Monumento a Castelo Branco

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Monumento ao Marechal Castelo Branco

Imagem de 2013

Apresentação
Tipo
Escultor
Material
cobre, ferro e aço
Período de construção
a partir de 1977
Inauguração
Dimensões (A × L)
28 × 11 m
Localização
Localização
Coordenadas
Mapa

O Monumento a Castelo Branco, ou Monumento ao Marechal Castelo Branco, é um monumento localizado no Parque Moinhos de Vento, na cidade de Porto Alegre, dedicado ao primeiro ditador do regime militar brasileiro, Humberto Castelo Branco. A obra, de autoria de Carlos Tenius, possui 28 metros de altura, 50 toneladas e é feita de cobre, aço e ferro.[1] Foi encomendada em 1977, à ocasião do décimo segundo ano do falecimento do homenageado, e inaugurada em 1979.[2]

A escultura representa quatro guerreiros munidos de lanças e escudos protegendo seu centro. De acordo com Virgínia Gil, a proporção das pernas em contraste com o todo do corpo simboliza o progresso do governo de Castelo Branco, mas também sua fragilidade.[3] Na parte inferior, há o escrito: “Ao presidente Castello Branco, o povo do Rio Grande do Sul. Abril de 1979”. Nas palavras do escultor em reportagem de O Estado de São Paulo, em 1978, o monumento simboliza “a confraternização do povo e das Forças Armadas”.[2]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Idealização e financiamento[editar | editar código-fonte]

A comissão idealizadora do projeto era composta pela Federação das Indústrias, a Federação da Agricultura, a Federação das Associações Comerciais do RS, o Sindicato dos Bancos do RS, o General Oscar Luiz da Silva e o desembargador Paulo Barbosa Lessa, sob a coordenação de Fábio Araújo Santos. A Secretaria da Comissão funcionou no sexto andar do Palácio do Comércio, até a inauguração do monumento.[2]

A obra foi financiada por entidades representantes de empresários riograndeses, incluindo membros da Ação Democrática Renovadora (ADR), com relação ideológica e ativista à Ditadura Militar.[4] O sócio fundador desta organização, Fábio Araújo Santos, foi amigo próximo de Castelo Branco, e idealizou a homenagem após a morte do ex-presidente.[2]

Recusas[editar | editar código-fonte]

Em 1977, três escultores foram convidados para a execução do projeto: Carlos Tenius, Francisco Stockinger e Vasco Prado. Prado e Stokinger recusaram o convite. Segundo Gil, os dois artistas não quiseram ter suas obras vinculadas a homenagem às figuras militares deste período.[3]

O monumento não possuía um local específico para ser instalado. Foram cogitados os parques Marinha do Brasil e Parque Farroupilha em frente ao Colégio Militar. Entretanto optaram pelo parque recentemente inaugurado em 1972, o Parque Moinhos de Vento. A proposta de instalação do monumento no Parque Farroupilha gerou críticas generalizadas da população.[3] A possibilidade de sua construção no Parque Marinha do Brasil foi vetada por Ivan Mizoguchi e Rogério Malinsky, os arquitetos responsáveis pelo projeto do parque.[3]

Inauguração[editar | editar código-fonte]

A inauguração do monumento ocorreu no dia 25 de abril de 1979. O objetivo da obra seria homenagear o ex-presidente na data do décimo segundo ano após o seu falecimento. Segundo reportagem publicada no Jornal Brasil, Fábio Araújo Santos pretendia inaugurar o monumento no dia 20 de setembro de 1978, em homenagem à Revolução Farroupilha e ao dia “em que nasceu o primeiro Presidente da Revolução de 1964”.[5]

Recepção[editar | editar código-fonte]

Apesar dos embates ideológicos que envolveram a construção do monumento, as reações negativas da população que ganharam espaço na imprensa, ao final da década de 1970, eram direcionadas à sua estética. As críticas de populares enviadas ao jornal portoalegrense Correio do Povo descrevem a escultura de Tenius como “um terrível objeto férrico”, “um monstrengo de lata enferrujada” e “poluição visual”, questionam qual seria a opinião de Castelo Branco sobre a homenagem e sugerem sua substituição por árvores ou flores. O historiador, advogado e jornalista Sérgio da Costa Franco, em depoimento ao mesmo jornal em abril de 1979, demonstrou desdém em relação ao estilo moderno das obras de Carlos Tenius, tendo anteriormente apelidado o Monumento aos Açorianos, também assinado pelo artista, de “paliteiro”.[3]

Disputas políticas[editar | editar código-fonte]

O monumento gerou controvérsias quanto a sua origem. Segundo uma versão apontada pelo vereador da Câmara Municipal de Porto Alegre, Pedro Ruas do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), a escultura teria sido criada a partir de uma insatisfação do ex-presidente do regime militar, Emílio Garrastazu Médici, quanto à ausência de homenagens a Castelo Branco em Porto Alegre.

Em 1996, o então vereador Giovani Gregol do Partido dos Trabalhadores encaminhou um Projeto de Lei à Câmara de Vereadores de Porto Alegre buscando ressignificar o monumento a partir da mudança do nome para “Tortura Nunca Mais”. Em uma sessão na Câmara Municipal, políticos de esquerda e direita debateram sobre a história e memória da ditadura militar brasileira. Entretanto, a proposta de Giovani Gregol não teve prosseguimento.[2]

Intervenções populares[editar | editar código-fonte]

Por ser um monumento em homenagem a uma proeminente figura da Ditadura Militar, ele é frequentemente envolvido em polêmicas. Um exemplo dessas tensões é o caso ocorrido em abril de 2014, quando, na ocasião do cinquentenário do golpe de 64, foi pendurada na escultura uma faixa em repúdio à ditadura, com o escrito "Ditadura Nunca Mais".[6][2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «5 atrativos imperdíveis do Parque Moinhos de Vento | Luxton». Blog. 11 de março de 2020. Consultado em 16 de outubro de 2023 
  2. a b c d e f Bauer, Caroline (2022). «Comemorando a ditadura, celebrando o capital: uma leitura do monumento à Castelo Branco em Porto Alegre». Corpos e pedras - Estátuas, monumentalidade e História. [S.l.]: Biofontes. pp. 105 – 128. ISBN 9786553890015 
  3. a b c d e Araújo Gil, Virgínia (2002). «O Cenário Urbano como Representação do Progresso – História, leituras e atitudes desencadeadas pelo Monumento ao Marechal Castello Branco. Porto Alegre / 1978-1979» (PDF). Consultado em 16 de out de 2023 
  4. Dalpiaz Carlos, Sara (2017). «A atuação da ação democrática renovadora (ADN) durante a ditadura civil-militar no Rio Grande do Sul» (PDF). Consultado em 16 de out de 2023 
  5. «Fabricantes de calçados prometem à Geisel que a exportação não para mais». Jornal do Brasil: p. 8. 18 de junho de 1978 
  6. Ribeiro, Milton (1 de abril de 2014). «Monumento em homenagem a Castelo Branco amanhece com faixa de repúdio à ditadura». Sul21. Sul21. Consultado em 16 de outubro de 2023