Produto exterior (cunha)

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Em matemática, o produto exterior, também conhecido como produto cunha, é uma antissimetrização (alternação) do produto tensorial. O produto exterior é uma multiplicação associativa e distributiva de funções multilineares antissimétrica que seja anticomutativo para as funções com número ímpar de variáveis e comutativo de outra maneira. A teoria sistemática inicia na construção da potência exterior para um espaço vetorial.

Embaralhamentos[editar | editar código-fonte]

Se são números naturais maiores que zero, um -embaralhemento é uma permutação tal que as restrições de a cada bloco , , são crescentes, isto é, . É claro que . Considere o subgrupo consistindo daquelas permutações que estabilizam os conjuntos . Claramente, . O conjunto de -embaralhementos será denotado por (shuffles). Temos uma associação de em , o espaço de classes dada pela restrição da sobrejeção canônica. Trata-se de uma bijeção. Em outras palavras, é uma transversal para em . Em particular, tem elementos.

Note que podemos considerar . Feita essa identificação, temos uma bijeção dada por . Note que de fato a imagem está contida em . Essa associação é injetiva. Por comparação de número de elementos, é uma bijeção.

O produto exterior[editar | editar código-fonte]

Fixe um espaço vetorial sobre um corpo qualquer (até mesmo de característica positiva). Recorde que uma -forma alternada em é uma função multilinear alternada . Multilinear significa linearidade em cada argumento; dizer que é uma função alternada é o mesmo que dizer que é nula a imagem de qualquer -tupla em que ocorre um par consecutivo de entradas iguais. Equivalentemente, temos a

Proposição. Uma função -linear é alternada se, e somente se, é nula a imagem de qualquer -tupla em que ocorram pelo menos duas entradas iguais.

Uma direção é óbvia. Devemos mostrar que se for nula a imagem de qualquer -tupla em que ocorra um par consecutivo de entradas iguais, então será nula a imagem de qualquer -tupla em que ocorram pelo menos duas entradas iguais. Seja uma forma -linear que satisfaz a hipótese. Se , definimos a função multilinear como . Se é uma transposição intercalando dois índices consecutivos, da hipótese segue que . Vejamos por quê: faça , fixe e defina . Temos que ; já que é multilinear, é bilinear, logo , donde . Isso mostra que . Note agora que . Então se e , segue que . Agora usamos o seguinte fato da teoria básica dos grupos simétricos: é gerado por transposições que intercalam elementos consecutivos[1]. Com isso, temos que para toda permutação . Com uma transposição, deixamos adjacentes quaisquer dois índices; logo , finalizando a prova.

Podemos agora definir:

(Produto exterior). Se é uma -forma alternada e é uma -forma alternada, então definimos a -forma por

.

Vejamos por que é uma -forma alternada: sejam , , , com . Devemos provar que . Particionaremos em quatro partes (disjuntas):

.

.

A soma sobre e a soma sobre se anulam, tendo em vista a alternância de e de . Os conjuntos e estão em bijeção. Um vez que os índices são consecutivos, se , então e vice-versa. Logo podemos tomar a bijeção . Segue daí que é alternante.

O produto exterior é associativo; isso é consequência da bijeção mencionada na seção anterior, .

Para elementos do dual de , , por indução temos

.

Como consequência, temos a seguinte

Proposição. Se é base para , então denotando por a base dual correspondente, o conjunto dos , com , é base para o espaço das -formas alternantes de . Em particular, esse espaço tem dimensão .

De fato, dada uma -forma alternante , temos, de maneira única,

.

Fixado um vetor , podemos definir a contração de uma forma -linear por . Trata-se da forma -linear definida por .

É evidente que será alternada se o for.

Proposição. Sejam e formas alternadas, com uma -forma. Vale a igualdade .

Prova. Seja uma -forma alternada. Temos a seguinte bipartição: , onde

.

Note que está em bijeção com via , onde para . Estenda a todo o conjunto fixando . Temos , logo [2]. Analogamente, está em bijeção com via , onde . Note: , donde . (Para provar que são de fato bijeções, basta provar que são injetivas, pois . Mas é óbvio que são injetivas). A proposição segue.

Proposição. Temos também .

Já que é uma bijeção , onde é definida por . É fácil identificar os pares de inversão de ; há deles, portanto .

O alternador[editar | editar código-fonte]

Para corpos de característica zero, temos a transformação linear que vai do espaço das formas -lineares no espaço das -formas alternantes sobre . Definimos

.

Se é uma forma -linear, definimos a forma -linear por .

Se é -forma alternante e é -forma alternante, definimos

.

Proposição. Temos .

É consequência imediata do fato de que é transversal para em .

Teoria Grassmann[editar | editar código-fonte]

A teoria algébrica remonta a Hermann Grassmann. Seu método de construir as estruturas algébricas utilizou geradores e relações e não é manifestamente independente de uma base.

Referências

  1. Comece provando que transposições geram . Basta mostrar que um ciclo pode ser expresso como um produto de transposições. Note então que ; use indução.
  2. A sutileza com relação ao domínio de definição dos homomorfismos à esquerda e à direita do sinal de igualdade não é importante, uma vez que as inclusões canônicas, via estabilizadores, são compatíveis com os respectivos homomorfismos .
  • Bishop, R.; Goldberg, S.I. (1980), Tensor analysis on manifolds, Dover, ISBN 0-486-64039-6