Queda da Babilónia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Extensão do Império Neobabilónico
História da Babilónia desde a fundação da monarquia (em cima) até à sua queda e à conquista persa (em baixo)

A queda da Babilónia é o conjunto de eventos históricos no final do Império Neobabilónico após a cidade da Babilónia ter sido conquistada pelo Império Aqueménida em 539 a.C., sob Ciro II, o Grande. Após a conquista Ciro é citado num cilindro (o Cilindro de Ciro) dizendo[1]:

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Vários fatores acabaram por levar à queda da Babilónia. Nabonido (r. 556–539 a.C.), filho da sacerdotisa assíria Ada-Gupi,[2] subiu ao trono em 556 a.C., depois de derrubar o jovem rei Labashi-Marduk. Com o passar do tempo, as pessoas ficaram inquietas e cada vez mais desafetadas sob seu mandato. Por um lado, o clero dedicado a Marduk odiava Nabonido porque ele suprimiu o culto de Marduk em favor do culto ao deus da lua, Sin.[3][4] Além disso, durante longos períodos, o governo foi confiado ao seu filho, o principe e o co-regente Belsazar, que era um soldado capaz, mas um mau político e diplomata.[5]

No oriente, o Império Aqueménida estava em forte expansão. O seu regente Ciro II conquistou um vasto território, que abrangia uma área correspondente aos modernos países Turquia, Arménia, Azerbaijão, Irão, Quirguistão e Afeganistão. O único poder significativo não conquistado que permaneceu no Próximo Oriente foi o Império Neobabilónico, que controlou a Mesopotâmia e os reinos submetidos, como a Síria, a Judeia, a Fenícia e partes da Arábia. A Babilónia estava intimamente relacionada com os inimigos de Ciro em outros lugares. O império era anteriormente aliado de Creso da Lídia, cujo reino foi invadido pelos persas alguns anos antes da invasão da Babilónia.[6] Do mesmo modo, Ciro afirmou ser o legítimo sucessor dos antigos reis da Babilónia, e conseguiu ser muito popular na Babilónia, ao contrário de Nabonido.[7][8]

Invasão[editar | editar código-fonte]

Rota tomada por Ciro na invasão da Babilónia

Em 539 a.C. Ciro invadiu a Babilónia. A reconstrução histórica da queda da Babilónia às mãos do Império Aquemênida é problemática, devido às inconsistências entre os diversos documentos que servem de fonte documental. Tanto as Crónicas Mesopotâmicas como o Cilindro de Ciro descrevem que Babilónia foi tomada sem ter havido qualquer batalha, enquanto os historiadores gregos Heródoto e Xenofonte[9] relataram que a cidade foi [cerco|sitiada] pelas forças de Ciro. O Livro de Daniel, por seu lado, relata que Babilónia foi tomada numa só noite, e que o príncipe Belsazar foi assassinado no processo[10]. Em outra reconstrução, relata-se que Nabonido enviou o seu filho Belsazar para evitar o avanço do enorme exército persa, Belsazar foi traído por [Gobrias], governador da Assíria, que desertou para o lado persa. As forças da Babilónia foram derrotadas na batalha de Ópis. Nabonido fugiu para Borsipa, e em 12 de outubro, após os engenheiros de Ciro terem conseguido desviar as águas do rio Eufrates, «os soldados de Ciro entraram em Babilónia sem lutar». A obra Ciropédia de Xenofonte diz que Belsazar foi assassinado, mas o relato não se considera fidedigno sob esta reconstrução dos eventos.[11]

A Crónica de Nabonido declara que após a batalha em Ópis, «no décimo-quarto dia [6 de outubro] Sipar foi capturado sem batalha. Nabonido fugiu».[12] A redação da crónica implica que Nabonido tenha estado presente em Sipar quando chegaram os persas.[13] Ciro permaneceu em Sipar, e «no décimo-sexto dia [12 de outubro] Ug / Gubaru Gobrias, governador dos Gútios, e o exército de Ciro entraram em Babilónia sem batalha». O mesmo Nabonido foi capturado pouco depois quando regressou a Babilónia.[12] O seu destino final não é claro, mas segundo Berosso, historiador babilónico do século III a.C., Nabonido foi salvo e foi para o exílio na Carmânia, onde morreu anos depois.[14] As tropas persas tomaram o controle da cidade, embora a Crónica de Nabonido proporcione poucos detalhes de como teria isto ocorrido. A crónica faz notar que o exército conquistador protegeu os templos mais importantes da cidade. Dezessete dias mais tarde, em 29 de outubro, Ciro entrou em Babilónia, onde foi proclamado rei, emitiu proclamações reais e nomeou governadores para o seu reino recém-conquistado.[12]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Após a queda, a Babilónia ficou sob domínio estrangeiro pela primeira vez. Foi estabelecido um novo sistema de governo e tornou-se num estado multinacional persa. Este sistema de governo chegou ao apogeu depois da conquista do Egito por Cambises II durante o reinado de Dario I, e recebeu fundamento ideológico na inscrição dos reis persas.[15]

Por outro lado, a invasão da Babilónia por Ciro foi facilitada pela existência de uma parte da população descontente com a administração do Estado e com a presença de exiliados estrangeiros como os judeus, que tinham sido colocados no meio do país. Um dos primeiros atos de Ciro foi permitir que estes exiliados regressassem a casa, levando consigo artigos sagrados. A permissão para o fazer estava incluída numa proclamação real, pela qual o conquistador se esforçava por justificar a sua pretensão ao trono da Babilónia. Diz-se que os judeus inicialmente saudaram os persas como libertadores. Ciro enviou os exiliados judeus de volta a Israel a partir do cativeiro da Babilónia.[16] Embora os judeus nunca se rebelassem contra a ocupação persa,[17] permaneceram inquietos no período de Dario I consolidando o seu poder,[18] e sob Artaxerxes I,[19][20] sem tomar armas nem exercer represálias sobre o governo persa.

Entre os babilónios, os sentimentos de que ninguém tinha direito a governar sobre a Ásia Ocidental continuaram fortes, até que Bel e os seus sacerdotes consagraram Ciro no cargo; em consequência, este assumiu o título imperial de Rei da Babilónia. Ciro afirmou ser o sucessor legítimo dos antigos reis da Babilónia e o vingador de Bel-Marduk, e autodescreveu-se como salvador escolhido por Marduk para restaurar a ordem e a justiça.[21]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente Próximo], J. Pritchard, 1974, p. 316)it-1 p. 511
  2. Oates, 1986, p.132
  3. A.T. Olmstead, History of the Persian Empire, Univ. of Chicago Press, 1948, p.38
  4. Oates, 1986, p.133
  5. John Haywood, The Penguin Historical Atlas of Ancient Civilizations, Penguin Books Ltd. London, 2005, p.49
  6. Briant, Pierre (2002). From Cyrus to Alexander: A History of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Eisenbrauns. pp. 40–43. ISBN 1-57506-120-1 
  7. Georges Roux, Ancient Iraq, 3rd ed., Penguin Books, Londres, 1991, p.381-382
  8. Oates, 1986, p.134-135
  9. Histories I.191; Cyropaedia VI.5.15–16.
  10. Biblia Sagrada. Daniel 5.1-31. [S.l.: s.n.] 
  11. Harper's Bible Dictionary, ed. by Achtemeier, etc., Harper & Row, San Francisco, 1985, p.103
  12. a b c Kuhrt, A. (2007). The Persian Empire: A Corpus of Sources of the Achaemenid Period (em inglês). [S.l.]: Routledge. pp. 48–51. ISBN 0-415-43628-1 
  13. Vanderhooft, David. «Cyrus II, Liberator or Conqueror? Ancient Historiography concerning Cyrus in Babylon». Judah and the Judeans in the Persian Period (em inglês). [S.l.]: Lipschitz, Oded; Oeming, Manfred. pp. 351–372 
  14. Leick, Gwendolyn (1999). «Nabonidus». Who's who in the Ancient Near East (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 112. ISBN 0-415-13230-4 
  15. Melammu Symposia Vol.3, Ideologies, p.143
  16. Isaiah 45 | Biblegateway.com
  17. Bright, 1959, p.342-396
  18. Bright, 1959, p.351-354
  19. Bright, 1959, p.361
  20. Josephus, The New Complete Works, traduzido para inglês por William Whiston, Kregel Publications, 1999, "Antiquites" Book 11:6, p.374
  21. Georges Roux, Ancient Iraq, 3rd ed., Penguin Books, London, 1991, p.382