem ser considerados. Simplesmente não há concenso a respeito desta hierarquização em nenhuma grande corrente teórica das [[relações internacionais]], de estudos da [[geopolítica]] ou de [[estudos estratégicos]].
Este tipo de controvérsia envolve claramente definições distintas do que vem a ser poder, como mensurar o poder de um país, quais os elementos de [[poder]] (real e imediato ou potencial) mais relevantes e em que hierarquia de importância este devem ser considerados. Simplesmente não há concenso a respeito desta hierarquização em nenhuma grande corrente teórica das [[relações internacionais]], de estudos da [[geopolítica]] ou de [[estudos estratégicos]].

=== Capacidade nuclear das grandes potências ===
=== Capacidade nuclear das grandes potências ===
[[Ficheiro:Minuteman III MIRV path.svg|right|thumb|300px|Modelo de míssil Balístico interncontinel com capacidade de lançar [[ogivas nucleares]] estão entre as capacidades fundamentais para distinguir as grandes potências mundiais das potências regionais]]
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Revisão das 17h26min de 13 de novembro de 2014

Polaridade no Sistema Internacional é o conceito que descreve o tipo ou configuração de distribuição de poder que caracteriza o Sistema Internacional em um determinado período de tempo histórico.

Há basicamente três modalidades de polaridade do Sistema Internacional: Unipolaridade, Bipolaridade e Multipolaridade; respectivamente quando há um único pólo principal de poder mundial, dois pólos de poder ou vários pólos de poder mundial. Um quarto tipo, menos utilizado, refere-se à Tripolaridade, quando existem claramente apenas três grandes pólos de poder; que se diferenciaria da Multipolaridade por nesta última existirem mais de três pólos de poder.

A maior parte dos teóricos da área de Relações Internacionais, Ciência Política e Estudos Estratégicos considera que a conformação do Sistema Internacional é completamente dependente da distribuição de poder e da influência de Estados em uma região ou continente.

Poder, potência e polaridade

Bipolaridade: entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o fim da Guerra Fria o Sistema Internacional era dividido em dois grandes pólos de poder.

Grande parte dos problemas relacionados à classificação da polaridade do sistema internacional está relacionado aos diferentes critérios utilizados para se clasificar uma potência. Alguns autores diferenciam aspectos como a capacidade de atuação ou a capacidade de projeção de poder de uma potência (potência global, continental, potência regional, local) da dimensão ou "tamanho" do poder (superpotência, grande potência, potência média e pequenas potências). O grande problema que aparece neste caso é que, dependendo dos critérios utilizados para se mensurar poder, o número de pólos de poder muda. O tipo de poder a ser considerado também muda o resultado da classificação, pois é diferente considerar o poder real ou de uso imediato (geralmente político-militar), do poder potencial, que geralmente inclui economia, finanças, capacidade industrial, demografia e tamanho da população, tamanho do território, recursos naturais, capacidade de engenharia e de desenvolvimento tecnológico, além de aspectos diplomáticos, como o padrão de alianças e inimizades regionais.

Poder e capacidades militares

Considerando critérios de poder real, por exemplo, autores americanos como Lieber & Press (1996), chegaram a defender que a supremacia nuclear americana era suficiente para garantir a supremacia militar global e, portanto, a unipolaridade do sistema internacional. Isto foi contestado diretamente por Cepik, Avila e Martins (2007 e 2009), que defendem que os Estados Unidos não possuem supremacia nuclear incontestável (seria apenas superioridade nuclear), e que mesmo que os Estados Unidos obtivessem a supremacia nuclear, isso não seria suficiente para impor e manter a unipolaridade absoluta no sistema mundial.

Este tipo de controvérsia envolve claramente definições distintas do que vem a ser poder, como mensurar o poder de um país, quais os elementos de poder (real e imediato ou potencial) mais relevantes e em que hierarquia de importância este devem ser considerados. Simplesmente não há concenso a respeito desta hierarquização em nenhuma grande corrente teórica das relações internacionais, de estudos da geopolítica ou de estudos estratégicos.

Capacidade nuclear das grandes potências

Modelo de míssil Balístico interncontinel com capacidade de lançar ogivas nucleares estão entre as capacidades fundamentais para distinguir as grandes potências mundiais das potências regionais

Uma das definições interessantes é a de John J. Mearsheimer, que considera que o primeiro critério para definir as grandes potências ou superpotências, é verificar se estas possuem capacidade nuclear de segundo ataque (ver MAD), ou seja, a capacidade de sobreviver a um ataque nuclear e retaliar o país agressor com um outro ataque nuclear. Somente Estados Unidos, Rússia e China teriam esta capacidade, portanto seriam as únicas três "grandes potências mundiais". Hierarquicamente abaixo deste critério principal, um segundo conjunto de critérios levantados por Mearsheimer envolveria o tamanho do Exército, como principal capacidade dissuasória de um país após a capacidade nuclear. Neste sentido, o poder terrestre seria o mais importante, enquanto o poder aéreo ou marítimo, teriam um caráter complementar ao poder terrestre, tanto no sentido defensivo como ofensivo.

Uma outra categoria de análise, mais complexa e difícil de ser mensurada, envolve a capacidade política e econômica de um Estado sustentar a política de "grande potência" [1]. As capacidades necessárias para que um país mantenha uma estratégia de "grande potência", portanto, seriam, segundo os critérios anteriores, principalmente a capacidade de uma potência de conseguir manter seu arsenal nuclear em pronto uso (incluindo os meios de lançamento como bombardeiros estratégicos, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos nucleares lançadores de mísseis balísticos) e também, a capacidade de manter e sustentar por um longo período de tempo, um grande Exército. Estas capacidades precisariam ser mantidas mesmo diante das pressões da competição internacional. Pode-se considerar, por exemplo, que na segunda metade da Guerra Fria, a URSS não coseguiu manter sua política de grande potência e sucumbiu frente às pressões estratégicas impostas pelo seu maior competidor, os Estados Unidos e seus aliados.

A continuidade, ao longo do tempo, e o sucesso de uma "Política de Grande Potência", permitiria acumular capacidades ao longo do tempo, a ponto de uma potência conseguir se tornar o único grande pólo de poder mundial (DINIZ, Eugenio, 2006), que ao menos teoricamente, seria o objetivo de todas as grandes potências.

Mesmo uma categorização simultaneamente clara e complexa como esta é questionável, pois novas categorias de armas estratégicas, ou armas de uso estratégico (como canhões a laser e armas de energia direta, aeronaves aeroespaciais hipersônicas, bombas termobáricas, armas de pulso eletromagnético), tenderiam a substituir com vantagens as atuais armas nucleares e a tríade estratégica de lançadores nucleares, formada pelos bombardeios estratégicos, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos nucleares lançadores de mísseis balísticos [2]

Polaridade e estabilidade do Sistema Internacional

É comum a confusão de conceitos como unipolaridade, supremacia ou hegemonia, embora sejam três conceitos distintos. A maior parte dos pensadores das relações internacionais que seguem a chamada escola realista geralmente utilizam o termo hegemonia como sinônomo de supremacia militar. Uma pequena parte dos autores realistas, a grande maioria dos teóricos construtivistas, liberal-institucionalistas e marxistas, consideram supremacia como sendo diferente de hegemonia (ANDERSON, 2002; ARRIGHI, 1996; KEOHANE, 1984). Para este grupo de autores, geralmente, hegemonia vai além da força e inclui, em algum grau, liderança, ou seja, a capacidade de influência político-diplomática, e (ou) econômica e (ou) ideológica e cultural. Já a supremacia estaria associada diretamente à existência de uma superioridade militar incontestável. Neste sentido os Estados Unidos, no mundo de hoje, teriam hegemonia global, mas supremacia militar apenas na América do Norte.

Kenneth Waltz, criador da corrente teórica do realismo estrutural, considera que a bipolaridade é o sistema mais estável e a multipolaridade o mais instável, ou propenso à um guerra central, como as Guerras Mundiais. Para este autor, a bipolaridade seria caracterizada pela divisão do mundo ou de um continente em duas grandes áreas de influência de duas potências com superioridade militar (supremacia) regional, como na época da Guerra Fria.

John J. Mearsheimer, por sua vez, considera que é muito difícil uma supremacia global, mas que os Estados Unidos ficariam satisfeitos em continuar sendo a única potência mundial com hegemonia (no sentido de supremacia) regional, na América do Norte. Assim, a estratégia americana para impedir o surgimento de hegemonias regionais e continuar sendo a única potência com hegemonia-supremacia regional estaria correta, pois garantiria a liderança global. Assim, a unipolaridade seria o sistema menos propenso a guerras centrais.

Ao mesmo tempo, autores brasileiros consideram que a multipolaridade equilibrada é o padrão de distribuição de poder mais estável e, portanto, menos propenso às guerras centrais. O problema, portanto, estaria no desequilíbrio entre as capacidades das potências, como principal causador de conflitos centrais, e, não necessariamente, no número de pólos de poder.

Bibliografia

  • ARON, Raymond (1986). Paz e Guerra entre as Nações. Editora UnB, Brasília, DF. Brasil.
  • ANDERSON, Perry (2002). Force and Consent, New Left Review, n. 17, p. 5-30
  • ARRIGHI, Giovanni (1996). O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Ed. Contraponto: Rio de Janeiro, RJ; Ed. UNESP: São Paulo, SP; Brasil.
  • CEPIK, Marco A. C.; AVILA, Fabrício S.; MARTINS, José Miguel Q. (2007). O escudo anti-míssil americano e a resposta russa. Radar do Sistema Internacional. Brasil. [3]
  • CEPIK, Marco A. C.; AVILA, Fabrício S.; MARTINS, José Miguel Q.(2009). Armas estratégicas e poder no sistema internacional: o advento das armas de energia direta e seu impacto potencial sobre a guerra e a distribuição multipolar de capacidades. Revista Contexto Internacional, vol.31, n.1, p. 49-83. Rio de Janeiro, Brasil. [4]
  • DINIZ, Eugenio (2006). "Relacionamentos multilaterais na unipolaridade: uma discussão teórica realista". Revista Contexto Internacional, vol.28, n.2, p. 505-565. [5].
  • KEOHANE, Robert (1984). After Hegemony: Cooperation and Discord in the World Political Economy. Princeton University Press, Princeton, Oxford.
  • LIEBER, Keir A. & PRESS, Daryl G. (2006) A ascensão da supremacia nuclear dos Estados Unidos. Revista Política Externa, v. 15, nº 1, jun/jul/ago de 2006, p. 47-56.
  • MEARSHEIMER, John (2007). A Tragédia da Política das Grandes Potências. Tradução: Tiago Araújo. Ed. Gradiva: Lisboa, Portugal.
  • WALTZ, K. (1979). Theory of International Politics. Reading: Addison-Wesley .
  • WALTZ, K. (2000).Structural Realism after the Cold War, International Security, Vol. 25, No. 1, p. 5-41.

Referências

  1. DINIZ, Eugenio (2006). "Relacionamentos multilaterais na unipolaridade: uma discussão teórica realista". Revista Contexto Internacional, vol.28, n.2, p. 505-565. [1]
  2. CEPIK, Marco A. C.; AVILA, Fabrício S.; MARTINS, José Miguel Q.(2009). Armas estratégicas e poder no sistema internacional: o advento das armas de energia direta e seu impacto potencial sobre a guerra e a distribuição multipolar de capacidades. Contexto Internacional, vol.31, n.1, p. 49-83. Rio de Janeiro, Brasil.[2]

Ver também