Oiá
Oiá | |
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Oiá[1] (em iorubá: Oyá),[2] também chamada Iansã, é uma das principais divindades femininas do panteão iorubá. É o orixá dos ventos, raios e tempestades, sendo a única capaz de controlar os Eguns (espíritos dos mortos), poder que lhe foi concedido por Obaluaiê.
Mitologia e lendas
[editar | editar código-fonte]Sua denominação provém do nome do rio na Nigéria, onde seu culto é realizado, atualmente chamado de rio Níger. É uma divindade do fogo, como Xangô, mas também é relacionada ao elemento ar, regendo os raios. É uma das divindades que, ao lado de Airá e Afefê Icu[3] (o vento da morte), domina os ventos.
Costuma ser reverenciada antes de Xangô, como o vento personificado que precede a tempestade. Assim como a Orixá Obá, Oiá também está relacionada ao culto dos mortos, onde recebeu de Xangô a incumbência de guiá-los a um dos nove céus de acordo com suas ações. Para assumir tal cargo recebeu do feiticeiro Oxóssi uma espécie de eruquerê especial, chamado de Eruexim, com o qual estaria protegida dos Eguns.
O nome Iansã trata-se de um título que Oiá recebeu de Xangô, que faz referência ao entardecer. Iansã quer dizer A mãe do céu rosado ou A mãe do entardecer. Era como ele a chamava pois dizia que ela era radiante como o entardecer.
É saudada como "Iyá-mésàn-òrun" (Mãe dos nove céus).[4]
Domínio sobre os mortos
[editar | editar código-fonte]Oiá obteve o domínio sobre os mortos após dançar para Obaluaiê. Comovido por sua compaixão e coragem, ele lhe concedeu autoridade sobre os Eguns. Essa lenda reforça sua ligação com a morte e com os processos de transição espiritual.
Os nove filhos
[editar | editar código-fonte]Após enfrentar dificuldades com a infertilidade, Oiá consultou um babalawo, que lhe recomendou um sacrifício com 18 mil búzios, tecidos coloridos e carne de carneiro. O ritual resultou no nascimento de nove filhos, o que lhe rendeu o título de Iansã — "Mãe dos Nove".
Rituais secretos
[editar | editar código-fonte]Uma narrativa conta que Oiá liderava rituais secretos das mulheres na floresta, usando um macaco disfarçado para assustar os homens. Quando Ogum descobriu, os homens retomaram o culto, mas ainda reconheceram Oiá como sua fundadora, chamando-a de Oiá Igbalé.
Caminhos de Oiá
[editar | editar código-fonte]Diz-se que Oiá manifesta-se em 23 avatares ou caminhos, entre eles:
Nº | Nome |
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1 | Oya Yansa Bí Funkó |
2 | Oya Dumí |
3 | Oya De |
4 | Oya Bumí |
5 | Oya Bomi |
6 | Oya Nira |
7 | Oya Igbalé |
8 | Oya Niké |
9 | Oya Tolá |
10 | Oya Dira |
11 | Oya Funké |
12 | Oya Iya Efon |
13 | Oya Afefere |
14 | Oya Yansá Mimú |
15 | Oya Obinídodo |
16 | Oya Yansa Duma |
17 | Oya Yansa Doco |
18 | Oya Tombowa |
19 | Oya Ayawá |
20 | Oya Tapa |
21 | Oya Tomboro |
22 | Oya Yansa Odó |
23 | Oya Yansá Orirí |
Arquétipo
[editar | editar código-fonte]Acredita-se que suas filhas, ou mulheres que tenham Iansã próximo de si na Terra, são mulheres sensuais, ousadas, falam o que pensam e sofrem muito, especialmente no amor. São mulheres que batalham, trabalham incansavelmente, são guerreiras, lutam como peões. Geralmente essas mulheres cuidam de tudo sozinhas, até dos filhos.
Oya na diáspora
[editar | editar código-fonte]Brasil
[editar | editar código-fonte]Os devotos costumam lhe oferecer sua comida favorita, o àkàrà (acarajé), ekuru e abará.
O acarajé, um bolinho frito feito com feijão-fradinho moído e temperos, é tanto uma comida ritual quanto uma iguaria típica da Bahia. Em rituais, uma versão simples e sem tempero é oferecida à Oiá, enquanto a versão recheada é vendida nas ruas. Também são comuns as oferendas de berinjela, chocolate amargo, amoras e certos pudins.
No candomblé a cor utilizada para representá-la é o marrom, ainda que seja mais identificada com a cor rosa. No Brasil houve uma grande distorção com relação às suas regências e origens.
Inhansã ou Oiá, como é também chamada no Brasil, é uma divindade da Mitologia iorubá associada aos ventos e às águas, sendo companheira de Xangô, o senhor dos raios e tempestades.
É saudada como "Iya mesan lorun", título referente à incumbência recebida como guia dos mortos. Iansã é associada à sensualidade, dos Orixás femininos é uma das mais guerreiras e imponentes.
Parte da série sobre |
Candomblé |
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Símbolos e aspectos | |
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Saudação | Epahhey, Oia! |
Dia | Quarta-feira |
Cores | Marrom, vermelho, rosa e branco |
Símbolos | iruquerê, espada de cobre, relâmpago, búfalo |
Proibições | Abóbora, arraia e carneiro |
Sete folhas mais usadas para Oiá
[editar | editar código-fonte]Salvador
[editar | editar código-fonte]Em Salvador, Oiá ou Iansã é sincretizada com Santa Bárbara, que é madrinha do Corpo de Bombeiros e padroeira dos mercados. É homenageada no dia 4 de dezembro na Festa de Santa Bárbara da Igreja Católica. É um grande evento sincrético, composto de missa, procissão feita por católicos e praticantes do Candomblé,[5] além das festas nos terreiros, o caruru de Iansã, samba de roda e apresentação de grupos de capoeira e maculelê.
Cuba
[editar | editar código-fonte]Oiá é sincretizada na Santeria cubana com imagens católicas de Nossa Senhora da Candelária ou Nossa Senhora da Anunciação e Santa Teresa.
Haiti
[editar | editar código-fonte]Na Santeria haitiana, Obaluaiê e Oiá são os patronos da loucura. [6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Galeria
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Escultura de Iansã no Parque da Catacumba, Rio de Janeiro
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Quartel dos Bombeiros em Salvador, sob proteção de Santa Bárbara/Iansã
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Acarajé, alimento ritual associado a Iansã
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Festival Egungun na Nigéria, domínio concedido a Oiá
Referências
- ↑ «Oiá». Michaeli
- ↑ Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos, no ... Por Pierre Verger, pag.407
- ↑ Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira, Por Marco Aurélio Luz, pag. 71
- ↑ Performance e Ritual, Por Denise Mancebo Zenicola citação de (Santos, 2008, p. 122).
- ↑ «A Bahia de Santa Bárbara». Consultado em 22 de julho de 2007. Arquivado do original em 22 de novembro de 2005
- ↑ Oya: In Praise of an African Goddess, Judith Illsley Gleason, HarperSanFrancisco, 1992, pag.101(em inglês)