Hip hop tuga
Hip hop tuga | |
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Origens estilísticas | Hip hop |
Contexto cultural | Final dos anos 80 - início dos anos 90 em Portugal |
Instrumentos típicos | |
Popularidade | Popular em Portugal e em vários países africanos de expressão portuguesa |
Hip Hop Tuga é a designação habitual (coloquial) para a música hip hop feita em Portugal. Apesar de não ser possível apontar a origem certa do termo, é possível que remonte ao final do século passado, derivado da gíria popular à volta do movimento.[1]
História
[editar | editar código-fonte]Primórdios
[editar | editar código-fonte]Não é certo quando nem como é que o hip-hop chegou a Portugal. Contudo, a base das Lajes na ilha Terceira é apontada como uma das portas de entrada do género em Portugal, fruto da influência dos militares norte-americanos lá instalados - ainda no final dos anos 80.[2] O início da divulgação radiofónica do género foi amplificado na zona da Grande Lisboa através do programa Mercado Negro, da Correio da Manhã Rádio. [3][4]
1990-2000 - Hip-hop em português
[editar | editar código-fonte]Os primeiros discos e eventos
[editar | editar código-fonte]Lançada em 1994, pela divisão portuguesa da Columbia, a compilação Rapública é tida como o registo primordial do hip-hop tuga.[5] O disco reuniu vários nomes pioneiros do movimento, como Boss AC e coletivos como os Zona Dread e os Líderes da Nova Mensagem, entre outros.[5] Os Black Company assinaram o single de apresentação, "Nadar". Com um refrão orelhudo e de tom leve, o tema foi um êxito de verão e a sua influência foi notória. A propósito das gravuras de Foz Côa, o presidente da república na época, Mário Soares, citou a canção - “As gravuras não sabem nadar”.[6][7][8] Nos anos seguintes, Cavaco Silva e Jorge Sampaio usaram hip-hop português como hinos de campanhas políticas.[9]
1994 foi um ano de viragem, com vários nomes de peso a firmarem os primeiros passos. Ainda à procura da sua formação final, os Da Weasel editaram o seu EP de estreia, More Than 30 Motherf***s.[10][11] No Porto, o trio Mind Da Gap assinou pela novíssima NorteSul, depois de ter recusado o convite para participar em Rapública.[12] Em dezembro, um dos primeiros DJs portugueses de hip-hop, o DJ Bomberjack, lançoua sua primeira mixtape, Underground Music Scene, inaugurando o circuito independente.[13]
A primeiras edições no feminino chegaram, igualmente, nesta década. O grupo Divine estreou-se com uma participação no primeiro álbum dos Black Company, em 1995[14][15] Dois anos mais tarde, as Djamal tornam-se nas primeiras mulheres a editar em nome próprio - Abram Espaço foi lançado em 1997 pela BMG.[14][16]
General D foi o primeiro artista a solo a assinar um contrato de gravação com grande grupo de edição discográfica, a EMI.[17][18] O seu álbum de estreia, Pé Na Tchôn, Karapinha Na Céu, foi editado em 1995, mas a sua ligação ao movimento é bastante anterior. O artista foi um dos organizadores do primeiro festival de rap em Portugal - um evento realizado em 1990, na sala Incrível Almadense.[18]
Na segunda metade da década, começaram a despertar álbuns marginais, mais alternativos e caseiros, sem quaisquer preocupações comerciais. Como referiu Sam the Kid em entrevista, “as pessoas quando começam a fazer música não pensam no negócio, pensam só em criar”. [19]
O hip-hop na comunicação social
[editar | editar código-fonte]O hip-hop surgiu em destaque na imprensa especializada, pela primeira vez, numa reportagem do jornal Blitz, em 1992.[20] Por volta da mesma altura, na RTP2, o programa Pop Off gravou uma reportagem no Miratejo com vários rappers a fazerem freestyle; entre eles estavam General D e alguns elementos dos Black Company.[4]
No ano seguinte, nasceu o primeiro programa de rádio português dedicado exclusivamente ao hip-hop. O Novo Rap Jovem era transmitido na lisboeta Rádio Energia, dirigido por José Mariño.[9][4] Pouco tempo depois, Mariño mudou-se para a Antena 3, onde passou a apresentar o Repto, programa em que começou a divulgar trabalhos de rappers e produtores portugueses. Com um alcance alargado, a sessão semanal fez com que Mariño passasse a ser considerado um dos primeiros grandes divulgadores do género em Portugal.[21][22][4] Já no final da década, a Rádio Marginal arrancou com um novo programa intitulado Hip-hop Don't Stop.[2]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ «Hip hop tuga: onde e quando nasceu o termo que designa a cultura em Portugal?». Rimas e Batidas. 8 de março de 2019. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ a b «BLITZ – Como nasceu o hip-hop em Portugal. Os pioneiros e os heróis do som que nasceu nos bairros e se impôs no país inteiro». Jornal blitz. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «Para uma história do RAP em Portugal: referências em Portugal e as primeiras rappers mulheres | BUALA». www.buala.org. Consultado em 26 de outubro de 2020
- ↑ a b c d «Raptilário: Grande entrevista com José Mariño». NiTfm. 3 de março de 2020. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ a b Pinheiro, Davide (5 de março de 2014). «Pasta da Reciclagem: Rapública». Mesa de Mistura. Consultado em 23 de outubro de 2020. Arquivado do original em 13 de outubro de 2014
- ↑ Lusa, Agência. «Descoberta das gravuras rupestres recordada 20 anos depois pelo Museu do Côa». Observador. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «Arquivo da Batalha do Côa, As Gravuras paleolíticas do Vale do Côa». www1.ci.uc.pt. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ Queirós, Luís Miguel. «Um PREC cultural no fim do cavaquismo». PÚBLICO. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ a b Fcsh +lisboa (15 de março de 2017). «Os primeiros tempos do hip hop em Lisboa». FCSH+Lisboa. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «BLITZ – Da Weasel: a 'doninha' nasceu há 25 anos. E foi assim que tudo começou». Jornal blitz. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «A história dos Da Weasel em 10 fotografias». Rimas e Batidas. 8 de abril de 2017. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «Arquivo.pt». arquivo.pt. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «Fórum Footmoovin > albuns bomberjack». 23 de setembro de 2007. Consultado em 25 de outubro de 2020
- ↑ a b «RAProduções de memória: 1990-1997, percursos da invisibilidade. As primeiras mulheres no RAP feito em Portugal (afirmação e resistência)». Mural Sonoro revista digital/digital magazine. Consultado em 26 de outubro de 2020
- ↑ «Black Company - Geração Rasca». Discogs (em inglês). Consultado em 26 de outubro de 2020
- ↑ «Abram Espaço que elas estão a chegar, as mulheres no RAP: afirmação e resistência (1990 -1997)». Esquerda. Consultado em 26 de outubro de 2020
- ↑ «BLITZ – General D, pioneiro do hip-hop em Portugal, volta com 'Zombie'. "Procurei encapsular 500 anos de história em 3 minutos"». Jornal blitz. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ a b Belanciano, Vítor. «General D: Uma história nunca contada». PÚBLICO. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «Sam The Kid e Mundo Segundo: hip hop ao Coliseu». Público (jornal). Consultado em 18 de Março de 2016
- ↑ «BLITZ – O primeiro artigo sobre hip-hop tuga foi no BLITZ, há quase 27 anos. Leia-o aqui». Jornal blitz. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «Hip Hop Rádio ao vivo: José Mariño junta-se a nós para uma conversa sobre regressos». Hip Hop Rádio. 6 de outubro de 2019. Consultado em 23 de outubro de 2020
- ↑ «José Mariño sobre A Teoria da Evolução: "A minha ideia é chegar a todas as gerações e ouvir todas as gerações"». Rimas e Batidas. 10 de junho de 2019. Consultado em 23 de outubro de 2020
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Media relacionados com Hip hop de Portugal no Wikimedia Commons