Trólebus de Belo Horizonte

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Trólebus de Belo Horizonte

Um dos primeiros trólebus Twin Coach do sistema de Belo Horizonte operando na Linha Sagrado Coração de Jesus, 1953.
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
Informações
Proprietário Prefeitura de Belo Horizonte
Local Belo Horizonte, Minas Gerais
Tipo de transporte Trólebus
Número de linhas 9 (1965)
Funcionamento
Início de funcionamento 30 de maio de 1953
Fim de funcionamento 22 de janeiro de 1969
Número de veículos 59
Dados técnicos
Extensão do sistema 31,8 km (1963)

O Trólebus de Belo Horizonte foi um sistema de transporte público operado por trólebus na cidade de Belo Horizonte entre 1953 e 1969, quando foi desativado e seus veículos e equipamentos vendidos para a cidade de Recife. Em 1986 ocorreu uma tentativa de se reativar o sistema, com novos veículos adquiridos e parte da rede elétrica instalada. O projeto, porém, foi cancelado por um suposto desvio de recursos obtidos junto ao Banco Mundial e os veículos e demais equipamentos vendidos para a cidade de Rosário, Argentina.[1][2]

História[editar | editar código-fonte]

Com o final da Segunda Guerra Mundial a população de Belo Horizonte cresceu, assim como a sua necessidade de deslocamentos. Em 1947 os ônibus e lotações transportaram 9,9 milhões de passageiros. Já em 1951 eram 38 milhões, forçando a estrutura existente de transporte (formada por ônibus e bondes). Após a implantação do trólebus em São Paulo em 1949, Belo Horizonte se voltou para esse sistema de transporte. As obras de implantação foram iniciadas na gestão do prefeito Américo Renné Gianett no início dos anos 1950. O primeiro trecho, linha Coração de Jesus, com 2,8 km de extensão e 4 veículos Twin Coach importados dos Estados Unidos e montados no Brasil, foi inaugurado em 30 maio de 1953. Entre maio e dezembro de 1953 fora transportados 1.422.957 passageiros. Mesmo com a troca de gestões o projeto foi sendo ampliado, com mais quilômetros sendo adicionados à rede que atingiu seu auge em 1963 quando possuía 31,8 quilômetros e 59 veículos.[3][4][2]

Até o final da década de 1960 o sistema passou a ser desativado aos poucos, sob a justificativa de alto custo de manutenção. O último trólebus foi desativado em 22 de janeiro de 1969 enquanto veículo e equipamentos foram adquiridos por Recife, onde funcionaram até 2001.[2][5][6][7]

Tentativa de reimplantação[editar | editar código-fonte]

Em 1984 a EBTU repassou uma verba de Cr$ 4 bilhões para a Companhia de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Metrobel) reimplantar um sistema de trólebus entre o centro da capital e Venda Nova.[8]

Foram adquiridos em fevereiro de 1986 55 trólebus por 81 bilhões de cruzados junto a um consórcio formado pelas empresas Tectronic-Avibras e Marcopolo, com prazo de entrega previsto para junho a dezembro de 1986.[9][10]

O Banco Mundial financiou um empréstimo de 50 milhões de dólares como verba complementar ao projeto. O primeiro trólebus tinha previsão de ser testado em janeiro de 1987. No entanto, cerca de 22 milhões de dólares foram desviados do projeto, causando a paralisação do mesmo. Acusações feitas à época pelo então deputado Hélio Costa eram de que o dinheiro foi usado para alimentar a campanha política de Newton Cardoso ao governo de Minas Gerais.[11]

Apesar de possuir 42 trólebus, subestações, postes e parte da rede elétrica instaladas, o projeto foi abandonado pelo governo de Cardoso em 1989, que o substituiu por um projeto de bondes elétricos. Cardoso assinou uma carta de intenções para adquirir 36 bondes da empresa checa Skoda, porém a aquisição nunca foi efetuada.[12][13]

Para diminuir o prejuízo, após um armazenamento de quase seis anos na fábrica da Marcopolo, os trólebus foram vendidos para a cidade de Rosário na Argentina e para o sistema de trólebus de São Paulo (CMTC-Metra).[14]

Características do sistema[editar | editar código-fonte]

Frota[editar | editar código-fonte]

O prefeito Celso Mello de Azevedo (segundo da direita para a esquerda) visitando a fábrica de trólebus Villares em São Paulo, 1957.
Arquivo Público Mineiro.

Para a inauguração do sistema de trólebus, Belo Horizonte encomendou em 1952 4 veículos Twin Coach importados dos Estados Unidos e montados no Brasil pela Companhia Paulista de Material Elétrico. Posteriormente a prefeitura estudou a compra de 16 novos trólebus. Essa encomenda só foi efetuada em 1959, quando foi ampliada para 50 trólebus Marmon-Herrington, importados dos Estados Unidos. Os veículos chegaram entre 1959 e 1960 e ficaram um bom tempo parados em um depósito da alfândega do porto do Rio de Janeiro por falta de pagamento de impostos e fretes à Marmon-Herrington.[15] Apesar da prefeitura declarar não ter recursos para quitar as dívidas em menos de 3 meses, as taxas foram pagas e eles passaram a atender a cidade a partir de 1960.[16] Em 1963 ocorreu a última aquisição de veículos. Pela primeira vez foram adquiridos veículos nacionais, sendo 5 unidades fabricadas pelas empresas Massari e Villares. Em 1969 a frota foi desativada precocemente. Os trólebus Twin Coach tiveram um fim desconhecido enquanto que os 55 trólebus Marmon Herrington e Massari/Villares foram adquiridos pela cidade do Recife. No Recife os trólebus, adquiridos de Belo Horizonte, operaram até a desativação do sistema em 2001.[2][7]

Origem Ano Fabricante Desativação
501-504 EUA 1952 Twin Coach Company (equip. elétricos, chassi e carroceria)
Companhia Paulista de Material Elétrico (montagem)
1969
700-750 1959/60 Marmon-Herrington 1969 (Belo Horizonte)/
2001 (Recife)
?? Brasil 1963 Villares (equip. elétricos)
Massari (chassi e carroceria)
1969 (Belo Horizonte)/
1980 (Recife)

Passageiros Transportados[editar | editar código-fonte]

Segundo os relatórios anuais entregues pelos prefeitos de Belo Horizonte à Câmara Municipal entre 1954 e 1969, o número de passageiros transportados pelos trólebus em todo o seu período de funcionamento foi de 179 milhões:[17]

Ano Passageiros Ano Passageiros
1953 1.422.957 1962 28.650.000
1954 3.352.730 1963 30.687.000
1955 3.502.964 1964 24.001.000
1956 4.044.000 1965 26.000.000
1957 3.958.000 1966 21.532.000
(janeiro-novembro)
1958 4.498.000 1967 10.498.000
(janeiro-setembro)
1959 4.349.000 1968 6.224.398
1960 13.261.000 1969 102.280
(até 22 de janeiro)
1961 25.024.000 Total 179.077.329

Referências

  1. Gustavo Werneck (9 de novembro de 2013). «Evolução do transporte coletivo em BH mostra uma sucessão de gargalos». O Estado de Minas. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  2. a b c d Jorge Françozo de Moraes (dezembro de 1996). «Trólebus:As fases de implantação do sistema no Brasil» (PDF). Revista ANTP dos Transportes Públicos, Ano 19, edição 73, páginas 63-82. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  3. Departamento Estadual de Estatística (1955). «Passageiros transportados em ônibus e auto-lotações (1939-1954)». Anuário Estatístico de Minas Gerais, página 174/Memória Estatística do Brasil-Biblioteca do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro-republicano no Internet Archive. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  4. Prefeitura de Belo Horizonte (1954). «Transportes Coletivos» (PDF). Relatório de 1953 apresentado à Câmara Municipal pelo prefeito Américo Renné Gianetti/republicado pelo Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  5. Allen Morrison. «Trolleybuses of Belo Horizonte». Electric transport in Latin America. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  6. Allen Morrison. «Trolefolia». Electric transport in Latin America. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  7. a b Allen Morrison. «The Trolleybuses of Recife». Electric transport in Latin America. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  8. «Verba é pequena para B.Horizonte». Jornal do Brasil, ano edição, página 19/republicado pela Biblioteca nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 8 de janeiro de 1984. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  9. «Tectronic vai fornecer, por Cr$ 81 bilhões, os trólebus da Metrobel». Jornal do Brasil, ano XCV edição 309, página 19/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 12 de fevereiro de 1986. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  10. «Informe publicitário:Inauguração do túnel da Lagoinha». Jornal do Brasil, ano XCVI,edição 221, página 33/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 15 de novembro de 1986. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  11. Agência Estado (10 de janeiro de 1988). «Verba teria sido destinada para Newton» (PDF). O Estado de S.Paulo, Seção Política, página 9/clipping de notícias do Senado Federal do Brasil. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  12. «Minas desiste de troleibus e estuda projeto de bondes». =Jornal do Brasil, ano XCIX,edição 38, página 6/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 16 de maio de 1989. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  13. «Newton consegue financiamento para 36 bondes». Jornal do Brasil, ano XCIX,edição 42, página 4/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 20 de maio de 1989. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  14. «História:O guerreiro Trólebus Torino Geração 4 que atravessa décadas e fronteiras». Diário do Transporte. 18 de setembro de 2016. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  15. «Ao sabor da maré». Jornal do Brasil, ano LXIX, edição 3, página 9/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 5 de janeiro de 1960. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  16. «Trolleybuss enferrujam no pier Mauá». Jornal do Brasil, ano LXIX, edição 11, 2º Caderno, página 5/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 14 de janeiro de 1960. Consultado em 25 de janeiro de 2020 
  17. «Relatório de Prefeito». Prefeitura de Belo Horizonte. Consultado em 25 de janeiro de 2020