Rapública

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Rapública
Rapública
Capa original do álbum mostrando a Área Metropolitana de Lisboa, zona de origem das bandas.
Coletânea musical de vários artistas
Lançamento 1994
Gênero(s) Rap, hip hop
Formato(s) CD, Cassete
Produção Didi (12 e 13), D-Mars (2, 3 e 7), Boss AC (4 e 8), Zona Dread (6), Miguel A. (5 e 14), Nuno Miguel (10 e 11), Augusto Armada (faixa 9 e co-produziu, com Jorge Ferreira, a faixa 1)
Singles de Rapública
  1. "Nadar"

Rapública foi a primeira compilação de rap português. Lançada em 1994, pela Columbia Records, a coletânea alcançou a certificação de Disco de Prata, em boa parte graças ao single "Nadar" dos Black Company, que foi um dos refrões mais ouvidos no verão desse ano. Registo pioneiro do hip-hop português, é considerado um marco de afirmação e disseminação deste género musical no país, alargando o seu público até às massas.

Influências e Estilos[editar | editar código-fonte]

Apesar de se centrar à volta do género Rap e Hip Hop, é de notar uma forte diferença de estilos nos variados temas. Verifica-se também que tais estilos vêm das influências de cada um dos grupos.[carece de fontes?]

O Inglês

Composto por rappers oriundos da Margem Sul[carece de fontes?] (a meca do hip hop nacional), a principal influência dos Black Company era, sem dúvida, o Inglês, tal como o era também nos grupos New Tribe e Boss AC. Boss AC e Black Company acabam por ser os autores das 2 músicas completamente em inglês do álbum ("Generate Power" e "Psyca Style"). Ainda assim, é possível ouvir rimas em inglês noutros temas cantados em português, como em "A verdade" e "Summer Season".

O Crioulo

Family, composto por Mc's de origem cabo-verdiana, como Melo D, acabaram por gravar aquele que é o 1º tema de hip hop rimado em crioulo, "Rabola Bô Corpo". O tema conta também com influências rítmicas mais africanas, como o reggae, fazendo dos Family o grupo mais africano da colectânea.

RaggaMuffin

Uma vez gravado nos anos 90, era apenas natural que artistas de um novo estilo de hip hop, conhecido como raggamuffin, tivessem fortes influências nos jovens artistas. Mais notoriamente nos Family e em Boss AC, com o tema mais puramente ragga, Generate Power.

Política

Sendo o Rap dos estilos musicais mais políticos, também o Rapública necessitava de conter mensagens mais corrosivas e sociais. Dos grupos mais políticos, salientamos Zona Dread, autores do tema mais político do álbum "Só Queremos ser Iguais" (um forte retrato do racismo vivido em Portugal[carece de fontes?]), Boss AC, com o tema "A Verdade" (uma crítica à verdadeira sociedade[carece de fontes?]) e Funky D, autor do tema "Minha Banda" (referente à situação bélica então vivida em Angola).

Fell-Good Vibe

Outra perspectiva apresentada no álbum é a do Rap "Fell Good", um registo mais "limpinho". Neste campo, salientaram-se New Tribe, com o tema "Summer Season" e Black Company, com o tem Nadar (ambos relacionados com o verão).

P&P (Poesia e Profundidade)

No registo lirical mais profundo, salientamos os Líderes da Nova Mensagem, com o tema "Sê tu mesmo", direccionado para a personalidade do ouvinte. Também os New Tribe conseguiram preencher este registo, com o tema "Palavras".

Composição e produção[editar | editar código-fonte]

A maioria das canções foi produzida pelos próprios grupos ou artistas.[1] D-Mars, um dos fundadores dos Zona Dread, explica que, uns meses antes do lançamento da antologia, uma loja de Lisboa tinha tido uma promoção numa caixa de ritmos da Yamaha, que quase todos os grupos acabariam por comprar, conferindo um som característico ao disco.[2]

A produção executiva ficou a cargo de Hernâni Miguel; já Tiago Faden foi o diretor artístico e executivo.[3][4]

Receção e impacto[editar | editar código-fonte]

O disco é amplamente reconhecido como um marco na indústria discográfica portuguesa, uma vez que foi o primeiro longa duração do hip-hop nacional.[5] Foi também a origem do primeiro grande êxito deste género musical em Portugal - o single de apresentação "Nadar".[6] O refrão "orelhudo" levou a que se tornasse uma das músicas mais ouvidas no verão de 1994 em Portugal, levando a que o disco atingisse a certificação de Disco de Prata (mais de 15 mil cópias vendidas).[7][8]

"Nadar" foi, ainda, reapropriado como slogan da campanha para a preservação das gravuras pré-históricas de Foz Côa. Durante uma visita ao liceu de Foz Côa, a 20 de fevereiro de 1995, os estudantes receberam Mário Soares entoando "as gravuras não sabem nadar". O então presidente da república concordou, respondendo "e não sabem".[9][10][11] Nos anos seguintes, tanto Cavaco Silva e Jorge Sampaio usaram hip-hop português como hinos de campanhas políticas.[12][13]

O sucesso do disco ajudou a alimentar uma pequena "explosão" do hip-hop em Portugal na altura. Apesar de

Em 2022, a Sony Music Portugal reeditou o disco em vinil. Foi também nessa altura que ficou disponível nas plataformas de streaming.[3][14]

Faixas[editar | editar código-fonte]

  1. "Nadar" (Black Company) - Single
  2. "Putos da Rua" (Zona Dread)
  3. "Minha Banda" (Funky D)
  4. "A Verdade" (Boss AC)
  5. "Palavras" (New Tribe)
  6. "Só Queremos Ser Iguais" (Zona Dread)
  7. "É Natural" (Funky D)
  8. "Generate Power" (Boss AC)
  9. "Psyca Style" (Black Company)
  10. "Rap É Uma Potência" (Líderes da Nova Mensagem)
  11. "Sê Tu Mesmo" (Líderes da Nova Mensagem)
  12. "Hip Hop Está No Ar" (Family)
  13. "Rabola Bô Corpo" (Family)
  14. "Summer Season" (New Tribe)

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «h2tuga.net». Consultado em 9 de fevereiro de 2011. Arquivado do original em 1 de agosto de 2013 
  2. Nogueira, Rodrigo (11 de agosto de 2023). «Com menos 20 anos, o hip-hop português também vive». PÚBLICO. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  3. a b «"Rapública", a primeira coletânea de rap português foi reeditada em vinil». Rádio Voz da Planície - 104.5FM - Beja. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  4. Farinha, Ricardo (25 de novembro de 2022). «Hernâni Miguel: "O Rapública foi um disco de abertura. Aproximou brancos e pretos"». Rimas e Batidas. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  5. Pinheiro, Davide (5 de março de 2014). «Pasta da Reciclagem: Rapública». Mesa de Mistura. Consultado em 23 de outubro de 2020. Arquivado do original em 13 de outubro de 2014 
  6. «Música: os clássicos de hip-hop tuga que cimentaram o movimento». Time Out Lisboa. 14 de dezembro de 2019. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  7. Fradique, Teresa (21 de janeiro de 2019). «7. O rap como produto cultural de consumo e a nacionalização dos estilos musicais». Lisboa: Etnográfica Press. Portugal de Perto: 179–208. ISBN 979-10-365-1621-4. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  8. «"Até no Parlamento diziam 'não sabe nadar'. Os putos falavam. Toda a gente falava": como os Black Company conquistaram o país em 1994». Expresso. 30 de novembro de 2022. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  9. Lusa, Agência. «Descoberta das gravuras rupestres recordada 20 anos depois pelo Museu do Côa». Observador. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  10. «25 anos depois "as gravuras não sabem nadar" – #dacomunicação» (em inglês). 8 de julho de 2020. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  11. Pimenta, Andreia Marques Pereira, Paulo (6 de março de 2020). «Foz Côa: as gravuras aprenderam a nadar e são "o centro de um certo mundo"». PÚBLICO. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  12. Fcsh +lisboa (15 de março de 2017). «Os primeiros tempos do hip hop em Lisboa». FCSH+Lisboa. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  13. Simões, José Alberto (2011). Entre a rua e a Internet: um estudo sobre o hip-hop português 1. ed ed. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais 
  14. SAPO. «"Rapública": compilação vai ser editada em vinil e estará disponível nas plataformas digitais, 28 anos depois da edição original». SAPO Mag. Consultado em 18 de agosto de 2023