Khaltsi
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Tehsil | ||||
Multidão à espera da passagem em Khaltsi do Dalai Lama na sua visita ao Ladaque em agosto de 2012 | ||||
Localização | ||||
Localização de Khaltsi no Ladaque | ||||
Coordenadas | 34° 19′ 20″ N, 76° 52′ 55″ L | |||
País | Índia | |||
Território | Ladaque | |||
Distrito | Lé | |||
Características geográficas | ||||
População total (2011) [1] | 6 114 hab. | |||
Altitude | 3 000 m |
Khaltsi, Khalsi, Khaltse ou Khalatse é uma aldeia do Ladaque, sede do bloco e tesil homónimos, que pertence ao distrito de Lé, no noroeste da Índia. Em 2011, o tesil tinha 6 114 habitantes, dos quais 767 residiam na aldeia-sede. O bloco tem 9 povoações: Khaltsi, Kanjo, Skindiyang, Takmachik, Lé Dho, Lamayuru, Temisgam, Nurla e Tia.[1]
A aldeia é conhecida pelos seus alperces[2] e pela sua posição estratégica, na fronteira entre as áreas budista budista (oriental) e muçulmana do Ladaque. É junto a Khaltsi que a estrada que liga Caxemira ao Ladaque entra no vale do rio Indo.
Geografia
[editar | editar código-fonte]A aldeia situa-se a pouco mais de 3 000 metros de altitude, na margem direita (norte) do rio Indo, na extremidade sul de um vale orientado a norte, na rota ancestral que ligava o Ladaque com Caxemira, cujo percurso é atualmente percorrido pela estrada Serinagar–Lé, uma das duas únicas estradas que ligam o Ladaque ao resto do mundo. Por essa estrada, no sentido oeste-leste, Basgo fica a 56 km, Nimo a 61 km e Lé a 89 km. No sentido contrário, para oeste, Lamayuru dista 20 km, Cargil a 122 km e Serinagar a 326nbsp;km.
Quem chega à aldeia pela estrada vindo do lado de Srinigar apercebe-se facilmente que deixou as regiões muçulmanas e entrou numa região budista, pois por todo o lado se começam a avistar chortens (pequenas estupas), muros de pedras mani (seixos esculpidos e pintados com mantras budistas) e bandeiras de oração flutuando ao sabor do vento. A montante do Indo a partir de Khaltsi e a jusante na margem direita (norte), quase todos os habitantes são budistas, enquanto que a jusante na margem esquerda predomina o islão. Os habitantes a jusante da margem direita são maioritariamente brokpas ou dardos, cujos ritos budistas são únicos, em que há influências animistas.[3]
Devido a Khaltsi se encontrar a aproximadamente menos 400 metros de altitude que Lé, é comum que se façam duas colheitas por ano, durante a primavera e verão, coisa que não é possível nas regiões mais orientais, onde só se faz uma colheita, pois o inverno mais prolongado não permite que se semeie tão cedo como em Khaltsi. Quando as sementeiras começam na região de Lé, em finais de maio, já as culturas de Khaltsi estão a meio do seu crescimento. As primeiras colheitas, realizadas em meados de julho, são geralmente de grim, uma variante antiga de cevada — Hordeum vulgare L. var. nudum — mais fácil de debulhar do que as variedades mais comuns, a base tradicional da tsampa, o alimento básico do Ladaque e das regiões culturalmente tibetanas. A segunda colheita é principalmente de trigo sarraceno, nabos e outras hortaliças.[4]
História
[editar | editar código-fonte]A importância da aldeia deve-se sobretudo a estar localizada no local onde a estrada de Serinagar entra vale do Indo pelo lado sul e atravessa o rio para a margem norte.[5] Perto da antiga ponte sobre o Indo há ruínas de um velho edifício fortificado, identificado como uma alfândega por uma inscrição que refere um "senhor do comércio do vale inferior".[6] Num fragmento de outra inscrição encontrada em Khaltsi e datada de 96 ou 99 d.C.,[7] é referido o nome "Marajá Uvima", que foi identificado como o Vima Cadefises, basileu (rei) do Império Cuchana dessa época.[8][9]
Lha chen Naglug (ou Lhachen Naglug), um rei duma dinastia darda que reinou no Ladaque no século XII, mandou construir uma ponte sobre o Indo no mesmo local da atual. Para guardar a ponte, foi construído o castelo de Bragnag, na margem do Indo, junto a uma ribeira a pouco mais de um quilómetro e meio acima da aldeia. Para os estudiosos, esta ponte foi criada para competir (na coleta de portagens de travessia) com a ponte de Babu Khar (ou Balu Khar), situada a pouco menos de cinco quilómetros. Diz-se que o castelo de Bragnag foi o primeiro castelo construído no Ladaque. As suas ruínas e os vestígios de extensos campos agrícolas e de um sistema de irrigação ainda são visíveis. Lha chen Naglug foi também quem mandou construir o palácio de Wanla, que se ergue na margem do rio Yapola, 10 km a sudoeste de Khaltsi em linha reta.[10]
Nas vizinhanças da aldeia há vários relevos esculpidos em rochas, datados do período dardo. Um deles representa uma mulher darda carregando um cesto às costas, outro um homem caçando antílopes e outro com um homem com o que parece um chapéu chato, semelhantes aos usados pelos dardos Brokpa (ou Brogpa)[nt 1] Em frente ao antigo castelo dardo de Khalatse há uma inscrição numa escrita indiana posterior ao brami e ao caroste que para o tibetólogo alemão August Hermann Francke (1870–1930) poderiam ser do período do domínio dardo no Ladaque.[13]
A missão dos Igreja dos Irmãos Morávios que abriu em Lé em 1885, na qual serviu August Francke entre 1896 e 1909, teve uma delegação em Khalatse que funcionou cerca de 50 anos, antes da independência da Índia em 1947. Apesar de não ter havido muitas conversões ao cristianismo, a Igreja Morávia desempenhou um papel muito importante na educação e saúde.[14]
Notas
[editar | editar código-fonte]- Parte do texto foi inicialmente baseado na tradução do artigo «Khalatse» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
- ↑ No Ladaque, o significado das designações dardo e brokpa (ou brogpa) variam conforme o contexto. Na generalidade são praticamente sinónimas e são aplicadas a todas as pessoas que não são de etnia tibetana. A designação brokpa (ou brogpa) pode também referir-se especificamente aos dardos budistas do Ladaque ocidental.[6] De forma ainda mais restrita, os brokpa são os dardos da região de Dah Hanu do tesil de Khaltsi, onde se situam as aldeias de Dah (ou Dha ou Da), Hanu (ou Hanoo) e Beema, frequentemente apontados como os mais diretos descendentes dos arianos ou indo-europeus que primeiro chegaram ao vale do Indo.[11] Em contraste com a generalidade da população, os habitante de Dah Hanu têm traços marcadamente indo-europeus, cabelo castanho e olhos verdes.[12]
Referências
- ↑ a b «Blockwise Village Amenity Directory 2014-15» (PDF) (em inglês). Ladakh Autonomous Hill Development Council. leh.nic.in. Consultado em 22 de novembro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 9 de setembro de 2016
- ↑ Rizvi 1996, p. 23.
- ↑ Rizvi 1996, p. 203.
- ↑ Rizvi 1996, p. 38.
- ↑ Schettler 1981, p. 102–103.
- ↑ a b Rizvi 1996, p. 96.
- ↑ Narain 1990, p. 164.
- ↑ Stein 1972, p. 36.
- ↑ Bivar 1983, p. 223.
- ↑ Francke 1907, pp. 64–65.
- ↑ Stone, Laura. «Dha Hanu route» (em inglês). www.himalayabybike.com. Consultado em 22 de novembro de 2016
- ↑ Tandon, Aditi (7 de novembro de 2004). «A chosen people» (em inglês). The Sunday Tribune. www.tribuneindia.com. Consultado em 22 de novembro de 2016
- ↑ Francke 1907, p. 36.
- ↑ Rizvi 1996, p. 212.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bivar, A. D. H. (1983), «The History of Eastern Iran», in: Yarshater, Ehsan, The Cambridge History of Iran, Volume 3: The Seleucid, Parthian and Sasanid Periods, Part 1 of 2., ISBN 9780521200929 (em inglês), Cambridge University Press, consultado em 22 de novembro de 2016
- Francke, August Hermann (1907), A History of Western Tibet: One of the Unknown Empires, ISBN 9788120610439 (em inglês), Londres (publicado em 1977), consultado em 22 de novembro de 2016
- Narain, A. K. (1990), «Indo-Europeans in Inner Asia», in: Sinor, Denis, The Cambridge History of Early Inner Asia, ISBN 9780521243049 (em inglês), 1, Cambridge University Press, consultado em 22 de novembro de 2016
- Rizvi, Janet (1996), Ladakh: Crossroads of High Asia, ISBN 9780195645460 (em inglês) 2.ª ed. , Deli: Oxford University Press India
- Schettler, Margret; Schettler, Rolf (1981), Kashmir, Ladakh & Zanskar: A Travel Survival Kit, ISBN 9780908086214 (em inglês), Lonely Planet
- Stein, Rolf Alfred (1972), Tibetan Civilization, ISBN 9780804709019 (em inglês), Stanford University Press, consultado em 22 de novembro de 2016