Levante Integralista
O Levante integralista ou Intentona Integralista foi o resultado de uma articulação executada pela ala miliciana da Ação Integralista Brasileira (AIB) em movimento contra o Estado Novo. O evento ocorreu no Rio de Janeiro, em 11 de maio de 1938 e tinha como objetivo a deposição do presidente da república, Getúlio Vargas, em resposta ao decreto-lei nº 37[1] - que extinguia as agremiações políticas em todo o país -, e o subsequente fechamento da AIB.
A ação visava prender o presidente dentro de sua residência, o Palácio da Guanabara, através da invasão ao palácio, liderada por Severo Fournier; e das movimentações por parte de oficiais da Marinha. O levante não teve sucesso, e terminou com cerca de 1500 encarceramentos e o exílio de Plínio Salgado, líder máximo dos integralistas, para Portugal.
História[editar | editar código-fonte]
Os meses que antecederam a tentativa de derrubada do governo por parte da AIB, foram os primeiros após um outro golpe de estado, o de 1937, esse bem sucedido, que deu início à ditadura de Getúlio Vargas, que perduraria até 1945. A justificativa para que a Constituição de 1934 fosse revogada foi o combate a uma suposta revolução comunista, concretizada no Plano Cohen, um documento forjado pelo capitão integralista Olímpio Mourão Filho e que criou o clima necessário para a declaração de um estado de guerra em 1 de outubro de 1937.
A AIB apoiou o golpe articulado por Vargas, como fica claro através da participação de Mourão Filho, e também através de outras demonstrações de apreço. Plínio Salgado se reuniu com o presidente antes e depois do dia 10 de novembro, quando o Estado Novo foi oficialmente instituído, e declarou em cartas seu otimismo a respeito da relação que seria traçada entre a AIB e o novo regime:
Eu tinha impressão de que se iria formar um partido único; que o integralismo seria o cerne desse partido; que, além desse partido, existiria uma vasta organização da juventude[2]
O jornal integralista A Offensiva publicou um artigo em 2 de outubro de 1937, de autoria do próprio Salgado, que defendia a decisão do governo e declarava que "seria impossível proteger o país dentro do sistema constitucional vigente"[3]. No dia 1º de novembro, os integralistas realizaram um desfile para homenagear o governo, inspirados na Marcha sobre Roma de 1922, quando os camisas negras tomaram as ruas da capital italiana para celebrar a posse de Benito Mussolini.
Por conta desse apoio, a iniciativa de se mobilizar contra Vargas tomou ares de vingança, já que a AIB havia confiado no presidente, e mesmo assim foi fechada junto às outras agremiações políticas, em dezembro de 1937.
A verdade é que Getúlio Vargas já possuía suspeitas a respeito da Ação Integralista desde antes de 1937. A polícia política de Vargas começou a observar os integralistas a partir do momento em que se tornaram uma organização de inserção nacional. Ainda que o presidente se posicionasse publicamente a favor da AIB, as ações do governo diziam o contrário. No Arquivo Público do Rio de Janeiro encontram-se numerosos dossiês de investigações sobre os camisas verdes (apelido dado aos integralistas em alusão à cor dos seus uniformes). E não só no RJ, como na Bahia, no Pernambuco e Rio Grande do Sul houve movimentações governamentais contra integralistas. Mesmo assim, Plínio Salgado não mediu esforços para demonstrar seu interesse em participar do Estado Novo. Inclusive após o término da AIB, Salgado ainda despende esforços para a criação da Associação Brasileira de Cultura, na qual o integralismo poderia seguir com suas atividades denominando-se uma sociedade cultural. Entretanto, a iniciativa foi descontinuada pelo governo.
Ainda valorizando sua relação com Vargas, Salgado mantém a comunicação através de cartas, mesmo que para expressar seu descontentamento:
O integralismo, arrebentadas as comportas da hierarquia, através da qual chegava, de chefe em chefe, a minha orientação, é hoje uma ebulição, um complexo que me atormenta[4]
A AIB não possuía mais a organização que a qualificava, mas ainda contava com milhares de membros ao redor do país, que não lidavam com a nova conjuntura da mesma forma que seu líder.
A insatisfação se transformou em conspiração em março de 1938. Na oportunidade, um pequeno grupo de revoltosos, liderados por Fernando Cochrane e Francisco Barbosa, atacou "o edifício dos Correios e Telégrafos, as usinas geradoras de eletricidade, a Rádio Mayrink Veiga e a Escola Naval"[5]. A ação foi um fracasso, mas não impediu o segundo e mais famoso levante, realizado no dia 11 de maio.
Sessenta dias depois da primeira tentativa de golpe, iniciou-se uma mobilização para tentar prender Getúlio Vargas e tomar o governo. A ação foi facilitada pois contou com alguns infiltrados, como "a Guarda do Palácio Guanabara, a cargo do tenente Integralista Júlio do Nascimento, a chefia da Guarda na Polícia Civil, a cargo do tenente Soter, e com vários oficiais de serviço na Marinha e no Exército".
Ainda assim, o resultado foi desfavorável para os integralistas. No palácio, dos 150 que haviam se prontificado para participar da insurreição, apenas 30 estiveram presentes no confronto com a guarda da sede do governo e alguns familiares de Vargas. Os revoltosos tampouco conseguiram encarcerar oficiais como Eurico Gaspar Dutra, Góis Monteiro, Francisco Campos, entre outros.
Após o ataque ser contido muitos dos revoltosos foram fuzilados e presos, dentre eles, podemos indicar os "mártires integralistas", Teófilo Jacoud, Dionisio P. da Silva, Arthur P. de Hollanda, Mario Salgueiro Viana, Cab. Juvencio Dias, Waldomiro Petrone, José Rodrigues e Luiz Candido[6]. Como resultado, outros, em torno de 1.500 integralistas, foram presos e Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira, foi para o exílio em Portugal [7], de onde tentou reorganizar o movimento integralista.
O integralismo[editar | editar código-fonte]

Em política, integralismo ou integrismo é o conjunto de conceitos teóricos e práticas políticas que defendem uma ordem social e política totalmente integrada, baseando-se na convergência de tradições políticas, culturais, religiosas e nacionais de um determinado Estado ou outra entidade política.[8][9][10] Algumas formas de integralismo estão focadas em alcançar integração política e social, assim como unidade (uniformidade) nacional ou étnica, enquanto outras formas são mais focadas em alcançar unidade religiosa e cultural.[9][10]
No Brasil, o integralismo surge nos anos 1930. Seus primórdios datam da viagem de Plínio Salgado, escritor e jornalista que futuramente fundaria a Ação Integralista Brasileira, à Europa, onde tem contato com o fascismo italiano, tendo ficado vivamente impressionado e escrito cartas a alguns companheiros sobre a possibilidade da criação de um movimento no Brasil em moldes similares.[11]
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- CALIL, Gilberto Grassi. Os integralistas frente ao Estado Novo: euforia, decepção e subordinação. Artigo, Locus - Revista de História UFJF, 2010 [1]
- CALIL, Gilberto Grassi. O Integralismo no pós-guerra: a formação do PRP, 1945-1950. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. [2]
- CALIL, Gilberto Grassi. Plínio Salgado em Portugal (1939-1946): um exílio bastante peculiar. Artigo, XXVI Simpósio Nacional de História, São Paulo - SP, 2011 [3]
- MORAES, Márcio André Martins de. UMA REVOLUÇÃO QUE NÃO ACONTECEU: os integralistas de Garanhuns-PE pegam em armas para acabar com o Estado Novo (1937). Artigo, XXVII Simpósio Nacional de História, Natal - RN, 2013 [4]
- VICTOR, Rogério Lustosa. A PESCA DO PIRARUCU: O INTEGRALISMO E O SEU LUGAR NA MEMÓRIA SOCIAL CONSTRUÍDA DURANTE O ESTADO NOVO. Artigo, Cadernos de Pesquisa do CDHIS, Uberlândia - MG, 2011 [5]
- PIOVEZAN, Adriane. Rituais fúnebres militares: o túmulo dos Fuzileiros Navais mortos na Intentona Integralista de 1938. Artigo, XXIX Simpósio Nacional de História, São Paulo - SP, 2017 [6]
- SCHIAVON, Carmem Gessilda Burgert. O OLHAR PORTUGUÊS ACERCA DA OUTORGA DA CONSTITUIÇÃO DE 1937 E SOBRE OS PRIMEIROS MOMENTOS DO ESTADO NOVO NO BRASIL (1937-1942). Artigo, Repositório Institucional FURG, Rio Grande - RS, 2010 [7]
- SILVA, Hélio. 1938 - Terrorismo em campo verde. São Paulo: editora Civilização Brasileira, 1971.
- FILHO, Pedro Gomes dos Santos CMG (RM1). Uma Longa Viagem de Instrução. Artigo, Revista Acadêmica da Escola Naval, Ano III, Número 3, 2008 [8]
- SILVA, Giselda Brito. UMA PROPOSTA DE ANÁLISE INTERDISCIPLINAR PARA OS ESTUDOS DO INTEGRALISMO. Artigo, Revista de História Regional, Ponta Grossa - PR, 2002 [9]
- MIRANDA, Gustavo Felipe. O poder mobilizador do nacionalismo: integralistas no Estado Novo. Rio de Janeiro: UERJ, 286 f. Dissertação (Mestrado em História). UERJ/IFCH, Rio de Janeiro, 2009[12]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Integralismo brasileiro
- Integralismo lusitano
- Intentona Comunista
- Estado Novo (Brasil)
- Getúlio Vargas
Referências
- ↑ «Legislação :: Normas Jurídicas». legis.senado.gov.br. Consultado em 27 de novembro de 2018
- ↑ Carta de Plínio Salgado a Getúlio Vargas apud SILVA, Hélio (1971). 1938: Terrorismo em Campo Verde. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. 373
- ↑ HILTON, Stanley (1977). O Brasil na Crise Internacional. Rio de Janeiro: Cultura Brasileira. p. 47
- ↑ Carta de Plínio Salgado a Getúlio Vargas apud SILVA, Hélio (1971). Terrorismo em Campo Verde. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. 381
- ↑ REVOLTA INTEGRALISTA. In: ABREU, Alzira et alii (2001). Dicionário histórico-biográfico brasileiro: pós 1930. Rio de Janeiro: FGV/CPDOC. p. 4993
- ↑ Figueira, Guilherme Jorge (quinta-feira, 7 de maio de 2015). «História do Partido de Representação Popular.: "Homenagem aos Mártires Integralistas de 1938"». História do Partido de Representação Popular. Consultado em 2 de maio de 2019 Verifique data em:
|data=
(ajuda) - ↑ CPDOC-FGV. Ação Integralista Brasileira (AIB)
- ↑ Jeffries, Vincent (1 de julho de 2003). «The Nature of Integralism». Catholic Social Science Review. Consultado em 29 de dezembro de 2019
- ↑ a b Poulat, Emile (1969). «« Modernisme » et « Intégrisme ». Du concept polémique à l'irénisme critique». Archives de Sciences Sociales des Religions. 27 (1): 1–28. doi:10.3406/assr.1969.2644
- ↑ a b Poulat, Emile (1968). «Intégrisme». Encyclopaedia Universalis. 8. [S.l.]: Encyclopaedia Universalis. pp. 1076–1079.
- ↑ Trindade, Hélgio (1974). Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. São Paulo: Difusão Européia do Livro
- ↑ «Untitled Document». www.bdtd.uerj.br. Consultado em 27 de novembro de 2018