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João Alexandre Busse

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 Nota: Para outras pessoas de mesmo nome, veja João Alexandre.
Capitão Busse
Polícia Militar do Paraná
Dados pessoais
Nome completo João Alexandre Busse
Nascimento 28 de março de 1886
Paraná
Morte 31 de maio de 1921 (35 anos)
São Paulo
Nacionalidade brasileiro
Vida militar

João Alexandre Busse (Votuverava, atual Rio Branco do Sul, 28 de março de 1886Itapetininga, 31 de maio de 1921) foi um oficial e piloto da Polícia Militar do Paraná.

Filho do imigrante teutônico Johannes Heinrich Carl Busse e de Maria do Carmo,[1] ingressou no Regimento de Segurança, antiga denominação da Polícia Militar do Paraná, em 1º de maio de 1904. Em junho do mesmo ano foi promovido a anspeçada (antiga graduação militar) e em setembro, a cabo de esquadra. Em 1905 foi graduado como 2º Sargento, por bons serviços prestados, e em 1906 foi promovido a Alferes.[2]

João Alexandre Busse se destacou nos seguintes eventos da PMPR:

Guerra do Contestado

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Capitão Busse em Porto União, região do Contestado.

Batalha do Irani
Como oficial de cavalaria, o Tenente Busse participou da batalha do Irani, conflito que desencadeou a Guerra do Contestado em 1912. Sua missão inicial era realizar o reconhecimento da região à frente da infantaria, e estabelecer pontos de acantonamento para a tropa. Após ter sido estabelecido o contato com os rebeldes, sua missão era escoltar a metralhadora (uma Maxim transportada em cangalha) e a munição reserva. Mas devido o elevado número de atacantes, logo todo o efetivo foi cercado e o combate passou a ser corpo a corpo. O massacre total somente foi evitado graças ao efetivo de cavalaria; pois o destacamento estava montado e armado com armas de repetição (carabinas e revólveres), o que permitiu o estabelecimento da abertura de uma brecha entre os atacantes para a retirada da infantaria.

Piloto de Aviação

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João Busse e Luiz Bergmann, Diretor-Instrutor da Escola Paranaense de Aviação.

Em 24 de março de 1918 foi oficialmente criada a Escola Paranaense de Aviação,[3] sendo o conselho administrativo da escola composto da seguinte forma:

  • Tenente-coronel Benjamim Augusto Lage da Força Militar do Paraná (Presidente);
  • Major Félix Merlo do Exército Brasileiro;
  • Capitão Braúlio Virmond de Lima do Tiro Rio Branco (Tiro de Guerra);
  • Doutor Ildefonso de Assumpção (civil);
  • Capitão João Alexandre Busse da Força Militar do Paraná (PMPR);
  • E o piloto Luiz Bergmann (Diretor-Instrutor).

Em 1920 o Capitão Busse acompanhou o Presidente Altino Arantes até São Paulo;[4] onde conheceu William Orton Hoover, oficial e piloto da aviação militar norte-americana, fundador da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo, atual Polícia Militar do Estado de São Paulo.[4]

Em 19 de janeiro de 1920, o capitão João Busse matriculou-se na Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo.[3][5]

Biplano Curtiss Oriole - 1919.
  • No dia 10 de junho de 1920, João Busse realizou seu primeiro voo solo, então batendo o recorde brasileiro de altitude, 4.500m (12 mil pés).[6] O avião utilizado foi um biplano Oriolle, com motor de 150 HP. O capitão recebeu diversos elogios por sua técnica de pilotagem e pela facilidade com que assimilava as instruções, ganhando a alcunha de “Acrobata do Espaço".[6]
  • Em 15 de junho de 1920, participou do raide do Campo de Marte, São Paulo, a Campinas. Como observador do 2° Tenente Antônio Reynaldo Gonçalves, no aeroplano J.N.S. N° 101.[7]
  • Em 10 de agosto de 1920, às 09h00min, o Capitão Busse realizou seu exame para o brevê internacional de aviação.[8][9]
Teste realizado:
Cinco manobras em “oito”, giros seguidos à esquerda e à direita;
Aterrissagem de precisão, com deslocamento inferior a 150m após tocar o solo;
Vôo planado a 100m de altura, com motor desligado.
  • Em 10 de dezembro de 1920, por ocasião do aniversário do Deputado Freitas Valle, e em nome de William Orton Hoover, instrutor da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo, o Capitão João Busse decolou do Aeródromo Indianápolis em direção à Vila Mariana, local da residência do deputado aniversariante, onde lançou um ramalhete de flores e realizou algumas evoluções com a aeronave.[10]
  • Em 07 de abril de 1921, o Capitão Busse, juntamente com Domingos Bertoni, Edmond Vicaux, Ernesto Estecklan e Reinaldo Gonçalves, em cinco aeroplanos Caudron, participaram da inauguração da rodovia São Paulo – Campinas, atual Estrada Velha de Campinas, realizando um sobrevôo sobre a estrada.

Após a conclusão do curso, o Capitão Busse resolveu retornar de avião para Curitiba. Entrou então em contato com o Tenente Reinaldo Gonçalves, seu ex-colega da Escola de Pilotos, e conseguiu emprestado um Caudron G.3.

Raide São Paulo / Curitiba

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Devido a reduzida autonomia do aparelho, o raide deveria realizar-se em três etapas:

1 - De São Paulo a Itapetininga;
2 - De Itapetininga a Itararé e;
3 - De Itararé a Curitiba.
Caudron G.3 - Museu Aeroespacial
  • Planou por alguns minutos e realizou uma aterrissagem forçada em Indaiatuba.
  • No dia seguinte, após alguns ajustes no motor, voou até Itapetininga.[12]
Coincidentemente nessa cidade conheceu a jovem Anésia Pinheiro Machado, que dado seu interesse pela aviação, recomendou-a, através de um bilhete, ao Tenente Reynaldo Gonçalves, instrutor da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo.[13]
  • Em 30 de maio decolou de Itapetininga, mas cem quilômetros adiante o motor passou a apresentar defeito na distribuição do óleo, obrigando-o a aterrissar em Buri.[14] Na pista improvisada havia um cupinzeiro no qual o aeroplano veio a se chocar e capotar. Pelo impacto o capitão foi arremessado para fora do aparelho, sofrendo na queda uma fratura no crânio.

Detalhes do acidente

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Muitos testemunhos foram colhidos na época. Segue-se aqui um apanhado geral do que foi publicado nos jornais, incluindo-se a versão contada pelo mecânico, João Ragni, que também estava a bordo.

  • O voo ocorria a 2.300m de altura quando o motor passou a apresentar problemas na distribuição do óleo;
  • Às 12h55min o aeroplano surgiu no horizonte da Vila Buri, localidade a 35 km da cidade de Faxina (Itapeva);
  • O aeroplano realizou uma rápida manobra sobre a vila, procurando um local adequado para aterrar;
  • Escolheu para aterrissar, uma chapada ao norte do cemitério, entre a linha férrea e o Rio Apiaí;
  • Na aterragem a hélice tocou o chão e o avião capotou;
  • O auxiliar da firma Ricardo de Oliveira & Cia, Francisco Correa, foi a primeira pessoa a chegar no local;
  • O mecânico João Ragni foi encontrado sob os escombros e sofreu apenas ferimentos leves;
  • Entretanto, o Capitão Busse foi encontrado a cerca de vinte metros do aparelho e estava inconsciente, pois havia se rompido o cinturão que o prendia ao aparelho;
  • Ele foi então levado a um local de beneficiar algodão, de propriedade de Ricardo Oliveira; sendo atendido pelo farmacêutico da região, Apparício Pires;
  • Às 13h00 chegou o médico de Capão Bonito no local, o qual constatou que o capitão sofrera fratura na base do crânio e hemorragia interna, com sangramento pela boca, nariz e ouvido direito.
Lápide do túmulo (Qd 09, 61262 - 70856) do Capitão Busse, no Cemitério Municipal de Curitiba.

De Buri foi transportado por trem até Faxina (Itapeva), e posteriormente a Itapetininga, onde faleceu às 09h30min do dia seguinte, na Santa Casa daquela localidade.

Telegrama do Presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís, ao advogado Alvaro de Queiroz.[15]

Seu corpo foi embalsamado e transportado para Curitiba, sendo velado na biblioteca do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar. Em sinal de pesar, o Presidente do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha, mandou que se suspendesse o expediente nas repartições públicas. Em 2 de junho ele foi enterrado com honras militares no Cemitério Municipal de Curitiba, tendo sido seu féretro acompanhado por mais de quatro mil pessoas.[3]

Anésia Pinheiro Machado

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Anésia Machado encontrou-se com o capitão Busse em maio de 1921, em Itapetininga, durante o raide São Paulo/Curitiba. Ela então lhe contou que no ano anterior um outro avião (um Curtis Oriolle) havia pousado na localidade e que o piloto (Orthon Hoover[17]) a tinha levado para um passeio aéreo.

Capitão Busse em Itapetininga, 1921.

No dia seguinte o capitão e seu mecânico realizaram alguns ajustes no motor da aeronave; necessitando testá-lo em voo. Dessa forma proporcionando à Anésia uma nova oportunidade para voar.

Após o voo, enquanto fixava algumas estacas para o estaiamento do aparelho, proteção contra possível vento noturno, o capitão Busse lhe disse: “Se você realmente quiser aprender a voar, terá de ir para São Paulo. Lá estará a sua oportunidade.” A seguir tirou uma caderneta do casaco de voo e escreveu um bilhete, recomendando-a ao tenente Reynaldo Gonçalves, instrutor da Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo.[18]

No dia seguinte o capitão Busse decolou de madrugada com destino a Itararé. Entretanto, à tarde, Anésia tomou conhecimento que ele havia se acidentado em Buri. E na manhã seguinte, acompanhada por seu pai, dirigiram-se à Santa Casa de Buri para tomar conhecimento das condições do capitão; relatando o seguinte:

Anésia estava revoltada pelo que lhe parecia ser uma omissão criminosa. Inútil tentar dizer-lhe que a medicina nada poderia fazer. Estando ele, como pensavam, inconsciente, em coma, nenhuma diferença faria qualquer tentativa de lhe der algum conforto. Mesmo com a invulgar cultura que possuía, recusava-se a avaliar racionalmente aqueles sinais descritos como característicos da grave lesão, como as pupilas desmesuradamente dilatadas, e sem apresentar qualquer reação à luz; o assustador quadro apresentado na véspera, quando, ainda no trem, entrou em incontroláveis convulsões, geradas pela excitação do córtex cerebral. Também as paroxísticas variações de temperatura, capazes de gerar danos permanentes a irreparáveis, eram sinais bem claros da existência de um problema para o qual, na época, não havia qualquer solução.[18]

  1. Grassi, Clarissa (25 de outubro de 2015). «O voo derradeiro do Acrobata do Espaço». Gazeta do Povo. Consultado em 28 de abril de 2022 
  2. Memória de Rio Branco do Sul - O 1º aviador do Paraná era rio-branquense.
  3. a b c Episódios da História da PMPR; do Capitão João Alves da Rosa Filho; Edição da Associação da Vila Militar; 1999.
  4. a b Jornal Correio Paulistano, de 19 de janeiro de 1920.
  5. Blog de Wallace Requião de Mello e Silva Psicólogo - Um capitulo da história de nossa aviação.
  6. a b Jornal Correio Paulistano, de 10 de junho de 1920.
  7. Jornal Correio Paulistano, de 15 de junho de 1920.
  8. Jornal Correio Paulistano, de 10 de agosto de 1920.
  9. Publica-se no Paraná On-Line (Há 85 anos, Paraná perdeu seu 1° aviador profissional) que no dia 1º de agosto o Capitão Busse recebeu das mãos do Governador de São Paulo, Dr. Washington Luís Pereira de Sousa, seu brevê internacional de piloto. Entretanto as datas não coincidem com os documentos consultados.
  10. Jornal Correio Paulistano, de 11 de dezembro de 1920.
  11. «Jornal Correio Paulistano». 25 de maio de 1921. Consultado em 14 de julho de 2023 
  12. Jornal Correio Paulistano, de 25 de maio de 1921.
  13. Asas de Curitiba - Documentário de Eduardo Sigaud sobre a História da Aviação no Estado do Paraná.
  14. Pioneiros da Aviação Civil no Campo de Marte em São Paulo - Aviadores Mortos.
  15. Jornal Correio Paulistano.
  16. «Lei 15.377, de 15 de janeiro de 2007.». Consultado em 10 de julho de 2012. Arquivado do original em 16 de novembro de 2007 
  17. Orthon Willian Hoover, cidadão norte-americano, veio acompanhando os primeiros aviões destinados à Escola de Aviação Naval brasileira, em 1916. Em 1917, com a entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial, Hoover deixou a Escola de Aviação Naval e voltou para seu país. Em setembro de 1919 retornou ao Brasil com três aeronaves, comissionado como representante da Curtiss Aircraft. Em São Paulo ele persuadiu as autoridades a construirem um aeroporto novo e reativarem a Escola de Aviação de Força Pública de São Paulo. Essa pista é o atual Aeroporto Campo de Marte.
  18. a b c d Anesia, de Augusto de Lima Neto. Série Cultura Geral e Temas do Interesse da Aeronáutica; Instituto Histórico-cultural da Aeronáutica; Rio de Janeiro, RJ; 1992.

Ligações externas

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