Alheira

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 Nota: Se procura a freguesia portuguesa, veja Alheira (Barcelos).
Alheira
Alheira
Alheiras numa feira em Mirandela
Categoria Enchido
País Portugal Portugal
Região Mirandela
Criador(es) Judeus portugueses (cristãos-novos)
Criação Século XV
Ingrediente(s)
principal(is)
Carne de aves, pão, azeite, alho, colorau
Receitas: Alheira   Multimédia: Alheira

A alheira é um enchido típico da culinária portuguesa cujos principais ingredientes são carne de aves, pão, azeite, banha, alho e colorau.

História[editar | editar código-fonte]

Segundo a tradição, este enchido terá sido criado por cristão-novos que, em segredo, continuavam a guardar costumes da sua renegada religião judaica, a fim de dar a entender a toda a sociedade que eram cristãos assumidos e bem integrados. Como o judaísmo proíbe o consumo da carne de porco, alguns dos supostamente recém-convertidos teriam inventado um chouriço onde discretamente a carne de ave substituía a carne de porco, tradicional entre os cristãos. Desta forma, nas primeiras alheiras foram usadas várias carnes alternativas ao porco, tais como peru, galinha e outras aves.

Esta suposta ligação com os cristãos-novos talvez não passe de uma ideia romântica popular, sendo que não há factos concludentes que a suportem. Parece mais certo que o seu aparecimento esteja ligado ao próprio ciclo de produção de fumeiros caseiros, ou simplesmente à necessidade de conservação das carnes dos diversos animais criados e para consumo próprio.

Na região de origem a norte de Portugal (Trás-os-Montes) a alheira é consumida grelhada, ou assada em lume brando, acompanhada por batata cozida com um fio de azeite, e legumes da época variados[1]. Mais a sul o mais natural é encontrar os menus com a alheira frita, batatas fritas, ovo estrelado e saladas de alface e tomate[2]. Por vezes, é também acompanhada por grelos de couve ou de nabiça. É uma presença habitual nas ementas dos restaurantes de todo o país.

A mais famosa das alheiras é a oriunda de Mirandela, na região de Trás-os-Montes, frequentemente considerada a de melhor qualidade, tendo sido nomeada[3] uma das 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal.

Também há produção de alheiras, de grande qualidade, na raia norte (Vinhais), na raia Mirandesa e na zona de Montalegre, sendo as primeiras e as segundas algo distintas quanto ao sabor e quantidade de fumeiro que levam.

Por tradição, os fumeiros da raia norte levam mais fumo e mais vinho e alho do que os fumeiros da raia mirandesa, mais suaves e menos temperados.

Várias alheiras (à direita)

Atualmente a produção de alheiras é um negócio maioritariamente Industrial, mantendo-se, no entanto, a elevada qualidade no processo de produção. Quem quiser provar alheiras mais próximas do seu estado "original" e da sua essência, terá de recorrer à produção artesanal, designadamente nas aldeias do concelho de Mirandela. As alheiras extrapolam atualmente o território transmontano e produzem-se em muito mais regiões do país, ainda que sem a qualidade do local de origem.

Alheira de Mirandela (IG)[editar | editar código-fonte]

Alheira de Mirandela frita

Desde 1996 que este enchido tem proteção de Especialidade Tradicional Garantida (ETG).[4][5]

O novo estatuto foi autorizado pela Comissão Europeia e confirmado pelo Governo português no despacho do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Gomes da Silva, publicado a 3 de julho 2013 em Diário da República.[4][5]

A partir de Julho de 2013, a Alheira de Mirandela só pode ser produzida no concelho de origem, uma ambição antiga dos produtores locais que se concretiza com a atribuição de Indicação Geográfica Protegida ao enchido tradicional.[4][5]

No entanto a atribuição de IGP não foi registada ao nível da União Europeia, tendo o seu processo sido apresentado a 10 de março de 2011. Por este motivo da rotulagem dos produtos apenas pode constar a menção "Alheira de Mirandela IG".[6][7]

A Comissão Europeia classificou no dia 2 de Março de 2016 a Alheira de Mirandela como um produto de indicação geográfica protegida (IGP), considerando que se distingue de outros enchidos da mesma categoria pelo seu aroma e paladar e forma de preparação.[8]

A Alheira de Mirandela foi reconhecida como uma das 7 Maravilhas de Portugal - Gastronomia Portuguesa na categoria de Entrada, em setembro de 2011[9].

Área geográfica

Para além da área circunscrita de nascimento, cria, recria, abate e desmancha dos porcos Bísaros e cruzados usados na produção da Alheira de Mirandela, a área geográfica de transformação e acondicionamento é mais limitada e circunscrita unicamente ao concelho de Mirandela.[6]

Alheira de Barroso-Montalegre (IGP)[editar | editar código-fonte]

Desde 2007 que a "Alheira de Barroso-Montalegre" está registada como IGP (Indicação Geográfica Protegida) na União Europeia. O seu processo tinha sido apresentado em 2002.[10]

Área geográfica

A área geográfica de transformação e acondicionamento fica delimitada ao concelho de Montalegre, alargando-se a área geográfica de produção da carne e da gordura aos concelhos de Boticas, Chaves e Montalegre, todos do distrito de Vila Real.[11]

Alheira de Vinhais (IGP)[editar | editar código-fonte]

Desde 2008 que a "Alheira de Vinhais" está registada como IGP (Indicação Geográfica Protegida) na União Europeia. O seu processo tinha sido apresentado em 2005.[12]

Área geográfica

Para além da área circunscrita de nascimento, cria, recria, abate e desmancha dos porcos Bísaros e cruzados usados na produção da Alheira de Vinhais, a área geográfica de transformação é mais limitada e está circunscrita aos concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro e Vinhais, do distrito de Bragança.[13]

Casos de botulismo[editar | editar código-fonte]

Em Setembro de 2015 foram identificados cinco casos de botulismo nos produtos da empresa Origem Transmontana, que foram retirados do mercado. Esta polémica provocou reduções na ordem dos 70% nas encomendas de Alheira de Mirandela, embora aquela empresa nada tivesse a ver com o concelho de Mirandela [14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Alheira com Grelos» 
  2. «Alheira de Mirandela Frita» 
  3. «7 Maravilhas da Gastronomia». 7 Maravilhas de Portugal. Consultado em 28 de fevereiro de 2021 
  4. a b c Agência Lusa. «Produtores locais ganharam o exclusivo da Alheira de Mirandela». Jornal i. Consultado em 6 de março de 2014 
  5. a b c Agência Lusa. «A vitória da Alheira de Mirandela». Jornal Público. Consultado em 6 de março de 2014 
  6. a b «Despacho n.º 9012/2013 Diário da República, 2.ª série — N.º 131 — 10 de julho de 2013» (PDF)  no Diário da República Electrónico. Acesso 2014-03-06
  7. «Alheira de Mirandela». Base de Dados DOOR da União Europeia. Consultado em 6 de março de 2014 
  8. «Alheira de Mirandela com indicação geográfica protegida». www.cmjornal.pt. Consultado em 28 de fevereiro de 2021 
  9. Fugas Público (10 de Setembro de 2011). «E as 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa são...». Consultado em 24 de Novembro de 2016 
  10. «Alheira de Barroso-Montalegre». Base de Dados DOORda União Europeia. Consultado em 6 de março de 2014 
  11. «Regulamento (CEE) n.º 2081/92 do Conselho "Alheira de Barroso-Montalegre"». Jornal Oficial da União Europeia. 8 de fevereiro de 2006. Consultado em 6 de março de 2014 
  12. «Alheira de Vinhais». Base de Dados DOOR da União Europeia. Consultado em 6 de março de 2014 
  13. «Regulamento (CE) n.º 510/2006 do Conselho "Alheira de Vinhais"». Jornal Oficial da União Europeia. 9 de outubro de 2007. Consultado em 6 de março de 2014 
  14. Gazeta Rural n.º 258 (31 de outubro de 2015). pág. 22.