Ernesto II, Duque de Saxe-Coburgo-Gota: diferenças entre revisões

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=== Guerras de Schleswig-Holstein ===
=== Guerras de Schleswig-Holstein ===
Entre 1848 e 1964, a Dinamarca e a [[Confederação Alemã]] combaterem pelo controlo dos dois ducados de [[Schleswig]] e [[Holsácia|Holstein]]. Históricamente, os ducados tinham sido governados pela Dinamarca desde a Idade Média, mas eram habitados, na sua maioria, por uma população alemã. Essa maioria revoltou-se quando o rei [[Frederico VII da Dinamarca]] anunciou a 27 de Março de 1848 que os ducados passariam a ser integrados completamente na Dinamarca ao abrigo da sua nova constituição liberal. A Prússia envolveu-se na disputa pouco tempo depois, dando apoio à revolta, o que levou ao início da [[Primeira Guerra do Schleswig|Primeira Guerra de Schleswig]]. Inicialmente, Ernesto enviou 8.000 homens, aumentando o exército enviado pela Confederação Alemã. Além disso, queria um posto militar durante a guerra, mas o seu pedido foi recusado, uma vez que era "''extramemente difícil oferecer-me um posto no exército de Schleswig-Holstein que correspondesse ao meu estatuto'',", segundo as memórias do próprio.<ref>Saxe-Coburg and Gotha, Volume 1, p. 48. </ref> Ernesto aceitou um posto de comando mais pequeno, tendo liderado o contingente da [[Turíngia]]. Numa carta dirigida ao irmão, Ernesto comentou que "''devia ter recusado outro posto de comando deste género, mas não consegui recusar este uma vez, tendo em conta o estado actual dos nossos estados, é importante mantermos o poder executivo nas nossas mãos''."<ref>Saxe-Coburg and Gotha, Volume 1, p. 50.</ref> Como comandante das tropas alemãs, Ernesto foi essencial para vencer a batalha de [[Eckernförde]] contra as forças dinamarquesas a 5 de Abril de 1849, tendo capturada duas fragatas.<ref>Coit Gilman et al, p. 841 and Alden, Berry, Bogart et al, p. 481.</ref> Foi também nesta altura que Ernesto se interessou pelo Parlamento de Frankfurt e poderá ter acalentado a esperança de ser eleito Imperador da Alemanha, mas acabou por apoiar o rei [[Frederico Guilherme IV da Prússia|Frederico da Prússia]] a aceitar essa posição, apesar de não ter tido sucesso. Ernesto também propôs a realização de uma conferência de príncipes alemães em Berlim em 1850, uma vez que estas ocasiões lhe davam a influência política que ele desejava.<ref name=":0" /> {{referências|col=2}}
Entre 1848 e 1964, a Dinamarca e a [[Confederação Alemã]] combaterem pelo controlo dos dois ducados de [[Schleswig]] e [[Holsácia|Holstein]]. Históricamente, os ducados tinham sido governados pela Dinamarca desde a Idade Média, mas eram habitados, na sua maioria, por uma população alemã. Essa maioria revoltou-se quando o rei [[Frederico VII da Dinamarca]] anunciou a 27 de Março de 1848 que os ducados passariam a ser integrados completamente na Dinamarca ao abrigo da sua nova constituição liberal. A Prússia envolveu-se na disputa pouco tempo depois, dando apoio à revolta, o que levou ao início da [[Primeira Guerra do Schleswig|Primeira Guerra de Schleswig]]. Inicialmente, Ernesto enviou 8.000 homens, aumentando o exército enviado pela Confederação Alemã. Além disso, queria um posto militar durante a guerra, mas o seu pedido foi recusado, uma vez que era "''extramemente difícil oferecer-me um posto no exército de Schleswig-Holstein que correspondesse ao meu estatuto'',", segundo as memórias do próprio.<ref>Saxe-Coburg and Gotha, Volume 1, p. 48. </ref> Ernesto aceitou um posto de comando mais pequeno, tendo liderado o contingente da [[Turíngia]]. Numa carta dirigida ao irmão, Ernesto comentou que "''devia ter recusado outro posto de comando deste género, mas não consegui recusar este uma vez, tendo em conta o estado actual dos nossos estados, é importante mantermos o poder executivo nas nossas mãos''."<ref>Saxe-Coburg and Gotha, Volume 1, p. 50.</ref> Como comandante das tropas alemãs, Ernesto foi essencial para vencer a batalha de [[Eckernförde]] contra as forças dinamarquesas a 5 de Abril de 1849, tendo capturada duas fragatas.<ref>Coit Gilman et al, p. 841 and Alden, Berry, Bogart et al, p. 481.</ref> Foi também nesta altura que Ernesto se interessou pelo Parlamento de Frankfurt e poderá ter acalentado a esperança de ser eleito Imperador da Alemanha, mas acabou por apoiar o rei [[Frederico Guilherme IV da Prússia|Frederico da Prússia]] a aceitar essa posição, apesar de não ter tido sucesso. Ernesto também propôs a realização de uma conferência de príncipes alemães em Berlim em 1850, uma vez que estas ocasiões lhe davam a influência política que ele desejava.<ref name=":0" />

=== Relação com a rainha Vitória e o príncipe Alberto ===
[[Ficheiro:Queen Victoria and Prince Albert 1861.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|A rainha Vitória e o príncipe Alberto, cunhada e irmão de Ernesto.]]
A primeira guerra terminou em 1851, mas o conflito rebentou novamente em 1864. Durante o período de tempo entre as duas guerras, Ernesto opôs-se ferozmente ao casamento do seu sobrinho Alberto Eduardo, príncipe de Gales (conhecido como 'Bertie') com a princesa [[Alexandra da Dinamarca]], uma filha do futuro rei [[Cristiano IX da Dinamarca]] (e, assim, inimigo dos estados alemães). Ernesto acreditava que aquela união era uma provocação aos interesses da Alemanha.<ref>Zeepvat, p. 3 and Hibbert, p. 43.</ref> Alberto respondeu-lhe furioso: "''O que tens a ver com isso? (...) A Vicky deu cabo da cabeça para nos ajudar a encontrar alguém e não conseguiu (...) não temos [outra] escolha [mais razoável]"''. <ref>Hibbert, p. 42.</ref> Alberto concordou que a união iria suscitar problemas, mas não conseguia encontrar outra noiva e escreveu ao irmão que manter o assunto na esfera privada (e não o considerar como um assunto de estado) era "''a única forma de impedir uma zanga com a Prússia e a única forma de manter o assunto nas nossas mãos, impor as condições que acharmos necessárias e, tanto quanto possível, retirar-lhe quaisquer implicações políticas''."<ref>citado em Zeepvat, p. 3.</ref> Alberto também avisou o seu filho dos esforços de Ernesto para interferir na união, comentando: "''O teu tio (...) vai tentar interferir. A tua melhor defesa é evitar o assunto se ele falar nele.''"<ref>Hibbert, p. 43.</ref>{{referências|col=2}}
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Revisão das 13h15min de 23 de setembro de 2020

Ernesto II
Ernesto II, Duque de Saxe-Coburgo-Gota
Duque de Saxe-Coburgo-Gota
Reinado 29 de janeiro de 1844
a 22 de agosto de 1893
Predecessor Ernesto I
Sucessor Alfredo
 
Nascimento 21 de junho de 1818
  Palácio de Ehrenburg, Coburgo, Saxe-Coburgo-Saalfeld, Confederação Germânica
Morte 22 de agosto de 1893 (75 anos)
  Castelo de Reinhardsbrunn, Saxe-Coburgo-Gota, Império Alemão
Sepultado em Igreja de São Moritz, Coburgo, Alemanha
Nome completo  
Ernesto Augusto Carlos João Leopoldo Alexandre Eduardo
Esposa Alexandrina de Baden
Casa Saxe-Coburgo-Gota
Pai Ernesto I, Duque de Saxe-Coburgo-Gota
Mãe Luísa de Saxe-Gota-Altemburgo
Religião Luteranismo

Ernesto II (em alemão: Ernst August Karl Johann Leopold Alexander Eduard; 21 de junho de 1818 – 22 de agosto de 1893) foi o duque soberano do Ducado de Saxe-Coburgo-Gota, reinando entre 1844 e a sua morte. Ernesto nasceu em Coburgo, filho de Ernesto III, Duque de Saxe-Coburgo-Saafeld (depois Ernesto I, Duque de Saxe-Coburgo-Gota), e da sua esposa, a princesa Luísa de Saxe-Gota-Altemburgo. Catorze meses depois, nasceu o seu irmão mais novo, o príncipe Alberto, que se tornou consorte da rainha Vitória do Reino Unido. O pai de Ernesto tornou-se duque de Saxe-Coburgo-Gota em 1826, devido a uma troca de territórios.

Em 1842, Ernesto casou-se com a princesa Alexandrina de Baden, num casamento do qual não nasceram filhos. Pouco depois, sucedeu ao seu pai como duque, quando ele morreu a 29 de janeiro de 1844. Enquanto duque reinante, Ernesto II apoiou a Confederação Alemã na Guerra de Schleswig-Holstein contra a Dinamarca, enviando milhares de tropas e tornando-se comandante do corpo alemão. Uma vez que ocupava essa posição, foi essencial para a vitória da Alemanha em 1849 contra a Dinamarca na Batalha de Eckernförde. Depois de o rei Oto da Grécia ser deposto em 1862, o governo britânico apresentou o nome de Ernesto como candidato à sucessão. No entanto, as negociações falharam por vários motivos, principalmente devido ao facto de Ernesto não estar disposto a trocar os seus amados ducados pelo trono da Grécia.

Ernesto apoiava a unificação da Alemanha e assistiu a vários movimentos políticos com grande interesse. Embora fosse um forte defensor do movimento liberal, surpreendeu muitos quando trocou de lado e apoiou os conservadores (e, eventualmente, vitoriosos) prussianos durante a Guerra Austro-Prussiana e a Guerra Franco-Prussiana que levaram à unificação da Alemanha. No entanto, o seu apoio aos conservadores teve consequências, uma vez que deixou de ser visto como um possível líder de um movimento político. Segundo a historiadora Charlotte Zeepvat, Ernesto ficou "cada vez mais perdido num mundo de diversões privadas que denegriram a sua imagem perante o mundo exterior."

A posição de Ernesto era muitas vezes associada ao seu irmão, o príncipe Alberto, marido da rainha Vitória. Os dois rapazes foram criados como se fossem gémeos e tornaram-se ainda mais próximos após a separação e divórcio dos pais, assim como após a morte da sua mãe. A relação entre os príncipes passou por fases de afastamento e de pequenas discussões à medida que os dois foram envelhecendo. Após a morte de Alberto em 1861, a relação de Ernesto com a rainha Vitória e os seus filhos foi-se deteriorando, assim como o seu ódio pelo Reino Unido, que o levou a publicar panfletos contra vários membros da Família Real Britânica. No entanto, apesar das duas diferenças políticas, Ernesto aceitou nomear o seu segundo sobrinho mais velho, o príncipe Alfredo, duque de Edimburgo, como seu herdeiro. Quando Ernesto morreu a 22 de agosto de 1893 em Reinhardsbrunn, Alfredo sucedeu-lhe no trono do ducado.

Primeiros anos

Ernesto (direita) com o irmão Alberto.

Ernesto, príncipe-hereditário de Saxe-Coburgo-Saalfeld, nasceu no Palácio de Ehrenburg, em Coburgo, a 21 de junho de 1818.[1] Era o filho mais velho de Ernesto III, duque de Saxe-Coburgo-Saalfeld, e da sua esposa, a princesa Luísa de Saxe-Gota-Altenburgo. Poucos meses depois, teve um irmão mais novo, o príncipe Alberto, que, mais tarde, se tornaria marido da rainha Vitória do Reino Unido. Apesar de o duque Ernesto ter vários filhos dos muitos casos amorosos que mantinha, os dois rapazes nunca tiveram mais irmãos legítimos. Em 1826, o seu pai sucedeu como Ernesto I, duque de Saxe-Coburgo-Gota devido a uma troca de territórios após a morte do tio do duque, Frederico IV, duque de Saxe-Gota-Altenburgo.[2]

Existem vários relatos sobre a infância de Ernesto. Quando tinha catorze meses, uma criada comentou que Ernesto "corre por todo o lado como uma doninha. Estão a nascer-lhe os dentes e difícil de lidar por ser impaciente e muito agitado. Neste momento não é muito bonito, à exceção dos olhos negros."[3] Em maio de 1820, a sua mãe descreveu-o como "muito grande para a idade, e inteligente. Os seus grandes olhos negros estão cheios de espirito e vivacidade."[4] O biografo Richard Hough escreve que "logo desde a sua infância, era óbvio que o filho mais velho tinha herdado o caráter e a aparência do pai, enquanto que Alberto era mais parecido com a mãe em quase todos os aspetos."[5] Ernesto e o irmão passavam grandes períodos de tempo com a avó, a duquesa-viúva de Saxe-Coburgo-Saalfeld até ela morrer em 1831.

Ernesto e Alberto foram criados e educados juntos, quase como se fossem gémeos.[6] Apesar de Alberto ser catorze meses mais novo, era mais inteligente do que o irmão.[7] De acordo com o tutor dos irmãos, "andavam juntos em quase tudo, no trabalho e na brincadeira. Tinham os mesmos interesses, as mesmas alegrias e as mesmas mágoas. Estavam unidos por um sentimento de amor mútuo".[8] Talvez as "mágoas" referidas pelo tutor se referissem ao casamento dos pais. A união foi infeliz e Ernesto I foi sempre infiel.[9] Em 1824, Ernesto I e Luísa divorciaram-se. Luísa deixou Coburgo e foi proibida de voltar a ver os filhos.[10] Pouco tempo depois casou-se com Alexander von Hanstein, conde de Pölzig e Beiersdorf, mas acabaria por morrer em 1831, aos trinta anos de idade.[11] No ano a seguir à sua morte, o pai de Ernesto e Alberto casou-se com a sua sobrinha, a princesa Maria de Württemberg, filha da sua irmã Antonieta. Por isso, a madrasta dos irmãos era também sua prima direita. O duque e a sua nova duquesa não eram próximos e não tiveram filhos, e, embora os dois rapazes tivessem uma boa relação com a sua madrasta, Maria não teve qualquer influência na vida deles.[12] A separação e divórcio dos pais, assim como a morte da mãe marcou os rapazes e tornou-os muito próximos um do outro.[13]

Em 1836, Ernesto e Alberto visitaram a sua prima, a princesa Vitória de Kent, que estava em idade de casar, e passaram algumas semanas em Windsor.[14] Ambos os irmãos, mas principalmente Alberto, eram considerados pela família como possíveis candidatos à mão da jovem princesa, e ambos aprenderam a falar inglês.[15] Inicialmente, o seu pai pensou que Ernesto seria um melhor marido para Vitória do que Alberto, talvez porque o seu interesse por desporto seria melhor visto pelo público britânico.[16] No entanto, a maioria preferia Alberto. A nível temperamental, Vitória era muito mais parecida com Ernesto, uma vez que eram ambos animados e sociáveis, gostavam de dançar e de mexericos e eram muito espertos e inteligentes. Por outro lado, o ritmo frenético da corte, deixou Alberto doente.[17] No entanto, não foi feita qualquer proposta a nenhum dos irmãos e eles voltaram para casa.

Ernesto entrou para o serviço militar mais tarde nesse ano.[18] Em abril de 1837, Ernesto e Alberto mudaram-se com a sua comitiva para a Universidade de Bona.[19] Seis semanas após o início do ano académico, Vitória sucedeu ao trono como rainha do Reino Unido. Uma vez que os rumores do seu casamento eminente entre Vitória e Alberto estavam a interferir com os seus estudos, os dois irmãos saíram da universidade a 28 de agosto de 1837, no final do semestre, e foram viajar pela Europa.[20] Regressaram a Bona no início de novembro para continuar os estudos. Em 1839, os irmãos regressaram a Inglaterra, onde Vitória ficou muito agradada com Alberto e o pediu em casamento.[21] Esta ligação teve muitas implicações no futuro de Ernesto. Por exemplo, foi escolhido para padrinho da segunda filha do casal, a princesa Alice, e acabaria por ser ele a levá-la ao altar no seu casamento que se realizou poucos meses depois da morte de Alberto.[22]

Casamento

Ernesto II com a sua esposa Alexandrina.

Foram apresentadas várias candidatas para se casarem com Ernesto. O seu próprio pai queria que ele se casasse com uma esposa com uma posição elevada como, por exemplo, uma grã-duquesa russa.[23] Uma possibilidade foi a princesa Clementina de Orleães, uma filha do rei Luís Filipe I, que Ernesto conheceu numa visita à corte no Palácio das Tulherias.[24] No entanto, esse casamento teria obrigado a noiva a converter-se do catolicismo para o luteranismo e, por isso, acabou por não dar em nada.[24] Mais tarde, a princesa Clementina casou-se com o príncipe Augusto de Saxe-Coburgo-Gota. Ernesto também foi considerado pela rainha-viúva Maria Cristina para se casar com a sua jovem filha, a rainha Isabel II de Espanha,[25] e pela rainha Vitória para a sua prima, a princesa Augusta de Cambridge.[26]

Em Karlsruhe, a 3 de maio de 1842, Ernesto casou-se com a princesa Alexandrina de Baden,[27] filha mais velha de Leopoldo, Grão-Duque de Baden, e da sua esposa, a princesa Sofia da Suécia, filha de Gustavo IV, o rei deposto da Suécia. Apesar de ter dado o seu consentimento, o seu pai ficou desiludido por o seu filho mais velho não ter escolhido uma noiva que servisse melhor os interesses de Coburgo.[24] Não nasceram filhos deste casamento, apesar de, aparentemente, Ernesto ter tido pelo menos três filhos ilegítimos nos seus últimos anos de vida.[26]

Ernesto sofria de uma doença venérea desde cerca dos vinte anos idade, provavelmente devido ao facto de viver uma vida louca e promíscua.[17] Estas qualidades tinham sido herdadas do seu pai, que costumava levar os filhos a "experimentar os prazeres" de Paris e Berlim, para "horror e embaraço" de Alberto.[24] A aparência de Ernesto foi de tal forma prejudicada pela doença que Sarah Lyttelton, uma dama-de-companhia da rainha Vitória, observou em Windsor, em 1839, que ele estava "muito magro, com o rosto encovado e pálido, e não se parece nada com o irmão, nem é muito bonito. Mas tem uns belos olhos escuros e cabelo negro, e uma figura elegante, e um olhar fantástico de sagacidade e ânsia".[17] Mais tarde, nesse mesmo ano, Alberto aconselhou o irmão a esperar até recuperar completamente da sua "condição" antes de começar a procurar uma esposa.[21] Também o avisou que, se continuasse com as suas promiscuidades, poderia não conseguir ter filhos.[17] Alguns historiadores acreditam que, embora Ernesto conseguisse ter filhos, a sua doença poderá ter deixado a sua jovem esposa infértil.[26]

À medida que os anos se foram sem que o casal tivesse filhos, Ernesto começou a distanciar-se cada vez mais da sua esposa e foi sempre infiel. Apesar disso, Alexandrina sempre foi dedicada ao marido e optou por ignorar as relações extraconjugais do marido que lhe chegavam ao conhecimento, e a sua lealdade tornou-se cada vez mais inacreditável para pessoas além do seu circulo familiar mais íntimo.[28] Em 1859, depois de passar dezassete anos sem ter filhos, Ernesto distanciou-se da sua esposa.[29]

Duque de Saxe-Coburgo-Gota

A 29 de janeiro de 1844, o pai de Ernesto morreu em Gota, um dos territórios que a sua família tinha adquirido recentemente. Em consequência, Ernesto sucedeu aos ducados de Saxe-Coburgo e Gota como Ernesto II.

Desenvolvimento de uma constituição

Retrato por Frederick Richard Say, 1848.

Extremamente extravagante, Ernesto enfrentou problemas de dinheiro ao longo de todo o seu reinado. Em janeiro de 1848, visitou o seu irmão enquanto a Alemanha passava por um período político conturbado. Quando regressou, também descobriu que havia agitação em Coburgo. Uma das muitas preocupações relacionadas com as suas finanças. Apesar de ter recebido uma grande herança, Ernesto tinha também muitas dívidas.[28] Havia cada vez mais vozes a pedir a nacionalização de grande parte da sua propriedade. Na verdade, Alberto teve de intervir a certo ponto para impedir que o seu irmão passasse pelo embaraço de perder uma das suas propriedades em Coburgo.[28]

Durante a agitação política de 1848 na Alemanha, Alberto criou o seu próprio plano de reforma liberal, segundo o qual deveria haver um único monarca, chanceler e parlamento que unissem todos os estados da Alemanha; além disso, cada estado deveria preservar a sua dinastia.[28] Uma vez que o plano também incluia o seu irmão, Ernesto recebeu uma cópia na esperança de o inspirar a criar a sua própria constituição liberal. Em consequência, Ernesto garantiu algumas conceções, mas a sua posição continuou firme, apesar de ter cada vez mais problemas com as suas dívidas. Foi escrita e promulgada uma constituição em 1849 em Gota[30], apesar de já existir uma em Coburgo desde 1821. Em 1852, ambas as constituições foram unidas numa, o que transformou a sua união pessoal nos dois ducados numa união real. Os dois ducados tornaram-se assim inseparáveis, com um conjunto de instituições comuns. Durante a turbulência política, as conceções esporádicas e o hábito de Ernesto de se juntar "ao seu povo nos seus prazeres" foram fundamentais para o impedir de perder o trono.[31] Além disso, várias fontes da época afirmam que Ernesto eram um governante hábil, justo e muito popular, o que também pode ter ajudado a mantê-lo no poder.[32]

Guerras de Schleswig-Holstein

Entre 1848 e 1964, a Dinamarca e a Confederação Alemã combaterem pelo controlo dos dois ducados de Schleswig e Holstein. Históricamente, os ducados tinham sido governados pela Dinamarca desde a Idade Média, mas eram habitados, na sua maioria, por uma população alemã. Essa maioria revoltou-se quando o rei Frederico VII da Dinamarca anunciou a 27 de Março de 1848 que os ducados passariam a ser integrados completamente na Dinamarca ao abrigo da sua nova constituição liberal. A Prússia envolveu-se na disputa pouco tempo depois, dando apoio à revolta, o que levou ao início da Primeira Guerra de Schleswig. Inicialmente, Ernesto enviou 8.000 homens, aumentando o exército enviado pela Confederação Alemã. Além disso, queria um posto militar durante a guerra, mas o seu pedido foi recusado, uma vez que era "extramemente difícil oferecer-me um posto no exército de Schleswig-Holstein que correspondesse ao meu estatuto,", segundo as memórias do próprio.[33] Ernesto aceitou um posto de comando mais pequeno, tendo liderado o contingente da Turíngia. Numa carta dirigida ao irmão, Ernesto comentou que "devia ter recusado outro posto de comando deste género, mas não consegui recusar este uma vez, tendo em conta o estado actual dos nossos estados, é importante mantermos o poder executivo nas nossas mãos."[34] Como comandante das tropas alemãs, Ernesto foi essencial para vencer a batalha de Eckernförde contra as forças dinamarquesas a 5 de Abril de 1849, tendo capturada duas fragatas.[35] Foi também nesta altura que Ernesto se interessou pelo Parlamento de Frankfurt e poderá ter acalentado a esperança de ser eleito Imperador da Alemanha, mas acabou por apoiar o rei Frederico da Prússia a aceitar essa posição, apesar de não ter tido sucesso. Ernesto também propôs a realização de uma conferência de príncipes alemães em Berlim em 1850, uma vez que estas ocasiões lhe davam a influência política que ele desejava.[24]

Relação com a rainha Vitória e o príncipe Alberto

A rainha Vitória e o príncipe Alberto, cunhada e irmão de Ernesto.

A primeira guerra terminou em 1851, mas o conflito rebentou novamente em 1864. Durante o período de tempo entre as duas guerras, Ernesto opôs-se ferozmente ao casamento do seu sobrinho Alberto Eduardo, príncipe de Gales (conhecido como 'Bertie') com a princesa Alexandra da Dinamarca, uma filha do futuro rei Cristiano IX da Dinamarca (e, assim, inimigo dos estados alemães). Ernesto acreditava que aquela união era uma provocação aos interesses da Alemanha.[36] Alberto respondeu-lhe furioso: "O que tens a ver com isso? (...) A Vicky deu cabo da cabeça para nos ajudar a encontrar alguém e não conseguiu (...) não temos [outra] escolha [mais razoável]". [37] Alberto concordou que a união iria suscitar problemas, mas não conseguia encontrar outra noiva e escreveu ao irmão que manter o assunto na esfera privada (e não o considerar como um assunto de estado) era "a única forma de impedir uma zanga com a Prússia e a única forma de manter o assunto nas nossas mãos, impor as condições que acharmos necessárias e, tanto quanto possível, retirar-lhe quaisquer implicações políticas."[38] Alberto também avisou o seu filho dos esforços de Ernesto para interferir na união, comentando: "O teu tio (...) vai tentar interferir. A tua melhor defesa é evitar o assunto se ele falar nele."[39]

Referências

  1. Grey, p. 29 and Weintraub, p. 21.
  2. «House laws of Saxe-Coburg and Gotha». www.heraldica.org. Consultado em 8 de março de 2019 
  3. Grey, pp. 32-33.
  4. Grey, p. 35.
  5. Hough, p. 9.
  6. Weintraub, p. 30.
  7. Weintraub, p. 30.
  8. Grey, p. 44.
  9. Weintraub, pp. 23-25.
  10. Weintraub, p. 25-28.
  11. Feuchtwanger, pp. 29-31.
  12. Packard, p. 16 and Weintraub, pp. 40–41.
  13. Weintraub, pp. 25–28.
  14. Feuchtwanger, p. 37.
  15. Weintraub, p. 49.
  16. D'Auvergne, p. 164.
  17. a b c d Zeepvat, p. 1.
  18. Zeepvat, p. 1.
  19. Feuchtwanger, pp. 35-36.
  20. Weintraub, p. 58-59.
  21. a b Feuchtwanger, pp. 38-39.
  22. Packard, p. 104.
  23. Feuchtwanger, p. 62; Gill, pp. 142-43.
  24. a b c d e Weintraub, p. 52.
  25. D'Auvergne, pp. 188-89.
  26. a b c Gill, p. 143.
  27. Zeepvat, p. 2 and Lundy.
  28. a b c d Zeepvat, pp. 2, 5.
  29. Zeepvat, p. 3.
  30. «Ernest II | Facts, Biography, Victoria, & Albert». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 8 de julho de 2019 
  31. Coit Gilman et al, p. 841.
  32. Baillie-Grohman, p. 60 and Kenning, pp. 204-05.
  33. Saxe-Coburg and Gotha, Volume 1, p. 48.
  34. Saxe-Coburg and Gotha, Volume 1, p. 50.
  35. Coit Gilman et al, p. 841 and Alden, Berry, Bogart et al, p. 481.
  36. Zeepvat, p. 3 and Hibbert, p. 43.
  37. Hibbert, p. 42.
  38. citado em Zeepvat, p. 3.
  39. Hibbert, p. 43.
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