Ubuntu (filosofia)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Ubuntu (ideologia))
 Nota: Para outros significados de Ubuntu, veja Ubuntu (desambiguação).
Nelson Mandela explica o conceito do ubuntu

Ubuntu é uma noção existente nas línguas Zulu e xhosa - línguas Bantu do grupo ngúni, faladas pelos povos da África Subsaariana.

Na África do Sul, a noção de Ubuntu ligou-se também à história da luta contra o Apartheid e inspirou Nelson Mandela na promoção de uma política de reconciliação nacional. Muitos anos antes, quando Mandela criou a liga da juventude da ANC, em 1944, a noção já estava presente na filosofia de John Mbiti[1] e no manifesto do movimento: "Ao contrário do homem branco, o africano quer o universo como um todo orgânico que tende à harmonia e no qual as partes individuais existem somente como aspectos da unidade universal".[2]

Aspectos éticos[editar | editar código-fonte]

A palavra Ubuntu, não traduzível diretamente,[3] no entanto nessa tentativa seria "humanidade para com os outros". Exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade.[4][3] Segundo o arcebispo anglicano Desmond Tutu, autor de uma teologia ubuntu "a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade".[5] Essa noção de fraternidade implica compaixão e abertura de espírito e se opõe ao narcisismo e ao individualismo.[2]

Nelson Mandela também explica esse ideal (ver vídeo):

Na tradição sul-africana, a reconciliação se exprime através do ubuntu ou humanismo, que inclui valores como a compaixão e a comunhão - valores que orientaram a Comissão Verdade e Reconciliação e serviram como base para a formulação dos objetivos nacionais de reconstrução e reconciliação. J.Y. Mokgoro, juiz da Corte Constitutional da África do Sul mostrou que esse princípio filosófico fundamental marcou de maneira determinante o direito constitucional do país, desde a constituição provisória de 1993 e está presente na lei fundamental n° 34, de 1995, sobre a Promoção da Unidade Nacional e da Reconciliação:[6]

"[…] A Constituição estipula que a busca da unidade nacional, o bem-estar de todos os cidadãos sul-africanos e a paz exigem a reconciliação entre os habitantes da África do Sul e a reconstrução da sociedade."

Segundo o Arcebispo Desmond Tutu:

Portanto o conceito exprime a crença na comunhão que conecta toda a humanidade:[3] "sou o que sou graças ao que somos todos nós".[7]

Valores e princípios do Ubuntu[editar | editar código-fonte]

No coração do Ubuntu, encontramos valores e princípios que desempenham um papel essencial na construção de laços sociais sólidos e na promoção da coexistência pacífica. Solidariedade é um valor que está enraizado nas comunidades africanas, onde a noção de "eu" é inseparável do "nós". Essa disposição de apoiar uns aos outros e compartilhar recursos é o que sustenta a coesão social e ajuda a superar desafios comunitários. A solidariedade é um lembrete constante de que nossas ações individuais têm impacto coletivo e que, ao estendermos a mão ao próximo, fortalecemos todo o tecido social.

Aspectos religiosos[editar | editar código-fonte]

Louw (1998) sugere que o conceito do Ubuntu define um indivíduo em termos de seus relacionamentos com os outros, e enfatiza a importância como um conceito religioso, assentado na máxima Zulu umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas), que aparentemente parece não ter conotação religiosa na sociedade ocidental.[8] No contexto africano, isso sugere que o indivíduo se caracteriza pela humanidade com seus semelhantes e através da veneração aos seus ancestrais. Assim, aqueles que compartilham do princípio do Ubuntu no decorrer de suas vidas continuarão em união com os vivos após a sua morte.

Aspectos políticos[editar | editar código-fonte]

Ubuntu é visto como um dos princípios fundamentais da nova república da África do Sul e está intimamente ligado à ideia da Renascença Africana. No Zimbabwe, Ubuntu tem sido usado como forma de resistência à opressão existente no país. Na esfera política, o conceito do Ubuntu é utilizado para enfatizar a necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão, assumindo-se uma ética humanista.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Tamosauskas, Thiago (2020). Filosofia Africana: cinco milênios de pensamento. [S.l.: s.n.] p. 46 
  2. a b «Nelson Mandela and the Rainbow of Culture»  Anders Hallengren, Nobelprize.org, site oficial do Prêmio Nobel.
  3. a b c Adérito Gomes Barbosa (2012). «Contributos para a Pedagogia Social: Neuroética. Educação vagarosa e ubuntu (Página 6 e a partir da 197, especialmente 209 e 210)» (PDF). Cadernos de Pedagogia Social do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa. ISSN 1646-7280. Consultado em 10 de março de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 10 de março de 2017 
  4. (em inglês) SAMPSON, Anthony Mandela: The Authorized Biography. Country Boy: 1918-1934 (excerto publicado pelo New York Times)
  5. «All you need is ubuntu» (em inglês). BBC. 28 de setembro de 2006 
  6. «L'idée de réconciliation dans les sociétés multiculturelles du Commonwealth : une question d'actualité ?» (em inglês). Cairn.info. 2 de junho de 2004 
  7. Desmond Tutu, Mike Nicol. Croire - inspirations et paroles de Desmond Tutu. Acropole Belfond, 2007.
  8. (em inglês) Louw, Dirk J. 1998. Ubuntu: An African Assessment of the Religious Other. Twentieth World Congress of Philosophy.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]