Forró
Forró | |
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Casal dançando forró se apresenta na Virada Cultural de São Paulo em 2008. | |
Origens estilísticas | Polca, Contradança |
Contexto cultural | Início do século XIX, no Sertão nordestino |
Instrumentos típicos | Sanfona, Triângulo, Zabumba |
Popularidade | Nordeste do Brasil |
Subgêneros | |
xote, xaxado, baião, forró universitário, forró eletrônico | |
Formas regionais | |
Região Nordeste |
Forró é um ritmo e dança típicos da Região Nordeste do Brasil, praticada nas festas juninas e outros eventos. Diante da imprecisão do termo, é geralmente associado o nome como uma generalização de vários ritmos musicais do Nordeste, como baião, a quadrilha, o xaxado, que têm influências holandesas e o xote, que tem influência portuguesa. São tocados, tradicionalmente, por trios, compostos de um sanfoneiro (tocador de acordeão, que no forró é tradicionalmente a sanfona de oito baixos), um zabumbeiro e um tocador de triângulo. Também é chamado arrasta-pé, bate-chinela, fobó.
O forró possui semelhanças com o toré e o arrastar dos pés dos índios, com os ritmos binários portugueses e holandeses, porque são ritmos de origem europeia a chula, denominada pelos nordestinos simplesmente "forró", xote e variedades de polcas europeias que são chamadas pelos nordestinos de arrasta-pé e ou quadrilhas. A dança do forró tem influência direta das danças de salão europeias, como evidencia nossa história de colonização e invasões europeias.
Além do forró tradicional, denominado pé-de-serra, existem outras variações, tais como o forró eletrônico, vertente estilizada e pós-modernizada do forró surgida no início da década de 90 que utiliza elementos eletrônicos em sua execução, como a bateria, o teclado, o contrabaixo e a guitarra elétrica; e o forró universitário, surgido na capital paulista no final da década de 90, que é uma especie de revitalização do forró tradicional, que eventualmente acrescenta contrabaixo e violão aos instrumentos tradicionais, sendo a principal característica os três passos básicos, sendo um deles o "2 para lá 2 para cá", que veio da polca.
Conhecido e praticado em todo o Brasil, o forró é especialmente popular nas cidades brasileiras de Caruaru, Campina Grande, Mossoró e Juazeiro do Norte, que sediam as maiores Festa de São João do país. Já nas capitais Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Maceió, Recife, Teresina e Salvador, são tradicionais as festas e apresentações de bandas de forró em eventos privados que atraem especialmente os jovens.
História
Origem do nome
O termo "forró", segundo o filósofo pernambucano Evanildo Bechara, é uma redução de forrobodó, que por sua vez é uma variante do antigo vocábulo galego-português forbodó, corruptela do francês faux-bourdon, que teria a conotação de desentoação[1]. O elo semântico entre forbodó e forrobodó tem origem, segundo Fermín Bouza-Brey, na região noroeste da Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), onde "a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama forbodó"[2][3].
Na etimologia popular (ou pseudoetimológica) é frequente associar a origem da palavra "forró" à expressão da língua inglesa for all (para todos). Para essa versão foi inventada uma engenhosa história: no início do século XX, os engenheiros britânicos, instalados em Pernambuco para construir a ferrovia Great Western, promoviam bailes abertos ao público, ou seja for all. Assim, o termo passaria a ser pronunciado "forró" pelos nordestinos. Outra versão da mesma história substitui os ingleses pelos estadunidenses e Pernambuco por Natal (Rio Grande do Norte) do período da Segunda Guerra Mundial, quando uma base militar dos Estados Unidos foi instalada nessa cidade.[4]
Apesar da versão bem-humorada, não há nenhuma sustentação para tal etimologia do termo. Em 1912, estreou a peça teatral "Forrobodó", escrita por Carlos Bettencourt (1890-1941) e Luís Peixoto (1889-1973), musicada por Chiquinha Gonzaga[5] e em 1937, cinco anos antes da instalação da referida base militar em território potiguar, a palavra "forró" já se encontrava registrada na história musical na gravação fonográfica de “Forró na roça”, canção composta por Manuel Queirós e Xerém[3].
Histórico
Os bailes populares eram conhecidos em Pernambuco por "forrobodó" ou "forrobodança" ou ainda "forrobodão"já em fins do século XIX.[6]
O forró tornou-se um fenômeno pop em princípios da década de 1950. Em 1949, Luiz Gonzaga gravou "Forró de Mané Vito", de sua autoria em parceria com Zé Dantas e em 1958, "Forró no escuro". No entanto, o forró popularizou-se em todo o Brasil com a intensa imigração dos nordestinos para outras regiões do país, especialmente, para as capitais: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos anos 60 grandes forrozeiros fizeram sucesso, tais como Luiz Wanderley, Nino e Trio Paranoá, Sebastião do Rojão, Zé do Baião e muitos outros que, posteriormente, caíram no mais completo esquecimento. Uma possível causa para esse ostracismo vivido pelos cantores de forró dos anos 60 e 70 na atualidade pode ser o desinteresse do grande público pelo forró tradicional, aliado à falta de apoio por parte dos grandes artistas da MPB regional.
Nos anos 1970, surgiram, nessas e noutras cidades brasileiras, "casas de forró". Artistas nordestinos que já faziam sucesso tornaram-se consagrados (Luís Gonzaga, Marinês, Dominguinhos, Trio Nordestino, Genival Lacerda) e outros surgiram. Foi nessa década que surgiu a moda do duplo sentido, consagrada pelas composições e interpretações de João Gonçalves. Outros grandes cantores do período foram Zenilton e Messias Holanda.
A década de 1980 foi de crise para o forró, o que fez com que grandes nomes do gênero carregassem na maliciosidade das letras para atrair a atenção do público. Foi a década do chamado "forró malícia" representado por nomes como Genival Lacerda, Clemilda, Sandro Becker, Marivalda entre outros. Foi nessa década que a bateria (esporadicamente utilizada nos anos 70) foi inserida oficialmente na instrumentação do gênero, assim como a guitarra, o contrabaixo e, mais raramento, os metais. A década de 1980 terminou sem que o gênero conseguisse recuperar o prestígio e, nos anos 1990, surgia um movimento que procurou dar novo fôlego ao forró, adaptando-o ao público jovem; era o nascimento do reinado das bandas de "forró eletrônico", surgidas no Ceará, cuja pioneira foi a Mastruz com Leite. Outros grandes nomes desse movimento são Calcinha Preta (que impulsionou o crescimento do forró pelo Brasil e pelo mundo a fora), Cavalo de Pau, Magníficos e Limão com Mel.
Gêneros musicais
O forró é dançado ao som de vários ritmos brasileiros tipicamente nordestinos, entre os quais destacam-se: o xote, o baião, o xaxado, a marcha (estilo tradicionalmente adotado em quadrilhas) e coco.
Estilos da dança
O forró é dançado em pares que executam diversas evoluções, diferentes para o forró nordestino e o forró universitário:
O forró nordestino é executado com mais malícia e sensualidade, o que exige maior cumplicidade entre os parceiros. Os principais passos desse estilo são a levantada de perna e a testada (as testas do par se encontram), também conhecido pelo termo "Cretinagem".[4]
O forró universitário possui mais evoluções. Os passos principais são:
- atrás e ao lado - abertura lateral do par;
- caminhada - passo do par para a frente ou para trás;
- comemoração (xique xique) - passo de balançada, com a perna do cavalheiro entre a perna da dama;
- giro simples;
- giro do cavalheiro;
- oito (costas com costas) - o cavalheiro e a dama ficam de costas e passam um pelo outro;
- giro junto;
- giro solto ou livre;
- aviãozinho;
- giro ninja;
- quebra de braço;
- panamericano;
- manivela;
- portinha;
- controle de mão;
- facão;
- chanel;
- banana;
- repiques,feito com os pés;
Modernização do forró
A modernização do forró teve início a partir do final da década de 1970, quando a bateria passou a ser utilizada de forma sutil em disco de artistas como Trio Nordestino, Os 3 do Nordeste, Genival Lacerda e outros. Na década de 1980 a bateria, a guitarra e o contra-baixo já faziam parte oficialmente da instrumentação dos discos de forró. Luiz Gonzaga passou a fazer uso constante desses instrumentos a partir do seu álbum de 1980, intitulado "O homem da terra" A partir do início da década de 1990, com a saturação do forró tradicional conhecido como pé-de-serra, surgiu no Ceará um novo meio de fazer forró, com a introdução de instrumentos como teclado e saxofone e a exclusão de zabumba e triângulo. Também as letras deixaram de ter como o foco o modo de vida dos sertanejos, e passaram a abordar conteúdos que atraíssem os jovens, tranformando o gênero numa espécie de música pop com influências de forró. O precursor do movimento foi o ex-árbitro de futebol, produtor musical e empresário Emanuel Gurgel, responsável pelas bandas Mastruz com Leite, Cavalo de Pau, Alegria do Forró e Catuaba com Amendoim. O principal instrumento de divulgação do forró na década de 1990 foi a a rádio Som Zoom Sat e a gravadora Som Zoom Estúdio pertencentes a Gurgel. Tal pioneirismo teve críticas de transformar o forró num produto. Em entrevista à revista Época, declarou Gurgel: "Mudamos a filosofia do forró: Luiz Gonzaga só falava de fome, seca e Nordeste independente. Agora a linguagem é romântica, enfocada no cotidiano, nas raízes nordestinas, nas belezas naturais e no Nordeste menos sofrido, mais alegre e moderno(...)".[4]
Grande parte das bandas de forró fazem versões de clássicos do pop internacional, numa demonstração da real afinidade dessas bandas, qual seja, a música pop.
A banda de rock Raimundos fez muito sucesso nos anos 90 misturando o forró com o hardcore, desde a composição musical até as letras.
Ver também
Bibliografia
- Enciclopédia da Música Brasileira: Erudita, folclórica, popular. 2ª. ed. rev. e atual. Art Editora/Itaú Cultural, 1998.
- Alvarenga, Oneyda. Música Popular Brasileira. São Paulo. "Lundu e Danças Afins". P.177. 2ª Edição. Livraria Duas Cidades, 1942.
- Carvalho, Rodrigues de. Cancioneiro do Norte. Paraíba do Norte. 71. 2º Edição, 1928.
- Câmara Cascudo, Luís da. Vaqueiros e Cantadores. p. 143 (em Almeida RJ, José Alberto de. 1997. Os Cantadores de Cordel do Nordeste Brasileiro: Relentara de Uma Prática Medieval. p. 6. Universidade Estadual do Ceará. CNPq - PIBIC).
- Câmara Cascudo, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 2ª ED. Rio de .Janeiro. Instituto Nacional do Livro. Ministério da Educação e Cultura, 1962.
- Câmara Cascudo, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª Edição. Belo Horizonte, Itatiaia - São Paulo. p. 95. Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
- Enciclopédia Brasileira Globo. Vol.II - 14ª. Porto Alegre. Edição. Editora Globo, 1975.
- Buarque de Holanda Ferreira, Aurélio. Minidicionário da Língua Portuguesa. 1ª Ed. 5ª Impressão. Rio de Janeiro. p. 207. Editora Nova Fronteira, 1977.
- Phaelante, Renato. Forró: Identidade Nordestina. Fundação Joaquim Nabuco (Instituto de Pesquisas Sociais, Departamento de Antropologia). Recife, 1995.
Referências
- ↑ BECHARA, Evanildo (2009). Minidicionário da Língua Portuguesa. [S.l.]: Nova Fronteira. 957 páginas. ISBN 9788520921852
- ↑ Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete "forrobodó"
- ↑ a b Sobre Palavras - Forró vem de "for all"? Conta outra!, Sérgio Rodrigues, Revista Veja, 4 de agosto de 2011
- ↑ a b c Mvirtual. «Forró - Origens e Manifestações atuais». Consultado em 13 de janeiro de 2012
- ↑ ChiquinhaGonzaga.com - peças teatrais
- ↑ Enciclopédia da Música Brasileira: p. 301.