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Septênio Liberal

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Charge da Revista Illustrada (nº. 118 de 1878) satirizando a força dos liberais no poder.

O Septênio Liberal foi o período de sete anos, entre 1878 e 1885, em que o Partido Liberal governou o Império do Brasil de forma ininterrupta, após dez anos na oposição. Foi marcado pela aprovação de importantes reformas e pela discussão de temas importantes, como o direito ao voto, a educação pública e a escravidão no Brasil, além de eventos como a Grande Seca, a Revolta do Vintém, a Questão Militar e a abolição nas províncias do Ceará e do Amazonas[1].

Charge ilustrando as divisões dentro do Partido Liberal no final da década de 1860.

Com a queda do gabinete de Zacarias de Góis e Vasconcelos, em 1868, o Partido Liberal se dividiu entre liberais históricos e radicais (futuros republicanos). A crise do grupo, somada ao contexto da época, ocasionou a volta do Partido Conservador ao poder, permanecendo dez anos no governo. A chamada "Década Conservadora" foi um período de grandes debates e grandes reformas, como a Lei do Ventre Livre.

Em 1878, Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, presidente do Conselho de Ministros desde 1875, apresentou seu pedido de demissão a D. Pedro II, alegando problemas de saúde. O Imperador, aproveitando o desgaste dos conservadores, após tão longo período no poder, e entendendo a necessidade de novas reformas políticas, chamou então o Partido Liberal para organizar um novo governo, dando início ao "Septênio Liberal".

Domínio liberal

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O período se iniciou em 1878, com a ascensão de João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, Visconde de Sinimbu, ao poder. Além da já conhecida alternância fictícia dos partidos no poder, executada por D. Pedro II, a principal razão para a volta dos liberais ao governo, após dez anos no ostracismo, era a necessidade de se reformar o sistema eleitoral de então, introduzindo, pela primeira vez no Brasil, o sufrágio direto.

Imagem comemorativa à "Lei Saraiva", aprovada pelo Gabinete Saraiva em 1881.

Sinimbu, porém, falhou na tentativa de aprovar a reforma no Senado, graças à resistência dos membros conservadores. O projeto, então, recaiu sobre o Conselheiro José Antônio Saraiva, que subiu ao poder em 1880[2]. Saraiva, político experiente e líder tradicional do Partido Liberal, conseguiu aprovar a chamada "Lei Saraiva" – assim batizada em sua homenagem –, reforma eleitoral que introduziu o voto direto no Brasil, proibiu o voto dos analfabetos, tornou o sufrágio facultativo e distrital, ajustou o valor da renda exigida pelo censo (200$000 contos de réis) e disciplinou sua comprovação, incluiu nominalmente não-católicos, estrangeiros e escravos libertos no sistema, secularizou o processo eleitoral, fortaleceu o parlamento e parte do eleitorado urbano, isentando da exigência de renda amplos setores de classe média, além de introduzir o primeiro modelo obrigatório de Título de Eleitor do país e fazer tentativas em direção ao voto secreto. A medida foi recebida com entusiasmo, embora, com a exclusão dos analfabetos, tenha havido um corte de quase 90% do eleitorado.

Com a derrota de Saraiva nas eleições convocadas em 1882, seguiram-se dois gabinetes de curta duração, chefiados, respectivamente, por Martinho Álvares da Silva Campos e João Lustosa da Cunha Paranaguá, Visconde de Paranaguá, que se envolveu no estopim da chamada "Questão Militar".

Em 1883, subiu ao poder o conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, nome polêmico do partido, pois havia sido signatário do Manifesto Republicano de 1870, abandonando o movimento e reconciliando-se com a monarquia. Em seu breve mandato, a escravidão foi abolida nas províncias do Amazonas e do Ceará. Seu apoio inicial gerou críticas entre os setores escravocratas da sociedade brasileira, assim como sua vacilação posterior em relação ao tema gerou descontentamento entre os abolicionistas, causando a queda de seu gabinete.

Em 1884, Manuel Pinto de Sousa Dantas formou gabinete, incumbido de encaminhar o fim definitivo da escravidão no Brasil. O senador apresentou o chamado Projeto Dantas, que previa a libertação de todos os escravos com 60 anos de idade ou mais e a proibição do tráfico interprovincial, além de uma espécie de reforma agrária que assentasse os libertos em colônias agrícolas e a fixação da abolição definitiva para o dia 31 de dezembro de 1889, sem indenização aos antigos proprietários. A proposta foi rechaçada pela oposição conservadora no parlamento e acabou por derrubar Dantas do poder.

Em 1885, assumiu o poder novamente o Conselheiro Saraiva, dessa vez incumbido de aprovar um projeto emancipacionista mais moderado que o apresentado por seu antecessor. Embora tenha redigido um novo projeto e conquistado o apoio nominal do parlamento, Saraiva foi derrubado no mesmo ano, graças a uma crise em seu gabinete, assumindo em seu lugar João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, membro do Partido Conservador, que aprovou a chamada "Lei dos Sexagenários", também conhecida como "Lei Saraiva-Cotegipe", libertando os escravizados com mais de 60 anos de idade e terminando, assim, com o domínio liberal.

O partido ainda voltaria ao poder em 1889, pouco antes da Proclamação da República.

Gabinetes liberais

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Sucederam-se seis gabinetes liberais entre 1878 e 1885:

João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, Visconde de Sinimbu
José Antônio Saraiva
Martinho Álvares da Silva Campos
João Lustosa da Cunha Paranaguá, Visconde de Paranaguá
Lafayette Rodrigues Pereira
Manuel Pinto de Sousa Dantas
  • Presidente do Conselho de Ministros: José Antônio Saraiva.
  • Ministro dos Negócios do Império: João Florentino Meira de Vasconcelos.
  • Ministro da Justiça: Afonso Augusto Moreira Pena.
  • Ministro dos Estrangeiros: João Lustosa da Cunha Paranaguá, 2º Visconde de Paranaguá.
  • Ministro da Fazenda: José Antônio Saraiva.
  • Ministro da Marinha: Luís Filipe de Sousa Leão.
  • Ministro da Guerra: Antônio Eleutério de Camargo.
  • Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas: João Ferreira de Moura.
  1. Nesse período, a escravidão também foi abolida na cidade de Mossoró, província do Rio Grande do Norte, em 1883.
  2. Antes de deixar o poder, o Gabinete Sinimbu conseguiu aprovar, em 1879, o Decreto nº 7.247, conhecido como a "Reforma Leôncio de Carvalho", que deu liberdade de ensino às escolas primárias e secundárias do Império. A medida levou ao surgimento de instituições de ensino protestantes e positivistas, embora o analfabetismo continuasse generalizado.