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Revisão das 12h50min de 3 de abril de 2013
Miguel Torga | |
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Miguel Torga, por Bottelho | |
Nascimento | Adolfo Correia da Rocha 12 de agosto de 1907 Vila Real, Portugal |
Morte | 17 de janeiro de 1995 (87 anos) Coimbra, Portugal |
Nacionalidade | Portuguesa |
Cônjuge | Andrée Crabbé |
Ocupação | Poeta, Ator porno e Escritor |
Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, (São Martinho de Anta, 12 de agosto de 1907 — Coimbra, 17 de janeiro de 1995) foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.[1]
Biografia
Primeiros anos e educação
Nasceu na localidade de São Martinho de Anta, em 12 de Agosto de 1907.[2][3][4] Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros. Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918 foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História, aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois comunicou ao pai que não seria padre.
Emigrou para o Brasil em 1920[2], ainda com doze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma fazenda de café. Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina.[2] Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, convicto de que ele viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e concluir os estudos liceais.[1][2]
Carreira profissional e literária
Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade.[2] Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca era bandeira literária do grupo modernista e bandeira libertária da revolução modernista. Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, junto com Edmundo Bettencourt e Branquinho da Fonseca[2], por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma posição independente.[1] Nesse ano, publica o livro Rampa, lançando, no ano seguinte, Tributo e Pão Ázimo, e, em 1932, Abismo.[2] Em colaboração com Branquinho da Fonseca, funda a revista Sinal, de efémera duração, e, em 1936, lança, junto com Albano Nogueira, o periódico Manifesto.[2] Nesse ano, publica O Outro Livro de Job.[2][4]
A obra de Torga traduz sua rebeldia contra as injustiças e seu inconformismo diante dos abusos de poder. Reflete sua origem aldeã, a experiência médica em contato com a gente pobre e ainda os cinco anos que passou no Brasil (dos 13 aos 18 anos de idade), período que deixou impresso em Traço de União (impressões de viagem, 1955) e em um personagem que lhe servia de alter-ego em A criação do mundo, obra de ficção em vários volumes, publicada entre 1937 e 1939. As críticas que fez aí ao franquismo resultaram em sua prisão (1940).[1] Publica os livros A Terceira Voz em 1934, aonde pela primeira vez empregou o seu pseudónimo, Bichos em 1940, Contos da Montanha em 1941, Rua em 1942, O Sr. Ventura e Lamentação em 1943, Novos Contos da Montanha e Libertação em 1944, Vindima em 1945, Sinfonia em 1947, Nihil Sibi em 1948, Cântico do Homem em 1950, Pedras Lavradas em 1951, Poemas Ibéricos em 1952, e Orfeu Rebelde em 1958.[2][4]
Crítico da praxe e das restantes tradições académicas, chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de Coimbra, onde exerce a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreve a maioria dos seus livros. Em 1933 concluiu a licenciatura em Medicina pela Universidade de Coimbra.[2] Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, pano de fundo de grande parte da sua obra. Dividiu seu tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a literatura. Após a Revolução dos Cravos que derrubou o regime fascista em 1974, Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979). Era, porém, avesso à agitação e à publicidade e manteve-se distante de movimentos políticos e literários.
Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros ao longo de seis décadas e foi várias vezes indicado para o Prêmio Nobel da Literatura.[1]
Casamento e últimos anos
Casou-se com Andrée Crabbé em 1940, uma estudante belga que, enquanto aluna de Estudos Portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de Outubro de 1955, e divorciada de Vasco Graça Moura.
Torga, sofrendo de cancro, publicou o seu último trabalho em 1993, vindo a falecer em Janeiro de 1995.[1][2] A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.
A origem do pseudónimo
Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha cria o pseudónimo "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.
A obra de Torga
A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um disfarce que os mude).
Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a natureza, mal-grado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga, fazem do homem único ser digno de adoração.
Poesia
- 1928 - " Ansiedade " (fora do mercado)
- 1930 - Rampa[2]
- 1936 - O outro livro de Job[2][4]
- 1944 - Libertação
- 1958 - Orfeu rebelde[2][4]
- 1962 - Câmara ardente
- 1965 - Poemas ibéricos
- 1997- “Poesia Completa”, volume I
- 2000- “Poesia Completa”, volume II
- 1931 - Pão Ázimo[2]
- 1931 - Criação do Mundo
- 1934 - A Terceira Voz[2]
- 1937 - Os Dois Primeiros Dias
- 1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo
- 1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo
- 1940 - Bichos[2][4]
- 1941 - Contos da Montanha[2] "Diário I"
- 1942 - Rua[2]
- 1943 - O Senhor Ventura[2] "Diário II"
- 1944 - Novos Contos da Montanha[2]
- 1945 - Vindima[2]
- 1946 - "Diário III"
- 1949 - "Diário IV"
- 1950 - Portugal'
- 1951 - Pedras Lavradas[2][4] "Diário V"
- 1953 - "Diário VI"
- 1956 - "Diário VII"
- 1959 - "Diário VIII"
- 1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo
- 1976 - Fogo Preso
- 1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo
- 1982 - Fábula de Fábulas
- 1999 - "Diário: Volumes IX a XVI"(1964-1993), Publicações Dom Quixote e Herdeiros de Miguel Torga, 2.ª edição integral, ISBN 972-20-1647-4
- Indice dos volumes
- Diário IX (15-1-1960/20-9-1963)
- Diário X (5-10-1963/30-7-1968)
- Diário XI (2-8-1968/6-4-1973)
- Diário XII (17-5-1973/22-6-1977)
- Diário XIII (8-7-1977/20-5-1982)
- Diário XIV (21-5-1982/11-1-1987)
- Diário XV (20-02-1987/31-12-1989)
- Diário XVI (11-1-1990/10-12-1993)
O seu Diário (1941 - 1994), em 16 volumes, mistura poesia, contos, memórias, crítica social e reflexões. No último volume, diz: "Chego ao fim, perplexo diante de meu próprio enigma. Despeço-me do mundo a contemplar atônito e triste o espetáculo de um pobre Adão paradoxal, expulso da inocência sem culpa sem explicação."[1]
Peças de teatro
- 1941 - "Terra Firme" e "Mar"[2]
- 1947 - Sinfonia[4][2]
- 1949 - O Paraíso[2]
- 1950 - Portugal
- 1955 - Traço de União
Ensaios e Discursos
Ensaios e Discursos, publicações Dom Quixote,Lisboa, 2001, ISBN 972-20-1681-4 , ‘’tomou por base, respectivamente,os textos da 6.ª edição de Portugal, Coimbra, 1993; da 2.ª edição revista de Traço de União, Coimbra, 1969; e da edição de Fogo Preso, Coimbra, 1989”, conforme nota do editor, p. 8.
Traduções
Seus livros foram traduzidos em diversos idiomas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.
Prémios e homenagens
- 1969 - Prémio do Diário de Notícias.
- 1976 - Prémio de Poesia da XII Bienal de Internacional de Poesia de Knokke-Heist (Bélgica) (1977)
- 1980 - Prémio Morgado de Mateus, com Carlos Drummond de Andrade (1980)
- 1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S.
- 1989 - Prêmio Luso-Brasileiro Luís de Camões (1989)
- 1991 - Prémio Personalidade do Ano
- 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
- 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra
O seu nome foi colocado, em 3 de Maio de 1995, numa rua da Freguesia de Santa Maria, no Concelho de Lagos.[2]
Referências
- ↑ a b c d e f g Livro do Ano 1996 (Eventos de 1955), pg. 399. Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab Ferro, p. 431, 432
- ↑ NEVILLE, Williams (1989). «1890-1917». Cronologia Enciclopédica do Mundo Moderno. 4.º volume. Círculo de Leitores. pp. p. 77
- ↑ a b c d e f g h «Nomes Próprios». Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse Seleções. 2.º volume 5.ª edição ed. Seleções do Reader's Digest. 1981. 1611 páginas
Bibliografia
- FERRO, Silvestre Marchão (2007). Vultos na Toponímia de Lagos 2.ª ed. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 358 páginas. ISBN 972-8773-00-5
Ligações externas
Precedido por — |
Prêmio Camões 1989 |
Sucedido por João Cabral de Melo Neto |