Luis Fernández

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Luis Fernández
Luis Fernández
Fernández em 1986.
Informações pessoais
Nome completo Luis Miguel Fernández Toledo
Data de nasc. 2 de outubro de 1959 (64 anos)
Local de nasc. Tarifa, Espanha
Nacionalidade francês / espanhol
Altura 1,78 m
Apelido El Machote
Informações profissionais
Clube atual Sem clube
Posição Treinador (Ex-volante)
Clubes de juventude
1969–1970
1970–1978
HAVE Minguettes
Saint-Priest
Clubes profissionais
Anos Clubes Jogos (golos)
1978–1986
1986–1989
1989–1993
Paris Saint-Germain
Racing de Paris
Cannes
273 (39)
59 (3)
93 (5)
Seleção nacional
1982–1992 França 60 (6)
Times/clubes que treinou
1992–1994
1994–1996
1996–2000
2000–2003
2003–2004
2005
2005–2006
2006–2007
2007–2009
2010–2011
2015–2016
Cannes
Paris Saint-Germain
Athletic Bilbao
Paris Saint-Germain
Espanyol
Al-Rayyan
Beitar Jerusalém
Real Betis
Stade de Reims
Israel
Guiné
54
94
140
111
27

21
24
21
16
9

Luis Miguel Fernández Toledo (Tarifa, 2 de outubro de 1959) é um ex-jogador e atualmente técnico de futebol espanhol naturalizado francês, tendo representado a Seleção Francesa na Copa do Mundo FIFA de 1986.

Carreira de jogador[editar | editar código-fonte]

Ainda na infância, Fernández mudou-se com a mãe a Minguettes, na periferia humilde de Lyon,[1] quando ainda tinha seis anos incompletos,[2] após o falecimento do pai. Esteve próximo de se envolver com a marginalidade local, mas pôde canalizar-se no clube de Minguettes, cujo presidente, ciente do talento do espanhol, enviou cartas a todos os clubes da primeira e segunda divisão francesas solicitando testes ao jovem. Apenas o Paris Saint-Germain respondeu, ainda que inicialmente inscrevesse Fernández, então com 18 anos, na equipe juvenil utilizada na terceira divisão.[1]

Naquele contexto, o PSG ainda era uma equipe modesta, chegando a seus primeiros títulos expressivos a partir da Copa da França de 1982. Um bicampeonato seguido nesse torneio veio em 1983, em final considerada a melhor da história dessa competição e famosa também por ser mencionada no cultuado filme Le fabuleux destin d'Amélie Poulain. Fernández era visto como o motor do elenco parisiense naquelas duas conquistas.[3] Inicialmente, porém, era avaliado também como um jogador bruto, com fama de lesionar rivais, agravada quando Roger Ricort, do Monaco, teve o joelho seriamente avariado contra o espanhol.[1]

Gradualmente, Fernández pôde agregar "à sua ferocidade combativa mais jogo, mais panorama, mais sentido tático para fazer-se patrão do meio-campo", na descrição que a El Gráfico fez dele já em meio à Copa do Mundo FIFA de 1986. A matéria também continha depoimento do técnico argentino Carlos Bilardo ("é terrível. Briga com os adversários, com o árbitro, arma a equipe, defende, ataca, revida quando os adversários batem em um companheiro. Agora sim vejo a Seleção Francesa como completa para jogar e também lutar") e constatava que a assimilação de Fernández entre os franceses fazia seu sobrenome ser pronunciado conforme a língua francesa, como "Fernandê".[1]

A primeira convocação para a França veio em 1982, já após a Copa do Mundo daquele ano, e foi vista como reação ao traumático fracasso francês nas semifinais contra a Alemanha Ocidental, avaliando-se que o meio-campo com Michel Platini, Alain Giresse e Jean Tigana era refinado, mas precisava também de um jogador "rude" como complemento.[1] Fernández se tornaria peça-chave naquele setor, desenvolvendo grande entrosamento com aquele trio.[4]

Uma vez reforçado, o meio-campo apelidado de "Três Mosqueteiros" (que, assim como no conto de Alexandre Dumas pai, eram quatro) levou a França inicialmente à conquista da Eurocopa de 1984, então avaliada como momento de maturidade total de Fernández.[1] Ele enfrentou na decisão da Euro justamente a Espanha natal, situação que foi pessoalmente complicada a si; em 2021, ele relembraria assim aquele momento ao jornal espanhol El País:[2]

O auge de Fernández veio em 1986, inicialmente como um dos líderes do primeiro titulo do PSG no campeonato francês, ao fim da temporada 1985-86. Antes mesmo de ir à Copa do Mundo FIFA de 1986, terminou adquirido pela equipe vizinha do Racing Paris, que em paralelo havia conquistado a segunda divisão e, sob investimentos da Matra, buscava se consolidar como força parisiense alternativa,[5] já tendo assegurado antes do Mundial as contratações também de Enzo Francescoli, Maxime Bossis e Pierre Littbarski. Naquela negociação, Fernández ficou como o atleta mais bem pago da liga francesa.[1]

Fernández, na sequência, foi um dos destaques do terceiro lugar da França na Copa de 1986. A França eliminou nos pênaltis a Seleção Brasileira nas quartas-de-final, em partida em que ele "brigou como um leão" na descrição da El Gráfico ao longo dos 120 minutos antes de converter o pênalti decisivo que classificou os franceses às semifinais.[1] Contudo, os Bleus novamente terminaram elimiandos pelos alemães-ocidentais naquela fase, tal como em 1982.

Fernández em 2009.

O projeto do renomeado "Racing Matra" nunca prosperou. Na primeira temporada, a equipe brigou contra o rebaixamento, conseguindo terminar em 13º em boa parte devido aos 14 gols de Francescoli, artilheiro do elenco e com o dobro de gols do vice.[6] Para a temporada de 1987/88, o técnico português Artur Jorge, treinador do Porto que acabara de vencer surpreendentemente a Copa dos Campeões da UEFA, foi trazido ao time.[7] O Matra vinha conseguindo lutar pelas primeiras posições, alternando-se entre o terceiro e o segundo lugares a partir da segunda metade do certame. Porém, um incrível jejum de vitórias nas doze rodadas finais deixou o time apenas na sétima colocação, onze pontos atrás do campeão Monaco, e fora de competições europeias.[8]

Ao fim do campeonato de 1988/89, o Matra se livrou por muito pouco do descenso, terminando na última colocação acima dos três rebaixados graças ao critério do melhor saldo de gols.[9] Insatisfeita com os resultados, a patrocinadora Matra acabou por deixar o Racing em 1989, gerando um desmanche do elenco, como nas saídas de Francescoli e Fernández,[7][10] transferido ao Cannes. Apesar do insucesso no Racing, o espanhol seguia jogador da seleção francesa, mas os Bleus não se classificaram para a Eurocopa de 1988 e para a Copa de 1990.

A França voltou a participar de um torneio expressivo quando classificou-se para Eurocopa de 1992. Fernández, inclusive, marcou um dos gols em vitória dentro de Sevilha em novo duelo contra a Espanha natal, adversário contra a qual ele nunca perdeu: foram cinco vitórias e um empate em seis duelos, que incluíram ainda outro gol, em amistoso em 1988 - ao todo, dois de seus seis gols pela seleção francesa foram justamente sobre os espanhóis.[2] Na Euro, os franceses caíram na fase de grupos e Fernández encerrou a carreira de jogador.

Carreira de treinador[editar | editar código-fonte]

Tornou-se treinador tão logo parou de jogar, construindo primeiramente no Cannes reputação de técnico apreciador de trabalho com jovens e que buscava um estilo ofensivo de jogo. Ainda nesse clube, foi escolhido o melhor técnico do futebol francês na temporada 1993-94, fatores que lhe credenciaram a ser recontratado pelo Paris Saint-Germain, onde já havia brilhado como jogador. Sob Fernández, o PSG foi duas vezes seguidas semifinalista de torneios europeus, conseguindo também seu primeiro e único título continental, na Recopa Europeia de 1995-96. Contudo, a ambição maior dos investidores do Canal+ era a Ligue 1 e, sem que Fernández a conseguisse, acabou não permanecendo após uma segunda temporada.[11]

Fernández seguiu a nova carreira regressando à Espanha natal, contratado pelo Athletic Bilbao, trabalhando de 1996 a 2000 no clube basco.[12] O período compreendeu a temporada do centenário do clube, que empatou em 1-1 com a própria seleção brasileira em amistoso festivo realizado em 1998. Na temporada 1996-97, o Athletic derrotou tanto Barcelona como o Real Madrid em momentos em que esses clubes lideravam La Liga, e nas seguintes costumou disputar a liderança com a dupla principal.[13]

Novamente no PSG, Fernández teve grande participação na contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo clube, vindo a empregar um sistema tático que favorecesse a liberdade do meio-campista.[14] Eventualmente, contudo, acabaria desentendendo-se com a estrela por desaprovar a forte boemia do brasileiro.[15] Em 2003, teve um novo regresso à Espanha, para substituir Javier Clemente como treinador do Espanyol, clube que havia brigado contra o rebaixamento em La Liga de 2002-03. Fernández, contudo, não conseguiu evitar nova temporada sem tranquilidades à equipe catalã, que novamente precisou lutar contra o descenso na de 2003-04, ao passo que na seguinte, já sem o hispano-francês, os pericos puderam subir a uma quinta colocação.[16]

Entre 2010 e 2011, esteve como comandante da seleção de Israel.[17] Seu último trabalho foi na seleção da Guiné,[18] entre 2015 e 2016.

Títulos como jogador[editar | editar código-fonte]

Paris Saint-Germain[editar | editar código-fonte]

Seleção Francesa[editar | editar código-fonte]

Títulos como treinador[editar | editar código-fonte]

Paris Saint-Germain[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h Juvenal (24 de junho de 1986). «Luis Fernandez - El gallego que hizo gritar a toda Francia». El Gráfico n. 3481, pp. 80-82. Consultado em 5 de janeiro de 2023 
  2. a b c d ORTEGO, Enrique (10 de outubro de 2021). «Luis Fernández: "Los españoles me dijeron de todo en la final del 84"». El País. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  3. STEIN, Leandro (31 de julho de 2022). «A história do épico PSG 3×2 Nantes na final da Copa da França que aparece até em "Amélie Poulain"». Trivela. Consultado em 10 de agosto de 2023 
  4. «Archived copy». Consultado em 12 de abril de 2009. Arquivado do original em 25 de outubro de 2008 
  5. COELHO, Paulo Vinícius (setembro de 2011). A maldição dos novos ricos. Revista ESPN n. 23. Spring Editora, p. 19
  6. «Saison 1986-1987». Allez Racing. Consultado em 16 de março de 2011 
  7. a b «Des années 70 à aujourd'hui». Allez Racing. Consultado em 16 de março de 2011 
  8. «Saison 1987-1988». Allez Racing. Consultado em 16 de março de 2011 
  9. «Saison 1988-1989». Allez Racing. Consultado em 16 de março de 2011 
  10. LOBO, Luís Freitas (12 de abril de 2000). «RACING CLUB PARIS: O FUTEBOL NA CIDADE DAS LUZES». Planeta do Futebol. Consultado em 1 de março de 2011 
  11. DO VALLE, Emmanuel (18 de agosto de 2020). «As cinco temporadas consecutivas em que o PSG chegou ao menos às semifinais europeias, de 1993 a 1997». Trivela. Consultado em 10 de agosto de 2023 
  12. «Coaches». Athletic Club. Consultado em 10 de agosto de 2023 
  13. BRANDÃO, Caio (5 de fevereiro de 2022). «Nos 50 anos de Giovanni, relembre como o Messias brilhou no Barcelona». Trivela. Consultado em 10 de agosto de 2023 
  14. DA ROCHA, Jáder (25 set 2001). Alô Rio Grande, aquele abraço. Placar n. 1198. São Paulo: Editora Abril, pp. 32-35
  15. STEIN, Leandro (21 de janeiro de 2015). «Em dia de PSG x Bordeaux, relembre o jogo em que Ronaldinho foi aplaudido de pé em Paris». Trivela. Consultado em 10 de agosto de 2023 
  16. MARTÍNEZ DÍAZ, Juan Pedro & ENSENYAT, Xavier Martín (2018). Crecimiento deportivo y social. Corazón Perico. Barcelona: Fundació del RCD Espanyol de Barcelona, p. 151
  17. Boker, Moshe (21 de março de 2010). «France's Luis Fernandez to Coach Israel's National Soccer Team». Haaretz. Consultado em 7 de maio de 2020 
  18. «Guinea appoint Luis Fernandez as new coach». BBC Sport. 29 de abril de 2015. Consultado em 7 de maio de 2020