Surto de febre amarela no Brasil em 2016-2017

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Surto de febre amarela em 2016-2017 no Brasil

Micrografia MET do vírus da febre amarela (ampliado 234000x).
Doença Vírus da febre amarela
Local Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal[nota 1][1][2]
Período dezembro de 2016 a setembro de 2017
Casos confirmados 777 casos confirmados, 2270 casos descartados, 304 casos inconclusivos e 213 ainda em investigação[1][2]
Mortes 261 mortes confirmadas em pessoas e de 1412 mortes confirmadas em macacos.[1][2][3]

O surto de febre amarela em 2016-2017 no Brasil iniciou-se em dezembro de 2016 no estado de Minas Gerais e confirmaram-se mortes de pessoas ligadas ao vírus em municípios de nove estados, principalmente dos quatro estados da Região Sudeste. Em 6 de setembro, o Ministério da Saúde anunciou o fim do surto de febre amarela no país após não registrar novos casos desde junho.[1][2]

Casos de febre amarela[editar | editar código-fonte]

Em humanos[editar | editar código-fonte]

Até 1 de agosto, o número de casos confirmados do surto chegou a 777 em 407 cidades brasileiras com 261 mortes confirmadas,[1][2] sendo o maior índice no estado de Minas Gerais, com 465 casos confirmados e 152 óbitos.[1][2] No Espírito Santo registrou-se 252 casos confirmados e 83 mortes.[1][2] Outros casos de mortes confirmadas pelo vírus ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal.[1][2] Esse é o maior número de casos desde que começaram os registros há 37 anos, informou o Ministério da Saúde.[4]

Após o início do surto, em 13 de janeiro, o governo de Minas Gerais decretou situação de emergência em saúde pública por 180 dias nas áreas do estado onde há surto da doença. O decreto contemplou 152 cidades no entorno de Coronel Fabriciano, Governador Valadares, na Região Leste, Manhumirim, na Zona da Mata, e Teófilo Otoni, no Vale do Jequitinhonha e Mucuri.[5] No mesmo dia, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, anunciou o repasse de 26 milhões de reais para ações de enfrentamento à febre amarela no estado.[6] Em março, Ministério da Saúde libera 19 milhões de reais para vacinação contra febre amarela em municípios dos quatro estados do Sudeste e Bahia.[7]

O Ministério da Saúde relaciona baixa cobertura vacinal em Minas Gerais em 2016 ao surto atual de febre amarela. Dos 533 municípios com recomendação para a vacina 47,4% tinham menos de 50% de cobertura vacinal em 2016, onde a meta é imunizar 95% dos moradores.[8]

Em macacos[editar | editar código-fonte]

No Espírito Santo, 54 macacos foram encontrados mortos, com suspeita de febre amarela.[9] Esse número posteriormente subiu para 80 mortes, nas regiões Sul e Noroeste do estado,[10] e em seguida chegou a 400 mortes suspeitas pelo vírus.[11] Na cidade capixaba de Domingos Martins foram 210 mortes de macacos com cinco confirmações de febre amarela até 3 de março.[12] Segundo pesquisadores, a febre amarela já provocou a morte de mais 1100 macacos em todo o Espírito Santo. Os bugios, que estão ameaçados de extinção, são os mais afetados. Estudiosos acreditam que serão necessários 30 anos para recuperar a população desse animal.[13]

Em Minas já são 144 municípios com algum tipo de notificação de morte de primatas,[14] e em 101 dessas cidades a morte dos macacos foi confirmada por febre amarela.[15] Na cidade do Rio de Janeiro, cinco macacos foram achados mortos com suspeita de febre amarela.[16] São Paulo confirma 17 casos de mortes de macacos pelo vírus na região de Campinas.[17]

Em Salvador, capital baiana, foram confirmadas em março de 2017 quatro mortes de macacos por febre amarela.[18]

Segundo especialistas, a morte de macacos com febre amarela na área urbana ainda é um mistério, ainda não há uma explicação científica para o surgimento do vírus nesses locais. O primatólogo Sérgio Lucena da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) lista três hipóteses para explicar como o vírus pode estar chegando à área urbana:[19]

  1. o ser humano estaria tonando-se um hospedeiro temporário do vírus. Ele é picado na área rural, contrai o vírus e um mosquito silvestre que vive em áreas de mata na cidade o pica, passando a ficar infectado e transmitir a doença;
  2. o ser humano poderia ter trazido o mosquito silvestre infectado de forma involuntária, quando traz mercadorias da área rural para a área urbana;
  3. tráfico de animais silvestres, ou seja, quando o macaco infectado é retirado de uma região silvestre e levado para a área urbana.

O pesquisador Aloisio Falqueto cita outras duas hipóteses:

  1. os testes feitos nos macacos sejam falsos positivos, ou seja, terem dado positivo, mas, na verdade, serem negativos;
  2. a doença pode ser transmitida pelo Aedes aegypti silvestre, que se reproduz em áreas de mangue, no caso dos macacos mortos encontrados em Vitória. Até hoje não existem registros do seu potencial de transmissão.

Vacinação[editar | editar código-fonte]

O Ministério da Saúde recomenda a vacinação contra a febre amarela permanentemente no Distrito Federal e mais 18 estados brasileiros, incluindo Minas Gerais. Locais onde a transmissão é considerada possível, principalmente para indivíduos não vacinados e que se expõem em áreas de mata, onde o vírus ocorre naturalmente. O Espírito Santo, Rio de Janeiro e sul da Bahia são áreas de recomendação temporária para vacinação.[20]

Após comprovação da morte de um macaco na capital Vitória por febre amarela, todos os 78 municípios do Espírito Santo deverão ser vacinados cautelarmente. A Secretaria de Estado de Saúde informou que depois do Carnaval chegariam mais um milhão de doses da vacina para imunizar os moradores dos 18 municípios que não faziam parte da zona de risco, aproximadamente 3,69 milhões de pessoas devem receber a vacina.[21] Até 29 de maio, 83,9% da população do estado já foram imunizadas contra o vírus da febre amarela segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o que significa três milhões de pessoas. Para que haja um bloqueio eficaz, a vacinação deve alcançar pelo menos 80% da população.[22]

Em Belo Horizonte é confirmada a segunda morte de macaco por febre amarela na capital mineira em 6 de março. Assim a prefeitura intensificou a vacinação contra a doença na cidade. Até 6 de março, quase 481 mil pessoas foram imunizadas em Belo Horizonte no ano. Em 2016, 140 mil pessoas foram vacinadas na capital.[23]

No Rio de Janeiro, todos os 92 municípios vão vacinar a população por ser vizinho de três estados com casos confirmados da doença. A estratégia de vacinação como medida preventiva já vinha sendo adotada em 30 municípios localizados nas divisas com Minas Gerais e Espírito Santo.[24]

Em 6 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que o Espírito Santo é considerado área de risco para febre amarela. Por isso, a recomendação é de que todos os viajantes internacionais se vacinem contra a doença antes de visitarem qualquer localidade do estado.[25] Posteriormente, a OMS também recomendou em a vacinação nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo com exceção para as áreas urbanas das cidades do Rio de Janeiro, Niterói e São Paulo.[26]

Demissão de jornalista no Rio de Janeiro[editar | editar código-fonte]

Em 16 de março de 2017 o jornalista Caio Barbosa escreveu uma matéria para o jornal O Dia relatando filas, falta de informações e confusões nos postos de saúde do Rio de Janeiro.[27][28]

No dia 18 de março o jornal retirou a matéria do ar e demitiu o jornalista, segundo este afirmando haver se tratado de pedido do prefeito Marcelo Crivella.[28][29][30] O prefeito em nota negou o envolvimento com a demissão do jornalista.[30][31]

O jornal também afirmou que o prefeito não participou da decisão de demissão do jornalista Caio Barbosa e afirmou haver um processo reestruturação de pessoal.[32][30] Não explicou, porém as alterações promovidas na matéria,[33] inclusive com alteração da foto ilustrando um posto de saúde do município de Macaé.[30][31]

Ciclos da doença[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Febre amarela

A febre amarela atinge humanos e macacos. A doença é causada por um vírus da família Flaviviridae.[34] Segundo Débora Moura, responsável técnica pela área de imunizações e imunopreveníveis da SMS de Aracaju, existem dois tipos de febre amarela: a urbana e a silvestre. A urbana desde 1942 não ocorre no Brasil, enquanto a silvestre é encontrada através do vírus amarílico nos macacos que vivem nas matas, quando o mosquito dos gêneros Haemagogus ou Sabethes que só vive na floresta — pica o macaco e depois pica o homem que está na mata. Esse homem vem para a cidade e é picado pelo Aedes aegypti, que se infecta e passa a transmitir às pessoas. “É este o ciclo que deve estar ocorrendo em Minas Gerais, as pessoas entraram na mata sem se vacinar”, supôs a técnica.[35]

Notas

  1. Estados com mortes confirmadas por febre amarela.

Referências

  1. a b c d e f g h «Ministério da Saúde anuncia fim do surto de febre amarela». G1. Globo.com. 6 de setembro de 2017. Consultado em 12 de setembro de 2017 
  2. a b c d e f g h «Ministério da Saúde declara fim do surto de febre amarela». Porta da Saúde, Ministério da Saúde. 6 de setembro de 2017. Consultado em 12 de setembro de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 6 de setembro de 2017 
  3. «Morte de macacos por febre amarela é considerada desastre ambiental». Jornal Nacional. Globo.com. 27 de março de 2017. Consultado em 29 de março de 2017 
  4. Karina Wenzell (8 de fevereiro de 2017). «Febre amarela: o que você precisa saber sobre a doença». clicrbs. Consultado em 9 de fevereiro de 2017 
  5. «Governo de Minas decreta situação de emergência em áreas com surto de febre amarela». G1. Globo.com. Consultado em 14 de janeiro de 2017 
  6. Léo Rodrigues. «Governo de Minas anuncia R$ 26 milhões para combate à febre amarela». Uol. Consultado em 14 de janeiro de 2017 
  7. «Ministério da Saúde libera R$ 19 milhões para vacinação contra febre amarela em 5 estados». G1. Globo.com. 30 de março de 2017. Consultado em 30 de março de 2017 
  8. «Ministério relaciona baixa cobertura vacinal em 2016 ao surto atual de febre amarelaa». G1. Globo.com. 6 de março de 2017. Consultado em 8 de março de 2017 
  9. Manoela Albuquerque. «ES tem 54 macacos mortos com suspeita de febre amarela». G1. Globo.com. Consultado em 14 de janeiro de 2016 
  10. Beatriz Caliman, Brunela Alves e Katilaine Chagas. «Febre amarela é investigada em morte de 80 macacos no ES». G1. Globo.com. Consultado em 14 de janeiro de 2017 
  11. «Macacos morrem na floresta do ES: suspeita de febre amarela». Fantástico. Globo.com. 29 de janeiro de 2017. Consultado em 1 de fevereiro de 2017 
  12. «Mais de 200 macacos mortos já foram recolhidos em Domingos Martins, ES». G1. Globo.com. 3 de março de 2017. Consultado em 3 de março de 2017 
  13. «Febre amarela mata mais de 1 mil macacos após surto no ES». G1. Globo.com. 20 de março de 2017. Consultado em 20 de março de 2017 
  14. Valquiria Lopes. «Morte de macacos com suspeita de febre amarela espalha alerta no mapa de Minas». Estado de Minas. Consultado em 9 de fevereiro de 2017 
  15. «Mais de 300 casos de febre amarela são confirmados em MG, diz governo». G1. Globo.com. 14 de março de 2017. Consultado em 16 de março de 2017 
  16. «FioCruz analisa exames para confirmar mortes de macacos por febre amarela no Rio». G1. Globo.com. 16 de março de 2017. Consultado em 16 de março de 2017 
  17. «Prefeitura de Amparo confirma sexta morte de macaco por febre amarela». G1. Globo.com. 6 de abril de 2017. Consultado em 10 de abril de 2017 
  18. «Salvador tem 4 mortes de macacos por febre amarela; vacina é reforçada». G1. Globo.com. 23 de março de 2017. Consultado em 29 de março de 2017 
  19. «Morte de animais com febre amarela na área urbana ainda é mistério». G1. Globo.com. 31 de março de 2017. Consultado em 31 de março de 2017 
  20. «Orientações quanto à vacinação contra a febre amarela». Porta da Saúde, Ministério da Saúde. Consultado em 11 de março de 2017 
  21. «Vacinação contra febre amarela será para todos na Grande Vitória». G1. Globo.com. 24 de janeiro de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2017 
  22. «Febre amarela matou 82 pessoas no ES em 2017, aponta Secretaria da Saúde». G1. Globo.com. 29 de maio de 2017. Consultado em 26 de junho de 2017 
  23. «Segunda morte de macaco por febre amarela é confirmada em Belo Horizonte, diz secretaria». G1. Globo.com. 6 de março de 2017. Consultado em 8 de março de 2017 
  24. «RJ vai vacinar a população em todo o estado contra a febre amarela». G1. Globo.com. 11 de março de 2017. Consultado em 11 de março de 2017 
  25. «OMS considera todo o ES como área de risco para febre amarela». G1. Globo.com. 8 de março de 2017. Consultado em 11 de março de 2017 
  26. «OMS recomenda vacina contra febre amarela para áreas dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo». G1. Globo.com. 20 de março de 2017. Consultado em 22 de março de 2017 
  27. «Febre amarela: População critica filas e falta de informações em postos - Rio - O Dia». 16 de março de 2017. Consultado em 23 de março de 2017 
  28. a b «Crivella manda e O Dia demite jornalista». Portal Fórum. 20 de março de 2017. Consultado em 23 de março de 2017 
  29. «Jornalista do Rio é demitido por ordem de Crivella, diz colunista». Notícias ao Minuto. 19 de março de 2017 
  30. a b c d «Crivella é acusado de pedir demissão de repórter - Portal Comunique-se». Portal Comunique-se 
  31. a b CeciliaOlliveira. «Marcelo Crivella pede demissão de jornalista: um grave atentado à democracia e à liberdade de imprensa». The Intercept. Consultado em 23 de março de 2017 
  32. «O DIA realiza reestruturação em busca de maior eficiência». O Dia. 19 de março de 2017 
  33. «Procura por vacinas contra a febre amarela provoca filas nos postos de saúde». O Dia. 17 de março de 2017 
  34. «Minas tem 101 mortes por febre amarela e BH confirma doença em segundo macaco». Agência Brasil. EBC. Consultado em 8 de março de 2017 
  35. «Unidades de saúde ofertam vacina contra febre amarela na capital». G1. Globo.com. 9 de fevereiro de 2017. Consultado em 9 de fevereiro de 2017