Trólebus do Rio de Janeiro

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Trólebus do Rio de Janeiro

Um dos primeiros trólebus circulando no Rio Janeiro, 1962.
Arquivo Nacional
Informações
Proprietário Estado da Guanabara
Local Rio de Janeiro
Tipo de transporte Trólebus
Número de linhas 23
Funcionamento
Início de funcionamento 3 de setembro de 1962
Fim de funcionamento abril de 1971
Operadora(s) Companhia de Transportes Coletivos da Guanabara (CTC-GB)
Número de veículos 199
Dados técnicos
Extensão do sistema 297 km

O Trólebus do Rio de Janeiro foi o maior sistema de transporte público por trólebus do Brasil (até sua extinção), com 297 quilômetros de extensão. Inaugurado em 3 de setembro de 1962, aproveitou-se da infraestrutura existente da rede de bondes da cidade do Rio de Janeiro que se encontrava em vias de extinção. Implantado de forma populista por Carlos Lacerda (que o promoveu como substituto do bonde), o sistema de trólebus enfrentou problemas de ordem econômica, jurídica, política e técnica até ser sumariamente desativado em abril de 1971. Seus veículos foram convertidos para tração diesel, porém o resultado foi insatisfatório e a frota acabou sucateada no final dos anos 1970.[1][2][3]

História[editar | editar código-fonte]

Na década de 1950 a rede de bondes do Rio de Janeiro encontrava-se próxima da extinção. Após grande discussão, a zona sul da cidade foi a primeira a ter suas linhas de bonde desativadas. Em meados da década de 1950 começaram a surgir os primeiros projetos de trólebus na cidade. A prefeitura do Distrito Federal, comandada por Negrão de Lima lançou em de agosto de 1956 um processo de licitação para a implantação de ônibus elétricos. Apresentaram-se para a licitação quatro consórcios[4]:

Consórcio Proposta
Cobrazil-Siemens-Villares Cr$ 670.642.839,00
FIAT/Alfa Romeo
General Electric[5]
Sul-Americana de Eletrificação S.A.
Cr$ 697.090.391,00
Auto Motor Limitada-Lancia N/D
Berliet do Brasil N/D

Apesar da proposta do consórcio Cobrazil ter sido de menor valor, a prefeitura optou pela proposta do consórcio FIAT/Alfa Romeo. Isso gerou protestos dos demais concorrentes, que acusaram a FIAT de ser representada pelos vereadores Hugo Ramos Filho, Luís Gonzaga Prado Ferreira da Gama e pelo assessor do prefeito Márcio de Melo Franco Alves[6].

Com o atraso da assinatura do contrato, em maio de 1958 as empresas Villares e Grassi apresentaram a versão nacionalizada do trólebus estadunidense Marmom Herrington para as autoridades do Distrito Federal, incluindo o presidente Juscelino Kubistchek. O objetivo era convencer a opinião pública e a classe política de que a Villares era capaz de fornecer os trólebus com fabricação nacional.[7][8]

As obras foram iniciadas em agosto de 1958 (mesmo sem a assinatura formal do contrato) com a implantação dos postes de sustentação da rede aérea. O prazo inicial para a conclusão dos trabalhos e inauguração do sistema era de dez meses.[9] Os trabalhos foram concentrados na Zona Sul por conta do término do contrato de concessão dos bondes naquela região findar em 1960. Assim o estado aproveitaria para desativar os bondes da Zona Sul e inaugurar os trólebus em seu lugar.[10]

A confirmação do resultado em agosto de 1959, dando vitória para a FIAT, levou o consórcio Cobrazil a protestar na justiça contra o resultado. Apesar de ter contratado os advogados San Tiago Dantas (futuro ministro da Fazenda e Relações Públicas de João Goulart) e Márcio Elísio de Freitas, o consórcio Cobrazil perdeu a disputa e a FIAT assinou o contrato com a prefeitura (agora comandada por José Joaquim de Sá Freire Alvim) prevendo o fornecimento de 200 trólebus, 8 subestações subterrâneas e demais equipamentos elétricos. A contratação de equipamento importado no lugar do similar nacional suscitou protestos de setores da sociedade, como parte da imprensa (de viés nacionalista) e da indústria (que se viu enfraquecida com a perda da maior encomenda do país até então).[11][4]

O projeto previa que 277 mil passageiros fossem transportados por dia através de 16 linhas.[12] Uma das propostas era de que até os tradicionais bondes de santa Tereza fossem substituídos.[13] Para operar o trólebus, a prefeitura do Rio chegou a estudar uma concessão do serviço para a empreiteira Sul-Americana de Eletrificação S.A (ligada à FIAT), que até então era a responsável pelos serviços de eletrificação da rede. A prefeitura o Distrito Federal previa que a SADE deixaria de ser privada para adotar um modelo misto (público-privado). Em 1959 a prefeitura desistiu de usar a SADE para operar os trólebus e começou a estudar a criação de uma empresa municipal para geri-los (semelhante a CMTC de São Paulo).[14]

A abertura de buracos nas calçadas para a implantação da fundação dos postes causou polêmica perante a população e a imprensa. Por conta de atrasos, a Zona Sul da cidade ficou com diversos buracos abertos aguardando fundação por várias semanas, provocando reclamações da população.[15][16]

Características do sistema[editar | editar código-fonte]

Linhas[editar | editar código-fonte]

Linha [17][18] Terminais Extensão (km)
(ida e volta)
E1 Erasmo Braga - Rui Barbosa 8,5
E2 Erasmo Braga - Urca 10
E3 Erasmo Braga - Leme 9,2
E4 Erasmo Braga - Serzedelo Correia 9
E5 Peixoto - Passeio Público 7,2
E6 Almirante Barroso - B. Peixoto 8,4
E7 Erasmo Braga - Gal. Osório
(via túnel novo)
12
E8 Passeio Público - Largo dos Leões 13,2
E9 Almirante Barroso - Ipanema 12
E10 Leblon - Passeio Público 12,5
E11 Gávea - Almirante Barroso 12,5
E12 Gal. Glicério - Passeio Público 4,2
E13 Erasmo Braga - Cosme Velho 6,2
E14 Leme - Gal. Osório 4,8
E15 Passeio - Ipanema (via Lagoa) 17,7
E16 Passeio - Ipanema (via Copacabana) 18
E17 Erasmo Braga - Gal. Osório
(via túnel velho)
11,7
E18 Cascadura - Taquara 8,8
E19 Cosme Velho - Leblon 26,5
E20 Méier - Penha (Vieira Fazenda) 26,6
E21 Cascadura - Freguesia 6,4
E22 Vieira Fazenda - Madureira 14,2
E23 Méier - Madureira 17,4
Total 277

Frota[editar | editar código-fonte]

Origem Ano Fabricante Desativação
01-199 Itália 1961 General Electric (equip. elétricos)
FIAT (chassi e carroceria)
1971 (elétricos)
1979(diesel)
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Referências

  1. «Rio ganha novo sistema de transporte coletivo». Correio da Manhã, Ano LXII, edição 21300, página 2/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 4 de setembro de 1962. Consultado em 26 de janeiro de 2020 
  2. Jorge Françozo de Moraes (dezembro de 1996). «Trólebus:As fases de implantação do sistema no Brasil» (PDF). Revista ANTP dos Transportes Públicos, Ano 19, edição 73, páginas 63-82. Consultado em 26 de janeiro de 2020 
  3. «CTC extingue elétricos para acabar com déficit». Jornal do Brasil, ano LXXX, edição 301, página 24/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 29 de março de 1971. Consultado em 26 de janeiro de 2020 
  4. a b «Concorrência dos ônibus elétricos:protesto judicial contra a prefeitura». Diário Carioca, Ano XXIX, edição 8782, página 3/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 28 de fevereiro de 1957. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  5. «Em menos de dois anos não haverá mais bonde na Zona Sul:só ônibus elétrico». Jornal do Brasil, Ano LXVIII, edição 182, página 7/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 7 de agosto de 1958. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  6. «Continua a luta pelos Trolley-Bus». Tribuna da Imprensa, Ano VIII, edição 2090, página 6/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 14 de novembro de 1956. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  7. «150 milhões de cruzeiros para o túnel Catumbi-Laranjeiras:ônibus elétrico». Correio da Manhã, Ano LVII, edição 19972, página 9/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 8 de maio de 1958. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  8. «No reboque a energia elétrica». Jornal do Brasil, Ano LXVIII, edição 104, página 13/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 8 de maio de 1958. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  9. «Rio terá ônibus elétricos dentro de 10 meses:linha Castelo-Urca para começar». Jornal do Brasil, ano LXVIII, edição 183, página 11/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 8 de agosto de 1958. Consultado em 26 de fevereiro de 2020 
  10. «Zona Sul terá "trolley-bus" primeiro porque contrato de bondes termina em 1960». Jornal do Brasil, ano LXVIII, edição 184, página 11/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 9 de agosto de 1958. Consultado em 26 de fevereiro de 2020 
  11. «Zona Sul ganha trolleys». Diário Carioca, Ano XXXII, edição 9536, página 12/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 13 de agosto de 1959. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  12. «Duzentos ônibus elétricos estarão circulando na Zona Sul até novembro de 1959». Jornal do Brasil, ano LXVIII, edição 212, página 7/Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira. 11 de setembro de 1958. Consultado em 4 de março de 2020 
  13. «S.Tereza terá ônibus elétricos». Jornal do Brasil, Ano, edição 236, página 9/Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira. 9 de outubro de 1959. Consultado em 4 de março de 2020 
  14. Cesário Marques (31 de março de 1959). «Prefeitura quer criar uma empresa para os ônibus, bondes, "trolleys" e metrô». Jornal do Brasil, ano LXVIII, edição 73, página 11/Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 4 de março de 2020 
  15. «Buracos estão sendo abertos na rua normalmente,anuncia técnico em ônibus elétrico». Jornal do Brasil, ano LXVIII, edição 266, página 11/Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira. 13 de novembro de 1958. Consultado em 4 de março de 2020 
  16. «Rio prepara-se para receber o ônibus elétrico». O Jornal, ano XXXVII, edição, 12038, página 12/Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira. 3 de dezembro de 1959. Consultado em 4 de março de 2020 
  17. «Linhas de ônibus elétricos». Correio da Manhã, ano LXV, edição 4669, página 10/republicada pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 12 de fevereiro de 1966. Consultado em 27 de janeiro de 2020 
  18. Waldemar Corrêa Sitel (1984). «Denominação das Linhas». Historia do Transporte Urbano no Brasil, editora Pini, páginas 370,371/Memória Estatística do Brasil-Biblioteca do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro-republicado no Internet Archive. Consultado em 11 de fevereiro de 2020