José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso (Araraquara, 30 de março de 1937), é um dos nomes mais importantes ligados ao teatro brasileiro. Destacou-se como um dos principais diretores, atores, dramaturgos e encenadores do Brasil.[1]
Seu trabalho, encarado às vezes como orgiástico e antropofágico,[1] iniciou-se no fim da década de 1950, e se definiu na década de 1960 quando Zé Celso liderou a importante Teatro Oficina − grupo formado quando integrava o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo − onde apresentava sua inquietude e irreverência, realizando trabalhos de caráter inovador.[2] Nessa época, destacam-se as encenações de Pequenos Burgueses (1963) − peça que enfoca a Rússia às vésperas de sua Revolução e evidencia numerosos pontos de contato com a realidade nacional anterior ao golpe militar de 1964 −, O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade − espetáculo-manifesto tornado emblema do movimento tropicalista − e Na Selva das Cidades (1969), obra de Bertolt Brecht que trata da profunda crise que atravessava o país e a equipe artística.[3][4][5] Pequenos Burgueses, embora suspenso em abril de 1964 por autoridades militares que acabavam de tomar o poder, rendeu a José Celso todos os prêmios de melhor direção do ano e as críticas colocaram a produção como a mais perfeita encenação do teatro brasileiro; a apresentação retornou aos palcos no mês seguinte.[2]
Interessado em eventos culturais, artísticos e políticos, Zé Celso atualmente se intercala entre o cinema e o teatro. Trabalhou em Encarnação do Demônio (2007), de José Mojica Marins (lançado em 2008), dirige e atua em inúmeras peças teatrais, ainda comandando o Teatro Oficina, mesmo depois de cinquenta anos − como em Santidade (2007). Por experimentar formas ousadas de se realizar uma peça teatral, Zé Celso já se viu entre críticas sensacionalistas. Num caso mais recente, sua peça Os Sertões, quando montada em 2005 em Berlim, Alemanha, causou polêmica na capital pelo fato dos atores ficarem nus em determinadas cenas. A imprensa sensacionalista alemã apelidou a montagem de “teatro pornô”.[6] Há 26 anos, seu grupo Teatro Oficina luta contra o Grupo Silvio Santos. Embora José afirme que sua relação com Silvio Santos seja boa,[7] a disputa se estende há anos.[8]
Trabalhando − seja dirigindo, adaptando, ou realmente numa colaboração − com nomes que vão de Augusto Boal, Henriette Morineau, Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Raul Cortez, Bete Coelho e Flávio Império a Chico Buarque, William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Max Frisch, Bertolt Brecht e Máximo Gorki, Zé Celso construiu um dos mais originais percursos dos palcos brasileiros. Com a realização de Vento Forte Para um Papagaio Subir (2008) − de sua própria autoria e montada primeiramente em 1958 − Celso prova que, mesmo com oitenta anos, ainda está com a criatividade e disposição em vigor.
Zé Celso nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, em 30 de março de 1937 e cresceu com o escritor Ignácio de Loyola Brandão.[9]
De 1955 a 1960, em São Paulo, Zé Celso entrou para o curso da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, mas não exerceu a profissão, ficando inconcluso. Porém, foi durante tal curso de graduação na USP que o dramaturgo ali formou o Teatro Oficina.
Zé Celso começou profissionalmente no teatro com uma peça de sua autoria, Vento Forte para Papagaio Subir, em 1958, e A Incubadeira (1959), também de sua autoria. Com a direção de Amir Haddad, o Oficina produz as duas peças. A Engrenagem, encenada pelo grupo em 1960, tem o intuito de homenagear Jean-Paul Sartre que visitava o país; a peça foi traduzida e adaptada juntamente com Augusto Boal. Para Zé Celso e sua trupe, o ano de 1961 é marcante: o Oficina inaugura sua fase profissional com uma casa de espetáculos alugada na Rua Jaceguai. A empresa é composta pelos sócios Renato Borghi, José Celso Martinez Corrêa, Ronaldo Daniel (que depois se torna importante diretor na Inglaterra, como Ronald Daniels), Paulo de Tarso e Jairo Arco e Flexa.
A estreia de José Celso como diretor vem com A Vida Impressa em Dólar, de Clifford Odetts, e a peça abre a programação da nova estadia do grupo na casa de espetáculos alugada. Entre o elenco, estava Eugênio Kusnet que, por ser conhecedor profundo do Método Stanislavski, colaborou na preparação dos atores. Essa montagem fez com que Celso ganhasse o prêmio de revelação de diretor pela Associação Paulista de Críticos de Teatro. Depois da montagem de Todo Anjo é Terrível, em 1962, a equipe encena Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, que teve enorme repercussão. Pequenos Burgueses rende a José Celso todos os prêmios de melhor direção do ano.
Ano
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Título
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1960
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São Paulo SP - A Engrenagem
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1991
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São Paulo SP - As Boas
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1996
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São Paulo SP - Para Dar um Fim no Juízo de Deus
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1996
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São Paulo SP - As Bacantes
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2001
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São Paulo SP - Os Sertões. A Terra
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2003
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São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 1
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2003
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São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 2
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2005
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 1
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2006
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 2
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2007
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São Paulo SP - Os Bandidos
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Ano
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Título
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1958
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São Paulo SP - Vento Forte para um Papagaio Subir
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1959
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São Paulo SP - A Incubadeira
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1998
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São Paulo SP - Cacilda!
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2008
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São Paulo SP - Vento Forte para um Papagaio Subir
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Ano
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Título
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1961
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São Paulo SP - A Vida Impressa em Dólar
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1962
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São Paulo SP - Todo Anjo É Terrível
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1963
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São Paulo SP - Pequenos Burgueses
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1964
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São Paulo SP - Andorra
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1964
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(Uruguai) - Pequenos Burgueses
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1964
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(Uruguai) - Andorra
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1965
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São Paulo SP - Pequenos Burgueses
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1966
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São Paulo SP - Os Inimigos
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1967
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São Paulo SP - O Rei da Vela
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1967
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São Paulo SP - Quatro num Quarto
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1968
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São Paulo SP - Galileu Galilei
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1968
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Rio de Janeiro RJ - Roda Viva
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1968
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São Paulo SP - Pequenos Burgueses
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1969
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São Paulo SP - Na Selva das Cidades
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1971
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Rio de Janeiro RJ - O Rei da Vela
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1971
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São Paulo SP - Pequenos Burgueses
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1972
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Rio de Janeiro RJ - Gracias, Señor
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1972
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São Paulo SP - As Três Irmãs
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1972
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São Paulo SP - Gracias, Señor
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1973
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Rio de Janeiro RJ - As Três Irmãs
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1975
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(Portugal) - Galileu Galilei
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1984
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São Paulo SP - O Homem e o Cavalo
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1985
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São Paulo SP - Mistérios Gozozos
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1991
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São Paulo SP - As Boas
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1993
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São Paulo SP - Ham-let
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1995
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São Paulo SP - Os Mistérios Gozozos
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1996
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São Paulo SP - Para Dar um Fim no Juízo de Deus
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1996
|
São Paulo SP - As Bacantes
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1997
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São Paulo SP - Ela
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1998
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São Paulo SP - Cacilda!
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1998
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São Paulo SP - Taniko, o Rito do Vale
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1999
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São Paulo SP - Boca de Ouro
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2001
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Rio de Janeiro RJ - Esperando Godot
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2001
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São Paulo SP - Os Sertões. A Terra
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2003
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São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 1
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2003
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São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 2
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2005
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 1
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2006
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 2
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2006
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Berlim (Alemanha) - O Rei da Vela
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2007
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São Paulo SP - Os Bandidos
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2008
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São Paulo SP - Vento Forte para um Papagaio Subir
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Ano
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Título
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2003
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São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 1
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2003
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São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 2
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2005
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 1
|
2006
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 2
|
Ano
|
Título
|
1972
|
Rio de Janeiro RJ - Gracias, Señor
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1993
|
São Paulo SP - Ham-let
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1997
|
São Paulo SP - Ela
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1998
|
São Paulo SP - Cacilda!
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2001
|
São Paulo SP - Os Sertões. A Terra
|
2003
|
São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 1
|
2003
|
São Paulo SP - Os Sertões. O Homem 2
|
2005
|
São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 1
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2006
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São Paulo SP - Os Sertões. A Luta 2
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2007
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São Paulo SP - Os Bandidos
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2008
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São Paulo SP - Vento Forte para um Papagaio Subir
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2008
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São Paulo SP - Taniko
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2008
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São Paulo SP - Os Bandidos
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Ano
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Título
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2002
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São Paulo SP - Bastidores da Cena. José Celso Martinez (2002 : São Paulo, SP)
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Ano
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Título
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2000
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São Paulo SP - Farsa Quixotesca
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Ano
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Título
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1990
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São Paulo SP - 90' - Uma Coisa Inofensiva
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Ano
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Título
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1960
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São Paulo SP - A Engrenagem
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1963
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São Paulo SP - Pequenos Burgueses
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1966
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São Paulo SP - Os Inimigos
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1993
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São Paulo SP - Ham-let
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1999
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São Paulo SP - As Três Irmãs
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Ano
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Título
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1997
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São Paulo SP - Ela
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2008
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São Paulo SP - Vento Forte para um Papagaio Subir
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- 1998 - São Paulo SP - Primeiro Ato - cadernos, depoimentos, entrevistas (1958-1974), seleção, organização e notas de Ana Helena Camargo de Staal. Editora 34.
- CORRÊA, José Celso M. O Rei da Vela, manifesto do Oficina. In: O Rei da Vela. São Paulo, 1967. Programa do espetáculo.
- DORT, Bernard. Uma comédia em transe. Le Monde, Paris, abr. 1968, traduzida e republicada no segundo programa de O Rei da Vela, cit.
- MICHALSKI, Yan. José Celso Martinez Corrêa. In.: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.
- SILVA, Armando Sérgio da. Oficina: do teatro ao te-ato. São Paulo: Perspectiva, 1981.
Referências
- ↑ a b Tavares, Clotilde, não poderia ser diferente, muito próprio de um senil lascivo.O teatro orgiastico e antropofágico de Zé Celso". OverMundo.
- ↑ a b c «Corrêa, José Celso Martinez (1937)». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 24 de agosto de 2008
- ↑ «Pequenos Burgueses Histórico». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 24 de agosto de 2008
- ↑ «O Rei da Vela Histórico». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 24 de agosto de 2008
- ↑ «Na Selva das Cidades Histórico». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 24 de agosto de 2008
- ↑ Damasceno, Marcio. "Peça de Zé Celso causa escândalo em Berlim". BBC BRASIL. Acesso: 24 de agosto, 2008.
- ↑ Loiola, Thompson. "Prestes a completar 70 anos, Zé Celso lança "Merda" no aniversário de SP" Arquivado em 27 de fevereiro de 2007, no Wayback Machine.. FolhaOnline. Acesso: 24 de agosto, 2008.
- ↑ NÉSPOLI, Beth (28 de junho de 2000). «Intelectuais apóiam Zé Celso». O Estado de São Paulo. Consultado em 31 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2017
- ↑ Alves Jr., Dirceu. "O mundo de Ignácio de Loyola Brandão". IstoÉ Gente. Acesso: 24 de agosto, 2008.
- ↑ Lista copiada de .espetáculos - Corrêa, José Celso Martinez (1937). itaucultural. Acesso: 24 de agosto.
- ↑ «José Celso Martinez Corrêa | CPDOC». cpdoc.fgv.br. Consultado em 12 de dezembro de 2016
- ↑ Cultural, Enciclopédia Itaú. «A Vida Impressa em Dólar - Enciclopédia Itaú Cultural»
- ↑ Cultural, Enciclopédia Itaú. «Pequenos Burgueses - Enciclopédia Itaú Cultural»
- ↑ «Folha de S.Paulo - Melhores de 98: APCA premia Zé Celso e Walter Salles - 16/12/98». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 3 de julho de 2017
- ↑ Cultural, Instituto Itaú. «O Rei da Vela | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural
- ↑ «José Celso Martinez Corrêa | CPDOC». cpdoc.fgv.br. Consultado em 12 de dezembro de 2016
- ↑ «TEATROFICINA.ONLINE». www.teatroficina.com.br. Consultado em 12 de dezembro de 2016
- ↑ «Saiba quem ganhou e como foi o Prêmio Aplauso Brasil de Teatro». Consultado em 3 de setembro de 2017
- ↑ «Categoria: Segundo Caderno/Teatro». eventos.oglobo.globo.com. Consultado em 17 de janeiro de 2018
ANTES DO VENTO FORTE de Janaína de Castro - Este livro buscou recuperar algumas situações vivenciadas por José Celso Martinez Corrêa em Araraquara, durante sua infância e juventude, contadas por ele mesmo, seus familiares, Ignácio de Loyola Brandão e outros amigos. O livro evidencia um garoto tímido e muito bem arrumado, que via beleza, cenários e figurinos na Igreja e no padre da cidade, gestos teatrais, posturas e frases de efeito na professora do primário. Não houve a preocupação de defender nenhuma tese, identificar comportamentos que viriam a nortear sua carreira, mas apenas lembrar situações que mostram o quanto há de nossas raízes em qualquer vida, qualquer destino, qualquer trajetória. Conheça esta publicação em: http://junqueiraemarin.com.br/antes-do-vento-forte.html