Totalitarismo: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Bundesarchiv Bild 146-1969-065-24, Münchener Abkommen, Ankunft Mussolini.jpg|thumb|upright=1.3|[[Benito Mussolini]] e [[Adolf Hitler]] em 28 de setembro de 1938]]
[[Imagem:Bundesarchiv Bild 146-1969-065-24, Münchener Abkommen, Ankunft Mussolini.jpg|thumb|upright=1.3|[[Benito Mussolini]] e [[Adolf Hitler]] em 28 de setembro de 1938]]
[[Imagem:Mao, Bulganin, Stalin, Ulbricht Tsedenbal.jpeg|thumb|upright=1.3|[[Mao Tsé-Tung]] e [[Josef Stálin]] em [[Moscou]], dezembro de 1949]]
[[Imagem:Mao, Bulganin, Stalin, Ulbricht Tsedenbal.jpeg|thumb|upright=1.3|[[Mao Tsé-Tung]] e [[Josef Stálin]] em [[Moscou]], dezembro de 1949]]
'''Totalitarismo''' (ou '''regime totalitário''') é um [[sistema político]] no qual o [[Estado]], normalmente sob o controle de uma única pessoa, [[político]], facção ou [[classe social]], não reconhece limites à sua [[autoridade]] e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível.<ref name="reflections2">[[Robert Conquest]] ''Reflections on a Ravaged Century'' (2000) ISBN 0-393-04818-7, page 74</ref> O totalitarismo é caracterizado pela coincidência do [[autoritarismo]] (onde os [[cidadão]]s comuns não têm participação significativa na tomada de decisão do Estado) e da [[ideologia]] (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais para orientar a maioria, senão todos os aspectos da vida pública e privada).<ref>C.C.W. Taylor. “Plato's Totalitarianism.” <em>Polis</em> 5 (1986): 4-29. Reprinted in <em>Plato 2: Ethics, Politics, Religion, and the Soul</em>, ed. Gail Fine (Oxford: Oxford University Press, 1999), 280-296.</ref>
'''Totalitarismo''' (ou '''regime totalitário''') é um [[sistema político]] no qual o [[Estado]], normalmente sob o controle de uma única pessoa, [[político]], facção ou [[classe social]], não reconhece limites à sua [[autoridade]] e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível.<ref name="reflections2">[[Robert Conquest]] ''Reflections on a Ravaged Century'' (2000) ISBN 0-393-04818-7, page 74</ref> O totalitarismo é caracterizado pela coincidência do [[autoritarismo]] (onde os [[cidadão]]s comuns não têm participação significativa na tomada de decisão do Estado) e da [[ideologia]] (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais para orientar a maioria, senão todos os aspectos da vida pública e privada).<ref>C.C.W. Taylor. “Plato's Totalitarianism.” <em>Polis</em> 5 (1986): 4-29. Reprinted in <em>Plato 2: Ethics, Politics, Religion, and the Soul</em>, ed. Gail Fine (Oxford: Oxford University Press, 1999), 280-296.</ref>


Os [[Regime político|regimes]] ou movimentos totalitários mantêm o [[poder político]] através de uma [[propaganda]] abrangente divulgada através dos [[meios de comunicação]] controlados pelo Estado, um [[partido único]] que é muitas vezes marcado por [[culto de personalidade]], o [[Economia planificada|controle sobre a economia]], a regulação e restrição da [[liberdade de expressão|expressão]], a [[vigilância em massa]] e o disseminado uso do [[terrorismo de Estado]].
Os [[Regime político|regimes]] ou movimentos totalitários mantêm o [[poder político]] através de uma [[propaganda política]] abrangente divulgada através dos [[meios de comunicação]] controlados pelo Estado, um [[partido único]] que é muitas vezes marcado por [[culto de personalidade]], o [[Economia planificada|controle sobre a economia]], a regulação e restrição da [[liberdade de expressão|expressão]], a [[vigilância em massa]] e o disseminado uso do [[terrorismo de Estado]].


== Etimologia ==
== Etimologia ==

A ideia de ''totalitarismo'' como poder político “total” através do estado foi formulada em 1923 por [[Giovanni Amendola]] que criticou o [[fascismo]] [[Reino de Itália (1861–1946)|italiano]] como um sistema fundamentalmente diferente das [[ditadura]]s convencionais.<ref name="Pipes">Pipes, Richard (1995), ''Russia Under the Bolshevik Regime'', New York: Vintage Books, Random House Inc., ISBN 0-394-50242-6.</ref> O termo depois ganhou conotações positivas nos escritos de [[Giovanni Gentile]], o principal teórico do [[fascismo]]. Ele usou o termo "totalitário" para se referir à estrutura e metas do novo estado. O novo estado deveria dispor sobre a "representação total da nação e a orientação total das metas nacionais"<ref>Stanley G. Payne, ''Fascism: Comparison and Definition'' (UW Press, 1980), p. 73</ref>. Ele descreveu o totalitarismo como uma sociedade em que a ideologia do estado teria influência, se não poder, sobre a maioria de seus cidadãos<ref>G. Gentile & B. Mussolini in "''La dottrina del fascismo''" 1932)</ref>. Segundo [[Benito Mussolini]]<ref name="Pipes"/>, este sistema politiza tudo que é espiritual e humano. O conceito de totalitarismo surgiu nos anos 1920 e 1930. A visão de que ele foi elaborado somente depois de 1945 é frequente e equivocadamente visto como parte da propaganda anti-[[soviética]] durante a [[guerra fria]]. {{Carece de fontes|data=Novembro de 2012}}
A ideia de ''totalitarismo'' como poder político “total” através do estado foi formulada em 1923 por [[Giovanni Amendola]] que criticou o [[fascismo]] [[Reino de Itália (1861–1946)|italiano]] como um sistema fundamentalmente diferente das [[ditadura]]s convencionais.<ref name="Pipes">Pipes, Richard (1995), ''Russia Under the Bolshevik Regime'', New York: Vintage Books, Random House Inc., ISBN 0-394-50242-6.</ref> O termo depois ganhou conotações positivas nos escritos de [[Giovanni Gentile]], o principal teórico do [[fascismo]]. Ele usou o termo "totalitário" para se referir à estrutura e metas do novo estado. O novo estado deveria dispor sobre a "representação total da nação e a orientação total das metas nacionais"<ref>Stanley G. Payne, ''Fascism: Comparison and Definition'' (UW Press, 1980), p. 73</ref>. Ele descreveu o totalitarismo como uma sociedade em que a ideologia do estado teria influência, se não poder, sobre a maioria de seus cidadãos<ref>G. Gentile & B. Mussolini in "''La dottrina del fascismo''" 1932)</ref>. Segundo [[Benito Mussolini]]<ref name="Pipes"/>, este sistema politiza tudo que é espiritual e humano. O conceito de totalitarismo surgiu nos anos 1920 e 1930. A visão de que ele foi elaborado somente depois de 1945 é frequente e equivocadamente visto como parte da propaganda [[Antissovietismo|anti-soviética]]) durante a [[guerra fria]]. {{Carece de fontes|data=Novembro de 2012}}


{{quote2|''"Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.”''|expressão consagrada por [[Benito Mussolini]]}}
{{quote2|''"Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.”''|expressão consagrada por [[Benito Mussolini]]}}


== Génese e contexto histórico ==
== Génese e contexto histórico ==
Foi ainda no decorrer da [[Primeira Guerra Mundial]] que começou a nascer o totalitarismo, fenómeno político que marcou o século XX. Com a necessidade de direcionar a produção industrial para as necessidades geradas pela guerra, os governos das frágeis [[democracia]]s [[Liberalismo|liberais]] [[Europa|europeias]] tiveram de se fortalecer, acumulando poderes e funções de Estado, em detrimento do poder parlamentar, para agilizar as decisões importantes em tempos de guerra. Quando voltasse a paz, dizia-se, esses poderes voltariam à distribuição democrática usual. Mas não foi isso que aconteceu. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}


Foi ainda no decorrer da [[Primeira Guerra Mundial]] que começou a nascer o totalitarismo, fenómeno político que marcou o [[século XX]]. Com a necessidade de direcionar a produção industrial para as necessidades geradas pela guerra, os governos das frágeis [[Democracia liberal|democracias liberais]] [[Europa|europeias]] tiveram de se fortalecer, acumulando poderes e funções de Estado, em detrimento do poder parlamentar, para agilizar as decisões importantes em tempos de guerra. Quando voltasse a paz, dizia-se, esses poderes voltariam à distribuição democrática usual. Mas não foi isso que aconteceu. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}
O Estado com executivo forte e legislativo debilitado que se constituiu durante a Primeira Guerra acabou sendo a semente do modelo de Estado autoritário que surgiria na década seguinte. Das várias [[monarquia]]s [[Parlamentarismo|parlamentares]] europeias em 1914 ([[Reino Unido]], [[Reino de Itália (1861–1946)|Itália]], [[Espanha]], [[Países Baixos|Holanda]], [[Bélgica]], [[Dinamarca]], [[Suécia]], [[Noruega]], [[Reino da Sérvia|Sérvia]], [[Reino da Bulgária|Bulgária]], [[Reino da Roménia|Roménia]], [[Reino da Grécia|Grécia]], [[Áustria-Hungria]] e outras), só a britânica terminou o século sem ter passado por uma ditadura de inspiração fascista. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}

O Estado com [[poder executivo]] forte e [[Poder legislativo|legislativo]] debilitado que se constituiu durante a Primeira Guerra acabou sendo a semente do modelo de Estado autoritário que surgiria na década seguinte. Das várias [[monarquia]]s [[Parlamentarismo|parlamentares]] europeias em 1914 ([[Reino Unido]], [[Reino de Itália (1861–1946)|Itália]], [[Espanha]], [[Países Baixos|Holanda]], [[Bélgica]], [[Dinamarca]], [[Suécia]], [[Noruega]], [[Reino da Sérvia|Sérvia]], [[Reino da Bulgária|Bulgária]], [[Reino da Roménia|Roménia]], [[Reino da Grécia|Grécia]], [[Áustria-Hungria]] e outras), só a britânica terminou o século sem ter passado por uma ditadura de inspiração fascista. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}


== A propaganda totalitária ==
== A propaganda totalitária ==

{{Mais informações|Propaganda comunista|Propaganda nazista}}
{{Mais informações|Propaganda comunista|Propaganda nazista}}
Elemento de destaque constituiu a propaganda entre os movimentos totalitários do século XX. Aspirando ao domínio total da população em regimes pautados por teorias conspiratórias e uma realidade fictícia criada em meio a um desprezo pela realidade dos fatos, a propaganda totalitária foi essencial para, num primeiro momento, a conquista das massas e arregimentar em torno de si uma enorme quantidade de simpatizantes, e, principalmente, para mantê-las sob controle posteriormente. Já empossados da máquina governamental, a [[violência de Estado]], ainda restrita na ascensão dos movimentos ao poder, assume sua forma mais acabada, e, com isso, constitui-se no melhor instrumento de persuasão destes regimes: dão realidade às afirmações fictícias do regime. Como exemplo, [[Josef Stalin]], ao divulgar que acabara com o desemprego na [[União Soviética]], uma inverdade de fato, extinguiu os programas de benefícios para desempregados; ao afirmarem, os nazistas, que poloneses não tinham intelecto, começaram o extermínio de intelectuais poloneses.<ref>[http://www.panzerdivision.pzd.com.br/03_01_cinema.htm]</ref>


Elemento de destaque constituiu a propaganda entre os movimentos totalitários do [[século XX]]. Aspirando ao domínio total da população em regimes pautados por [[teorias conspiratórias]] e uma realidade fictícia criada em meio a um desprezo pela realidade dos fatos, a propaganda totalitária foi essencial para, num primeiro momento, a conquista das massas e arregimentar em torno de si uma enorme quantidade de simpatizantes, e, principalmente, para mantê-las sob controle posteriormente. Já empossados da máquina governamental, a [[violência de Estado]], ainda restrita na ascensão dos movimentos ao poder, assume sua forma mais acabada, e, com isso, constitui-se no melhor instrumento de persuasão destes regimes: dão realidade às afirmações fictícias do regime. Como exemplo, [[Josef Stalin]], ao divulgar que acabara com o [[desemprego]] na [[União Soviética]], uma inverdade de fato, extinguiu os programas de benefícios para desempregados; ao afirmarem, os nazistas, que poloneses não tinham [[intelecto]], começaram o extermínio de intelectuais poloneses.<ref>[http://www.panzerdivision.pzd.com.br/03_01_cinema.htm]</ref>
Desta forma, o uso da propaganda nos regimes totalitários é tido como parte da violência, e vice-versa, sendo ambas complementares. E a primeira só vai substituir a segunda na medida em que a dominação vá se efetuando completamente. A propaganda, inicialmente, é destinada aos elementos externos ao movimento, àqueles que ainda não se domina, como estrangeiros, já o terror é perpetrado entre aqueles já dominados e que não mais oferecem resistência ao regime, alcançando sua perfeição nos campos de concentração onde a propaganda é totalmente substituída pela violência. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}} Assim, o terror torna-se uma fonte de convencimento, semelhante à propaganda.


Desta forma, o uso da [[propaganda]] nos regimes totalitários é tido como parte da violência, e vice-versa, sendo ambas complementares. E a primeira só vai substituir a segunda na medida em que a dominação vá se efetuando completamente. A propaganda, inicialmente, é destinada aos elementos externos ao movimento, àqueles que ainda não se domina, como estrangeiros, já o [[terror]] é perpetrado entre aqueles já dominados e que não mais oferecem resistência ao regime, alcançando sua perfeição nos [[campos de concentração]] e [[Campo de extermínio|extermínio]] onde a propaganda é totalmente substituída pela [[violência]]. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}} Assim, o terror torna-se uma fonte de convencimento, semelhante à propaganda.
Também são apontadas semelhanças entre a propaganda totalitária e a propaganda comercial de massa que se desenvolvia nos [[Estados Unidos]] naquele início de século<ref>[http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=2&PHPSESSID=7344ed5e82e51d5534f731688bd39468 Chomsky, Noam. América Rebelde - Entrevista à Daniel Mermet. Le Monde Diplomatique Brasil. 19 de julho de 2010.]</ref> utilizando argumentos cientificistas para suas afirmações justificando a supremacia de suas próprias razões {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. A sociedade massificada em que dominavam os regimes totalitários mais paradigmáticos lidavam com um indivíduo atomizado que, para o espanto do mundo não-totalitário, perdia até mesmo seu instinto de auto-conservação.<ref>[http://www.europarl.europa.eu/news/public/story_page/008-53652-103-04-16-901-20090414STO53645-2009-13-04-2009/default_pt.htm Parlamento Europeu. A Europa e o seu passado.]</ref>

Também são apontadas semelhanças entre a propaganda totalitária e a propaganda comercial de massa ([[publicidade]]) que se desenvolvia nos [[Estados Unidos]] naquele início de século<ref>[http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=2&PHPSESSID=7344ed5e82e51d5534f731688bd39468 Chomsky, Noam. América Rebelde - Entrevista à Daniel Mermet. Le Monde Diplomatique Brasil. 19 de julho de 2010.]</ref> utilizando argumentos [[Cientificismo|cientificistas]] para suas afirmações justificando a supremacia de suas próprias razões {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. A [[Cultura de massa|sociedade massificada]] em que dominavam os regimes totalitários mais [[Paradigma|paradigmáticos]] lidavam com um indivíduo atomizado que, para o espanto do mundo não-totalitário, perdia até mesmo seu instinto de auto-conservação.<ref>[http://www.europarl.europa.eu/news/public/story_page/008-53652-103-04-16-901-20090414STO53645-2009-13-04-2009/default_pt.htm Parlamento Europeu. A Europa e o seu passado.]</ref>


== Características do totalitarismo tradicional ==
== Características do totalitarismo tradicional ==

São características dos regimes totalitários paradigmáticos de ambos os extremos do [[espectro ideológico]] {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}:
São características dos regimes totalitários paradigmáticos de ambos os extremos do [[espectro ideológico]] {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}:


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* busca de um inimigo em comum para justificar o endurecimento do regime(judeus,negros e socialistas na doutrina nazi-facista;burgueses na doutrina [[stalinista]])
* busca de um inimigo em comum para justificar o endurecimento do regime(judeus,negros e socialistas na doutrina nazi-facista;burgueses na doutrina [[stalinista]])
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Sob o título de totalitarismos, as diferenças [[Ideologia|ideológicas]] entre regimes como o [[nazismo]] de [[Adolf Hitler]] e o [[fascismo]] de [[Benito Mussolini]], o [[comunismo]] de [[Josef Stalin]] e o de [[Mao Tse-tung]], ficam enevoadas. As diferenças que guardam são muitas e dizem respeito aos seus fins {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}; o totalitarismo de esquerda ([[stalinismo]], [[maoísmo]] e variações) representa o controle do poder político por um representante imposto dos trabalhadores, mas pressupõe uma [[revolução]] de fato no regime de propriedades, [[Coletivização|coletivizando]] os bens de produção e as terras, embora o objetivo final da teoria [[Marxismo|marxista]] pressuponha a abolição do próprio Estado. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. As semelhanças entre os regimes de Stalin ou Mao com os de Hitler ou Mussolini limitam-se aos métodos — por isso não se pode de forma alguma confundir os dois modelos: respectivamente, um coletiviza a propriedade, o outro a mantém para a [[Burguesia|classe burguesa]]. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}
Sob o título de totalitarismos, as diferenças [[Ideologia|ideológicas]] entre regimes como o [[nazismo]] de [[Adolf Hitler]] e o [[fascismo]] de [[Benito Mussolini]], o [[comunismo]] de [[Josef Stalin]] e o de [[Mao Tse-tung]], ficam enevoadas. As diferenças que guardam são muitas e dizem respeito aos seus fins {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}; o totalitarismo de esquerda ([[stalinismo]], [[maoísmo]] e variações) representa o controle do poder político por um representante imposto dos trabalhadores, mas pressupõe uma [[revolução]] de fato no regime de propriedades, [[Coletivização|coletivizando]] os [[bens de produção]] e as terras, embora o objetivo final da teoria [[Marxismo|marxista]] pressuponha a abolição do próprio Estado. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. As semelhanças entre os regimes de Stalin ou Mao com os de Hitler ou Mussolini limitam-se aos métodos — por isso não se pode de forma alguma confundir os dois modelos: respectivamente, um coletiviza a propriedade, o outro a mantém para a [[Burguesia|classe burguesa]]. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}} Por outro lado, as semelhanças que estes extremos reúnem entre si são justamente os aspectos definidores do regime totalitário (''ver: [[Comparação entre nazismo e stalinismo]]'').

[[Ficheiro:Statues of Kim Il-Sung and Kim Jong-Il on Mansudae Hill.jpg|thumb|esquerda|Estátuas de [[Kim Il-sung]] e de seu filho, [[Kim Jong-il]], em [[Pyongyang]], capital da [[Coreia do Norte]]]]
[[Ficheiro:Statues of Kim Il-Sung and Kim Jong-Il on Mansudae Hill.jpg|thumb|esquerda|Estátuas de [[Kim Il-sung]] e de seu filho, [[Kim Jong-il]], em [[Pyongyang]], capital da [[Coreia do Norte]]]]


Por outro lado, as semelhanças que estes extremos reúnem entre si são justamente os aspectos definidores do regime totalitário. Para determinados críticos {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}, a aspiração destes regimes é de um domínio absoluto daqueles sob seu jugo, e, nas suas últimas consequências, ao domínio universal, sem a restrição imposta pela noção de Estado-nação (embora nem a [[União das Repúblicas Socialistas Soviéticas|União Soviética]] stalinista nem a [[Alemanha Nazista]], os dois principais exemplos de totalitarismo na história, tenham declarado este propósito). A máquina governamental, na visão de alguns autores {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}, aparece como mero instrumento para fins desse domínio total e universal aspirados por movimentos totalitários.
Para determinados críticos {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}, a aspiração destes regimes é de um domínio absoluto daqueles sob seu jugo, e, nas suas últimas consequências, ao domínio universal, sem a restrição imposta pela noção de [[Estado-nação]] (embora nem a [[União das Repúblicas Socialistas Soviéticas|União Soviética]] stalinista nem a [[Alemanha Nazista]], os dois principais exemplos de totalitarismo na história, tenham declarado este propósito). A máquina governamental, na visão de alguns autores {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}, aparece como mero instrumento para fins desse domínio total e universal aspirados por movimentos totalitários.


Para alguns {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}, a operosidade dos seus regimes frente a suas populações parecem convergir no que diz respeito aos métodos e táticas empregados na própria manutenção, apesar das "confissões" do aparelho governamental de Mao sobre as contradições não antagônicas entre o Estado e o povo [[Chineses|chinês]]. Sem apelar para discursos ideológicos, todos esses regimes visavam a eliminação daqueles elementos que consideravam contrários a seus objetivos.
Para alguns {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}, a operosidade dos seus regimes frente a suas populações parecem convergir no que diz respeito aos métodos e táticas empregados na própria manutenção, apesar das "confissões" do aparelho governamental de Mao sobre as contradições não antagônicas entre o Estado e o povo [[Chineses|chinês]]. Sem apelar para discursos ideológicos, todos esses regimes visavam a eliminação daqueles elementos que consideravam contrários a seus objetivos.


=== Nazi-Fascismo ===
=== Nazi-Fascismo ===

{{Artigo principal|Fascismo|Nazismo|Nazifascismo}}
{{Artigo principal|Fascismo|Nazismo|Nazifascismo}}

[[Imagem:Bundesarchiv Bild 102-04062A, Nürnberg, Reichsparteitag, SA- und SS-Appell.jpg|thumb|[[Heinrich Himmler]], [[Hitler]] e [[Viktor Lutze]] fazem a [[saudação nazista]] na [[Reuniões de Nuremberg|Reunião de Nuremberg]] de setembro de 1934.]]
[[Imagem:Bundesarchiv Bild 102-04062A, Nürnberg, Reichsparteitag, SA- und SS-Appell.jpg|thumb|[[Heinrich Himmler]], [[Hitler]] e [[Viktor Lutze]] fazem a [[saudação nazista]] na [[Reuniões de Nuremberg|Reunião de Nuremberg]] de setembro de 1934.]]
O [[nazismo]] era, desde seu início, antiliberal tendo derrubado antigas estruturas institucionais imperiais bem como antigas [[Elite (sociologia)|elites]] consolidadas, se diferenciava do fascismo principalmente por pregar a superioridade da raça ariana, liderado por Adolf Hitler. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}.


Já o [[fascismo italiano]] foi mais proveitoso ao capital na medida em que extinguia [[sindicato]]s e obstáculos à administração patronal do trabalho {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. Ali sim, o movimento foi no interesse de velhas classes dominantes em reação às agitações esquerdistas [[Revolução|revolucionárias]] que se avolumavam {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. O [[fascismo]], liderado por Mussolini, foi um regime anti-democrático no qual o poder ficava nas mãos de um chefe de Estado, havia grande incentivo à educação e preparação de indivíduos para a guerra. Os fascistas se apresentavam como solução para a crise econômica e greves italianas. Através de violência e mortes eles sufocaram os movimentos grevistas e Mussolini conquistou oficialmente o poder.
O [[nazismo]] era, desde seu início, [[antiliberal]] tendo derrubado antigas estruturas institucionais imperiais bem como antigas [[Elite (sociologia)|elites]] consolidadas, se diferenciava do fascismo principalmente por pregar a superioridade da [[raça ariana]], liderado por [[Adolf Hitler]]. {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}.
Já o [[fascismo italiano]] foi mais proveitoso ao [[capital (economia)|capital]] na medida em que extinguia [[sindicato]]s e obstáculos à administração patronal do trabalho {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. Ali sim, o movimento foi no interesse de velhas classes dominantes em reação às agitações esquerdistas [[Revolução|revolucionárias]] que se avolumavam {{Carece de fontes|data=Janeiro de 2009}}. O [[fascismo]], liderado por [[Mussolini]], foi um regime anti-democrático no qual o poder ficava nas mãos de um [[chefe de Estado]], havia grande incentivo à [[educação]] e preparação de indivíduos para a [[guerra]]. Os fascistas se apresentavam como solução para a crise econômica e greves italianas. Através de violência e mortes eles sufocaram os movimentos grevistas e Mussolini conquistou oficialmente o poder.


=== Stalinismo ===
=== Stalinismo ===

{{artigo principal|Stalinismo}}
{{artigo principal|Stalinismo}}
{{Mais informações|Neostalinismo}}


Características do stalinismo:
Características do stalinismo:
* Ditadura burocrática do regime de partido único;
* [[Ditadura]] [[Burocracia|burocrática]] do regime de [[partido único]];
* centralização dos processos de tomada de decisão no núcleo dirigente do partido;
* centralização dos processos de tomada de decisão no núcleo dirigente do partido;
* burocratização do aparelho estatal;
* burocratização do aparelho estatal ([[degenerescência burocrática]] segundo [[Leon Trótski]]);
* intensa repressão a dissidentes políticos e ideológicos;
* intensa repressão a dissidentes políticos e ideológicos (''ver: [[Repressão política na União Soviética]]);
* culto à personalidade do(s) líder(es) do partido e do Estado;
* [[culto à personalidade]] do(s) líder(es) do partido e do Estado;
* intensa presença de propaganda estatal e incentivo ao patriotismo como forma de organização dos trabalhadores;
* intensa presença de propaganda estatal e incentivo ao [[patriotismo]] como forma de organização dos trabalhadores;
* censura aos meios de comunicação e expressão;
* [[censura]] aos meios de comunicação e expressão;
* coletivização obrigatória dos meios de produção agrícola e industrial;
* coletivização obrigatória dos meios de produção agrícola e industrial (''ver: [[Coletivização forçada na União Soviética]]);
* militarização da sociedade e dos quadros do partido.
* militarização da sociedade e dos quadros do partido.


== O totalitarismo ou procedimentos totalitários na democracia ==
== O totalitarismo ou procedimentos totalitários na democracia ==

=== Bolivarianismo ===
=== Bolivarianismo ===

{{artigo principal|Bolivarianismo}}
{{artigo principal|Bolivarianismo}}
Desta forma, pensadores atuais, como [[Denis Lerrer Rosenfield|Denis Rosenfield]] têm se referido ao regime bolivarianista como uma "democracia totalitária", admitindo que um regime poderia vir a ser concomitantemente, democrático e totalitário, não sendo os dois termos [[antônimos]] absolutos<ref>[http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090803/not_imp412618,0.php Rosenfield, Denis Lerrer. ''Democracia totalitária'' Estadão.com.br. 03 de agosto de 2009.]</ref>.
Desta forma, pensadores atuais, como [[Denis Lerrer Rosenfield|Denis Rosenfield]] têm se referido ao regime bolivarianista como uma "democracia totalitária", admitindo que um regime poderia vir a ser concomitantemente, democrático e totalitário, não sendo os dois termos [[antônimo]]s absolutos<ref>[http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090803/not_imp412618,0.php Rosenfield, Denis Lerrer. ''Democracia totalitária'' Estadão.com.br. 03 de agosto de 2009.]</ref>.


O atual governo venezuelano possui ampla gama de apoiadores que chegou a ser de 71% em 2008, caindo para 60% em 2009 e 58% em 2010. Para as eleições presidencias de 2012, segundo uma pesquisa realizada, Chavez teria apoio mais ou menos de 50% dos votos decididos contra um total de 28,4% de todos seus concorrentes, 34% dizem não saber ainda em quem votar e 13,2% não votaria em nenhuma das opções, inclusive Chavez.<ref name="Índice de aprovação de Chávez cai para 58%, diz pesquisa">http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,indice-de-aprovacao-de-chavez-cai-para-58-diz-pesquisa,509957,0.htm Reuters/Estadão. ''Índice de aprovação de Chávez cai para 58%, diz pesquisa''. 11 de fevereiro, 2010</ref><ref name="Índice de aprovação de Hugo Chávez chega a 50%">http://www.panoramabrasil.com.br/indice-de-aprovacao-de-hugo-chavez-chega-a-50-id61036.html ANSA. ''Índice de aprovação de Hugo Chávez chega a 50%''. 25 de março, 2011</ref>
O atual governo venezuelano possui ampla gama de apoiadores que chegou a ser de 71% em 2008, caindo para 60% em 2009 e 58% em 2010. Para as eleições presidencias de 2012, segundo uma pesquisa realizada, [[Hugo Chávez]] teria apoio mais ou menos de 50% dos votos decididos contra um total de 28,4% de todos seus concorrentes, 34% dizem não saber ainda em quem votar e 13,2% não votaria em nenhuma das opções, inclusive Chávez.<ref name="Índice de aprovação de Chávez cai para 58%, diz pesquisa">http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,indice-de-aprovacao-de-chavez-cai-para-58-diz-pesquisa,509957,0.htm Reuters/Estadão. ''Índice de aprovação de Chávez cai para 58%, diz pesquisa''. 11 de fevereiro, 2010</ref><ref name="Índice de aprovação de Hugo Chávez chega a 50%">http://www.panoramabrasil.com.br/indice-de-aprovacao-de-hugo-chavez-chega-a-50-id61036.html ANSA. ''Índice de aprovação de Hugo Chávez chega a 50%''. 25 de março, 2011</ref>


=== Noam Chomsky ===
=== Noam Chomsky ===
Em texto dedicado a [[Noam Chomsky]], [[Jean Ziegler]] escreve: “Existem três totalitarismos: o totalitarismo stalinista, o totalitarismo nazista, e, agora, o "tina" (palavra formada com as iniciais da expressão inglesa ''there is no alternative'' ("não há alternativa"), utilizada por [[Margaret Thatcher]] para proclamar o caráter inelutável do capitalismo neoliberal).


Em texto dedicado a [[Noam Chomsky]], [[Jean Ziegler]] escreve: “Existem três totalitarismos: o totalitarismo stalinista, o totalitarismo nazista, e, agora, o "tina" (palavra formada com as iniciais da expressão inglesa ''there is no alternative'' ("não há alternativa"), utilizada por [[Margaret Thatcher]] para proclamar o caráter inelutável do [[capitalismo]] [[neoliberal]]).
A "tina", em sua concepção de integração global, trabalharia para a integração econômica planetária, mas somente em prol dos interesses das altas classes financeiras, dos bancos e dos fundos de pensão, potências que controlariam também as [[mídia]]s. Assim, aqueles que se opõe a essa política são chamados de "anti-globalização", sendo sua crítica colocada à margem da mídia<ref>[http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=2&PHPSESSID=7344ed5e82e51d5534f731688bd39468 Chomsky, Noam. América Rebelde - Entrevista à Daniel Mermet. Le Monde Diplomatique Brasil. 19 de julho de 2010.]</ref>.


A "tina", em sua concepção de integração global, trabalharia para a [[Integração econômica total|integração econômica planetária]], mas somente em prol dos interesses das altas classes financeiras, dos bancos e dos [[fundo de pensão|fundos de pensão]], potências que controlariam também as [[mídia]]s. Assim, aqueles que se opõe a essa política são chamados de "anti-globalização", sendo sua crítica colocada à margem da mídia<ref>[http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=2&PHPSESSID=7344ed5e82e51d5534f731688bd39468 Chomsky, Noam. América Rebelde - Entrevista à Daniel Mermet. Le Monde Diplomatique Brasil. 19 de julho de 2010.]</ref>.
Considerando que a finalidade da democracia é que as pessoas possam decidir suas próprias vidas e fazer as escolhas políticas que lhes concernem, e que ela se sustenta na [[liberdade de expressão]], mesmo os [[Estados Unidos]], país símbolo da democracia, estariam sujeitos em dados momentos a um grau maior ou menor de totalitarismo, sustentado pela propaganda e pela pressão econômica sobre a livre expressão do pensamento. Considera ainda o pensador americano que, a liberdade de expressão somente começou a ser exercida de forma mais plena nos Estados Unidos na década de 1960.


Considerando que a finalidade da [[democracia]] é que as pessoas possam decidir suas próprias vidas e fazer as escolhas políticas que lhes concernem, e que ela se sustenta na [[liberdade de expressão]], mesmo os [[Estados Unidos]], país símbolo da democracia, estariam sujeitos em dados momentos a um grau maior ou menor de totalitarismo, sustentado pela propaganda e pela pressão econômica sobre a livre expressão do pensamento. Considera ainda o pensador americano que, a [[liberdade de expressão]] somente começou a ser exercida de forma mais plena nos Estados Unidos na [[década de 1960]].
Considera, apesar disso, que uma "construção intelectual ... não pode ser comparada aos campos de concentração ou ao [[gulag]]", sendo, portanto, este tipo de opressão pela massificação, mais branda do que as formas de Estado totalitário stalinistas e nazi-fascistas.


Considera, apesar disso, que uma "construção intelectual ... não pode ser comparada aos [[campos de concentração]] ou ao [[gulag]]", sendo, portanto, este tipo de opressão pela massificação, mais branda do que as formas de Estado totalitário stalinistas e nazi-fascistas.
Prossegue o pensador dizendo que, a partir da década de 1920, em países como Estados Unidos e [[Grã-Bretanha]] "o desejo de liberdade não podia mais ser contido somente pela violência estatal", tendo, por isto, a propaganda ideológica assumido o seu lugar, tendo se produzido uma espécie de “fábrica do consentimento”, produzindo a aceitação e a submissão, como o mesmo objetivo totalitário de "controlar as ideias, os pensamentos, os espíritos"<ref>Chomsky, Noam e Edward Herman. Manufacturing Consent. UK: Pantheon Books, 1988, ed. 1994.</ref>.


Prossegue o pensador dizendo que, a partir da [[década de 1920]], em países como Estados Unidos e [[Grã-Bretanha]] "o desejo de liberdade não podia mais ser contido somente pela violência estatal", tendo, por isto, a propaganda ideológica assumido o seu lugar, tendo se produzido uma espécie de “fábrica do consentimento”, produzindo a aceitação e a submissão, como o mesmo objetivo totalitário de "controlar as ideias, os pensamentos, os espíritos".<ref>Chomsky, Noam e Edward Herman. Manufacturing Consent. UK: Pantheon Books, 1988, ed. 1994.</ref>
Se a propaganda é o método de controle ideológico mais eficaz e, portanto, o mais usado pelos modernos governos liberais, por outro lado, não devemos nos esquecer que, eventualmente, em situações consideradas extremas, lançou-se mão de outros daqueles mecanismos que [[Louis Althusser]] chamou de [[Aparelhos Ideológicos do Estado]], tal como a interpretação das leis<ref>Althusser, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.</ref>, ou dos chamados [[Aparelhos repressivos do Estado]], tal como a própria polícia, para controlar os protestos dos manifestantes da chamada [[Anti-globalização]]<ref>[http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/protesto-antiglobalizacao-descamba-em-violencia. Correio da Manhã. Economia. Segunda-feira, 19 de Julho de 2010]</ref>.

Se a propaganda é o método de controle ideológico mais eficaz e, portanto, o mais usado pelos modernos governos liberais, por outro lado, não devemos nos esquecer que, eventualmente, em situações consideradas extremas, lançou-se mão de outros daqueles mecanismos que [[Louis Althusser]] chamou de [[Aparelhos Ideológicos do Estado]], tal como a interpretação das leis<ref>Althusser, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.</ref>, ou dos chamados [[Aparelhos repressivos do Estado]], tal como a própria [[polícia]], para controlar os protestos dos manifestantes da chamada [[Anti-globalização]]<ref>[http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/protesto-antiglobalizacao-descamba-em-violencia. Correio da Manhã. Economia. Segunda-feira, 19 de Julho de 2010]</ref>.


== Ver também ==
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* [[Anticomunismo]]
* [[Anticomunismo]]
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* [[Estado policial]]
* [[Estado policial]]
* [[Estética totalitária]]
* [[Estética totalitária]]
* [[Marxismo cultural]]
* [[Massificação]]
* [[Massificação]]
* [[Pacto Molotov-Ribbentrop]]
* [[Pacto Molotov-Ribbentrop]]
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== Bibliografia ==
== Bibliografia ==

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* ARENDT, Hannah. "O Totalitarismo", In: ''Origens do Totalitarismo''. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.&nbsp;339-531.
* ARENDT, Hannah. "O Totalitarismo", In: ''Origens do Totalitarismo''. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.&nbsp;339-531.
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== Ligações externas ==
== Ligações externas ==

* {{en}} [http://www.ustrcr.cz/en '''USTRCR'''] - ''The Institute for the Study of Totalitarian Regimes'' ([[Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários]] da [[República Tcheca]]). Página visitada em 27 de agosto de 2014.
* {{en}} [http://www.ustrcr.cz/en '''USTRCR'''] - ''The Institute for the Study of Totalitarian Regimes'' ([[Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários]] da [[República Tcheca]]). Página visitada em 27 de agosto de 2014.



Revisão das 15h54min de 27 de dezembro de 2014

Benito Mussolini e Adolf Hitler em 28 de setembro de 1938
Mao Tsé-Tung e Josef Stálin em Moscou, dezembro de 1949

Totalitarismo (ou regime totalitário) é um sistema político no qual o Estado, normalmente sob o controle de uma única pessoa, político, facção ou classe social, não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível.[1] O totalitarismo é caracterizado pela coincidência do autoritarismo (onde os cidadãos comuns não têm participação significativa na tomada de decisão do Estado) e da ideologia (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais para orientar a maioria, senão todos os aspectos da vida pública e privada).[2]

Os regimes ou movimentos totalitários mantêm o poder político através de uma propaganda política abrangente divulgada através dos meios de comunicação controlados pelo Estado, um partido único que é muitas vezes marcado por culto de personalidade, o controle sobre a economia, a regulação e restrição da expressão, a vigilância em massa e o disseminado uso do terrorismo de Estado.

Etimologia

A ideia de totalitarismo como poder político “total” através do estado foi formulada em 1923 por Giovanni Amendola que criticou o fascismo italiano como um sistema fundamentalmente diferente das ditaduras convencionais.[3] O termo depois ganhou conotações positivas nos escritos de Giovanni Gentile, o principal teórico do fascismo. Ele usou o termo "totalitário" para se referir à estrutura e metas do novo estado. O novo estado deveria dispor sobre a "representação total da nação e a orientação total das metas nacionais"[4]. Ele descreveu o totalitarismo como uma sociedade em que a ideologia do estado teria influência, se não poder, sobre a maioria de seus cidadãos[5]. Segundo Benito Mussolini[3], este sistema politiza tudo que é espiritual e humano. O conceito de totalitarismo surgiu nos anos 1920 e 1930. A visão de que ele foi elaborado somente depois de 1945 é frequente e equivocadamente visto como parte da propaganda anti-soviética) durante a guerra fria. [carece de fontes?]

Génese e contexto histórico

Foi ainda no decorrer da Primeira Guerra Mundial que começou a nascer o totalitarismo, fenómeno político que marcou o século XX. Com a necessidade de direcionar a produção industrial para as necessidades geradas pela guerra, os governos das frágeis democracias liberais europeias tiveram de se fortalecer, acumulando poderes e funções de Estado, em detrimento do poder parlamentar, para agilizar as decisões importantes em tempos de guerra. Quando voltasse a paz, dizia-se, esses poderes voltariam à distribuição democrática usual. Mas não foi isso que aconteceu. [carece de fontes?]

O Estado com poder executivo forte e legislativo debilitado que se constituiu durante a Primeira Guerra acabou sendo a semente do modelo de Estado autoritário que surgiria na década seguinte. Das várias monarquias parlamentares europeias em 1914 (Reino Unido, Itália, Espanha, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Noruega, Sérvia, Bulgária, Roménia, Grécia, Áustria-Hungria e outras), só a britânica terminou o século sem ter passado por uma ditadura de inspiração fascista. [carece de fontes?]

A propaganda totalitária

Elemento de destaque constituiu a propaganda entre os movimentos totalitários do século XX. Aspirando ao domínio total da população em regimes pautados por teorias conspiratórias e uma realidade fictícia criada em meio a um desprezo pela realidade dos fatos, a propaganda totalitária foi essencial para, num primeiro momento, a conquista das massas e arregimentar em torno de si uma enorme quantidade de simpatizantes, e, principalmente, para mantê-las sob controle posteriormente. Já empossados da máquina governamental, a violência de Estado, ainda restrita na ascensão dos movimentos ao poder, assume sua forma mais acabada, e, com isso, constitui-se no melhor instrumento de persuasão destes regimes: dão realidade às afirmações fictícias do regime. Como exemplo, Josef Stalin, ao divulgar que acabara com o desemprego na União Soviética, uma inverdade de fato, extinguiu os programas de benefícios para desempregados; ao afirmarem, os nazistas, que poloneses não tinham intelecto, começaram o extermínio de intelectuais poloneses.[6]

Desta forma, o uso da propaganda nos regimes totalitários é tido como parte da violência, e vice-versa, sendo ambas complementares. E a primeira só vai substituir a segunda na medida em que a dominação vá se efetuando completamente. A propaganda, inicialmente, é destinada aos elementos externos ao movimento, àqueles que ainda não se domina, como estrangeiros, já o terror é perpetrado entre aqueles já dominados e que não mais oferecem resistência ao regime, alcançando sua perfeição nos campos de concentração e extermínio onde a propaganda é totalmente substituída pela violência. [carece de fontes?] Assim, o terror torna-se uma fonte de convencimento, semelhante à propaganda.

Também são apontadas semelhanças entre a propaganda totalitária e a propaganda comercial de massa (publicidade) que se desenvolvia nos Estados Unidos naquele início de século[7] utilizando argumentos cientificistas para suas afirmações justificando a supremacia de suas próprias razões [carece de fontes?]. A sociedade massificada em que dominavam os regimes totalitários mais paradigmáticos lidavam com um indivíduo atomizado que, para o espanto do mundo não-totalitário, perdia até mesmo seu instinto de auto-conservação.[8]

Características do totalitarismo tradicional

São características dos regimes totalitários paradigmáticos de ambos os extremos do espectro ideológico [carece de fontes?]:

.

Totalitarismo de Esquerda

Totalitarismo de Direita

características divergentes

  • abolição da propriedade privada;
  • coletivização obrigatória dos meios de produção agrícola e industrial;
  • supressão da religião da esfera política
  • fundamentos ideológicos no socialismo.
  • forte apoio da burguesia industrial;
  • corporativismo nas relações de trabalho e tutela estatal sobre as organizações sindicais
  • fundamentos ideológicos em valores tradicionais (étnicos, culturais, religiosos)
  • forte apoio da religião.

características comuns

Sob o título de totalitarismos, as diferenças ideológicas entre regimes como o nazismo de Adolf Hitler e o fascismo de Benito Mussolini, o comunismo de Josef Stalin e o de Mao Tse-tung, ficam enevoadas. As diferenças que guardam são muitas e dizem respeito aos seus fins [carece de fontes?]; o totalitarismo de esquerda (stalinismo, maoísmo e variações) representa o controle do poder político por um representante imposto dos trabalhadores, mas pressupõe uma revolução de fato no regime de propriedades, coletivizando os bens de produção e as terras, embora o objetivo final da teoria marxista pressuponha a abolição do próprio Estado. [carece de fontes?]. As semelhanças entre os regimes de Stalin ou Mao com os de Hitler ou Mussolini limitam-se aos métodos — por isso não se pode de forma alguma confundir os dois modelos: respectivamente, um coletiviza a propriedade, o outro a mantém para a classe burguesa. [carece de fontes?] Por outro lado, as semelhanças que estes extremos reúnem entre si são justamente os aspectos definidores do regime totalitário (ver: Comparação entre nazismo e stalinismo).

Estátuas de Kim Il-sung e de seu filho, Kim Jong-il, em Pyongyang, capital da Coreia do Norte

Para determinados críticos [carece de fontes?], a aspiração destes regimes é de um domínio absoluto daqueles sob seu jugo, e, nas suas últimas consequências, ao domínio universal, sem a restrição imposta pela noção de Estado-nação (embora nem a União Soviética stalinista nem a Alemanha Nazista, os dois principais exemplos de totalitarismo na história, tenham declarado este propósito). A máquina governamental, na visão de alguns autores [carece de fontes?], aparece como mero instrumento para fins desse domínio total e universal aspirados por movimentos totalitários.

Para alguns [carece de fontes?], a operosidade dos seus regimes frente a suas populações parecem convergir no que diz respeito aos métodos e táticas empregados na própria manutenção, apesar das "confissões" do aparelho governamental de Mao sobre as contradições não antagônicas entre o Estado e o povo chinês. Sem apelar para discursos ideológicos, todos esses regimes visavam a eliminação daqueles elementos que consideravam contrários a seus objetivos.

Nazi-Fascismo

Ver artigos principais: Fascismo, Nazismo e Nazifascismo
Heinrich Himmler, Hitler e Viktor Lutze fazem a saudação nazista na Reunião de Nuremberg de setembro de 1934.

O nazismo era, desde seu início, antiliberal tendo derrubado antigas estruturas institucionais imperiais bem como antigas elites consolidadas, se diferenciava do fascismo principalmente por pregar a superioridade da raça ariana, liderado por Adolf Hitler. [carece de fontes?].

Já o fascismo italiano foi mais proveitoso ao capital na medida em que extinguia sindicatos e obstáculos à administração patronal do trabalho [carece de fontes?]. Ali sim, o movimento foi no interesse de velhas classes dominantes em reação às agitações esquerdistas revolucionárias que se avolumavam [carece de fontes?]. O fascismo, liderado por Mussolini, foi um regime anti-democrático no qual o poder ficava nas mãos de um chefe de Estado, havia grande incentivo à educação e preparação de indivíduos para a guerra. Os fascistas se apresentavam como solução para a crise econômica e greves italianas. Através de violência e mortes eles sufocaram os movimentos grevistas e Mussolini conquistou oficialmente o poder.

Stalinismo

Ver artigo principal: Stalinismo

Características do stalinismo:

O totalitarismo ou procedimentos totalitários na democracia

Bolivarianismo

Ver artigo principal: Bolivarianismo

Desta forma, pensadores atuais, como Denis Rosenfield têm se referido ao regime bolivarianista como uma "democracia totalitária", admitindo que um regime poderia vir a ser concomitantemente, democrático e totalitário, não sendo os dois termos antônimos absolutos[9].

O atual governo venezuelano possui ampla gama de apoiadores que chegou a ser de 71% em 2008, caindo para 60% em 2009 e 58% em 2010. Para as eleições presidencias de 2012, segundo uma pesquisa realizada, Hugo Chávez teria apoio mais ou menos de 50% dos votos decididos contra um total de 28,4% de todos seus concorrentes, 34% dizem não saber ainda em quem votar e 13,2% não votaria em nenhuma das opções, inclusive Chávez.[10][11]

Noam Chomsky

Em texto dedicado a Noam Chomsky, Jean Ziegler escreve: “Existem três totalitarismos: o totalitarismo stalinista, o totalitarismo nazista, e, agora, o "tina" (palavra formada com as iniciais da expressão inglesa there is no alternative ("não há alternativa"), utilizada por Margaret Thatcher para proclamar o caráter inelutável do capitalismo neoliberal).

A "tina", em sua concepção de integração global, trabalharia para a integração econômica planetária, mas somente em prol dos interesses das altas classes financeiras, dos bancos e dos fundos de pensão, potências que controlariam também as mídias. Assim, aqueles que se opõe a essa política são chamados de "anti-globalização", sendo sua crítica colocada à margem da mídia[12].

Considerando que a finalidade da democracia é que as pessoas possam decidir suas próprias vidas e fazer as escolhas políticas que lhes concernem, e que ela se sustenta na liberdade de expressão, mesmo os Estados Unidos, país símbolo da democracia, estariam sujeitos em dados momentos a um grau maior ou menor de totalitarismo, sustentado pela propaganda e pela pressão econômica sobre a livre expressão do pensamento. Considera ainda o pensador americano que, a liberdade de expressão somente começou a ser exercida de forma mais plena nos Estados Unidos na década de 1960.

Considera, apesar disso, que uma "construção intelectual ... não pode ser comparada aos campos de concentração ou ao gulag", sendo, portanto, este tipo de opressão pela massificação, mais branda do que as formas de Estado totalitário stalinistas e nazi-fascistas.

Prossegue o pensador dizendo que, a partir da década de 1920, em países como Estados Unidos e Grã-Bretanha "o desejo de liberdade não podia mais ser contido somente pela violência estatal", tendo, por isto, a propaganda ideológica assumido o seu lugar, tendo se produzido uma espécie de “fábrica do consentimento”, produzindo a aceitação e a submissão, como o mesmo objetivo totalitário de "controlar as ideias, os pensamentos, os espíritos".[13]

Se a propaganda é o método de controle ideológico mais eficaz e, portanto, o mais usado pelos modernos governos liberais, por outro lado, não devemos nos esquecer que, eventualmente, em situações consideradas extremas, lançou-se mão de outros daqueles mecanismos que Louis Althusser chamou de Aparelhos Ideológicos do Estado, tal como a interpretação das leis[14], ou dos chamados Aparelhos repressivos do Estado, tal como a própria polícia, para controlar os protestos dos manifestantes da chamada Anti-globalização[15].

Ver também

Referências

  1. Robert Conquest Reflections on a Ravaged Century (2000) ISBN 0-393-04818-7, page 74
  2. C.C.W. Taylor. “Plato's Totalitarianism.” Polis 5 (1986): 4-29. Reprinted in Plato 2: Ethics, Politics, Religion, and the Soul, ed. Gail Fine (Oxford: Oxford University Press, 1999), 280-296.
  3. a b Pipes, Richard (1995), Russia Under the Bolshevik Regime, New York: Vintage Books, Random House Inc., ISBN 0-394-50242-6.
  4. Stanley G. Payne, Fascism: Comparison and Definition (UW Press, 1980), p. 73
  5. G. Gentile & B. Mussolini in "La dottrina del fascismo" 1932)
  6. [1]
  7. Chomsky, Noam. América Rebelde - Entrevista à Daniel Mermet. Le Monde Diplomatique Brasil. 19 de julho de 2010.
  8. Parlamento Europeu. A Europa e o seu passado.
  9. Rosenfield, Denis Lerrer. Democracia totalitária Estadão.com.br. 03 de agosto de 2009.
  10. http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,indice-de-aprovacao-de-chavez-cai-para-58-diz-pesquisa,509957,0.htm Reuters/Estadão. Índice de aprovação de Chávez cai para 58%, diz pesquisa. 11 de fevereiro, 2010
  11. http://www.panoramabrasil.com.br/indice-de-aprovacao-de-hugo-chavez-chega-a-50-id61036.html ANSA. Índice de aprovação de Hugo Chávez chega a 50%. 25 de março, 2011
  12. Chomsky, Noam. América Rebelde - Entrevista à Daniel Mermet. Le Monde Diplomatique Brasil. 19 de julho de 2010.
  13. Chomsky, Noam e Edward Herman. Manufacturing Consent. UK: Pantheon Books, 1988, ed. 1994.
  14. Althusser, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
  15. Correio da Manhã. Economia. Segunda-feira, 19 de Julho de 2010

Bibliografia

  • ARENDT, Hannah. "O Totalitarismo", In: Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 339-531.
  • HOBSBAWM, Eric. "A queda do liberalismo", In: A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 113-143.
  • MOTA, Fernando C. Prestes. O Que é Burocracia. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1981.
  • NETTO, José Paulo. O Que é Stalinismo. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1981.
  • PRINCIPE, Angelo. The Darkest Side of the Fascist Years, Guernica Editions, 1999.
  • SPINDEL, Arnaldo. O Que é Comunismo. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1980.
  • SPINDEL, Arnaldo. O Que São Ditaduras. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1980.

Ligações externas

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