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Revisão das 11h12min de 7 de novembro de 2023

Definição

A nova história política é uma abordagem historiográfica que se dedica à compreensão do poder político e suas manifestações, incluindo atores, práticas e discursos ao longo do tempo. Examina a construção e transformação das relações de poder, considerando fatores sociais, culturais, econômicos e ideológicos, valorizando as perspectivas das pessoas comuns e grupos marginalizados.[1]

Comício realizado na cidade de Minneapolis, logo após a eleição de Joe Biden para presidente dos Estados Unidos em 7 de novembro de 2020 no contexto de protestos pelo assassinato de George Floyd. A nova história política se dedica a compreender os fenômenos políticos reconhecendo as perspectivas de pessoas comuns e grupos sociais historicamente excluídos.

Enquanto campo de estudo, a nova história política também explora questões globais de segurança, incluindo violência política, terrorismo e segurança econômica. Analisa a influência das organizações não governamentais, relações transnacionais na negociação de ideias e os impactos da globalização nas políticas de migração. Destaca a importância da supranacionalidade na história contemporânea, promovendo abordagens historiográficas comparativas para compreensão de questões políticas complexas.[2]

Essa abordagem inovadora da história política analisa as práticas simbólicas e discursivas da política, ultrapassando as estruturas institucionais tradicionais. Originada no final do século XX, integra estudos culturais e da história intelectual, situando os estudos políticos não mais como um campo autônomo da historiografia, mas sim uma dimensão emergente e inseparável das demais.[3]

Desse modo, a nova história política é uma abordagem que tem como objetivo a ampliação da compreensão sobre a política enquanto dimensão da experiência humana, indo além da visão tradicional que se concentra nas elites e no Estado. Para isso, ela explora tópicos como o comportamento dos eleitores, a influência dos grupos de pressão, a opinião pública, as relações internacionais, entre outros aspetos. A nova história política também se apoia na utilização de teorias e métodos interdisciplinares, incorporando suas ideias e perspectivas para apurar a análise histórica, valorizando a cultura política, que compreende as normas, valores, atitudes, crenças e conceitos compartilhados por distintos grupos políticos. A nova história política procura uma compreensão mais completa e sofisticada dos fenômenos políticos, considerando tanto as estruturas e instituições políticas quantos as suas práticas, comportamentos e representações culturais.[4]

Contexto intelectual de surgimento

O surgimento da nova história política ocorreu na segunda metade do século XX como uma resposta às limitações da história política tradicional, tais como o grande enfoque da análise historiográfica na atuação de lideranças políticas e instituições de Estado. A nova história política buscou ampliar os horizontes da pesquisa histórica voltada aos fenômenos políticos, incorporando abordagens interdisciplinares e levando em consideração uma grande variedade de atores sociais.[5]

Esse processo variou conforme o contexto intelectual de produção histórica. No caso da história política dos Estados Unidos, a nova história política começou a surgir na década de 1970, porém ganhou um impulso significativo a partir da década de 1990. Esse impulso foi desencadeado por uma série de debates sobre a participação política das mulheres, população negra, movimentos sociais, vinculados aos interesse pelo estudo de aspectos como identidade política e cultura política. Entre os autores mais influentes nesse contexto, podemos citar Allan G. Bogue, Jeffrey L. Pasley, Andrew W. Robertson e David Waldstreicher, reconhecidos por sua contribuição para a ampliação das abordagens e temas explorados no campo da nova história política. O livro Beyound the Founders: New Approaches to the Political History of the Early American Republic é um exemplo de uma importante obra que trouxe novas perspectivas e enfoques para o campo da nova história política nos Estados Unidos, pois explorou temas como gênero, raça, cultura e participação política de grupos tradicionalmente excluídos das narrativas históricas.[6][7]

Esta é a Universidade Paris Nanterre, local onde René Rémond atuou como pesquisador e organizou "Por uma história política", icônica obra onde defende as bases metodológicas da nova história política.

Na historiografia francesa, a nova história política surge na década de 1970, também como uma resposta às limitações da história política tradicional. Essa nova abordagem incorporou métodos mais abrangentes que considerava não somente as instituições políticas, mas também os aspectos sociais, as relações de poder, as ideologias e as práticas políticas em diferentes contextos. A relação entre a nova história política e a Escola dos Annales é imbricada e complexa. Os historiadores ligados à Escola dos Annales eram críticos à história política tradicional, que consideravam factual e descritiva, portanto havia desconfiança quanto aos novos estudos no campo da política. Todavia, a partir de meados do século XX, o estudo dos fenômenos políticos passou a interessar a historiografia novamente. Historiadores como René Rémond e Jacques Julliard, começaram a explorar a esfera política de maneiras inovadoras, ampliando suas análises para incluir aspectos culturais, sociais e simbólicos, se empenhando em defender a abordagem da nova história política.[8][9][10]

Na Alemanha, observamos o surgimento da nova história política a partir da década de 1960, na mesma conjuntura das demais: a crise da história política tradicional. Nesse contexto, a nova história política passou a se concentrar principalmente em aspectos como ideias, valores, identidades, práticas e estruturas sociais moldavam e eram moldadas pela política. No campo historiográfico da nova história política na Alemanha, Heinz-Gerhard Haupt é considerado um dos principais expoentes com pesquisas relacionadas à violência política e de Estado.[11][2]

Entre muitas abordagens, a Kulturgesschichte der Politik, ou história cultural da política, ganhou relevância na historiografia alemã entre o fim do século XX e início do século XXI, buscando compreender como as práticas políticas são influenciadas por fatores culturais e como a política, por sua vez, molda a cultura de uma sociedade. Um dos seus principais conceitos é o de política simbólica, reconhecendo que a política não é apenas uma questão de ação prática, mas também de significado simbólico, ou seja, procura-se a compreensão de como os símbolos políticos são utilizados para construir identidades, legitimar o poder, mobilizar as massas e atuar sob a opinião pública.[12]

História Política Tradicional

O século XIX foi um período de ascensão e consolidação da historiografia dedicado a explicar os fenômenos políticos. Impulsionada por um paradigma predominante no período conhecido como positivismo, a história política tornou a busca pela verdade histórica o seu principal objetivo. A procura pela reconstrução do passado "tal qual ele ocorreu" com base nas fontes documentais foi a tônica da história política neste período. Historiadores proeminentes, como Leopold Von Ranke e Numa Denis Fustel de Coulanges, eram defensores da escrita da história "como ela essencialmente foi", o que marcava essa abordagem pela objetividade.[13]

"A Coroação de Napoleão", pintada por Jacques-Louis David, captura o apogeu do poder político no século XIX. Esta obra imortaliza o momento em que Napoleão Bonaparte é coroado imperador da França em 1804, destacando a influência dos líderes políticos naquele período.

Neste período, essa abordagem também foi marcada pela ênfase em construção de narrativas lineares, descritivas, cronológicas, centradas no Estado e na lógica das elites, nas ações das lideranças políticas e seu enaltecimento. Possuía uma tendência a não se concentrar em aspectos contemporâneos, pois uma de suas características era a necessidade de olhar para o passado distante para alcançar a objetividade por meio do distanciamento temporal. Os eventos políticos eram tratados com ênfase nas decisões e estratégias dos governantes, os quais eram os principais atores presentes nas pesquisas desenvolvidas. Os estadistas, militares e até mesmo líderes religiosos eram frequentemente tratados como figuras heroicas e visionárias, cujas ações eram os verdadeiros motores da história. Esta história política se limitava, portanto, ao relato das crises ministeriais, das mudanças de regime ou de chefe de governo e dos feitos dos "grandes homens".[14]

Monumento criado em 1875 em homenagem a Armínio, um comandante germânico que impôs uma dura derrota ao Império Romano na Batalha da floresta de Teutoburgo. Sua imagem foi utilizada na Alemanha do século XIX para inflar o nacionalismo local, construindo a imagem de um líder germânico que unificou o seu povo contra um invasor estrangeiro.

O século XIX igualmente foi marcado pelo surgimento da História como uma ciência autônoma em relação a outras áreas, ou seja, o campo da disciplina ganhou uma série de processos metodológicos que caracterizaram o "jeito correto" de se fazer História como ciência. Nesta mudança o testemunho e a transmissão oral perderam espaço para os vestígios históricos pertencentes ao passado, que habitualmente são chamados de fontes históricas. Portanto, segundo o raciocínio da época, o processo da pesquisa histórica, se construída corretamente, levaria o pesquisador ao rumo da verdade histórica.[15]

É neste momento do nascimento da História como disciplina científica independente que se consolida o uso político dela pelo Estado-nação. Durante o século XIX os países europeus se preocuparam em construir suas origens com a intenção de inflar a onda de nacionalismos que o continente vivia, sendo assim, os historiadores se tornaram "servos da nação" e lideraram um processo que punha a ciência a serviço do Estado. As nações europeias usavam da História para criar uma narrativa linear sobre a origem comum de seus cidadãos, procedimentos que visavam estabelecer um sentimento de pertencimento a nação baseado em uma construção histórica. Desde modo, vários países romantizaram suas origens em um passado longínquo, incentivando nacionalismos exacerbados e, ao mesmo tempo, legitimando suas próprias existências e intenções expansionistas. Este clima vai dominar o cenário do continente por décadas, gerando rivalidades entre os países e influenciando tanto no imperialismo europeu do século XIX quanto no desencadeamento da Primeira Guerra Mundial.[16]

No entanto, essa abordagem historiográfica manteve-se com grande relevância até as primeiras décadas do século XX. Contudo, começou a enfrentar críticas substanciais devido à natureza elitista, reducionista e superficial em relação aos temas que buscava investigar. Importantes historiadores do período, como Marc Bloch, Lucien Febvre e E.H. Carr, foram alguns dos críticos proeminentes desse paradigma, destacando que essa maneira "tradicional" de abordar a história negligenciava as complexidades da sociedade e limitava-se a uma visão estreita, centrada principalmente nas ações de líderes políticos e eventos de grande magnitude. Além disso, ao focar excessivamente nas figuras proeminentes e nas decisões políticas, essa abordagem deixava de lado as demais nuances e conexões que constituem a sociedade como um todo.[17][18]

A Escola dos Annales e a mudança de paradigma

Ver também : Escola dos Annales

No decorrer do século XX, a história política passou por significativas transformações, afastando-se de uma exclusiva concentração no Estado, suas lideranças e eventos bélicos. Essas mudanças marcaram o surgimento de uma nova abordagem histórica neste campo da historiografia, focada nas diversas formas de poder, incluindo o simbólico.[19]

Marc Bloch (1886-1944). Foi um historiador francês. Célebre por ter sido um dos fundadores da Escola dos Annales.

A Escola dos Annales desempenhou um importante papel nessa transformação. Ao criticar a abordagem tradicional da História Política, introduziu os conceitos de "longa duração" e promoveu a interdisciplinaridade ao dialogar com campos como a Geografia, Economia, Psicologia e Antropologia. Ela se preocupou em romper com a relação que a História e os historiadores tinham com os Estados. Estes não mais serviriam a uma causa nacional, mas sim, a uma nova maneira de se pensar a pesquisa histórica. Deste modo, as abordagens que eram comuns durante o século XIX e início do XX, tais como: a historia dos líderes políticos, das grandes batalhas e da formação da nação, caíram em desuso. Agora, sob a perspectiva dos Annales as preocupações dos historiadores estavam em outros pontos, como por exemplo: no interesse pelas estruturas profundas da sociedade, na preferência de análises baseadas na longa duração e no olhar mais atento as classes populares. Os historiadores da Escola dos Annales adotaram a abordagem da "história-problema", na qual formularam questões específicas para orientar a escolha de fontes e métodos de análise. Era construída uma nova forma de pensar a disciplina.[20]

Esta verdadeira revolução na História como ciência fez com que o campo da história política caísse em desuso, pois ela ficou estigmatizada por ter sido usada tanto tempo pela causa do Estado, consequentemente, seu prestígio caiu bruscamente a partir das décadas anos de 1920 e 1930, dando assim, espaço para que outros campos surgissem no âmbito da pesquisa histórica. Essa nova abordagem não se limitou ao estudo das instituições estatais, mas também explorou as complexas relações de poder na sociedade. Buscou investigar a participação política, examinar as representações coletivas, analisar as práticas políticas cotidianas e os processos eleitorais, mergulhando na vida dos indivíduos comuns e investigando como a política influencia o seu cotidiano. Assim, a influência da Escola dos Annales na história foi marcada pela introdução de novos métodos e abordagens, expandindo o campo de estudo, permitindo uma compreensão mais profunda e abrangente também dos fenômenos políticos.[21][22]

Perspectivas Contemporâneas sobre o Conceito de Poder

Com o surgimento da nova história política, houve uma mudança significativa na forma como a historiografia passou a observar o conceito de poder, pois a história política tradicional tendia a se concentrar nas instituições políticas formais e nas elites governantes, direcionando a análise das estruturas de poder nas ações das lideranças políticas. No entanto, a nova história política ampliou o escopo de análise ao considerar também os aspectos informais do poder e as práticas cotidianas que formam as relações políticas, não focando somente nas instituições e nos indivíduos pertencentes às elites políticas, mas buscando compreender como o poder é exercido, negociado e contestado em todos os níveis da sociedade. Ao perceber o conceito de poder dissociado da atuação de poucos atores sociais, a nova história política adota uma perspectiva mais abrangente e inclusiva, pois destaca a importância a considerar múltiplas vozes na análise dos fenômenos políticos, permitindo uma compreensão mais complexa das dinâmicas que permeiam as relações de poder ao longo do tempo.[23][24]

Durante o século XX, o processo de transformação da história política contou com a influência do desenvolvimento de novas perspectivas teóricas em campos do conhecimento como ciência política, sociologia, antropologia e linguística, entre outras, não necessariamente ligadas à historiografia, relacionadas ao conceito de poder, aspecto central na nova história política.[25]

Influência de Antônio Gramsci

Na década de 1970, o governo brasileiro junto a grande parte de suas elites econômicas, promoveu uma política de exploração e avanço sob o território amazônico sem considerar seus impactos ambientais. Neste selo postal, podemos observar um instrumento de publicidade que trata desse processo e ilustra como a hegemonia promove interesses das elites políticas e econômicas, moldando ideologias.

Antônio Gramsci aborda o conceito de poder de forma ampla e heterogênea. Em sua teoria, o poder não se limita apenas à coerção por meio da violência, mas também está enraizado na cultura, nas ideias e nas relações sociais, argumentando que o poder é exercido não apenas pelas classes dominantes através do Estado, além disso, o poder é exercido pela construção de um consenso ativo por parte das classes subalternas. Nesse contexto, desenvolve o conceito de hegemonia para explicar como ocorre a dominação de uma classe pela outra. Segundo Gramsci, a hegemonia é alcançada quando as classes dominantes conseguem obter a adesão e consentimento das outras classes sociais, tornando a sua visão de mundo e seus interesses particulares como se fossem os interesses gerais de toda a sociedade.[26]

A teoria de Gramsci influenciou a nova história política ao ampliar o seu escopo de análise, incluindo a cultura, a sociedade civil e os intelectuais como elementos centrais na compreensão das relações de poder e das práticas políticas. A nova história política, influenciada pelas ideias de Gramsci, busca analisar não apenas as instituições políticas formais, mas também os exercícios de poder cotidianos, as relações de dominação e resistência, procurando compreender como diferentes grupos sociais constroem e exercem sua influência política, levando em consideração as dimensões culturais, sociais e ideológicas.[27]

Influência de Pierre Bourdieu

Outro teórico que trabalha com a lógica de perceber o poder para a além da coerção física é Pierre Bourdieu, que desenvolveu o conceito de violência simbólica para explicar o poder exercido de forma sutil e imperceptível, por meio de símbolos, discursos e práticas culturais. A violência simbólica está relacionada à imposição de valores, normas e crenças que são internalizados pelos indivíduos e que constituem suas percepções e comportamentos. Essa forma de violência ocorre quando os agentes sociais aceitam e reproduzem as estruturas de dominação e desigualdade sem questioná-las, as percebendo como naturais e legítimas, gerando um efeito de ocultamento das relações de dominação nas estruturas sociais.[28][29]

Reunião de Marine Le Pen para as eleições presidenciais na França em 26 de março de 2017 no Lille Grand Palais. As declarações de Marine Le Pen, estigmatizando imigrantes e mulçumanos, perpetuando estereótipos negativos, podem ser considerados exemplos da utilização do discurso político como ferramenta de exercício de violência simbólica contra esses grupos sociais. Por meio de sua retórica, Le Pen exerce uma forma de controle e dominação, utilizando símbolos e a linguagem para reforçar as hierarquias sociais. Suas palavras contribuem para a divisão e polarização na sociedade, incentivando uma cultura de exclusão.

O conceito de violência simbólica desenvolvido por Bourdieu contribui para a nova história política ao enfatizar a importância de observarmos as disputas simbólicas nas dinâmicas de poder na sociedade, destacando que as classes dominantes não detêm apenas o poder econômico, mas também possuem um capital simbólico que lhes permite impor sua visão de mundo e legitimar sua posição de dominação, ampliando assim o escopo de objetos de estudo.[30]

Influência de Michel Foucault

A partir de década de 1950, Michel Foucault passou a trabalhar com o conceito de poder intrinsicamente ligado ao discurso, argumentando que o poder não é apenas uma relação de dominação exercida por instituições ou indivíduos, mas também é produzido e mantido por meio do discurso. Segundo Foucault, o discurso não é simplesmente uma reprodução da realidade, além disso, é uma forma de exercício de poder que constitui e controla a maneira como as pessoas pensam, agem e se relacionam. O poder atua por meio do discurso ao estabelecer valores, normas, crenças e representações que são internalizadas pelas pessoas e reproduzidas de forma socialmente aceita. Assim, há uma legitimação do poder ao criar e impor certas formas de conhecimentos e verdade, excluindo e silenciando outras perspectivas e vozes.[31][32]

Por meio da análise do discurso, Foucault influenciou profundamente a historiografia no século XX e por consequência, a nova história política ao incluir uma visão holística e detalhada das relações de poder na sociedade, ampliando inclusive as fontes utilizadas pela historiografia, desde anotações médicas a documentos que registram o cotidiano, relatos de experiência, registros de prisões, entre outras fontes. Foucault inclui no espectro de análise da historiografia a experiência de atores sociais historicamente marginalizados em campos de atuação pouco observados como o âmbito familiar, as relações de parentesco, a sexualidade e a própria comunicação por meio da linguagem. [33]

Campos de Estudo da Nova História Política

Os intelectuais

Jean-François Sirinelli (1949). É um professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris. Atualmente, é um dos mais marcantes nomes quando nos referimos aos estudos sobre intelectuais pelo prisma da Nova História Política.

Com o surgimento da Escolas dos Annales e de todos os seus fundamentos [todos os seus fundamentos acho que ficou vago - Flávia], os estudos sobre os intelectuais entraram em declínio por dois principais motivos: [aqui não seria legal começar um nova frase? Vi que o segundo motivo já está em uma frase separada- Flávia] a historiografia de meados do século XX era entusiasta das massas, já os intelectuais formavam um grupo [aqui precisa rever o plural - Flávia] de número reduzido. O segundo motivo gira em torno do fato de que este grupo, geralmente, faz parte das camadas mais altas da sociedade, visto que o acesso a uma educação de qualidade era um elemento quase de exclusivo das classes sociais mais altas.[34] Isso muda quando, a partir da segunda metade do século XX, os intelectuais cresceram muito em termos numéricos, além disso, uma série de historiadores se interessaram para responder as seguintes perguntas: os intelectuais influem na vida das pessoas? Qual o impacto deles na nossa sociedade? Este impacto é positivo ou negativo? Estas perguntas são algumas das quais os pesquisadores devem procurar responder quando estudam os intelectuais com base na Nova História Política [35].

No entanto, são necessários alguns [quais? não faça suspense hehehehe Pode dizer primeiro e depois repetir- Flávia] cuidados metodológicos ao se aplicar esta abordagem historiográfica. A abundância de fontes é um dos fatores, já que intelectuais costumam escrever muito sobre si e sobre seu próprio grupo, soma-se a isso [essa expressão é bem formal. Finalizaria aq frase e começaria outra em linguagem menos acadêmica - Flávia] o fato de que é penoso escrever um estudo sobre trajetórias que não faça algum tipo de generalização. O pesquisador deve ter em mente que uma grande pluralidade de situações individuais impede que se chegue a explicações globalizantes.[36] É crucial também compreender que intelectuais se definem por uma relação de herança. São herdeiros de determinadas escolas de pensamentos, seja como alguém que continue a tradição de sua escola, seja como alguém que a negue e pregue uma ruptura com ela. Por fim, é necessário salientar que intelectuais não são infalíveis. Não são seres superiores, eles pecam. Os historiadores devem analisá-los pessoas, sujeitos a erros e acertos, garantindo assim um melhor resultado na pesquisa.[37]

As eleições

Os processos eleitorais se fazem importantes do ponto de vista da Nova História Política, visto que [acho que essa estrutura com fazem e visto que poderia ser suavizada para uma linguagem mais acessível - Flávia] são importantes indicativos do comportamento da população no que diz respeito a política de massas. O interesse dos historiadores por eleições precede o surgimento da Nova História Política. Já na virada do século XIX para o século XX o tema era centro de pesquisas e debates. Nesta época, os principais elementos a serem estudados eram: como as eleições modificavam o equilíbrio de forças e a relação entre maioria e oposição e a composição dos governos. Além do mais, as eleições passaram a ser interpretadas como um fator revelador da opinião pública.[38]Porém, nesta fase, as pesquisas feitas por historiadores cada vez mais se confundiam com estudos sobre geografia eleitoral, ou seja, existia um foco muito grande, as vezes quase exclusivo, em observar as singularidades regionais e suas orientações ao longo de processos eleitorais. Assim, os pesquisadores ficavam presos em analisar como uma determinada região reagia a determinadas posições políticas, ou até mesmo analisar processos de ruptura e continuidade em posições políticas de diferentes regiões. [39]

Alberto Fernández votando nas eleições primárias argentinas em 2019. Ainda naquele ano, ele seria eleito presidente da República Argentina para um mandato de 4 anos.

Ao englobar o estudo sobre as eleições em seu campo de interesses, a nova história política propôs novas abordagens [quais? mais uma vez evitar suspense - Flávia], modificando assim, a maneira sobre como se estudava este mesmo tópico em tempos passados [ exemplos? Nathan]. Neste quesito, ela se preocupa com uma série de maneiras de se encarar um processo eleitoral. Por exemplo, os historiadores passam a ver eleições como uma fonte de dados estatísticos, usando estes números para formular e aprimorar teses sobre a cultura política local. A perspectiva de longa duração também é utilizada, pois não são poucos os exemplos de países que realizam eleições há pelo menos várias décadas. Alguns até séculos [evitar esse tipo de frase solta - Flávia]. Utilizar destes dados para construir pesquisas sobre o comportamento político das populações ao longo dos anos é de interesse da Nova História Política [40]. Por fim, cabe destacar que as campanhas eleitorais também foram incluídas no grupo de possíveis fatos a serem estudados dentro deste campo, porquê ela é parte importantíssima [evitar superlativos - Flávia] de uma eleição, é por meio dela que os grupos políticos botam suas estratégias em prática e por meio dela se modifica a cada dia a correlação de forças entre os lados que estão em conflito em um processo eleitoral [41].

Partidos políticos

Os estudos sobre as agremiações partidárias sofriam de um certo descrédito por parte dos historiadores em geral. Muito pelo fato de estarem associados com a história política tradicional. Estes estudos focavam apenas na tentativa de reconstruir com exatidão a vida dos partidos: nascimento, acidentes históricos, congressos, lutas internas e posicionamentos em relação aos grandes acontecimentos históricos de suas respectivas realidades. Essas pesquisas resultavam em uma história crônica, fazendo que as críticas comuns a história factual as atingissem.[42]

Primeiramente é necessário deixar claro o que são considerados partidos pela nova história política. Eles são definidos por: a existência de uma organização hierarquizada e uma rede permanente de relações entre uma direção nacional e estruturas locais; a aspiração ao exercício do poder, que exige um projeto amplo que seja interessante para toda uma nação e a vontade de buscar apoio da população. Estes são os quatro pontos que caracterizam o conceito de partido político.[43]

A partir do momento em que a nova história política abraça os estudos dos partidos políticos eles passam a ser considerados, antes de tudo, locais de mediação política, ou seja, ambientes em que o indivíduo se associa a outras pessoas que têm as mesmas aspirações e necessidades no âmbito político. A partir daí, em conjunto, este grupo de pessoas vai lutar por suas pautas comuns, que variam de acordo com o tipo de partido. Por exemplo, um partido formado por classes operárias tende a ter uma postura ativa em pautas como: melhores condições de trabalho, melhores salários, jornadas de trabalho menores, além de outras pautas relacionadas com trabalhadores.[44]

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) foi fundado em 2013 na cidade de Berlim. Com orientação de extrema-direita, o partido tem entre suas pautas uma menor integração com do país com o resto da Europa e uma política contrária a imigração.

Ao estudar partidos, o historiador da nova história política deve se atentar ao conflito de gerações existentes dentro de cada instituição. É muito comum que, em um mesmo partido, existam pessoas de faixas etárias distintas. Muitas vezes, estes grupos entram em conflito, devido a diferenças de perspectivas próprias de cada geração. Em um partido de esquerda, uma geração que foi formada politicamente antes da queda do Muro de Berlim em 1989 tende a ter uma postura diferente de gerações que iniciaram na vida política após a queda, por exemplo. Conflitos de gerações também podem resultar em mudanças significativas na orientação ideológica dos partidos. Portanto, ao analisar as fontes e produzir seu trabalho, é dever do historiador estar atento em como as diferentes gerações presentes em um partido se relacionam.[45]

Para finalizar, cabe destacar que os partidos políticos são representantes ideológicos do contexto ao qual eles estão inseridos, isto é, a orientação ideológica predominante em determinada sociedade vai refletir diretamente no crescimento e desenvolvimento do partido. Portanto, estas instituições podem servir como ponto de socialização entre pessoas próximas ideologicamente falando.[46] Tomando o exemplo da Alemanha, recentemente, devido principalmente ao alto número de imigrantes e a ascensão de um forte nacionalismo, a extrema-direita cresceu de forma considerável. Podemos perceber o movimento pela formação de um partido que representasse esta ideologia. O Alternativa para a Alemanha foi fundado em 2013, e desde então se tornou um importante ator no cenário político daquele país. O fato se torna mais interessante para estudos porquê representa o primeiro partido desta orientação desde no país desde o Partido Nazista. Logo, pela lógica da nova história política, temos a conclusão que a constante mudança de posição ideológica da população alemã ao longo dos anos resultou na formação de um ponto de representatividade e sociabilidade política: um partido de extrema-direita.[47]

Desempenho do partido nas eleições legislativas

Data Líder M. Uninominal M. Proporcional Deputados +/- Status
CI. Votos % +/- CI. Votos % +/-
2013 Bernd Lucke 8.º 810 915
1,9 / 100,0
7.º 2 056 985
4,7 / 100,0
0 / 631
Extra-parlamentar
2017 Alice Weidel 3.º 5 316 095
11,5 / 100,0
Aumento9,6 3.º 5 877 094
12,6 / 100,0
Aumento7,9
94 / 709
Aumento94 Oposição
2021 Alice Weidel 4.º 4 695 611
10,1 / 100,0
Baixa1,4 5.º 4 803 902
10,3 / 100,0
Baixa2,3
83 / 736
Baixa11 Oposição
Desempenho do partido nas eleições europeias
Data CI. Votos % +/- Deputados +/-
2014 5.º 2 065 162
7,0 / 100,0
7 / 96
2019 4.º 4 103 453
11,0 / 100,0
Aumento4,0
11 / 96
Aumento4

Opinião Pública

Segundo a nova história política, é necessário estudar a opinião pública porquê a história não se traduz apenas em saber como os acontecimentos ocorreram, mas também como foram percebidos. Ao ir em busca deste elemento, o pesquisador torna o seu trabalho muito mais completo. Vale destacar igualmente que, a opinião pública, se integra no processo histórico, principalmente na nova história política. Se a história é a explicação e compreensão do passado, não existe explicação e compreensão completas sem que seja esclarecido o papel desempenhado pela opinião pública nos acontecimentos históricos.[48]

Alguns intelectuais que pensam a opinião pública como campo de estudos, como o alemão Wilhelm Bauer, dividem ela em duas formas diferentes. A primeira é chamada de opinião pública "estática". Ela se forma como resultado das tradições e das estruturas da sociedades, formando um sistema próprio de ideias de uma determinada sociedade. Constituindo, inclusive, sua moral. A segunda forma é a "dinâmica", ela se dá pela reação da opinião durante um acontecimento, de qualquer origem, como uma guerra, uma revolução ou até mesmo uma eleição. A história da opinião pública, segundo a nova história política, foca mais no segundo caso. É uma história atenta ao tempo breve, a reação imediata do indivíduo e das massas em um momento delimitado.[49]

O The New York Times é um jornal americano fundado no ano de 1852 na cidade de Nova York. Ganhador de inúmeros prêmios Pulitzer, é amplamente conhecido como um símbolo da liberdade de imprensa nos Estados Unidos da América.

Ao se deparar com o tema, os historiadores não devem aceitar pressupostos que generalizem a opinião pública. Não há e nem nunca existiu apenas uma tendência ou inclinação. Por isso, o pesquisador tem que ser muito cuidadoso ao afirmar que a opinião pública de determinado lugar defende isso ou aquilo. Na maioria dos casos, ela é diversa e plural. Por isso, além da abordagem quantitativa, abordagens qualitativas também devem ser construídas.[50] Outra questão delicada para o tema é o fato de alguns setores afirmarem que a opinião pública não é nada mais que o resultado de uma fabricação. Uma manipulação que seria uma tentativa de provocar de maneira artificial uma reação da opinião pública perante uma notícia falsa. Claro que, ao decorrer da história, existiram inúmeros casos como este, porém, não é fácil determinar a sua eficácia. Ao saber disso, o pesquisador tem que ter em mente que a opinião pública é construída por um leque complexo de fatores, não devemos encarar ela como simples fruto de uma manipulação, mas, ao mesmo tempo, não se deve ignorar que, tentativas de fabricação de opinião pública foram empregadas com fins políticos.[51]

A imprensa tem uma posição de protagonismo nos estudos sobre opinião pública. Porém, é importante destacar que ela só tem um papel de destaque na área quando o seu país tem uma política de imprensa livre, pois, onde a imprensa é livre, todos os aspectos da opinião pública têm chance de repercutir nos meios de comunicação. Quanto mais livre é a imprensa em determinado país, mais diversificado é o seu conteúdo. Ao cobrir reuniões políticas, apurar os participantes dela, trazer relatos de manifestações ou greves relacionados a reunião, ela também é uma produtora de informações, que podem fornecer alguns elementos da opinião pública local.[52] O trabalho se torna consideravelmente mais difícil quando o historiador deseja estudar um país que tem a imprensa censurada pelo governo. Neste caso a fonte fundamental seria o testemunho da época, escrito no momento do acontecimento. Este pode ser um relatório das autoridades administrativas, políticas ou diplomáticas, cartas, ou até diários. Além disso, são considerados testemunhos os resultados eleitorais, que são fundamentais para avaliar qualitativa e quantitativamente a opinião pública sobre vários temas referentes a orientação ideológica de seus candidatos.[53]

List of prominent authors

Marimba Ani, Estados Unidos Estados Unidos, professor, author and activist: Yurugu: An Afrikan-centered Critique of European Cultural Thought and Behavior (Trenton: Africa World Press, 1994).

Molefi Kete Asante, professor, author: Afrocentricity: The Theory of Social Change; The Afrocentric Idea; The Egyptian Philosophers: Ancient African Voices from Imhotep to Akhenaten

Ver também

Referências

  1. Hernández 2012, p. 9-11.
  2. a b Brückweh 2023.
  3. Bogue 1977, p. 201-202.
  4. Motta 1996, p. 92-100.
  5. Cardoso 2012, p. 53.
  6. Bogue 1977, p. 202-213.
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