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Dialeto gaúcho: diferenças entre revisões

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* talagaço = golpe
* talagaço = golpe
* taura = o mesmo que macanudo
* taura = o mesmo que macanudo
* tchê = pessoa, "cara"
* tercear ferro = lutar com adagas, facões ou facas grandes
* tercear ferro = lutar com adagas, facões ou facas grandes
* terneiro = bezerro
* terneiro = bezerro

Revisão das 13h02min de 27 de novembro de 2013

O dialeto gaúcho (também conhecido como "dialeto guasca") é um dialeto do português falado no Rio Grande do Sul, e em parte do Paraná e de Santa Catarina. Fortemente influenciado pelo espanhol, por força da colonização espanhola, e com influência mais reservada do guarani e de outras línguas indígenas, possui diferenças léxicas e semânticas muito numerosas em relação ao português padrão - o que causa, às vezes, dificuldade de compreensão do diálogo informal entre dois gaúchos por parte de pessoas de outras regiões brasileiras, muito embora eles se façam entender perfeitamente quando falam com brasileiros de outras regiões. Na fronteira com o Uruguai e Argentina a influência castelhana se acentua, enquanto que regiões colonizadas por alemães e italianos mantém as respectivas influências. Algumas palavras de origem africana e até mesmo da língua inca também podem ser encontradas. Foi publicado um dicionário "gaúcho-brasileiro" pelo filólogo Batista Bossle, listando as expressões regionais e seus equivalentes na norma culta.

Fonologia

A fonologia é bastante próxima do espanhol rioplatense, sendo algumas de suas características o ritmo silábico de fala, a ausência de vocalização do "l" em "u" no final de sílabas, e a menor importância das vogais nasais, praticamente restrita à vogal "ã" e aos ditongos "ão" e "õe". Gramaticalmente, uma das características mais notáveis é o uso do pronome "tu" em vez de "você" (diferente do usado em São Paulo), mas com o verbo na terceira pessoa ("tu ama", "tu vende", "tu parte") porém não é raro ouvir a conjugação do "tu" correta. E no interior do Rio Grande do Sul, outra característica é a ausência de redução da última vogal nas palavras terminadas em "e" (por exemplo "leite", "frente"), diferentemente de outras regiões do país (e da capital Porto Alegre) que trocam o "e" por "i" ("leiti", "frenti").

Vocábulos locais

  • ancinho = rastilho, rastelo, ciscador, catador de folhas
  • aprochegar = aproximar-se, chegar perto
  • aspa = chifre
  • aspaço / aspada= chifrada
  • atucanado = atrapalhado, cheio de problemas
  • baita = grande, crescido; (Se usa em outras partes do Brasil)
  • bagual = Excelente, Bom, Ótimo ou cavalo xucro
  • bergamota = tangerina
  • bochincho = festa informal
  • bodoque / funda = estilingue
  • bolicho = boteco, botequim
  • borracho = bêbado
  • branquinho = beijinho (doce)
  • brigadiano = policial da Brigada Militar (corporação equivalente à Polícia Militar)
  • cacetinho = pão francês
  • campear = procurar, ir em busca de algo
  • cancheiro = pessoa que tem experiência e/ou habilidade em alguma coisa
  • carpim = meia de homem
  • chapa = radiografia ou dentadura
  • chavear = trancar com a chave
  • china = mulher do peão
  • chinoca = guria que se pilcha de bota e bombacha ao invés do vestido de prenda, prenda que passou dos 30 anos.
  • chinaredo = bordel; onde fica o chinaredo
  • chinchado = cheio, satisfeito, farto
  • colorado = torcedor do Sport Club Internacional
  • corpinho = sutiã
  • cuecão = ceroula
  • cuia (para mate)= parte da planta 'lagenaria vulgaris' usada para o chimarrão
  • cupincha = camarada, companheiro, amigo
  • cusco = cachorro, cão pequeno
  • entrevero = mistura, desordem, confusão de pessoas, briga
  • faceiro = alegre, contente
  • fatiota = terno
  • folhinha = calendário
  • gaudério = andarilho* (gaudério não é sinônimo de gaúcho, como erroneamente dizem)
  • gremista = torcedor do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
  • guaipeca / guadéra = cachorro viralata
  • guampa = chifre
  • guri = menino, garoto
  • guria = menina, moça
  • inticar = provocar
  • lancheria = lanchonete
  • lomba = ladeira
  • macanudo = sujeito forte, respeitável, talentoso
  • mandioca = aipim, macaxera
  • melena = cabelo
  • minuano = vento vindo do sul que trás as massas gélidas do Pólo Sul
  • negrinho = brigadeiro (doce)
  • pandorga = papagaio, pipa
  • parelho = liso, homogêneo
  • patente = vaso sanitário(semelhante aos banheiros químicos atuais)
  • pebolim = totó, fla-flu
  • pechada = batida, trombada (entre automóveis)
  • pedro e paulo = dupla de policiais militares
  • peleia = briga
  • piá = guri, menino
  • pila = palavra regional que dá nome a moeda nacional, no caso o Real (ex: 10 pila, 25 pila - usa-se sempre no singular)
  • pinchar = atirar, jogar
  • pingo = cavalo
  • prenda = mulher do gaúcho
  • quebra-molas = lombada
  • roleta = catraca
  • rótula = rotatória, redondo
  • sarjeta = meio-fio
  • sestear = dormir depois do almoço
  • sinaleira = semáforo
  • talagaço = golpe
  • taura = o mesmo que macanudo
  • tercear ferro = lutar com adagas, facões ou facas grandes
  • terneiro = bezerro
  • trava = freio, breque
  • tri = prefixo que significa muito (ex: trilegal, tribonita)
  • veranear = passar o verão
  • vivente = criatura viva, pessoa, indivíduo
  • xavante = torcedor do Brasil de Pelotas
  • xirú = índio ou caboclo. Na língua tupi quer dizer "meu companheiro"
  • xis = Hamburguer

Expressões locais

  • agüentar o tirão = sustentar uma opinião
  • andar pelas caronas = andar mal, estar em dificuldade
  • arrastar a asa = enamorar-se
  • botar os cachorros = falar mal de alguém
  • chorar as pitangas = lamuriar-se
  • dar com os burros n'água = dar-se mal, ser mal sucedido
  • deitar nas cordas = fazer corpo mole
  • de orelha em pé = atento, de sobreaviso
  • de rédeas no chão = entregue, submisso, apaixonado
  • de valde = de balde, em vão
  • de vereda = imediatamente, já
  • é tiro dado e bugio deitado = acertar de primeira; ter certeza do que faz
  • entregar as fichas = ceder, concordar
  • estar com o diabo no corpo = estar furioso, insuportável
  • faceiro que nem gurí de calça nova = muito contente, alegre
  • frio de renguear cusco = frio tão intenso que pode deixar um cachorro mancando
  • índio velho = camarada
  • ir aos pés = fazer as necessidades na patente
  • juntar os trapos = casar, viver junto
  • lamber a cria = mimar o filho
  • largar de mão = desistir, abandonar
  • lagartear = ficar sem fazer nada, ao sol, comendo tangerina (bergamota)
  • matar cachorro a grito = estar sem dinheiro, estar na miséria, viver com dificuldade
  • meter a viola no saco = calar-se, desistir, acovardar-se
  • morar para fora = morar no campo (fazenda, sítio ou vila pequena)
  • na ponta dos cascos = (estar) em posição excelente, pronto para atuar
  • no mato sem cachorro = em dificuldade, em apuros
  • olhar de cobra choca = olhar dissimulado
  • se aprochegar = chegar mais próximo, se acomodar
  • sentar o braço = surrar, espancar, esbofetetar, bater
  • terneiro guacho = tomador de leite
  • tunda de laço = apanhar

Interjeições típicas

  • Bah! = Puxa!, Que coisa! - é primariamente, uma interjeição de espanto, mas pode ter outros usos, como, por exemplo, mostrar hesitação ao iniciar uma frase.
  • Mas que barbaridade!= Que coisa! - é uma interjeição que indica indignação.
  • Capaz? = É mesmo?, Imagina! - indica espanto e dúvida ao mesmo tempo quanto ao que a pessoa acabou de ouvir.
  • Bem Capaz!! - Com uma entonação típica, significa "De jeito nenhum".
  • Que tri! = Que legal!
  • Me Caiu os butiá do bolso = Fiquei indignado(a)/ Fiquei surpreso(a), depende do contexto.

[1]

Algumas comparações

No Rio Grande do Sul: Tu pegou algumas frutas?

No Rio Grande do Sul: Mas que "guri" ligeiro esse!

Há diferenças também nas próprias regiões do Rio Grande do Sul, por influência da colonização:

  • Na cidade de Porto Alegre: Bah, ! Tu viu que o cara cuspiu no chão?
  • Na cidade de Pelotas: Bah,! Tu visse que o cara pulou a cerca?

Outras variações

No Rio Grande do Sul, além deste dialeto, fala-se também o Riograndenser Hunsrückisch, outro dialeto falado entre os colonos alemães e também o Talian, falado pelos colonos italianos. São considerados dialetos nativos, uma vez que, embora provenientes de idiomas exóctones (alemão e italiano), se desenvolveram no Rio Grande do Sul.

Ver também

Referências

  1. Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, de Zeno e Rui Cardoso Nunes, editado por Martins Livreiro