História de Guarulhos: diferenças entre revisões

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Esta é a cunologia dos fatos que marcaram a '''história do município de [[Guarulhos]]''', no [[Estado de São Paulo]], [[Brasil]].
Esta é a cronologia dos fatos que marcaram a '''história do município de [[Guarulhos]]''', no [[Estado de São Paulo]], [[Brasil]].


== Povoamento Pré-Colonial ==
==Fundação ==
Os primeiros indícios da presença humana no [[Planalto Paulista]] apontam para um povoamento inicial entre 11.000 a 7.000 anos [[antes do Presente]]<ref>{{citar periódico |url=https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/view/244948 |titulo=A ocupação humana antiga (11-7 mil anos atrás) do planalto meridional brasileiro: caracterização geomorfológica, geológica, paleoambiental e tecnológica de sítios arqueológicos relacionados a três distintas indústrias líticas |data=2020 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista Brasileira de Geografia Física |publicado=Universidade Federal de Pernambuco |número=6 |ultimo=Cheliz |primeiro=Pedro |ultimo2=Sousa |primeiro2=João Carlos |paginas=2553-2585 |ultimo3=Mingatos |primeiro3=Gabriela Sartori |ultimo4=Okumura |primeiro4=Mercedes |ultimo5=Araújo |primeiro5=Astolfo |volume=13}}</ref><ref>{{citar periódico |url=https://www.researchgate.net/publication/275335299_Abordagem_Teorica_Sobre_o_Estudo_de_Sitios_Liticos_no_Interior_do_Estado_de_Sao_Paulo_Brasil |titulo=Abordagem Teórica sobre o Estudo de Sítios Líticos no Interior do Estado de São Paulo, Brasil |data=2013 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista Téchne |publicado=Editora Pini |número=1 |ultimo=Santos |primeiro=Fábio Grossi |paginas=39-49}}</ref>. Na [[Região Metropolitana de São Paulo|região metropolitana de São Paulo]], por sua vez, os vestígios mais antigos datam de aproximadamente 6.000 anos atrás. Encontrados em um sítio arqueológico no bairro do Morumbi (município de São Paulo), esses vestígios correspondem a uma oficina lítica, local onde grupos ameríndios obtinham matéria-prima e produziam diversas [[Ferramenta de pedra|ferramentas de pedra]]<ref name=":0">{{citar livro|título=Mosaico Cultural: Guia do Patrimônio Arqueológico do Estado de São Paulo|ultimo=Wichers|primeiro=Camila Moraes|editora=Zanettini Arqueologia|ano=2010|local=São Paulo|isbn=9788563868008}}</ref>. Geralmente próximos a planícies fluviais e em áreas com alguma presença de afloramento rochoso, os assentamentos desses primeiros habitantes da atual Grande São Paulo são normalmente encontrados nas proximidades de vales de rios como o [[Tietê]] e [[Rio Pinheiros|Pinheiros]]<ref name=":0" />.
Guarulhos foi fundada em [[1560]] no [[Missões jesuíticas na América|aldeamento dos índios]] guaramomis (ou maramomis), da tribo dos [[Guaianás|Guaianases]], antigos habitantes da região, pelo padre [[jesuíta]] Manuel de Paiva, com a denominação de "Conceição de Guarulhos".<ref>''A dinâmica dos nomes na cidade de São Paulo, 1554-1897''. Disponível em https://books.google.com.br/books?id=kapMMc9HbN4C&pg=PA128&lpg=PA128&dq=etimologia+guarulhos&source=bl&ots=uf7GfiC-Wo&sig=rJU434mobbB-bff_7VMcjtBlmQk&hl=pt-BR&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q=etimologia%20guarulhos&f=false. Acesso em 6 de janeiro de 2017.</ref>
Teve sua origem como um elemento de defesa por se temer um ataque [[Tamoios|Tamoio]] ao povoado de [[São Paulo de Piratininga]] .


Por sua vez, no bairro do [[Jaraguá (bairro de São Paulo)|Jaraguá]], [[Zona Norte de São Paulo|zona norte do município de São Paulo]], há [[Sítio arqueológico|sítios arqueológicos]] mais recentes relacionados à grupos ameríndios ceramistas. Geralmente associados às tradições tecnológicas Itararé-Taquara e Tupiguarani, essas populações já dominavam a horticultura, cultivando [[milho]], [[mandioca]], [[abóbora]] e outros gêneros alimentícios domesticados<ref>{{citar periódico |url=https://periodicos.ufpb.br/index.php/ra/article/view/1678 |titulo=A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos grupos Jê no sudeste do Brasil |data=2007 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista de Arqueologia |publicado=Sociedade de Arqueologia Brasileira |número=20 |ultimo=Araújo |primeiro=Astolfo |paginas=9-38}}</ref><ref>{{citar periódico |url=https://www.academia.edu/34832522/Ocupa%C3%A7%C3%B5es_Ceramistas_Tupi_e_G%C3%AA_em_S%C3%A3o_Paulo_Espacializa%C3%A7%C3%A3o_e_Cronologia |titulo=Ocupações Ceramistas Tupi e Gê em São Paulo: Espacialização e Cronologia |data=2010 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Anais do XV Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira |publicado=Sociedade de Arqueologia Brasileira |ultimo=Afonso |primeiro=Marisa |ultimo2=Sallum |primeiro2=Marianne |paginas=8-15 |ultimo3=Lopes |primeiro3=Marcel}}</ref>. Mais numerosos do que em períodos em que a dieta alimentar era obtida apenas por meio da caça e da coleta, esses grupos indígenas habitaram as terras paulistas por séculos.
Dessa forma, por fazer divisa com a capital paulista, tendo, como limites, os rios [[Rio Tietê|Tietê]] a leste e [[Rio Cabuçu de Cima|Cabuçu]] ao norte, era um ponto estratégico. Na mesma época que se fundava Guarulhos, nascia, também, a vila São Miguel, com o mesmo propósito, vila esta conhecida hoje como Bairro [[São Miguel Paulista]].


Os relatos deixados por alguns dos colonizadores europeus indicam uma ampla presença [[Indígenas|indígena]] acima da [[Serra do Mar]], sendo constantemente mencionados os [[Guaianás|Guaianases]]. Embora por muito tempo associados aos grupos [[tupis]] pela historiografia do [[século XIX]], há indícios de que seu idioma era ligado ao tronco [[Macro-jê|Macro-Jê]]<ref>{{citar livro|url=http://www.etnolinguistica.org/tese:monteiro-2001|título=Tupis, Tapuias e os historiadores: Estudos de História Indígena e do Indigenismo|ultimo=Monteiro|primeiro=John|editora=Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da Universidade Estadual de Campinas|ano=2001|local=Campinas|tipo=Tese de Livre Docência em Etnologia|acessodata=2 de junho de 2022}}</ref>. A região de Guarulhos, contudo, era habitada pelos Guaramomis (ou maramomis) no [[século XVI]], provavelmente aparentados dos Guaianases. Também eram chamados de Guarulhos em alguns documentos do período colonial, nome supostamente derivado do termo tupi “''Guaru”'' (barrigudo). Ao contrário de grupos tupis que habitavam vales próximos, os Guarulhos não eram agricultores, vivendo da caça e da coleta<ref>{{citar web|url=https://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/guarulhos/|titulo=Guarulhos|data=2015|acessodata=2 de junho de 2022|website=DICIONÁRIO ILUSTRADO TUPI-GUARANI}}</ref>.
Seu crescimento econômico deu-se inicialmente em função da mineração de ouro.<ref>{{citar web |url=http://agencia.fapesp.br/pesquisa_resgata_a_memoria_da_mineracao_do_ouro_em_guarulhos/23383/ |título=Pesquisa resgata a memória da mineração do ouro em Guarulhos |autor=ARANTES, J.T. |publicado=Agência FAPESP |data=16 de junho de 2016 |acessodata=20 de junho de 2016}}</ref> As minas foram descobertas em [[1590]] por Afonso Sardinha, localizada na atual região do Bairro dos Lavras, cujas antigas denominações eram Serra de Jaguamimbaba, Mantiqueira e Lavras-Velhas-do-Geraldo.


==Fundação do Aldeamento de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos (sécs. XVI-XVIII) ==
Entre os séculos [[século XVII|XVII]] e [[século XVIII|XVIII]], notamos momentos de grande interesse por Guarulhos, haja vista a quantidade de número de ordens estabelecendo as sesmarias (responsáveis pela ocupação e assentamentos na época do Brasil Colônia) expedidas para a região.
De acordo com a maior parte das [[Historiografia|fontes historiográficas]], Guarulhos foi fundada na segunda metade do século XVI. Embora não seja possível precisar com segurança seu ano de fundação<ref name=":1">{{citar livro|url=https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4302|título=Almanak da Província de São Paulo para 1873. Primeiro Anno|ultimo=Luné|primeiro=Antonio José Baptista de|ultimo2=Fonseca|primeiro2=Paulo Delfino de|editora=Typographia Americana|ano=1873|local=São Paulo|página=131|acessodata=2 de junho de 2022}}</ref>, o dia 8 de dezembro de [[1560]] é oficialmente considerado para definição da idade do município<ref name=":2">{{citar web|url=https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/guarulhos/historico|titulo=Cidades. História & Fotos. Guarulhos|data=2017|acessodata=2 de junho de 2022|website=Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística}}</ref><ref name=":3">{{citar livro|url=https://portaleducacao.guarulhos.sp.gov.br//siseduc/portal/exibir/arquivo/500/inline/|título=Revelando a História de São João e Região: nossa cidade, nossos bairros|ultimo=Campos|primeiro=Daniel Carlos|ultimo2=Oliveira|primeiro2=Elton|ultimo3=Ferreira|primeiro3=José Abílio|editora=Noovha América|ano=2011|local=São Paulo|isbn=9788576732631|acessodata=2 de junho de 2022}}</ref>. Da mesma forma, a Lei Municipal n° 2789 de [[1983]] reconhece oficialmente o padre Manuel de Paiva como fundador de Guarulhos<ref name=":3" />. Sabe-se, contudo, que o núcleo inicial foi estabelecido em uma área anteriormente habitada pelos Guaramomis, servindo inicialmente como um [[Aldeamentos missionários|aldeamento jesuíta]] batizado de "Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos"<ref>{{citar livro|título=A dinâmica dos nomes na cidade de São Paulo, 1554-1897|ultimo=Dick|primeiro=Maria Vicentina de Paula|editora=Annablume|ano=1997|local=São Paulo|isbn=9788585596675}}</ref><ref>{{citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revmae/article/view/119017 |titulo=“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura": o caminho das águas na catalisação social no Brasil Colonial |data=2016 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia |publicado=Universidade de São Paulo |número=26 |ultimo=Plens |primeiro=Cláudia |ultimo2=Porto |primeiro2=Vágner |pagina=95-114}}</ref>. Esse primeiro núcleo estaria situado no atual Centro Expandido, em uma quadra formada pelas ruas Silvestre Vasconcelos Calmon, José Esperança da Conceição, Barão de Mauá e a avenida Guarulhos. Anos depois, o aldeamento teria sido transferido para uma colina na praça Tereza Cristina, onde hoje está a Igreja Matriz. Outra corrente historiográfica situa a fundação de Guarulhos no ano de [[1608]], sendo batizada inicialmente como Nossa Senhora da Conceição dos Maromomi. A alteração do nome da localidade para Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos teria ocorrido somente em [[1630]]<ref name=":3" />.


A primeira [[capela]] do aldeamento, construída a partir da técnica de [[Pau a pique|pau-a-pique]], teria sido erguida pelo padre [[jesuíta]] João Álvares<ref>{{citar web|url=https://www.camaraitaquaquecetuba.sp.gov.br/portal/servicos/1003/historico-da-cidade/|titulo=Histórico da Cidade|data=2022|acessodata=2 de junho de 2022|website=Câmara Municipal de Itaquaquecetuba}}</ref>. De acordo com o “Almanak da Província de São Paulo para o ano de 1873”, haveria registros de assentos da capela (tornada [[Igreja matriz|Igreja Matriz]] em anos posteriores) datados de [[1600]], o que revelaria a antiguidade do povoamento<ref name=":1" />. Para além da conversão religiosa dos indígenas aldeados, o aldeamento também tinha função defensiva, pois era grande o receio que os [[Tamoios]] atacassem a [[São Paulo dos Campos de Piratininga|vila de São Paulo dos Campos de Piratininga]].
==Século XIX==
Os sesmeiros se dedicaram à [[agricultura]] e à [[mineração]] e, como atividade de apoio, criavam [[gado vacum]] e [[Cavalo|cavalar]]. Ressaltamos que os engenhos de açúcar que se iniciaram nos anos seiscentistas estenderam-se até o início do [[século XX]], com a produção de álcool e aguardente. A agricultura da região possivelmente sofreu com o clima úmido e frio que acarretou [[Pucciniales|ferrugem]] ao trigo, [[Vírus do mosaico do tabaco|mosaico]] à cana e [[Nóctua|curuquerê]] ao algodão.


Por estar localizado nas margens do rio Tietê, à leste de São Paulo, o aldeamento era considerado um ponto estratégico contra incursões vindas do Alto Tietê e [[Serra da Cantareira]]. Na mesma época que se fundava Guarulhos, nascia, também, o aldeamento de São Miguel, localizado na margem oposta do rio Tietê. Fundado com os mesmos propósitos, esse aldeamento foi posteriormente incorporado ao município de São Paulo, sendo hoje conhecido como o distrito de [[São Miguel Paulista]]<ref name=":4">{{citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revmae/article/view/119010 |titulo=Terras, ouro e cativeiro: a ocupação do aldeamento dos Guarulhos nos séculos XVI e XVII |data=2016 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia |publicado=Universidade de São Paulo |número=26 |ultimo=Vilardaga |primeiro=José Carlos |paginas=42–61}}</ref>. Juntamente com outros aldeamentos criados pelos colonos portugueses e missionários jesuítas ao longo dos séculos XVI e [[Século XVII|XVII]], Guarulhos e São Miguel formavam um “cinturão” em torno da vila de São Paulo, geralmente aproveitando locais onde já havia aldeias indígenas<ref name=":5">{{citar livro|título=Aldeamentos Paulistas|ultimo=Petrone|primeiro=Pasquale|editora=EDUSP|ano=1995|local=São Paulo|isbn=9788531401213}}</ref>.
Segundo o tombamento das propriedades rurais da [[Capitania de São Paulo]] de [[1817]], registraram-se 183 [[escravatura|escravos]] na freguesia da Conceição dos Guarulhos, pertencentes a 28 lavradores das seguintes áreas: Bom Jesus, Bom Sucesso, Guavirotuba, Itaverava, Lavras, Pirucaia, São Gonçalo, São Miguel (Pimentas) e Varados.


A descoberta e a subsequente exploração do [[ouro]] atraiu diversos colonos para as terras altas do aldeamento de Guarulhos, processo semelhante ao que ocorria no mesmo período no bairro do Jaraguá.<sup>[2]</sup> As jazidas de ouro teriam sido descobertas entre [[1597]] e [[1598]], por [[Afonso Sardinha|Afonso Sardinha, o Velho]], sendo efetivamente exploradas no território do aldeamento de Nossa Senhora da Conceição a partir de [[1612]] por Geraldo Correia Sardinha, que para isso recebera uma carta de [[sesmaria]] às margens do [[Rio Baquirivu-Guaçu]]<ref>{{citar livro|url=https://docplayer.com.br/6818069-Revelando-a-historia-do-bonsucesso-e-regiao-nossa-cidade-nossos-bairros-revelando-a-historia-do-bonsucesso-e-regiao-nossa-cidade-nossos-bairros.html|título=Revelando a História do Bonsucesso e Região: nossa cidade, nossos bairros|ultimo=Oliveira|primeiro=Antonio|editora=Noovha América|ano=2010|local=São Paulo|página=12|isbn=9788576732310}}</ref>. Essa localidade é atualmente denominada “Lavras Velhas do Geraldo”<ref name=":6">{{citar periódico |url=https://repositorio.usp.br/item/000892633 |titulo=Mineralizações de ouro de Guarulhos e os métodos de sua lavra no período colonial |data=1995 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Geologia: Ciência-Técnica |publicado=Universidade de São Paulo |número=13 |ultimo=Juliani |primeiro=Caetano |ultimo2=Beljavskis |primeiro2=Paulo |paginas=8-25 |ultimo3=Juliani |primeiro3=Lúcia |ultimo4=Garda |primeiro4=Gianna Maria}}</ref><ref name=":7">{{citar web|url=https://www.guarulhos.sp.gov.br/historia|titulo=História|acessodata=2 de junho de 2022|website=Prefeitura Municipal de Guarulhos}}</ref>. Essa mesma sesmaria teria servido posteriormente como referência para delimitação de outras sesmarias na década de 1630 em terras anteriormente indígenas, tendo por objetivo a exploração do ouro<ref name=":6" />.
Em [[2 de outubro]] de [[1845]], chega, a Conceição dos Guarulhos, memorando expedido pelo Palácio do Governo ordenando o cumprimento da circular de 2 de outubro de 1845, que estipulava o [[contrato]] de [[locação]] dos serviços prestados pelos índios.


As sesmarias e datas de mineração, divisões de terras especificamente para a exploração do ouro durante o Brasil colonial, eram concedidas principalmente com base na existência de metais preciosos e nas condições dos requerentes para explorá-los. Apesar de pertencerem inicialmente ao aldeamento e, portanto, aos indígenas aldeados, as requisições apontavam essas terras como [[Terras devolutas|devolutas]], ou mesmo já ocupadas pelos requerentes há muitos anos<ref>{{citar livro|url=https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-04022010-100806/pt-br.php|título=O processo de conformação da periferia urbana no município de Guarulhos: loteamentos periféricos como (re)produção de novas espacialidades e lugar de reprodução da força de trabalho|ultimo=Gama|primeiro=Nilton César|editora=Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo|ano=2009|local=São Paulo|tipo=Dissertação de Mestrado em Geografia Humana}}</ref><ref>{{citar livro|título=Negros da Terra: índios e bandeirantes na origem de São Paulo|ultimo=Monteiro|primeiro=John|editora=Companhia das Letras|ano=1994|local=São Paulo|isbn=9788571643949}}</ref>. Assim, as atividades de mineração na região de Guarulhos foram um grande impulsionador de sua ocupação e da consequente exploração das terras altas guarulhenses.
O [[Escravidão no Brasil|trabalho escravo negro]] (de origem sudanesa, denominados [[jejes]]) foi utilizado em larga escala. Com a paralisação da mineração do ouro, muitos negros acompanharam seus senhores na debanda que marcou a decadência do povoado - fim do [[ciclo do ouro]].


Tentativas de introdução de [[Escravidão no Brasil|africanos escravizados]] tenham ocorrido já no início do século XVII. É o caso de [[Diogo de Quadros]], provedor das minas, o qual chegou a solicitar ao governador-geral e ao [[Conselho das Índias]] que permitisse a introdução de cerca de mil africanos escravizados para auxiliar nas minas de São Paulo. Embora tal pedido tenha sido negado naquele momento, revela uma das primeiras tentativas de substituição das fontes de mão-de-obra escrava na [[Capitania de São Vicente]]<ref name=":4" />.
Em [[3 de fevereiro]] de [[1883]], chegou, via correio, um quilo de sementes de trigo e arroz destinadas aos lavradores de Guarulhos, oriundas da Província.


A mineração em Guarulhos nunca se constituiu como uma atividade isolada, contudo, sendo sempre acompanhada por culturas agrícolas (como o [[trigo]]) e outras formas de exploração econômica, todas baseadas fortemente na mão-de-obra indígena<ref name=":4" />. É o caso da Fazenda Bananal, inicialmente pertencentes a [[Amador Bueno da Veiga]], adquirida por carta de sesmaria no ano de [[1717]]. Nesse local, onde hoje há a [[Sítio da Candinha|Casa da Candinha]], bem tombado enquanto [[patrimônio histórico]] de Guarulhos, a [[agricultura]] foi a principal atividade econômica durante os séculos em que a fazenda esteve em funcionamento<ref>{{citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/cpc/article/download/141120/147317/311820 |titulo=Restauração da ‘Casa da Candinha’, Guarulhos-SP: desafios e perspectivas |data=2018 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revistaa CPC |publicado=Universidade de São Paulo |número=25 |ultimo=Campos |primeiro=Daniel Carlos |ultimo2=Silva |primeiro2=Tânia Cristina Bordon |paginas=112–139 |doi=10.11606/issn.1980-4466.v13i25p112-139 |ultimo3=Sales |primeiro3=Nívea da Costa |volume=13}}</ref>. Devido a grande importância histórica e arqueológica da área, também está registrada enquanto sítio arqueológico nos cadastros do [[IPHAN]]<ref>{{citar web|url=https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/21067|titulo=Sítio Arqueológico Candinha 01|data=2014|acessodata=2 de junho de 2022|website=Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional}}</ref>. Outras antigas edificações rurais do período colonial ou imperial também foram registradas, como os sítios Cabuçu 01<ref>{{citar web|url=https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/21070|titulo=Sítio Arqueológico Cabuçu 01|data=2014|acessodata=2 de junho de 2022|website=Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional}}</ref>, InterCement 01<ref>{{citar web|url=http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?27291|titulo=Sítio InterCement 01|data=2014|acessodata=2 de junho de 2022|website=Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional}}</ref> e Itaberaba 01<ref>{{citar web|url=https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/21069|titulo=Sítio Arqueológico Itaberaba 01|data=2014|acessodata=2 de junho de 2022|website=Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional}}</ref>.
Após a [[Lei Áurea]] ([[1888]]), escasseou-se a [[mão de obra]] e tornou-se mais difícil o processo de retalhamento das antigas [[sesmaria]]s, que, apesar das dificuldades, se manteve ininterrupto, surgindo, então, os "cercamentos" como linha divisória.


Apesar do consenso entre colonos, jesuítas e autoridades quanto à apropriação do trabalho indígena, estes discordavam quanto aos meios e as formas. Ocorria uma verdadeira “sangria” dos aldeamentos em função das demandas por mão de obra nas plantações de trigo, [[algodão]] e milho, pelas atividades mineradoras e pelas próprias expedições de apresamento de outros indígenas, o que desorganizava Guarulhos e outros locais. Por sua vez, ao longo do século XVII, uma certa decadência atingiu praticamente todos os aldeamentos do planalto<ref name=":5" />. A expulsão dos jesuítas da vila de São Paulo, em [[1640]], também teria provocado um abandono em massa de indígenas do aldeamento de Guarulhos, muitos deles retirando-se para a região de Atibaia, com apenas alguns permanecendo no entorno da velha capela<ref name=":3" />.
Em [[1880]], Guarulhos se emancipa de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], com o nome de [[Nossa Senhora da Conceição]] dos Guarulhos, adotando o nome atual pela Lei nº 1 021, de [[6 de novembro]] de [[1906]].


Embora não existam dados precisos acerca dos volumes alcançados pela exploração aurífera em Guarulhos, estas teriam se espalhado ao longo dos cursos d’água locais e os contrafortes das serras de Itaberaba e do Bananal, cobrindo um território considerável<ref>{{citar livro|título=As minas de ouro e a formação das Capitanias do Sul|ultimo=Reis|primeiro=Nestor Goulart|editora=Via das Artes|ano=2013|local=São Paulo|isbn=9788598614229}}</ref>. Esses primeiros processos de extração de ouro na Capitania de São Vicente teriam moldado o contexto econômico da vila de São Paulo de Piratininga e imediações, permitindo algum nível de acumulação e troca, estimulando ainda a expansão territorial sobre as áreas de serra imediatamente ao norte<ref name=":4" /><ref>{{citar periódico |url=https://www.scielo.br/j/vh/a/vVqPJqszhQ8bHgv8t5cMwwN/?lang=pt |titulo=As controvertidas minas de São Paulo (1550-1650) |data=2013 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Varia Historia |publicado=Universidade Federal de Minas Gerais |número=51 |ultimo=Vilardaga |primeiro=José Carlos |paginas=795–815 |volume=29}}</ref> . As lavras mais ativas estariam concentradas junto aos atuais ribeirões das Lavras e Tomé Gonçalves e dos córregos Tanque Grande e Guaraçau, além do rio Baquirivu-Guaçu<ref>{{citar livro|título=Ocorrências Minerais no Estado de São Paulo|ultimo=Knecht|primeiro=Theodoro|editora=Instituto Geográfico e Geológico|ano=1950|local=São Paulo}}</ref><ref name=":6" />. A hidrografia privilegiada do local facilitou o estabelecimento de técnicas minerárias já empregadas pelos [[portugueses]] há séculos, sendo comum a construção de tanques e canais para lavagem dos minérios, por exemplo<ref>{{citar livro|url=http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/handle/doc/17152?show=full&#124;|título=Geoparques do Brasil: propostas|ultimo=Pérez-Aguilar|primeiro=Annabel|ultimo2=Barros|primeiro2=Edson José de|ultimo3=Andrade|primeiro3=Márcio Roberto|ultimo4=Oliveira|primeiro4=Elton|ultimo5=Juliani|primeiro5=Caetano|ultimo6=Oliveira|primeiro6=Antonio Manuel|editora=CPRM|ano=2012|editor-sobrenome=Schobbenhaus|editor-nome=Carlos|local=Rio de Janeiro|páginas=543-582|capitulo=Geoparque Ciclo do Ouro, Guarulhos (SP): proposta|isbn=9788574991542|acessodata=2 de junho de 2022|editor-sobrenome2=Silva|editor-nome2=Cássio Roberto}}</ref>. Vestígios materiais das atividades minerárias empreendidas no atual município de Guarulhos ainda podem ser observados na paisagem, como galerias, escavações em encostas, desvios de rios e ribeirões, obras de drenagem, paredões, montes de rejeitos e entulhos. É o caso dos sítios arqueológicos Baquirivu-Mirim, Cavas de Mineração 01<ref>{{citar web|url=http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?27296|titulo=Sítio Cavas de Mineração 01|data=2014|acessodata=2 de junho de 2022|website=Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional}}</ref> e Garimpo de Ouro do Ribeirão das Lavras<ref>{{citar web|url=http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?17865|titulo=Sítio Garimpo do Ouro do Ribeirão das Lavras|data=1984|acessodata=2 de junho de 2022|website=Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional}}</ref>. As lavras tiveram ainda um intenso desenvolvimento no [[século XVIII]] e funcionaram seguramente até o início do século XIX<ref name=":4" />. Um outro provável indicativo do crescimento e espalhamento gradual da população pelo território guarulhense é a fundação de duas igrejas em meados do século XVIII: Nossa Senhora do Rosário e Santa Iphigenia ([[1750]]) e Nossa Senhora do Bonsucesso ([[1757]])<ref name=":1" />.
==Século XX==
[[File:Fotografia histórica de Guarulhos 08.jpg|thumb|Praça Getúlio Vargas, uma das mais antigas de Guarulhos.]]
Em [[30 de maio]] de [[1901]], foi publicada a súmula da produção do Município, onde encontramos registrada a produção de [[aguardente]] (trinta [[engenho]]s), de [[arroz]] (doze propriedades), de [[Cafeeiro|café]] (quatro propriedades), de [[feijão]] (duzentas propriedades), de milho (duzentas propriedades), de [[tabaco]] (uma propriedade), de [[carvão]] (dez propriedades), de [[vinho]] (duas propriedades), além da criação de gado: [[cavalo|cavalar]] (trezentas cabeças), [[Bode|caprinos]] (vinte cabeças), [[porco|suínos]] (cem cabeças), [[vaca|bovinos]] (trezentas cabeças) e cinco produtores na área de [[apicultura]].


==Séculos XIX e XX: Emancipação de Guarulhos==
No final do [[século XIX]], discutiu-se, na Câmara Municipal, a necessidade de a região ser servida pela estrada de ferro. A justificativa recaia às riquezas dos recursos naturais da região, mais especificamente à produção de madeira e pedra, além da produção de tijolos, dado o grande número de olarias em funcionamento, sendo que toda a produção estava direcionada às crescentes edificações da capital, justificando, então, a implantação do ramal ferroviário que se efetivou somente em [[1915]], com a inauguração do Ramal Guapyra - Guarulhos, o trem da Cantareira.
A criação de [[gado vacum]] e [[Cavalo|cavalar]], assim como de [[suínos]], permaneceu como uma atividade econômica significativa ao longo do século XIX, mesmo após o esgotamento das jazidas de ouro<ref>{{citar periódico |url=https://www.seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/view/2770 |titulo=História da Ocupação e das Intervenções na Várzea do Rio Tietê |data=2011 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista Crítica Histórica |publicado=Universidade Federal de Alagoas |número=4 |ultimo=Zanirato |primeiro=Silvia Helena |paginas=117-129}}</ref>. [[Engenho de açúcar|Engenhos de açúcar]], existentes na região desde pelo menos o século XVII, também estiveram em funcionamento até o início do [[século XX]], com produção de [[açúcar]], [[álcool]] e [[aguardente]] provavelmente para consumo local e regional. Segundo dados de [[1873]], três grandes fazendas de Guarulhos dedicavam-se ao plantio de [[Cana-de-açúcar|cana]] para fabricação de aguardente, enquanto outras duas também se dedicavam à [[pecuária]]<ref>{{citar livro|url=https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4302|título=Almanak da Província de São Paulo para 1873|ultimo=Luné|primeiro=Antonio José Baptista de|ultimo2=Fonseca|primeiro2=Paulo Delfino de|editora=Typographia Americana|ano=1973|local=São Paulo|página=132|acessodata=2 de junho de 2022}}</ref>. De todo modo, a agricultura da região possivelmente sofreu com o clima úmido e frio que acarretou [[ferrugem]] ao trigo, [[Vírus do mosaico do tabaco|mosaico]] à cana e [[Nóctua|curuquerê]] ao algodão<ref name=":7" />.


Segundo o tombamento das propriedades rurais da [[Capitania de São Paulo]] de [[1817]], registraram-se 183 escravos na freguesia da Conceição dos Guarulhos, pertencentes a 28 lavradores das seguintes áreas: Bom Jesus, Bom Sucesso, Guavirotuba, Itaverava, Lavras, Pirucaia, São Gonçalo, São Miguel (Pimentas) e Varados<ref name=":7" />. Nesse período, a maior parte dos trabalhadores escravizados eram de origem africana, embora provavelmente ainda existissem indígenas em situação de escravidão nos sítios e fazendas guarulhenses, remanescentes do antigo aldeamento.
Foram cinco as estações em território guarulhense: Vila Galvão, Torres Tibagy, Gopoúva, Vila Augusta e Guarulhos, além do prolongamento até à Base Aérea em Cumbica.


Em 2 de outubro de 1845, chega, a então Freguesia de Conceição dos Guarulhos, um memorando expedido pelo Palácio do Governo ordenando a elaboração e cumprimento de contratos de locação dos serviços prestados pelos índios. O trabalho escravo negro (de origem [[Sudaneses|sudanesa]], denominados [[jejes]]), como dito, era utilizado em larga escala. Com o fim da mineração do ouro enquanto atividade econômica viável, muitos negros escravizados acompanharam seus senhores na debandada que marcou a decadência do povoado<ref name=":8">{{citar web|url=https://guarulhos.sp.senai.br/institucional/243/230/a-cidade-de-guarulhos|titulo=A Cidade de Guarulhos|acessodata=2 de junho de 2022|website=Portal SENAI|publicado=SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial}}</ref>. Após a [[Lei Áurea]] ([[1888]]) e a necessidade de reposição de uma mão de obra antes cativa, tornou-se mais difícil o processo de retalhamento das antigas sesmarias, que, apesar das dificuldades, se manteve ininterrupto, surgindo, então, os "cercamentos" como linha divisória.
O início do [[século XX]] foi marcado pela chegada: da Estrada de Ferro, da energia elétrica (''Light & Power''), dos pedidos para instalação da rede telefônica, licenças para implantação de indústrias de atividades comerciais e dos serviços de transporte de passageiros.


Em [[1880]], a Lei Provincial n° 34 de 24 de março emancipa Guarulhos de São Paulo, após permanecer como [[freguesia]] desse município desde 1685<ref name=":3" /><ref>{{citar livro|url=https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/568|título=Almanach Administrativo, Commercial e Industrial da Província de São Paulo para 1888|ultimo=Seckler|primeiro=Jorge|editora=Jorge Seckler & Comp.|ano=1888|local=São Paulo|página=412|acessodata=2 de junho de 2022}}</ref>. Na ocasião, recebeu o nome de vila da Conceição dos Guarulhos. O nome atual, sem referência à [[Nossa Senhora da Conceição]], só foi concedido pela Lei nº 1 021, de 6 de novembro de 1906, quando também foi elevada à condição de cidade<ref name=":2" />. No ano em que recebeu seu nome atual, Guarulhos contava com 5 mil habitantes<ref name=":3" />.[[File:Fotografia histórica de Guarulhos 08.jpg|thumb|Praça Getúlio Vargas, uma das mais antigas de Guarulhos.]]
A [[década de 1930]] foi marcada pelos atos de [[Intervenção Federal]], Constituição da Junta Governativa de Guarulhos e pelo [[Movimento Constitucionalista]] (reflexos da [[Revolução de 1930]] - fim da [[República Velha]]).
Até o início do século XX, Guarulhos tinha uma economia predominantemente rural e população considerada pequena, espalhada pelas vastas terras do município<ref>{{citar periódico |url=https://docplayer.com.br/32758923-Aspectos-da-historia-e-do-patrimonio-da-industrializacao-num-municipio-da-grande-sao-paulo.html |titulo=Aspectos da História e do Patrimônio da Industrialização num município da Grande São Paulo |data=2011 |acessodata=2 de junho de 2022 |jornal=Revista Mundos do Trabalho |publicado=Universidade Federal de Santa Catarina |número=5 |ultimo=Toledo |primeiro=Edilene |paginas=166-185 |volume=3}}</ref>. Em 30 de maio de [[1901]], foi publicada a súmula da produção do Município, onde encontramos registrada a produção de [[aguardente]] (trinta [[engenho]]s), de [[arroz]] (doze propriedades), de [[Cafeeiro|café]] (quatro propriedades), de [[feijão]] (duzentas propriedades), de milho (duzentas propriedades), de [[tabaco]] (uma propriedade), de [[carvão]] (dez propriedades), de [[vinho]] (duas propriedades), além da criação de gado: [[cavalo|cavalar]] (trezentas cabeças), [[Bode|caprinos]] (vinte cabeças), [[porco|suínos]] (cem cabeças), [[vaca|bovinos]] (trezentas cabeças) e cinco produtores na área de [[apicultura]]<ref name=":7" />.


No final do século XIX, discutiu-se, na Câmara Municipal, a necessidade da região ser servida pela [[estrada de ferro]]. A justificativa recaia às riquezas dos recursos naturais da região, mais especificamente à produção de madeira e pedra, além da produção de [[Tijolo|tijolos]], dado o grande número de [[Olaria|olarias]] em funcionamento, sendo que toda a produção estava direcionada às crescentes edificações da capital, justificando, então, a implantação do ramal ferroviário que se efetivou somente em [[1915]], com a inauguração do Ramal Guapyra - Guarulhos, o trem da Cantareira. Foram cinco as estações em território guarulhense: Vila Galvão, Torres Tibagy, Gopoúva, Vila Augusta e Guarulhos, além do prolongamento até à Base Aérea em Cumbica<ref name=":2" />.
Em [[1940]], foi inaugurada a Biblioteca Pública Municipal em [[1941]], o primeiro Centro de Saúde da cidade e, dez anos após, inaugurou-se a Santa Casa de Misericórdia de Guarulhos.
E, nessa década, chegaram, ao Município, indústrias dos setores elétrico, metalúrgico, plástico, alimentício, borracha, calçados, peças para automóveis, relógios e couros.


Além disso, no início do século XX ocorreu a instalação das primeiras redes de energia elétrica em Guarulhos, realizadas pela ''Light & Power.'' Também nas primeiras décadas desse século se deram os pedidos para instalação de rede telefônica, licenças para implantação de indústrias de atividades comerciais e dos serviços de transporte de passageiros<ref name=":7" />.
Em [[1958]], foi constituída pela [[Rotary Club|associação de rotarianos]] da cidade.


A década de 1930 foi marcada pelos atos de [[Intervenção federal|Intervenção Federal]], Constituição da Junta Governativa de Guarulhos e pelo Movimento Constitucionalista, reflexos da [[Revolução de 1930]] e fim da [[República Velha]]. Em [[1940]], foi inaugurada a Biblioteca Pública Municipal em [[1941]], o primeiro Centro de Saúde da cidade e, dez anos após, inaugurou-se a Santa Casa de Misericórdia de Guarulhos. Também nessa década chegaram à Guarulhos algumas indústrias dos setores elétrico, metalúrgico, plástico, alimentício, borracha, calçados, peças para automóveis, relógios e couros<ref name=":8" />.
Em [[1963]], foi fundada a Associação Comercial e Industrial de Guarulhos, hoje, Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos.


Outros acontecimentos marcaram a história guarulhense a partir de meados do século XX. Em [[1945]], a [[Base Aérea de São Paulo|Base Aérea de São Paulo (BASP)]] foi transferida da capital para o bairro de Cumbica, em Guarulhos. Quarenta anos depois, em [[1985]], no mesmo local foi inaugurado o [[Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos|Aeroporto Internacional de São Paulo]]<ref name=":2" />.
Em [[1985]], é inaugurado o [[Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos|Aeroporto Internacional de São Paulo]], no bairro de [[Cumbica]].[[Imagem:Ponte de Guarulhos.JPG|thumb|Viaduto Cidade de Guarulhos, inaugurado em 2010]]

A expansão rodoviária característica dos anos 1950 alcançou Guarulhos, período em que as rodovias [[Rodovia Presidente Dutra|Presidente Dutra]] e [[Rodovia Fernão Dias|Fernão Dias]] foram inauguradas. Ligada à São Paulo e ao [[Rio de Janeiro]] por vias rodoviárias, a cidade de Guarulhos seguiu crescendo enquanto polo de atração de indústrias, o que também incentivou a chegada de novos moradores, tanto estrangeiros quanto nacionais. Em [[1958]], foi constituída a primeira [[Rotary Club|associação de rotarianos]] da cidade, indicativo do prestígio econômico e demográfico alcançado por Guarulhos naquele período. Em [[1963]], foi fundada a Associação Comercial e Industrial de Guarulhos, hoje, Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos. Consequentemente, com o contínuo crescimento demográfico, econômico e urbano de Guarulhos, a cidade superou a marca de 1 milhão de habitantes no Censo do IBGE de 2000, tornando-se um dos mais populosos municípios do estado de São Paulo<ref>{{citar web|url=https://www.aceguarulhos.com.br/blog/censo-aponta-guarulhos-com-popula%C3%A7%C3%A3o-menor-que-estimada/#gsc.tab=0|titulo=Notícias: Censo aponta Guarulhos com população menor que estimada|data=2010|acessodata=2 de junho de 2022|website=ACE Guarulhos|publicado=Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos}}</ref>.[[Imagem:Ponte de Guarulhos.JPG|thumb|Viaduto Cidade de Guarulhos, inaugurado em 2010]]


==Século XXI==
==Século XXI==

Revisão das 01h00min de 3 de junho de 2022

Esta é a cronologia dos fatos que marcaram a história do município de Guarulhos, no Estado de São Paulo, Brasil.

Povoamento Pré-Colonial

Os primeiros indícios da presença humana no Planalto Paulista apontam para um povoamento inicial entre 11.000 a 7.000 anos antes do Presente[1][2]. Na região metropolitana de São Paulo, por sua vez, os vestígios mais antigos datam de aproximadamente 6.000 anos atrás. Encontrados em um sítio arqueológico no bairro do Morumbi (município de São Paulo), esses vestígios correspondem a uma oficina lítica, local onde grupos ameríndios obtinham matéria-prima e produziam diversas ferramentas de pedra[3]. Geralmente próximos a planícies fluviais e em áreas com alguma presença de afloramento rochoso, os assentamentos desses primeiros habitantes da atual Grande São Paulo são normalmente encontrados nas proximidades de vales de rios como o Tietê e Pinheiros[3].

Por sua vez, no bairro do Jaraguá, zona norte do município de São Paulo, há sítios arqueológicos mais recentes relacionados à grupos ameríndios ceramistas. Geralmente associados às tradições tecnológicas Itararé-Taquara e Tupiguarani, essas populações já dominavam a horticultura, cultivando milho, mandioca, abóbora e outros gêneros alimentícios domesticados[4][5]. Mais numerosos do que em períodos em que a dieta alimentar era obtida apenas por meio da caça e da coleta, esses grupos indígenas habitaram as terras paulistas por séculos.

Os relatos deixados por alguns dos colonizadores europeus indicam uma ampla presença indígena acima da Serra do Mar, sendo constantemente mencionados os Guaianases. Embora por muito tempo associados aos grupos tupis pela historiografia do século XIX, há indícios de que seu idioma era ligado ao tronco Macro-Jê[6]. A região de Guarulhos, contudo, era habitada pelos Guaramomis (ou maramomis) no século XVI, provavelmente aparentados dos Guaianases. Também eram chamados de Guarulhos em alguns documentos do período colonial, nome supostamente derivado do termo tupi “Guaru” (barrigudo). Ao contrário de grupos tupis que habitavam vales próximos, os Guarulhos não eram agricultores, vivendo da caça e da coleta[7].

Fundação do Aldeamento de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos (sécs. XVI-XVIII)

De acordo com a maior parte das fontes historiográficas, Guarulhos foi fundada na segunda metade do século XVI. Embora não seja possível precisar com segurança seu ano de fundação[8], o dia 8 de dezembro de 1560 é oficialmente considerado para definição da idade do município[9][10]. Da mesma forma, a Lei Municipal n° 2789 de 1983 reconhece oficialmente o padre Manuel de Paiva como fundador de Guarulhos[10]. Sabe-se, contudo, que o núcleo inicial foi estabelecido em uma área anteriormente habitada pelos Guaramomis, servindo inicialmente como um aldeamento jesuíta batizado de "Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos"[11][12]. Esse primeiro núcleo estaria situado no atual Centro Expandido, em uma quadra formada pelas ruas Silvestre Vasconcelos Calmon, José Esperança da Conceição, Barão de Mauá e a avenida Guarulhos. Anos depois, o aldeamento teria sido transferido para uma colina na praça Tereza Cristina, onde hoje está a Igreja Matriz. Outra corrente historiográfica situa a fundação de Guarulhos no ano de 1608, sendo batizada inicialmente como Nossa Senhora da Conceição dos Maromomi. A alteração do nome da localidade para Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos teria ocorrido somente em 1630[10].

A primeira capela do aldeamento, construída a partir da técnica de pau-a-pique, teria sido erguida pelo padre jesuíta João Álvares[13]. De acordo com o “Almanak da Província de São Paulo para o ano de 1873”, haveria registros de assentos da capela (tornada Igreja Matriz em anos posteriores) datados de 1600, o que revelaria a antiguidade do povoamento[8]. Para além da conversão religiosa dos indígenas aldeados, o aldeamento também tinha função defensiva, pois era grande o receio que os Tamoios atacassem a vila de São Paulo dos Campos de Piratininga.

Por estar localizado nas margens do rio Tietê, à leste de São Paulo, o aldeamento era considerado um ponto estratégico contra incursões vindas do Alto Tietê e Serra da Cantareira. Na mesma época que se fundava Guarulhos, nascia, também, o aldeamento de São Miguel, localizado na margem oposta do rio Tietê. Fundado com os mesmos propósitos, esse aldeamento foi posteriormente incorporado ao município de São Paulo, sendo hoje conhecido como o distrito de São Miguel Paulista[14]. Juntamente com outros aldeamentos criados pelos colonos portugueses e missionários jesuítas ao longo dos séculos XVI e XVII, Guarulhos e São Miguel formavam um “cinturão” em torno da vila de São Paulo, geralmente aproveitando locais onde já havia aldeias indígenas[15].

A descoberta e a subsequente exploração do ouro atraiu diversos colonos para as terras altas do aldeamento de Guarulhos, processo semelhante ao que ocorria no mesmo período no bairro do Jaraguá.[2] As jazidas de ouro teriam sido descobertas entre 1597 e 1598, por Afonso Sardinha, o Velho, sendo efetivamente exploradas no território do aldeamento de Nossa Senhora da Conceição a partir de 1612 por Geraldo Correia Sardinha, que para isso recebera uma carta de sesmaria às margens do Rio Baquirivu-Guaçu[16]. Essa localidade é atualmente denominada “Lavras Velhas do Geraldo”[17][18]. Essa mesma sesmaria teria servido posteriormente como referência para delimitação de outras sesmarias na década de 1630 em terras anteriormente indígenas, tendo por objetivo a exploração do ouro[17].

As sesmarias e datas de mineração, divisões de terras especificamente para a exploração do ouro durante o Brasil colonial, eram concedidas principalmente com base na existência de metais preciosos e nas condições dos requerentes para explorá-los. Apesar de pertencerem inicialmente ao aldeamento e, portanto, aos indígenas aldeados, as requisições apontavam essas terras como devolutas, ou mesmo já ocupadas pelos requerentes há muitos anos[19][20]. Assim, as atividades de mineração na região de Guarulhos foram um grande impulsionador de sua ocupação e da consequente exploração das terras altas guarulhenses.

Tentativas de introdução de africanos escravizados tenham ocorrido já no início do século XVII. É o caso de Diogo de Quadros, provedor das minas, o qual chegou a solicitar ao governador-geral e ao Conselho das Índias que permitisse a introdução de cerca de mil africanos escravizados para auxiliar nas minas de São Paulo. Embora tal pedido tenha sido negado naquele momento, revela uma das primeiras tentativas de substituição das fontes de mão-de-obra escrava na Capitania de São Vicente[14].

A mineração em Guarulhos nunca se constituiu como uma atividade isolada, contudo, sendo sempre acompanhada por culturas agrícolas (como o trigo) e outras formas de exploração econômica, todas baseadas fortemente na mão-de-obra indígena[14]. É o caso da Fazenda Bananal, inicialmente pertencentes a Amador Bueno da Veiga, adquirida por carta de sesmaria no ano de 1717. Nesse local, onde hoje há a Casa da Candinha, bem tombado enquanto patrimônio histórico de Guarulhos, a agricultura foi a principal atividade econômica durante os séculos em que a fazenda esteve em funcionamento[21]. Devido a grande importância histórica e arqueológica da área, também está registrada enquanto sítio arqueológico nos cadastros do IPHAN[22]. Outras antigas edificações rurais do período colonial ou imperial também foram registradas, como os sítios Cabuçu 01[23], InterCement 01[24] e Itaberaba 01[25].

Apesar do consenso entre colonos, jesuítas e autoridades quanto à apropriação do trabalho indígena, estes discordavam quanto aos meios e as formas. Ocorria uma verdadeira “sangria” dos aldeamentos em função das demandas por mão de obra nas plantações de trigo, algodão e milho, pelas atividades mineradoras e pelas próprias expedições de apresamento de outros indígenas, o que desorganizava Guarulhos e outros locais. Por sua vez, ao longo do século XVII, uma certa decadência atingiu praticamente todos os aldeamentos do planalto[15]. A expulsão dos jesuítas da vila de São Paulo, em 1640, também teria provocado um abandono em massa de indígenas do aldeamento de Guarulhos, muitos deles retirando-se para a região de Atibaia, com apenas alguns permanecendo no entorno da velha capela[10].

Embora não existam dados precisos acerca dos volumes alcançados pela exploração aurífera em Guarulhos, estas teriam se espalhado ao longo dos cursos d’água locais e os contrafortes das serras de Itaberaba e do Bananal, cobrindo um território considerável[26]. Esses primeiros processos de extração de ouro na Capitania de São Vicente teriam moldado o contexto econômico da vila de São Paulo de Piratininga e imediações, permitindo algum nível de acumulação e troca, estimulando ainda a expansão territorial sobre as áreas de serra imediatamente ao norte[14][27] . As lavras mais ativas estariam concentradas junto aos atuais ribeirões das Lavras e Tomé Gonçalves e dos córregos Tanque Grande e Guaraçau, além do rio Baquirivu-Guaçu[28][17]. A hidrografia privilegiada do local facilitou o estabelecimento de técnicas minerárias já empregadas pelos portugueses há séculos, sendo comum a construção de tanques e canais para lavagem dos minérios, por exemplo[29]. Vestígios materiais das atividades minerárias empreendidas no atual município de Guarulhos ainda podem ser observados na paisagem, como galerias, escavações em encostas, desvios de rios e ribeirões, obras de drenagem, paredões, montes de rejeitos e entulhos. É o caso dos sítios arqueológicos Baquirivu-Mirim, Cavas de Mineração 01[30] e Garimpo de Ouro do Ribeirão das Lavras[31]. As lavras tiveram ainda um intenso desenvolvimento no século XVIII e funcionaram seguramente até o início do século XIX[14]. Um outro provável indicativo do crescimento e espalhamento gradual da população pelo território guarulhense é a fundação de duas igrejas em meados do século XVIII: Nossa Senhora do Rosário e Santa Iphigenia (1750) e Nossa Senhora do Bonsucesso (1757)[8].

Séculos XIX e XX: Emancipação de Guarulhos

A criação de gado vacum e cavalar, assim como de suínos, permaneceu como uma atividade econômica significativa ao longo do século XIX, mesmo após o esgotamento das jazidas de ouro[32]. Engenhos de açúcar, existentes na região desde pelo menos o século XVII, também estiveram em funcionamento até o início do século XX, com produção de açúcar, álcool e aguardente provavelmente para consumo local e regional. Segundo dados de 1873, três grandes fazendas de Guarulhos dedicavam-se ao plantio de cana para fabricação de aguardente, enquanto outras duas também se dedicavam à pecuária[33]. De todo modo, a agricultura da região possivelmente sofreu com o clima úmido e frio que acarretou ferrugem ao trigo, mosaico à cana e curuquerê ao algodão[18].

Segundo o tombamento das propriedades rurais da Capitania de São Paulo de 1817, registraram-se 183 escravos na freguesia da Conceição dos Guarulhos, pertencentes a 28 lavradores das seguintes áreas: Bom Jesus, Bom Sucesso, Guavirotuba, Itaverava, Lavras, Pirucaia, São Gonçalo, São Miguel (Pimentas) e Varados[18]. Nesse período, a maior parte dos trabalhadores escravizados eram de origem africana, embora provavelmente ainda existissem indígenas em situação de escravidão nos sítios e fazendas guarulhenses, remanescentes do antigo aldeamento.

Em 2 de outubro de 1845, chega, a então Freguesia de Conceição dos Guarulhos, um memorando expedido pelo Palácio do Governo ordenando a elaboração e cumprimento de contratos de locação dos serviços prestados pelos índios. O trabalho escravo negro (de origem sudanesa, denominados jejes), como dito, era utilizado em larga escala. Com o fim da mineração do ouro enquanto atividade econômica viável, muitos negros escravizados acompanharam seus senhores na debandada que marcou a decadência do povoado[34]. Após a Lei Áurea (1888) e a necessidade de reposição de uma mão de obra antes cativa, tornou-se mais difícil o processo de retalhamento das antigas sesmarias, que, apesar das dificuldades, se manteve ininterrupto, surgindo, então, os "cercamentos" como linha divisória.

Em 1880, a Lei Provincial n° 34 de 24 de março emancipa Guarulhos de São Paulo, após permanecer como freguesia desse município desde 1685[10][35]. Na ocasião, recebeu o nome de vila da Conceição dos Guarulhos. O nome atual, sem referência à Nossa Senhora da Conceição, só foi concedido pela Lei nº 1 021, de 6 de novembro de 1906, quando também foi elevada à condição de cidade[9]. No ano em que recebeu seu nome atual, Guarulhos contava com 5 mil habitantes[10].

Praça Getúlio Vargas, uma das mais antigas de Guarulhos.

Até o início do século XX, Guarulhos tinha uma economia predominantemente rural e população considerada pequena, espalhada pelas vastas terras do município[36]. Em 30 de maio de 1901, foi publicada a súmula da produção do Município, onde encontramos registrada a produção de aguardente (trinta engenhos), de arroz (doze propriedades), de café (quatro propriedades), de feijão (duzentas propriedades), de milho (duzentas propriedades), de tabaco (uma propriedade), de carvão (dez propriedades), de vinho (duas propriedades), além da criação de gado: cavalar (trezentas cabeças), caprinos (vinte cabeças), suínos (cem cabeças), bovinos (trezentas cabeças) e cinco produtores na área de apicultura[18].

No final do século XIX, discutiu-se, na Câmara Municipal, a necessidade da região ser servida pela estrada de ferro. A justificativa recaia às riquezas dos recursos naturais da região, mais especificamente à produção de madeira e pedra, além da produção de tijolos, dado o grande número de olarias em funcionamento, sendo que toda a produção estava direcionada às crescentes edificações da capital, justificando, então, a implantação do ramal ferroviário que se efetivou somente em 1915, com a inauguração do Ramal Guapyra - Guarulhos, o trem da Cantareira. Foram cinco as estações em território guarulhense: Vila Galvão, Torres Tibagy, Gopoúva, Vila Augusta e Guarulhos, além do prolongamento até à Base Aérea em Cumbica[9].

Além disso, no início do século XX ocorreu a instalação das primeiras redes de energia elétrica em Guarulhos, realizadas pela Light & Power. Também nas primeiras décadas desse século se deram os pedidos para instalação de rede telefônica, licenças para implantação de indústrias de atividades comerciais e dos serviços de transporte de passageiros[18].

A década de 1930 foi marcada pelos atos de Intervenção Federal, Constituição da Junta Governativa de Guarulhos e pelo Movimento Constitucionalista, reflexos da Revolução de 1930 e fim da República Velha. Em 1940, foi inaugurada a Biblioteca Pública Municipal em 1941, o primeiro Centro de Saúde da cidade e, dez anos após, inaugurou-se a Santa Casa de Misericórdia de Guarulhos. Também nessa década chegaram à Guarulhos algumas indústrias dos setores elétrico, metalúrgico, plástico, alimentício, borracha, calçados, peças para automóveis, relógios e couros[34].

Outros acontecimentos marcaram a história guarulhense a partir de meados do século XX. Em 1945, a Base Aérea de São Paulo (BASP) foi transferida da capital para o bairro de Cumbica, em Guarulhos. Quarenta anos depois, em 1985, no mesmo local foi inaugurado o Aeroporto Internacional de São Paulo[9].

A expansão rodoviária característica dos anos 1950 alcançou Guarulhos, período em que as rodovias Presidente Dutra e Fernão Dias foram inauguradas. Ligada à São Paulo e ao Rio de Janeiro por vias rodoviárias, a cidade de Guarulhos seguiu crescendo enquanto polo de atração de indústrias, o que também incentivou a chegada de novos moradores, tanto estrangeiros quanto nacionais. Em 1958, foi constituída a primeira associação de rotarianos da cidade, indicativo do prestígio econômico e demográfico alcançado por Guarulhos naquele período. Em 1963, foi fundada a Associação Comercial e Industrial de Guarulhos, hoje, Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos. Consequentemente, com o contínuo crescimento demográfico, econômico e urbano de Guarulhos, a cidade superou a marca de 1 milhão de habitantes no Censo do IBGE de 2000, tornando-se um dos mais populosos municípios do estado de São Paulo[37].

Viaduto Cidade de Guarulhos, inaugurado em 2010

Século XXI

Em 10 de setembro de 2007, foi inaugurada a Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Guarulhos do Centro Paula Souza, em uma parceria do Governo do Estado de São Paulo com a Prefeitura do Município de Guarulhos, proporcionando oferta de ensino superior gratuito aos municípios. Neste mesmo ano, foi inaugurado o campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no município. Em 2010, foi inaugurado o viaduto Cidade de Guarulhos.[38]

Atualmente, a Câmara Municipal de Guarulhos conta com 34 vereadores e vereadoras.

Referências

  1. Cheliz, Pedro; Sousa, João Carlos; Mingatos, Gabriela Sartori; Okumura, Mercedes; Araújo, Astolfo (2020). «A ocupação humana antiga (11-7 mil anos atrás) do planalto meridional brasileiro: caracterização geomorfológica, geológica, paleoambiental e tecnológica de sítios arqueológicos relacionados a três distintas indústrias líticas». Universidade Federal de Pernambuco. Revista Brasileira de Geografia Física. 13 (6): 2553-2585. Consultado em 2 de junho de 2022 
  2. Santos, Fábio Grossi (2013). «Abordagem Teórica sobre o Estudo de Sítios Líticos no Interior do Estado de São Paulo, Brasil». Editora Pini. Revista Téchne (1): 39-49. Consultado em 2 de junho de 2022 
  3. a b Wichers, Camila Moraes (2010). Mosaico Cultural: Guia do Patrimônio Arqueológico do Estado de São Paulo. São Paulo: Zanettini Arqueologia. ISBN 9788563868008 
  4. Araújo, Astolfo (2007). «A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos grupos Jê no sudeste do Brasil». Sociedade de Arqueologia Brasileira. Revista de Arqueologia (20): 9-38. Consultado em 2 de junho de 2022 
  5. Afonso, Marisa; Sallum, Marianne; Lopes, Marcel (2010). «Ocupações Ceramistas Tupi e Gê em São Paulo: Espacialização e Cronologia». Sociedade de Arqueologia Brasileira. Anais do XV Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira: 8-15. Consultado em 2 de junho de 2022 
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Bibliografia

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