Martim Afonso de Sousa

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Martim Afonso de Sousa
Martim Afonso de Sousa
Martim Afonso de Sousa em Diário da Navegação da Armada que foi à terra do Brasil em 1530 (1839)
1º. Donatário da Capitania de São Vicente
Período 1533-1564
Governador da Índia
Período 1542-1545
Antecessor(a) Estêvão da Gama
Sucessor(a) João de Castro
Dados pessoais
Nascimento C.1490
Vila Viçosa
Morte 21 de julho de 1564
Lisboa
Progenitores Mãe: D. Brites de Albuquerque
Pai: Lopo de Sousa, senhor de Prado

Martim Afonso de Sousa (Vila Viçosa, c.1490/1500Lisboa, 21 de julho de 1564)[1][2] foi um nobre e militar português. Jaz em São Francisco de Lisboa.

Linhagem

Martim Afonso de Sousa descendia dos Sousa Chichorro, cujo varão da geração inicial foi Martim Afonso Chichorro, filho bastardo de D. Afonso III com Dona Dinis, elevado a altas posições sociais, políticas e econômicas, pela influência do pai. Martim Afonso Chichorro teve um filho homônimo com Dona Inês Lourenço, cujo neto, Martim Afonso de Sousa teria um filho também chamado Martim Afonso de Sousa. Este último se casaria com Dona Violante Lopes de Távora, cujo filho Pero de Sousa se casaria com Dona Maria Pinheiro. Deste casamento nasceria Lopo de Sousa, Senhor de Prado, Alcaide-mor de Bragança e Outeiro e Duque de Bragança, que se casaria com Dona Brites de Albuquerque. Deste casamento nasceria Martim Afonso de Sousa, Senhor do Prado e Alcoentre, e capitão-mor da Armada que veio ao Brasil em 1530.[nota 1] Martim Afonso teve quatro irmãos: D. Catarina de Albuquerque, D. Isabel de Albuquerque, João Rodrigues de Sousa (capitão da Armada do Estado Português da Índia) e Pero Lopes de Sousa (capitão da Armada comandada pelo irmão, que veio ao Brasil em 1530).[3]p.411- VII

Vida e carreira

Estudou Matemática, Cosmografia e Navegação. Deixou o serviço do Duque de Bragança para servir El-Rei D. João II que era seu amigo de infância: «como era de um espírito elevado e queria esfera onde se dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria- mor de Bragança e outras mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe D. João, filho do rei D. Manuel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca; e voltando a Portugal, D. João III, que já então reinava, o recebeu com muita estimação e honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas partes, porque era valoroso, dotado de entendimento e talento grande».[1]

Acompanhou a rainha viúva D. Leonor a Castela, onde se casou com D. Ana Pimentel de ilustre família espanhola por volta de junho de 1523.[3]p.109 Aí lutou sob Carlos V contra os franceses.

Iniciou sua carreira de homem de mar e guerra ao serviço de Portugal em 1531 na armada que o rei determinou mandar ao Brasil, nomeado desde fins 1530, por ser primo-irmão de D. Antônio de Ataíde, membro do Conselho Real, e por ter a amizade e confiança de El-Rei.

Martim Afonso de Sousa

Havia vivido quatro anos na Espanha, onde se casou com D. Ana Pimentel, dama da Rainha Católica, irmã de D. Bernardino Pimentel, 1º Marquês de Tavara, filha de D. Pedro Pimentel, senhor de Tavara, comendador de Castro-Torense na Ordem de Santiago, o qual morreu em 6 de fevereiro de 1504, e irmã de D. Rodrigo Afonso Pimentel, 3º conde de Benavente. O casamento foi feito por D.Pedro, que dotou a filha, com assistência do irmão, o conde de Benavente, sendo o contrato de casamento firmado em Tordesilhas.[carece de fontes?]

Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, foi procuradora relativamente aos negócios do Brasil, ao partir aquele para a Índia. Natural da Espanha, era dama de companhia da Rainha D. Catarina. Foi ela quem, em 1534, providenciou para que se introduzisse o primeiro ”gado vacum” na Capitania de São Vicente e quem, em 1544, revogou a ordem do esposo, que proibia a entrada de europeus no campo de Piratininga e, assim, permitiu a expansão portuguesa para os Campos de S. Paulo.[4].

A historiografia tradicional brasileira encara sua expedição como a primeira expedição colonizadora. Levava Regimento para expulsar os franceses da costa brasileira, colocar padrões de posse desde o Rio Maranhão até ao Rio da Prata, o qual não alcançou em função de ter naufragado antes, e dividir a costa brasilera em capitanias medidas em léguas de costa que seguidamente El-Rei concederia a donatários.

Estava autorizado a escolhe para si mesmo cem léguas de costa da melhor terra e outras cinquenta para seu irmão mais novo Pero Lopes de Sousa.

Fundou em 22 de Janeiro de 1532 a primeira vila do Brasil, batizando-a de Vila de São Vicente, uma homenagem a São Vicente Mártir, por ser o dia consagrado a este santo, confirmando o nome dado por Gaspar de Lemos trinta anos antes, quando chegou àquela ilha, coincidentemente, em 22 de janeiro de 1502.

Graças às medidas tomadas por Martim Afonso de Sousa, São Vicente tornou-se a "mãe das vilas brasileiras" (primeira vila do Brasil) e "berço da democracia americana", visto que, no da 22 de agosto de 1532, elegeu a primeira câmara dos vereadores, sendo assim a primeira eleição popular realizada no continente americano.

A viagem e o governo

Martim Afonso de Sousa por Benedito Calixto[5]

Partiu de Lisboa ao dia três de dezembro de 1530 com quatro naus, tendo como imediato o irmão mais novo Pero Lopes de Sousa e transportando cerca de quatrocentas pessoas, como escreve Pedro Taques:

"De Lisboa saiu o governador Martim Afonso de Sousa com armada de navios, gente, armas, apetrechos de guerra e nobres povoadores, tudo à sua custa: com ele veio também seu irmão Pedro Lopes de Sousa, a quem o mesmo rei tinha concedido oitenta léguas de costa para fundar sua capitania, e faleceu afogado no mar. Trouxe o dito Martim Afonso de Sousa além da muita nobreza, alguns fidalgos da casa real, como foram Luís de Góis e sua mulher D. Catarina de Andrade e Aguilar, seus irmãos Pedro de Góis, que depois foi capitão-mor de armada pelos anos de 1558, e Gabriel de Góis; Domingos Leitão, casado com D. Cecília de Góis, filha do dito Luís de Góis; Jorge Pires, cavaleiro fidalgo; Rui Pinto, cavaleiro fidalgo casado com D. Ana Pires Micel, Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, e todos eram irmãos de D. Isabel Pinto, mulher de Nicolau de Azevedo, cavaleiro fidalgo e senhor da quinta do Rameçal em Penaguião, e filhos de Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, e de sua mulher Marta Teixeira, que ambos floresciam pelos anos de 1550, e quando em 18 de junho do dito ano venderam por escritura pública em Lisboa aos alemães Erasmo Esquert e Julião Visnat as terras que de seu filho Rui Pinto haviam herdado na vila de S. Vicente: tudo o referido se vê no liv. 1º dos registros das sesmarias, tít. 1555, já referido, págs. 42 e seguintes. Outros muitos homens trouxe desta qualidade com o mesmo foro e também com o foro de moços da Câmara, e todos ficaram povoando a vila de S. Vicente, como se vê melhor no mesmo livro 1º do registro das sesmarias per totum[6].

Depois de percorrer todo o litoral até a foz do rio da Prata, onde sobreviveu a um naufrágio, como desdobramento de sua missão, retornou à região de São Vicente em vinte e um de janeiro de 1532 e, com ajuda de João Ramalho e Antônio Rodrigues, moradores da região que haviam feito amizade com os caciques Tibiriçá e Caiubi, fundou a primeira vila nos moldes portugueses no Brasil: a vila de São Vicente. Na região do planalto (o mesmo onde hoje se ergue a cidade de São Paulo) e ainda graças a João Ramalho, estabeleceu em Piratininga uma pequena aldeia de duração efêmera. Em São Vicente, iniciou a cultura da cana-de-açúcar e ordenou a instalação do engenho dos Erasmos.

Combateu corsários franceses no litoral e foi agraciado pela coroa portuguesa, sob o reinado de D. João III, como capitão-donatário de dois lotes de terras no Brasil: os dois lotes da capitania de São Vicente. Desde outubro de 1532, recebera comunicação do rei de que o imenso território seria dividido em extensas faixas de terras: as capitanias hereditárias. Na ocasião, foram-lhe doadas cem léguas na costa e recebeu autorização de retornar a Lisboa.

Sua expedição trouxe para o Brasil, como ferreiro contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colônia, o mestre Bartolomeu Fernandes, também conhecido como Bartolomeu Gonçalves e Bartolomeu Carrasco. Terminado o contrato, mestre Bartolomeu fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do rio Pinheiros, na vila de Santo Amaro, a primeira forja no Brasil para produção de aço - fato mencionado pelo padre José de Anchieta, em 1554. Com quatro operários conseguiu-se produzir e forjar cem quilogramas de ferro em seis ou sete horas, consumindo quatrocentos e cinquenta quilogramas de carvão vegetal.

A partida

Nomeado capitão-mor do Mar das Índias (1533), foi encarregado de proteger as possessões de Portugal no Oriente. Defendeu a feitoria de Diu contra mouros e hindus, derrotou o rajá de Calecute e combateu os corsários que saqueavam as embarcações portuguesas na região. Vitorioso, foi nomeado por D. João III (1542) vice-rei das Índias.

Há controvérsia quanto ao fim de sua carreira. Alguns historiadores afirmam que ele retornou a Portugal em 1545 ou 1546, tornando-se um dos membros do Conselho de Estado. Outros sustentam que foi chamado de volta sob a acusação de desvio de dinheiro da Coroa e enriquecimento ilícito, mantendo-se afastado da vida pública até morrer.

Cartas recebidas

Na carta de 20 de novembro de 1530 D. João III, rei de Portugal, confere-lhe jurisdição sobre os tripulantes da armada e sobre todos os habitantes da Colônia:

Retorno ao Reino

Já em 1534 se encontrava em Portugal. D. João III mandou-o servir na Índia com o posto de Capitão-Mor do mar Índico. Embarcou na Armada de cinco naus, que governava.

Na Índia

Chegando à Índia, diz a «História Genealógica da Casa Real Portuguesa» volume XIV página 241: «o Governador Nuno da Cunha refletiu que el Rei em Martim Afonso de Sousa lhe mandava não só o Capitão mor do mar, mas companheiro, e sucessor no Governo. No fim deste ano, o Governador o meteu de posse, mandando-o sobre a praça de Damão, situada do Reino de Cambaia, com 40 velas, e 500 portugueses, que rendeu, sendo mortos quase todos os inimigos, e a Fortaleza foi arrasada. O rei de Cambaia, temendo maiores perdas, querendo na amizade dos nossos evitá-la, pediu pazes ao Governador do Estado Nuno da Cunha, que foram juradas solenemente com a condição de dar a El Rei de Portugal para sempre Baçaim». Foram duras condições de direitos a pagar, que se vieram a moderar quando se concedeu levantar-se a Fortaleza de Diu, conseguida por negociações por Martim Afonso de Sousa quando no ano de 1535 se achava em Chaul.

Em 1536 Martim Afonso foi mandado à costa do Malabar «e destruiu e assolou todos os lugares marítimos do Reino do Samorim, que estava com seus aliados todos os Príncipes de Repelim, que destruiu. Estas e outras empresas lhe conseguiram o respeito e temor na Ásia e voltando para o Reino, sucedeu depois a morte do Vice-Rei D. Garcia de Noronha, que foi a 3 de abril de 1540; e aberta a via de sucessão, se achou nomeado Martim Afonso de Sousa; e como havia voltado para o Reino, sucedeu D. Estêvão da Gama no governo, que os seus parentes quiseram dilatar; porém o conde da Castanheira, primo de Martim Afonso, o fez nomear para Governador da Índia, para onde partiu a 7 de abril de 1541 com quatro naus, levando consigo a São Francisco Xavier; (…) entrou em Goa a 6 de maio de 1542. (…) Em 1545 lhe sucedeu D. João de Castro.

Volta ao Reino

Foi Senhor de Alcoentre, que comprou ao Marquês de Vila Real e Alcaide-mor de Rio-Maior. Instituiu um morgado, foi donatário das capitanias de São Vicente e do Rio de Janeiro, Comendador de Mascarenhas na Ordem de Cristo e Fidalgo do Conselho de El-Rei D. João III, No final da vida recuperou o Senhorio do Prado que havia vendido quando jovem.

Casamento e descendência

Do casamento, Martim Afonso de Sousa e Ana Pimentel deixaram numerosos filhos:

  1. Pedro ou Pero Lopes de Sousa, senhor de Alcoentre e Alcaide-mor de Rio Maior.
  2. Lopo Rodrigues de Sousa, morto ao acompanhar o pai à Índia.
  3. Rodrigo Afonso de Sousa que entrou na Ordem de S. Domingos e professou como Frei António de Sousa. Foi eleito Prior de S. Domingos em Lisboa, Provincial no ano de 1550, Mestre da Ordem e pregador do rei D. Filipe II. Em 1580 passou a Roma, ao Capítulo Geral da Ordem. O papa Clemente VIII o nomeou Vigário Geral de toda a Ordem dos Pregadores em 1594. Foi nomeado Bispo de Viseu em 1595, tendo governado com prudência. Morreu em maio de 1597.
  4. Gonçalo Rodrigues de Sousa, morto sem sucessão.
  5. D. Inês Pimentel, casada com D. António de Castro, 4.º Conde de Monsanto.
  6. D. Brites Pimentel, que morreu estando comprometida com D. Luís de Ataíde, mais tarde 3.º conde de Atouguia e Vice-Rei na Índia.

Fora do casamento teve Martim Afonso de Sousa :

  1. Tristão de Sousa, que passou a Índia e foi Capitão de Maluco.
  2. Isabel Lopes de Sousa[7], que casou em São Vicente com Estêvão Gomes da Costa. Este Estêvão Gomes da Costa era natural de Barcelos e passou ao Brasil em 1531 com a expedição de Martim Afonso de Sousa.
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Referências

  1. a b Pero Lopes de Sousa (1839). Diario da navegação da armada que foi á terra do Brasil em 1530 sob a Capitania-Mor de Martin Affonso de Sousa. Lisboa: [s.n.] 
  2. «Martim Afonso de Sousa». Infopédia 
  3. a b Alexandra Maria Pinheiro Pelúcia (2007 (Lisboa)). «Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem» (PDF). Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Cópia arquivada (PDF) em 14 de abril de 2015  Verifique data em: |ano= (ajuda)
  4. Antonio Barreto do Amaral, DICIONÁRIO DE HISTÓRIA DE SÃO PAULO
  5. Telas de Benedito Calixto
  6. Taques, Pedro. História da Capitania de São Vicente. Brasília: Edições do Senado Federal, 2004. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/sf000043.pdf, acessado em 24 de outubro de 2011.
  7. Pedro Taques/Luis Gonzaga da Silva Leme, GENEALOGIA PAULISTANA, Tit. Godoys, cap.4°, Vol. VI, pag. 112.

Notas

  1. Na linhagem, desde o varão da primeira geração, Martim Afonso Chichorro, houve três pessoas chamadas "Martim Afonso de Sousa"

Ligações Externas

Ver também

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Precedido por
não houve
Donatário da Capitania de São Vicente
15331564
Sucedido por
Pero Lopes de Sousa
Precedido por
Estêvão da Gama
Governador da Índia Portuguesa
15421545
Sucedido por
João de Castro
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