Apocalipse 1
Apocalipse 1 | |
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Trecho de Apocalipse 1 no Papiro 18.
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Livro | Apocalipse |
Categoria | Apocalíptico |
Parte da Bíblia | Novo Testamento |
Precedido por: | Apocalipse (introdução) |
Sucedido por: | Apocalipse 2 |
Apocalipse 1 é o primeiro capítulo do Livro do Apocalipse (também chamado de "Apocalipse de João") no Novo Testamento da Bíblia cristã.[1][2] O livro todo é tradicionalmente atribuído a João de Patmos, uma figura geralmente identificada como sendo o apóstolo João.[3]
Texto
[editar | editar código-fonte]O texto original está escrito em grego koiné e contém 20 versículos. Alguns dos mais antigos manuscritos contendo porções deste capítulo são:
- Papiro 98 (século II, versículos 13-20)
- Papiro 18 (séculos III/IV, versículos 4-7)
- Codex Sinaiticus (330-360, completo)
- Codex Alexandrinus (400-440, completo)
- Codex Ephraemi Rescriptus (c. 450; versículos 3-20)
Estrutura
[editar | editar código-fonte]Este capítulo pode ser dividido em 3 seções distintas:
- Prólogo (versículos 1-3)
- Cumprimentos e doxologia (versículos 4-8)
- Em Apocalipse 1:7 há uma referência a Daniel 7:13 e Zacarias 12:10
- "Visão de João do Filho do Homem" (versículos 9-20)
- Em Apocalipse 1:13 há uma referência a Daniel 7:13
Visão de João do Filho do Homem
[editar | editar código-fonte]O trecho entre os versículos 9 e o fim do capítulo 1 do Apocalipse é conhecido como Visões de João do Filho do Homem. Nele, João tem uma visão de Jesus Cristo ressuscitado, ascendido ao Céu e glorificado, a quem ele chama de "Filho do Homem" (Apocalipse 1:13). Jesus aparece nesta visão vestindo uma roupa comprida com um cinto de ouro, com cabelos brancos e olhos "em chama", pés de latão (ou bronze) e uma voz "como que de muitas águas". Ele segura sete estrelas na mão direita e de sua boca saía uma espada de dois gumes.
Contexto
[editar | editar código-fonte]João de Patmos, geralmente identificado como sendo o apóstolo João, estava exilado na ilha grega de Patmos,[4] provavelmente na época do imperador romano Domiciano.[5] Segundo ele próprio, no Dia do Senhor ele foi "arrebatado" pelo Espírito Santo e ouviu uma voz "como de uma trombeta" (Apocalipse 1:10. Quando ele se virou, teve a visão do Filho do Homem. Em Apocalipse 17:18, a figura se auto-identifica como "o primeiro e o último" (Alfa e Ômega), e o "que vivo; fui morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos", uma referência à Ressurreição de Jesus.
Ligações com o resto do livro
[editar | editar código-fonte]Parte do linguajar utilizado em Apocalipse 1 também aparece em Apocalipse 19: para descrever o cavaleiro do cavalo branco. Em ambos os trechos, Jesus aparece com uma espada saindo da boca (Apocalipse 1:16 e 19:15) e "olhos como chama de fogo" (1:14 e 19:12).
O Filho do Homem nesta passagem aparece entre sete candeeiros que representam as sete igrejas da Ásia (Apocalipse 1:20). Apocalipse 2 e Apocalipse 3 relatam cartas escritas às sete igrejas por João relatando o que lhe fora revelado pelo Filho do Homem (em Apocalipse 1:11, ele diz "o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia"). Nestes trechos, o Filho do Homem é identificado sempre em relação a esta visão de João, como "aquele que tem a afiada espada de dois gumes" em Apocalipse 2:12.
Interpretações
[editar | editar código-fonte]William Hendriksen sugere que toda a visão "é simbólica de Cristo, o Sagrado, vindo para expurgar suas igrejas" e para "punir os que estão perseguindo seus eleitos".[6] A veste comprida e o cinto dourado, segundo David Chilton, são uma referência à veste oficial do sumo-sacerdote israelita.[7] O cabelo branco é compartilhado pelo Antigo de Dias de Daniel 7 (Daniel 7:9)[8]
"Wisdom and the dignity of age"[8] e o os olhos de fogo seriam capazes de "ler todos os corações e penetrar os cantos mais escondidos".[6] Os pés de latão (ou bronze) representariam "força e estabilidade"[9] para "pisotear os inimigos".[10] A voz como "de muitas águas" seria uma referência "ao poder impressionante de uma grande catarata".[9]
As sete estrelas na mão direita foram interpretadas por Chilton como sendo as Plêiades[7] e representariam a "suprema autoridade política".[7] Kistemaker interpreta a mão direita como uma fonte de poder e de proteção[11] enquanto que Murphy enxerga um simbolismo astrológico: "as estrelas podem ser entendidas como senhoras do destino humano, mas Jesus é quem controla as estrelas".[12] Os dois gumes da espada significam o poder de salvar e de destruir[7] e a face como a do sol é entendida como uma referência ao Cristo transfigurado.[10]
Interpretações das sete estrelas
[editar | editar código-fonte]Uma imagem semelhante à de Jesus segurando as sete estrelas na mão direita pode ser encontrada nas moedas do imperador romano Domiciano, que perdeu um filho ainda criança em algum momento entre 77 e 81.[13] Ele foi depois deificado e passou a ser representado nas moedas romanas com sete estrelas. Embora o filho de Domiciano não apareça "segurando" as estrelas, alguns estudiosos traçaram paralelos entre estas duas imagens. Ernest Janzen defende que o globo sobre o qual o menino-deus aparece representa o domínio e poderio mundial romano enquanto que as estrelas seriam uma referência à sua natureza divina. Ele seria o "filho de (um) deus" e "conquistador do mundo".[14] Austin Farrer, por outro lado, interpreta a imagem como sendo os sete planetas clássicos e interpreta a visão como representando o comando de Jesus sobre o tempo.[15] Frederick Murphy afirma que a imagem de Jesus no Apocalipse com sete estrelas em sua mão possa ser uma alusão à da moeda e uma crítica implícita a ela. Não é a família imperial que tem importância cósmica, mas Jesus".[12]
O próprio João conta, em Apocalipse 1:20, que as sete estrelas são os anjos das sete igrejas da Ásia. Ao comentar esse versículo, C.I. Scofield afirma: "A explicação natural dos 'mensageiros' [anjos] é que eles eram homens enviados pelas sete igrejas para saber notícias do já idoso apóstolo ... mas eles representam qualquer figura que portem mensagens de Deus para uma igreja".[16] No Novo Testamento, a palavra grega para "anjos" ("aggelos") é utilizada não apenas para referenciar anjos celestiais, mas também mensageiros humanos, como é o caso de João Batista (Mateus 11:10, Marcos 1:2, Lucas 7:27). Merrill Unger acredita que as estrelas representem estes mensageiros humanos.[17]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Halley, Henry H. Halley's Bible Handbook: an abbreviated Bible commentary. 23rd edition. Zondervan Publishing House. 1962.
- ↑ Holman Illustrated Bible Handbook. Holman Bible Publishers, Nashville, Tennessee. 2012.
- ↑ Evans, Craig A (2005). Craig A Evans, ed. Bible Knowledge Background Commentary: John, Hebrews-Revelation. Colorado Springs, Colo.: Victor. ISBN 0781442281
- ↑ "Patmos" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
- ↑ Jack Finegan, The Archeology of the New Testament: The Mediterranean world of the early Christian Apostles (Westview Press, 1981), 43.
- ↑ a b William Hendriksen, More Than Conquerors: An Interpretation of the Book of Revelation (Tyndale Press, 1962), 56.
- ↑ a b c d David Chilton, The Days of Vengeance: An Exposition of the Book of Revelation (Dominion Press, 1987), 73-76.
- ↑ a b Leon Morris, The Revelation of St. John (Tyndale, 1969), 53.
- ↑ a b Robert H. Mounce, The Book of Revelation (Eerdmans, 1977), 79.
- ↑ a b John Gill, Exposition of the Entire Bible Arquivado em 8 de fevereiro de 2013, no Wayback Machine.
- ↑ Simon J. Kistemaker, Exposition of the Book of Revelation (Baker, 2002), 97.
- ↑ a b Frederick James Murphy, Fallen is Babylon: the Revelation to John, (Trinity Press International, 1998), 91.
- ↑ Brian W. Jones, The Emperor Domitian (Routledge, 1993), 36.
- ↑ Ernest P. Janzen, "The Jesus of the Apocalypse Wears the Emperor's Clothes," SBL Seminar Papers 130 (1994): 645-47.
- ↑ Austin Farrer, "Inspiration, Poetical and Divine," in Interpretation and Belief, 47.
- ↑ Scofield, W. I., The Scofield Study Bible (New York: Oxford University Press, 1996) p1331
- ↑ Unger, M., Unger's Bible Dictionary, (Chicago: Moody Press, 1975) p52
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Apocalipse 1 Almeida Corrigida Fiel
- Apocalipse 1 Almeida Revista e Corrigida (1995)
- Apocalipse 1 Nova Versão Internacional
- Apocalipse 1 Scrivener’s Textus Receptus 1894
- Apocalipse 1 Nestle 1904 Greek New Testament
- Apocalipse 1 Bíblia Ave Maria
- Apocalipse 1 Vulgata Latina
- Apocalipse 1 Tradução do Novo Mundo (revisão de 2015)
- Este artigo incorpora texto de uma publicação, atualmente no domínio público: Gill, John, Exposition of the Entire Bible (1746-1763)