Ferromodelismo

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Maquete do Clube de ferromodelismo de Toronto.

O ferromodelismo, ferreomodelismo (português brasileiro) ou modelismo ferroviário (português europeu) é um hobby, que consiste na construção de modelos de transporte ferroviário (trens, bondes, automotrizes, cenários etc.), em escala reduzida.

Histórico

Os primórdios

Modelo de "trem de chão" feito com folha de flandres reproduzindo o "foguete de Stephenson".

Os primeiros passos do ferromodelismo são um tanto obscuros. Não se sabe ao certo de onde surgiu a ideia de miniaturizar os trens, mas isso ocorreu quando o mundo adotou massivamente o transporte ferroviário.[1] As primeiras miniaturas de trens das quais se tem notícia, foram fabricadas por artesãos alemães na década de 1830. Essas miniaturas feitas de folha de flandres, material que facilitava a fabricação dos pequenos trens.[2] Eles no entanto, eram frágeis não tinham partes móveis e eram empurrados sobre trilhos. Logo os franceses criaram sua versão do brinquedo, esta, sendo melhor decorada com pinturas mais sofisticadas, no entanto não corriam em trilhos. Ao invés disso, eram empurrados no chão. Berço da revolução industrial, os fabricantes de brinquedos ingleses encararam a miniaturização de trens de forma mais séria.

Já em 1840, os motores a vapor miniaturizados estavam disponíveis na Inglaterra, permitindo a criação dos primeiros trens em miniatura. A construção de um dos primeiros modelos movidos a vapor é atribuída a Sir Henry Wood. É interessante notar que os artesãos europeus dedicados à fabricação de instrumentos musicais foram os primeiros a se dedicar a fabricação de trens de brinquedo, e logo passaram a utilizar mecanismos de relógios para eliminar os problemas das primeiras versões a vapor. Modelos complexos feitos de bronze foram feitos para crianças de famílias ricas pela Newton & Co. de Londres, no entanto, não eram realistas, nem seguiam uma escala.[3]

Esboço do primeiro modelo de trem em miniatura japonês, desenhado em 1921.

Em seguida vieram os "trens de brinquedo" que rodavam sobre trilhos; primeiro com sulcos,[2] depois com trilhos reais montados à vontade,[1] e permitiram os primeiros circuitos ovais, equipados com diferentes ramais, cruzamentos e mudanças de via. Naquela época, no entanto, esse modelos de trens eram "brinquedos de luxo",[4] em chapas de metal estampadas, perfuradas e/ou litografadas. Esse tipo de produto fabricado com folha de flandres, foi evoluindo até 1910, e era chamado genericamente de "tin plate" (literalmente "folha de estanho"), e as empresas: JEP, Hornby e Märklin, entre outras, faziam modelos miniaturizados em escalas entre 1:15 e 1:45, sem nenhum padrão estabelecido entre as diferentes marcas. Esse é um período em que esse material que reproduzia trens verdadeiros, é encarado como brinquedos, e não como modelos, não havendo nenhum compromisso com o realismo e os detalhes.

Em 1891, a Märklin apresenta um trem movido à mecanismo de relógio (corda), mas a maioria da produção é de trens de suspensão ou trens de chão. Esses modelos continuaram nos catálogos dos fabricantes até 1930.[1]

Um trem de brinquedo do tipo "tin plate".
Vagão de brinquedo fabricado pela Märklin.

Os modelos mais populares naquela época, eram "reproduções livres", ou seja, não havia nenhum rigor ou compromisso com a exatidão das reproduções. Por exemplo: a locomotiva Pacific com seus seis eixos, foi, na maioria das vezes reduzida a dois eixos nas reproduções. Modelos de metal mais sofisticados existiam. Eles eram fornecidos por firmas especializadas, como a Bing com sua "Black Prince" de 1902; ou a "locomotiva especial n°2" produzida pela Hornby em 1929;[1] ou por artesãos, como os franceses Fournereau, Gaume e Lequesne por exemplo;[2] os primeiros modelistas ferroviários precisavam construir seus modelos completos a partir do zero. Os primeiros modelos mais fidedignos aos trens da época, eram praticamente artesanais, sendo vendidos a um preço que tornou esse passatempo uma atividade burguesa.[1] No Japão, os amadores e artesãos construíam suas próprias réplicas, bastante fiéis às locomotivas originais, em latão, nas escalas I ou 0. Esses modelos, no entanto, tinham o status de arte eram usados para exibição estática em prateleiras.

O ferromodelismo moderno

Não demorou para que o público demandasse mais do que apenas as locomotivas. Eles queriam comprar sistemas completos e cada vez mais complexos, com pistas em vários formatos, carros de passageiros, vagões de carga e réplica de estações. Enquanto isso, a Märklin, uma fabricante de brinquedos alemã, que desde 1891 vinha sendo comandada pelos filhos (Eugen e Karl) do seu fundador: Theodor Märklin introduziu a primeira pista dividida em seções em forma de oito. Foi a Märklin que também produziu a primeira miniatura de trem movida à eletricidade da Europa. Durante a Exposição Universal de 1900 de Paris, um fabricante de brinquedos alemão, Stefan Bing, e a firma britânica Bassett-Lowke formaram uma parceria para produzir as réplicas de trens mais autênticas na Europa. As ações de Bing despertaram o interesse público de colecionadores de trens ao distribuir um livro sobre o processo de montagem chamado "The Little Railway Engineer". Com a popularização das pequenas miniaturas na virada do século, muitos fabricantes que se tornaram "lendários" surgiram nos Estados Unidos, como: Ives, Lionel e American Flyer que se tornaram as mais populares do ferromodelismo americano. A Ives, fundada em 1868, tinha um slogan característico: "Ives toys make happy boys" e era bem conhecida pela qualidade das suas réplicas e seu serviço de reposição de peças.[3]

A Lionel, fundada no início da década de 1900 por Joshua Lionel Cohen, produziu as mais famosas réplicas de todas. A empresa começou fabricando pequenos motores elétricos para as pequenas réplicas, mas logo após a Primeira Guerra Mundial, tornou-se a maior fabricante de réplicas de trens. Uma das razões do sucesso era que os trens da Lionel eram mais realísticos que os de todas as outras, com motores potentes e construção resistente. Eles se tornaram o "padrão de excelência" americano para a construção de réplicas de trens. Além disso, a Lionel pintava seus trens com cores brilhantes e chamativas, que estimulavam compradores e colecionadores de todas as idades. A American Flyer, "explodiu" no mercado de réplicas com trens numa escala maior e mais baratos durante a década de 1920. Os seus trens de passageiros com decoração elaborada foram um grande sucesso. A agressiva Lionel, no entanto, surpreendeu novamente oferecendo modelos ainda mais impressionantes. A American Flyer sucumbiu em 1967. Depois da Segunda Guerra Mundial, as réplicas se tornaram ainda mais detalhistas e funcionais, o que foi muito apreciado por colecionadores. Adultos e crianças hoje em dia, constroem layouts tão realistas e elaborados que os observadores ficam encantados com os pequenos trens em movimento. Eles se reúnem com suas famílias e amigos para reestabelecer o amor pela "era dos trens" e pelas memórias de infância.[3]

Exemplo clássico de ferromodelismo: um kit básico da Jouef, reproduzindo o Sud-Express, na escala HO, em 1955.
Os produtos da empresa Lionel, contribuíram para a popularização do ferromodelismo depois da guerra.

Já em 1905 surgem os primeiros comandos elétricos, e os primeiros trilhos elétricos em 1930.[1] Uma concorrência foi estabelecida entre o sistema de três trilhos (sendo apenas o central energizado), proposto pela Lionel, e o de dois trilhos ambos energizados e mais realista.[1] Surgem as primeiras revistas especializadas: duas são publicadas no Japão na década de 1930,[5] período em que surgem: a Model Railroader em 1935 nos Estados Unidos e a Loco-Revue em 1938 na França.

Com o passar do tempo, alguns entusiastas, buscaram meios para que as réplicas se tornassem mais realistas e tivessem um melhor acabamento: esses podem ser considerados os primeiros "ferromodelistas". O primeiro clube de ferromodelismo, foi o The Model Railway Club,[6] fundado em Londres em 1910.[1][6] Esta nova paixão chega à França após a Primeira Guerra Mundial. A primeira associação francesa de ferromodelismo, foi a Association française des amis des chemins de fer (AFAC), criada em 1929, e desde então está localizada no subsolo do terminal "Gare de Paris-Est", em Paris.[7][2]. Com o passar do tempo, o modelismo em geral e o ferromodelismo em particular deixou de ser encarado como apenas um nicho na linha de produção de fábricas de brinquedos, exigindo dedicação exclusiva dos seus fabricantes. Atualmente, a única empresa que produz artigos de ferromodelismo comercialmente na América do Sul, é a Indústrias Reunidas Frateschi, fundada em 1958,[8] comumente chamada simplesmente de Frateschi, localizada em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.

Ferromodelismo ou ferreomodelismo?

De acordo com as regras de formação de palavras, o primeiro elemento não pode ser um adjetivo se o segundo for um substantivo. Em outras palavras, "modelismo" é um substantivo, então o primeiro elemento não poderia ser adjetivo (férreo), e sim outro substantivo (ferro). Portanto o termo correto é ferromodelismo.[9]

O primeiro termo "ferreo" caiu no gosto popular (no Brasil) devido à associação direta com trem de ferro, e não com o principal material utilizado no hobby, como no caso do plastimodelismo, dando a ideia de miniaturas feitas em metal.

Em Portugal é mais comum a designação "modelismo ferroviário".

Para pesquisas em inglês, o termo correto é: "Rail transport modelling".

Estima-se que existam entre 15 e 25 mil ferreomodelistas em todo o Brasil.

Fabricantes de ferromodelismo

Uma maquete de ferrovia Exeter Bank australiana em escala HO.
Uma maquete de ferrovia australiana em escala O.
Um modelo de locomotiva movido a vapor num museu finlandês.
Uma pequena locomotiva de 5 polegadas de bitola na ferrovia em miniatura daWagga Wagga Society of Model Engineers em Wagga Wagga, Austrália.

Clubes ou Associações de ferromodelismo no Brasil

Maquete Modular de ferromodelismo do FCABC.

 Distrito Federal

  1. SMFB - Sociedade de Modelismo Ferroviário de Brasília - Brasília

 Minas Gerais

  1. AMF - Associação Mineira de Ferromodelismo (Desde 1964) - Belo Horizonte
  2. GVPMCF - Grupo Viçosense de Preservação da Memória e Cultura Ferroviária - Viçosa
  3. SMMF - Sociedade Mineira de Modelismo Ferroviário - Belo Horizonte

 Paraná

  1. ALLFe - Associação Ludo-Londrinense de Ferromodelismo (ALLFe) - Londrina
  2. APF - Associação Paranaense de Ferreomodelismo e Memória Ferroviária - Curitiba

 Pernambuco

  1. APEFE - Associação Pernambucana de Ferromodelismo e Preservação Ferroviária - Recife

 Rio de Janeiro

  1. ABPF-RJ - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária - Regional Rio de Janeiro
  2. AFERJ - Associação de Ferromodelismo do Estado do Rio de Janeiro (Estação de Barão de Mauá) - Rio de Janeiro
  3. AFMF - Associação Fluminense de Modelismo Ferroviário (Clube do Trem) (Praça da Bandeira) - Rio de Janeiro
  4. Venerável Ordem 1ª da Confraria do Trem (Grupo não oficial) - Rio de Janeiro

 Rio Grande do Sul

  1. AGAFER - Associação Gaúcha de Ferromodelismo - Porto Alegre
  2. ASCAFER - Associação de Ferromodelismo de Caxias do Sul - Caxias do Sul
  3. CLUBE SUL - Clube Sul de Modelismo - Porto Alegre

 Santa Catarina

  1. AMJ - Associação de Modelismo de Joinville - Joinville

 São Paulo

  1. ABF - Associação Bebedourense de Ferromodelismo - Bebedouro
  2. ABF - Associação Botucatuense de Ferromodelismo - Botucatu
  3. ABM - Associação de Ferromodelismo e Preservação Ferroviária Barão de Mauá - Ourinhos
  4. AFA - Associação de Ferromodelismo de Araraquara - Araraquara
  5. AFEBS - Amigos Ferromodelistas da Baixada Santista - Santos
  6. AFESB - Amigos Ferromodelistas de São Bernardo do Campo e Região - São Bernardo do Campo
  7. AGFEMF - Associação Garcense de Ferromodelismo e Memoria Ferroviária - Garça
  8. AJFPF - Associação Jundiaiense de Ferromodelismo e Preservação Ferroviária - Jundiai
  9. AMFEC - Associação de Modelismo Ferroviário de Campinas - Campinas
  10. AMOLA - Associação de Modelismo da Lapa - São Paulo
  11. ANPF Ferreomodelismo - Associação Nacional de Preservação Ferroviária - Dept° de Ferromodelismo - Sabaúna
  12. APFFB - Associação de Preservação Ferroviária e de Ferromodelismo de Bauru - Bauru
  13. ARF - Associação Ribeirão-pretana de Ferromodelismo - Ribeirão Preto
  14. ASPAFER - ASPAFER - Associação Paulinense de Ferromodelismo e Preservação Histórica - Paulínia
  15. CPMF - Clube Paulista de Modelismo Ferroviário - São Paulo
  16. FCABC - Ferroclube do ABC - São Paulo
  17. NFEFPP - Núcleo de Ferromodelismo da EFPP - São Paulo
  18. GMMS - Grupo Maquete Modular de Sorocaba - Sorocaba
  19. SBF - Sociedade Brasileira de Ferromodelismo - São Paulo

Escalas

Maquete de ferromodelismo na escala-Z (1:220) exibindo uma locomotiva a vapor "2-6-0 Mogul" e um limpa-neves artesanal (amarelo em primeiro plano).
Nome:Escala/Bitola
21:22,564 mm
G1:22,545 mm
11:3245 mm
01:4832,75 mm
0n301:4816,5 mm
0n21:4812,5 mm
001:7216,5 mm
001:7616,5 mm
H01:8716,5 mm
H0e1:879 mm
TT1:12012 mm
N1:1609 mm
Z1:2206,5 mm
T1:4503 mm
T1:4803 mm

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h Lamming, Clive (2007). Trains miniatures. Auray: LR Presse. p. 149. ISBN 2-903651-40-X  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Lamming" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  2. a b c d Coletivo (1999). Le Patrimoine de la SNCF et des chemin de fer français. 2. [S.l.]: Éditions Flohic. p. 776 a 787. ISBN 2-84234-069-8 
  3. a b c Linda L. Coulter (1993). «History of model trains». Friends 'n Neighbors. Consultado em 20 de junho de 2015 
  4. Jacques Le Plat (1987). «Le train miniature nouveau: Hobby créatif de notre temps». LR Presse. Loco revue Hors Série (1) 
  5. Jacques Le Plat (1993). «Enquête sur un artisanat japonais méconnu». Loco Revue (556): 121-122 
  6. a b «The Model Railway Club». The Model Railway Club Ltd. Consultado em 19 de julho de 2015 
  7. «Présentation de l'AFAC». Association Française des Amis des Chemins de fer. Consultado em 19 de julho de 2015 
  8. «Frateschi 40 anos». A empresa. Indústrias Reunidas Frateschi Ltda. Consultado em 20 de junho de 2015 
  9. «ferromodelismo». léxico: dicionário de português online. Léxico.pt. Consultado em 20 de junho de 2015 

Bibliografia

  • David Thompson: Railway Noise and Vibration: Mechanisms, Modelling and Means of Control, Elsevier, Oxford 2009, ISBN 978-0-08045-147-3 (em inglês)
  • Chris Ellis: The Hornby Book of Scenic Railway Modeling, Bloomsbury, USA 2010, ISBN 978-1-84486-112-5 (em inglês)
  • Richard Bardsley: Making a Start in N Gauge Railway Modelling, The Crowood Press Ltd., Ramsbury 2013, ISBN 978-1-84797-650-5 (em inglês)
  • Jeff Wilson: The Model Railroader's Guide to Industries Along the Tracks 3, The Donohue Group Inc., 1964, ISBN 978-0-89024-701-3 (em inglês)
  • W. A. Corkill: Railway modelling: an introduction, David & Charles, 1979, ISBN 978-0-71537-571-6 (em inglês)

Ligações externas

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