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Samba: diferenças entre revisões

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O grande propulsor de mudanças dentro do samba urbano carioca foi o bairro de [[Estácio (bairro do Rio de Janeiro)|Estácio de Sá]]. O Estácio de Sá era um bairro popular e com grande contingente de pretos e mulatos. Segundo o historiador [[José Ramos Tinhorão]], era reduto de malandros - considerados pelas classes altas - "perigosos".<ref name="TINHORAO-MUSICA-TEMA-DEBATE-p91a">''"Em seus botequins reuniam-se os representantes da massa flutuante da população, que, figurando como excedente de mão-de-obra num quadro econômico-social acanhado, dedicava-se a biscates, ao jogo e à exploração de mulheres da região do Mangue, que lhe ficava próxima."'' - TINHORÃO, José Ramos. Música Popular — Um Tema em Debate. 3a ed., Editora 34, São Paulo, 1997. Páginas 91 e 92- ISBN 8573260726</ref> Foi nesse bairro que se gestaria o novo e definitivo samba urbano carioca, com a chamada "[[Turma do Estácio]]", onde surgiria a [[Deixa Falar]], a primeira [[escola de samba]] brasileira.<ref name="TINHORAO-MUSICA-TEMA-DEBATE-p91b">''"Esses "bambas", como eram conhecidos na época os líderes dessa massa de desocupados ou de trabalhadores precários, eram, pois, os mais visados no caso de qualquer ação policial. Assim, não é de estranhar que tenha partido de um desses representantes típicos das camadas mais baixas da época - Ismael Silva, Rubens e Alcebíades Barcelos, Sílvio Fernandes, o Brancura, e Edgar Marcelino dos Santos - a ideia de criar uma agremiação carnavalesca capaz de gozar da mesma proteção policial conferida aos ranchos e às chamadas Grandes Sociedades, no desfile pela Avenida, na terça-feria gorda."'' - TINHORÃO, José Ramos. Música Popular — Um Tema em Debate. 3a ed., Editora 34, São Paulo, 1997. Páginas 91 e 92- ISBN 8573260726</ref> Inicialmente um [[rancho carnavalesco]], posteriormente um [[bloco carnavalesco]] e por fim, uma escola de Samba, a Deixa Falar teria sido a primeiro a desfilar no carnaval carioca ao som de uma orquestra de percussões formada por [[surdo (instrumento musical)|surdos]], [[tamborim|tamborins]] e [[cuíca]]s, aos quais se juntavam [[pandeiro]]s e [[chocalho]]s. Formada por alguns compositores do bairro do Estácio, entre os quais [[Alcebíades Barcellos]] (o Bide), [[Armando Marçal]], [[Ismael Silva]], [[Nilton Bastos]] e mais os [[malandro]]s-[[sambista]]s [[Baiaco]], [[Brancura]], [[Mano Edgar]], [[Mano Rubem]], a ''"Turma do Estácio"'' marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve endosso de filhos da [[classe média]], como o ex-[[estudante]] de [[direito]] [[Ary Barroso]] e o ex-estudante de [[medicina]] [[Noel Rosa]]. Este conjunto instrumental foi chamado de "[[Bateria (grupo)|bateria]]" e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já era bem diferente dos de [[Donga (músico)|Donga]], [[Sinhô]] e [[Pixinguinha]], ou seja, um samba que adquiria uma característica de música mais "marchada" e que fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no [[desfile de carnaval]]. Assim, essa aceleração rítmica distanciava-se, sem deixar de ser batucado, do andamento [[maxixe|amaxixado]] de figuras proeminentes da "primeira geração" do samba urbano carioca, que não se conformavam com o estilo que ganhava mais e mais adeptos. Para essa primeira geração, as modificações da Turma do Estácio eram uma deturpação ao samba.<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/> Outra mudança estrutural decorrente do samba da Turma do Estácio foi a valorização das segundas partes da letra e música das composições. Em lugar de usar a típica improvisão das rodas de samba de [[partido-alto]], houve a a consolidação de seqüências preestabelecidas, que teriam um tema (por exemplo: o [[cotidiano]] carioca, o [[amor]]) e a possibilidade de se encaixar tudo dentro dos padrões de gravações fonográficas da época, de [[78 rpm]] (algo em torno de três minutos).<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/>
O grande propulsor de mudanças dentro do samba urbano carioca foi o bairro de [[Estácio (bairro do Rio de Janeiro)|Estácio de Sá]]. O Estácio de Sá era um bairro popular e com grande contingente de pretos e mulatos. Segundo o historiador [[José Ramos Tinhorão]], era reduto de malandros - considerados pelas classes altas - "perigosos".<ref name="TINHORAO-MUSICA-TEMA-DEBATE-p91a">''"Em seus botequins reuniam-se os representantes da massa flutuante da população, que, figurando como excedente de mão-de-obra num quadro econômico-social acanhado, dedicava-se a biscates, ao jogo e à exploração de mulheres da região do Mangue, que lhe ficava próxima."'' - TINHORÃO, José Ramos. Música Popular — Um Tema em Debate. 3a ed., Editora 34, São Paulo, 1997. Páginas 91 e 92- ISBN 8573260726</ref> Foi nesse bairro que se gestaria o novo e definitivo samba urbano carioca, com a chamada "[[Turma do Estácio]]", onde surgiria a [[Deixa Falar]], a primeira [[escola de samba]] brasileira.<ref name="TINHORAO-MUSICA-TEMA-DEBATE-p91b">''"Esses "bambas", como eram conhecidos na época os líderes dessa massa de desocupados ou de trabalhadores precários, eram, pois, os mais visados no caso de qualquer ação policial. Assim, não é de estranhar que tenha partido de um desses representantes típicos das camadas mais baixas da época - Ismael Silva, Rubens e Alcebíades Barcelos, Sílvio Fernandes, o Brancura, e Edgar Marcelino dos Santos - a ideia de criar uma agremiação carnavalesca capaz de gozar da mesma proteção policial conferida aos ranchos e às chamadas Grandes Sociedades, no desfile pela Avenida, na terça-feria gorda."'' - TINHORÃO, José Ramos. Música Popular — Um Tema em Debate. 3a ed., Editora 34, São Paulo, 1997. Páginas 91 e 92- ISBN 8573260726</ref> Inicialmente um [[rancho carnavalesco]], posteriormente um [[bloco carnavalesco]] e por fim, uma escola de Samba, a Deixa Falar teria sido a primeiro a desfilar no carnaval carioca ao som de uma orquestra de percussões formada por [[surdo (instrumento musical)|surdos]], [[tamborim|tamborins]] e [[cuíca]]s, aos quais se juntavam [[pandeiro]]s e [[chocalho]]s. Formada por alguns compositores do bairro do Estácio, entre os quais [[Alcebíades Barcellos]] (o Bide), [[Armando Marçal]], [[Ismael Silva]], [[Nilton Bastos]] e mais os [[malandro]]s-[[sambista]]s [[Baiaco]], [[Brancura]], [[Mano Edgar]], [[Mano Rubem]], a ''"Turma do Estácio"'' marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve endosso de filhos da [[classe média]], como o ex-[[estudante]] de [[direito]] [[Ary Barroso]] e o ex-estudante de [[medicina]] [[Noel Rosa]]. Este conjunto instrumental foi chamado de "[[Bateria (grupo)|bateria]]" e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já era bem diferente dos de [[Donga (músico)|Donga]], [[Sinhô]] e [[Pixinguinha]], ou seja, um samba que adquiria uma característica de música mais "marchada" e que fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no [[desfile de carnaval]]. Assim, essa aceleração rítmica distanciava-se, sem deixar de ser batucado, do andamento [[maxixe|amaxixado]] de figuras proeminentes da "primeira geração" do samba urbano carioca, que não se conformavam com o estilo que ganhava mais e mais adeptos. Para essa primeira geração, as modificações da Turma do Estácio eram uma deturpação ao samba.<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/> Outra mudança estrutural decorrente do samba da Turma do Estácio foi a valorização das segundas partes da letra e música das composições. Em lugar de usar a típica improvisão das rodas de samba de [[partido-alto]], houve a a consolidação de seqüências preestabelecidas, que teriam um tema (por exemplo: o [[cotidiano]] carioca, o [[amor]]) e a possibilidade de se encaixar tudo dentro dos padrões de gravações fonográficas da época, de [[78 rpm]] (algo em torno de três minutos).<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/>


As inovações rítmicas dos sambistas da Estácio de Sá foram assimiladas por blocos carnavalescos em [[Osvaldo Cruz (bairro do Rio de Janeiro)|Osvaldo Cruz]] e também alcançaram os morros da [[Morro da Mangueira|Mangueira]], [[Morro do Salgueiro|Salgueiro]] e [[Morro de São Carlos|São Carlos]], já que suas rodas de samba eram freqüentadas por compositores dos morros cariocas, como [[Cartola (compositor)|Cartola]] e Gradim (da Mangueira), Canuto (do Salgueiro), Ernani Silva, o Sete (do subúrbio de Ramos), e posteriormente outros futuros bambas como [[Nelson Cavaquinho]], [[Carlos Cachaça]] e [[Geraldo Pereira]], [[Paulo da Portela]], [[Alcides Malandro Histórico]], [[Manacé]], [[Chico Santana]], [[Sebastião Molequinho|Molequinho]], [[Aniceto do Império Serrano]]. Acompanhados por um [[pandeiro]], um [[tamborim]], uma [[cuíca]] e um [[surdo (instrumento musical)|surdo]], estes compositores terminariam por influenciar e lapidar as características essenciais desse novo samba carioca urbano.<ref name="Enciclopédia da Música Brasileira - Erudita, Folclórica e Popular"/> Esse samba feito à moda do Estácio de Sá e dos sambistas dos morros cariocas firmaria-se como o samba carioca "por excelência", e com o passar do tempo, "de raiz", "autêntico".<ref name="Transformação do Samba Carioca no Século XX">{{citar livro|autor=SANDRONI, Carlos|título=Transformação do Samba Carioca no Século XX|editora=Rio de Janeiro:Jorge Zahar|ano=2001|páginas=|id=[http://dominiopublico.qprocura.com.br/dp/74932/Transformacoes-do-samba-carioca-no-seculo-XX.html .PDF]}}</ref>
As inovações rítmicas dos sambistas da Estácio de Sá foram assimiladas por blocos carnavalescos em [[Osvaldo Cruz (bairro do Rio de Janeiro)|Osvaldo Cruz]] e também alcançaram os morros da [[Morro da Mangueira|Mangueira]], [[Morro do Salgueiro|Salgueiro]] e [[Morro de São Carlos|São Carlos]], já que suas rodas de samba eram freqüentadas por compositores dos morros cariocas, como [[Cartola (compositor)|Cartola]] e Gradim (da Mangueira), Canuto (do Salgueiro), Ernani Silva, o Sete (do subúrbio de Ramos), e posteriormente outros futuros bambas como [[Nelson Cavaquinho]], [[Carlos Cachaça]] e [[Geraldo Pereira]], [[Paulo da Portela]], [[Alcides Malandro Histórico]], [[Manacé]], [[Chico Santana]], [[Sebastião Molequinho|Molequinho]], [[Aniceto do Império Serrano]]. Acompanhados por um [[pandeiro]], um [[tamborim]], uma [[cuíca]] e um [[surdo (instrumento musical)|surdo]], estes compositores terminariam por influenciar e lapidar as características essenciais desse novo samba carioca urbano.<ref name="Enciclopédia da Música Brasileira - Erudita, Folclórica e Popular"/> Esse samba feito à moda do Estácio de Sá e dos sambistas dos morros cariocas firmaria-se como o samba carioca "por excelência", e com o passar do tempo, "de raiz", "autêntico".<ref name="Transformação do Samba Carioca no Século XX">{{citar livro|autor=SANDRONI, Carlos|t&#x

=== Difusão e "nacionalização" do samba carioca ===

Entre o final da [[década de 1920]] e meados da [[década de 1940]], o samba urbano carioca deixaria de ser considerado expressão local (como são tidos sambas em outras partes do país). Graças ao Estado, alcançaria status de símbolo "[[nacional]]".<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/><ref name="SAMBA-NACIONAL-NAPOLITANO-LATIN-MUSIC-REVIEW">NAPOLITANO, Marcos. Auxilio luxuoso: Samba simbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural. Latin American Music Review - Volume 25, Number 2, Fall/Winter 2004, pp. 259-263</ref><ref name="MISTERIO-SAMBA-VIANNA-"/> Esse samba oriundo de uma região do Rio de Janeiro espalhava-se por outras áreas da cidade, não apenas com os sambas de carnaval, mas também com novas formas dentro do estilo moderno carioca, como o [[samba-canção]] e o [[samba-exaltação]]. Difundidos pelas [[Radiodifusão|ondas do rádio]],<ref name="MUSICA-POLITICA-SAMBA-WISNIK">Segundo José Miguel Wisnik, o samba abria ''"o espectro de repertório da Rádio Nacional em cujas ondas o imaginário do país viajava."''- WISNIK, José M. "Algumas questões de música e política no Brasil". In BOSI, A. (org.). Cultura e Política. Temas e situações. São Paulo, Ática, 1987, pp. 114-123.</ref> estes estilos cariocas seriam conhecidos em outras partes do Brasil, que, com a influência do [[governo federal]] brasileiro (mais propriamente partir dos projetos político-ideológicos do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] de [[Getúlio Vargas]]), elevaria o samba local da [[cidade do Rio de Janeiro]] à condição de samba "nacional" - muito embora existam outras formas e práticas do samba no país.<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/><ref name="MISTERIO-SAMBA-VIANNA-"/><ref name="MUSICA-POLITICA-SAMBA-WISNIK"/> A aproximação do Estado brasileiro com a música popular deu-se também pela oficialização, em [[1935]], do desfile de carnaval pela [[Prefeitura do Rio de Janeiro|Prefeitura do então Distrito Federal]].

No período de consolidação do samba carioca como "samba nacional", surgiram uma nova safra de interprétes, que obtiveram grande sucesso radiofônico, como [[Francisco Alves]], [[Mário Reis]], [[Orlando Silva]], [[Silvio Caldas]], [[Carmen Miranda]], [[Aracy de Almeida]], [[Dalva de Oliveira]], entre outros, e despontaram muitos compositores oriundos da [[classe média]], como [[Noel Rosa]], [[Ary Barroso]], [[Lamartine Babo]], [[Carlos Alberto Ferreira Braga|Braguinha]] (conhecido também como João de Barro) e [[Ataulfo Alves]]. E mais tarde, [[Assis Valente]], de [[Ataulfo Alves]], de [[Custódio Mesquita]], de [[Dorival Caymmi]], de [[Herivelto Martins]], de [[Pedro Caetano]], de [[Synval Silva]], que conduziram esse samba para caminhos ao gosto da [[indústria musical]].<ref name="sambacliquemusic" />

==== Novos formatos dentro do samba carioca ====
{{Artigos principais|[[Samba-canção]], [[Samba-choro]], [[Samba sincopado]], [[Samba de breque]]}}
{{Escute
| arquivo = Conversa de botequim Noel Rosa vadico 1935.ogg
| título = Conversa de botequim
| descrição = Composto por Noel Rosa e Vadico. Gravação de 1935 por Noel Rosa.
| posição = direita
}}
{{Escute
| arquivo = UVA DE CAMINHÃO - Carmen Miranda 1939.ogg
| título = Uva de caminhão
| descrição = Composto por Assis Valente. Gravação de 1939 por Carmem Miranda.
| posição = direita
}}

Um dos carros-chefes das programações das emissoras de rádios na década de 1930 eram as composições de samba-canção, lançado inicialmente em [[1928]] com a gravação ''"Ai, Ioiô"'' (de Henrique Vogeler), na voz de [[Aracy Cortes]]. Também conhecido como samba de meio do ano, o samba-canção se firmou na década seguinte. Era uma forma mais lenta e cadenciada do samba e tinha como ênfase musical uma melodia geralmente de fácil aceitação. Esta vertente foi influenciado mais tarde por ritmos estrangeiros, primeiramente pelo [[fox]] e, na [[década de 1940]], pelo [[bolero]] de enredos sentimentais. Se o samba carioca moderno dos sambistas da Estácio e dos morros tratava de temas diversos como malandragem, mulheres comportadas, favelas, o samba-canção destacava os sofrimentos amorosos. Além de ''"Ai, Ioiô"'', alguns outros clássicos do samba-canção foram ''"Risque"'', ''"No Rancho Fundo"'', ''"Copacabana"'' e ''"Ninguém Me Ama"''. Com o passar dos anos, outros artistas ganharam notoriedade no estilo, como [[Antônio Maria de Araújo Morais|Antônio Maria]], [[Custódio Mesquita]], [[Dolores Duran]], [[Fernando Lobo]], [[Henrique Vogeler]], [[Ismael Neto]], [[Lupicínio Rodrigues]] e [[Batatinha]]. O [[samba-canção]] seria ainda uma das principais fontes de inspiração da [[bossa nova]] no final da [[década de 1950]].

Outra variante que surgia na [[década de 1930]] era o samba-choro, que como aponta o nome, misturava o fraseado instrumental do [[choro]] (com [[flauta]]) ao batuque do samba. Entre as primeiras composições no estilo, figuram ''"Amor em excesso"'' (de [[Gadé]] e [[Valfrido Silva]], em [[1932]]) e ''"Amor de parceria"'' (de [[Noel Rosa]], em [[1935]]). Ainda naquele período, [[Heitor dos Prazeres]] lançou o samba ''"Eu choro"'' e o termo ''"breque"'' (do [[língua inglesa|inglês]] ''break''), então popularizado com referência ao freio instantâneo dos novos [[automóvel|automóveis]]. Era o surgimento do [[samba-de-breque]], variante do samba-choro caracterizada por um ritmo acentuadamente sincopado com paradas bruscas, os chamados breques, durante a música para que o cantor fizesse uma intervenção - geralmente frases apenas faladas, diálogos ou comentários bem humorados do cantor, que confere graça e malandragem na narrativa. [[Luís Barbosa (músico)|Luís Barbosa]] foi o primeiro a trabalhar este tipo de samba, que conheceu em [[Moreira da Silva]] o seu expoente máximo. Outro destaque desta vertente foi [[Germano Mathias]].

==== Escolas de samba e oficialização do desfile de Carnaval ====
{{Artigos principais|[[Carnaval do Rio de Janeiro]], [[Escola de samba]], [[Samba-enredo]], [[Samba de terreiro]]}}

Depois da fundação da [[Deixa Falar]], o fenômeno das [[escolas de samba]] tomou conta do cenário carioca. Juntamente com as [[escola de samba|escolas de samba]] que galgaram estágios de aceitação, admiração e paternalização através dos anos, o [[samba-enredo]] se tornou um dos símbolos nacionais. Inicialmente, o samba-enredo não tinha [[enredo]], mas isso mudou quando o [[Estado]] - notadamente durante o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] de [[Getúlio Vargas]] - assumiu a organização dos desfiles e obrigou o sambas-enredo a ser sobre a história oficial do Brasil.<ref name="Samba Malandragem Fabiana Cunha">{{Citar web |url=http://www.hist.puc.cl/iaspm/mexico/articulos/Lopes.pdf |título=O samba, a malandragem e a política trabalhista de Vargas - Por Fabiana Cunha |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> A letra do samba-enredo conta uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. Em geral, a música é cantada por um homem, acompanhado sempre por um cavaquinho e pela bateria da [[escola de samba]], produzindo uma textura sonora complexa e densa, conhecida como [[Batucada (ritmo)|batucada]].

Durante a [[década de 1930]], era costume em um desfile de escola de samba que, na primeira parte, esta apresentasse um samba qualquer e, na segunda parte, os melhores versadores improvisassem, geralmente com sambas saídos do terreiros das escolas (atuais quadras). Estes últimos ficaram conhecidos como [[samba-de-terreiro|sambas-de-terreiro]]. Iniciadas nos moldes dos [[ranchos carnavalescos]], as escolas de samba – inicialmente com [[GRES Estação Primeira de Mangueira|Mangueira]], [[GRES Portela|Portela]], [[GRES Império Serrano|Império Serrano]], [[GRES Acadêmicos do Salgueiro|Salgueiro]] e, nas décadas seguintes, com [[GRES Beija-Flor|Beija-Flor]], [[GRES Imperatriz Leopoldinense|Imperatriz Leopoldinense]] e [[GRES Mocidade Independente de Padre Miguel|Mocidade Independente]] – cresceriam ao logo das décadas seguintes até dominarem o [[Carnaval carioca]], transformando-o em um grande negócio com forte impacto no movimento turístico.

==== A influência do Estado na promoção do samba carioca ====
{{Artigos principais|[[Samba-exaltação]]}}

[[Ficheiro:Carmen Miranda in The Gang's All Here trailer cropped.jpg|thumb|180px|esquerda|<center>[[Carmen Miranda]] no filme ''The Gang's All Here''. Cantora luso-brasileira ajudou a divulgar o samba em nível internacional.</center>]]

O presidente [[Getúlio Vargas]] deu grande suporte a popularização e consolidação do samba carioca urbano, em detrimento a outras variedades de samba cultivadas em outras regiões do país (assim como de outros gêneros musicais bastante populares regionalmente, como [[embolada]]s, [[Coco (dança)|coco]]s, a [[música caipira]] [[paulista]]). Principalmente durante o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], o governo brasileiro patrocinava apresentações públicas de intérpretes populares desse samba em eventos badalados - como o "Dia da Música Popular" e a "Noite da Música Popular". Símbolo da elite carioca, o [[Teatro Municipal do Rio de Janeiro]] passou a receber artistas renomados do samba. Em uma ação para promover o estilo como produto genuinamente "nacional", as transmissões radiofônicas oficiais incumbiam-se de levar o samba carioca urbano ao exterior. Houve até programas irradiados para a [[Alemanha]] [[nazista]] diretamente do terreiro da [[escola de samba]] [[Estação Primeira de Mangueira|Mangueira]]. Muitos cantores também integravam comitivas presidenciais em viagem ao estrangeiro.<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/>

[[Ficheiro:Heitor Vila-Lobos (c. 1922).jpg|thumb|100px|direita|<center>[[Villa-Lobos]] foi um dos intelectuais renomados que reconheceram o valor do samba.</center>]]

Além de ganhar ''status'' de "música nacional" durante a Era Getúlio Vargas, o samba (carioca urbano) passou a ter também reconhecimento dentro de setores da elite cultural nacional. Entre eles, o maestro [[Heitor Villa-Lobos]], que ajudou a organizar uma gravação com o [[maestro]] erudito [[Estadunidenses|norte-americano]] [[Leopold Stokowski]] no návio Uruguai, em [[1940]], do qual participaram [[Cartola (compositor)|Cartola]], [[Donga (músico)|Donga]], [[João da Baiana]], [[Pixinguinha]] e [[Zé da Zilda]].<ref>{{Ref-livro|coautores=José Adriano Fenerick|título=Nem Do Morro Nem Da Cidade|editor=Annablume |publicação=2005|páginas=81|id=8574195200, 9788574195209}}</ref> [[Cassinos]] e o [[cinema]] foram outros instrumentos que ajudaram a consolidar a posição do samba (carioca urbano) como símbolo musical nacional - a cantora [[luso]]-[[brasileira]] [[Carmen Miranda]], bastante popular à época, conseguiu projetar esse samba internacionalmente a partir de filmes.

A ideologia do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] de [[Getúlio Vargas]] ajudou a retirar a imagem de marginalidade samba carioca, outrora negativamente associada "como antro de malandros e desordeiros",<ref name="SAMBA-BAMBAS-CABRAL">CABRAL, Sérgio. ''"Falando de samba e de bambas". In: História da música popular brasileira''. Fascículo Bide, Marçal e Paulo da Portela. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 2.</ref> O [[Departamento de Imprensa e Propaganda]] procurava coagir compositores a abandonarem a temática da malandragem nos seus sambas, através de políticas de aliciamento ou na base da [[censura]]. É do final dos anos trinta do século XX que surgiria um estilo de samba de "caráter legalista", conhecido mais tarde como [[samba-exaltação]] (ou também "[[samba-exaltação|samba da legalidade]]").<ref name="sambacliquemusic"/> O samba-exaltação caracterizava-se por composições em exaltação ao trabalho (como na notória letra de ''"O Bonde São Januário"'', parceria de [[Ataulfo Alves]]) com o "malandro consagrado" [[Wilson Batista]], sucesso do carnaval de [[1941]]) ou ao país (como ''"[[Aquarela do Brasil]]"'', de [[Ary Barroso]], gravada por [[Francisco Alves]] em [[1939]], e que se transformou no primeiro sucesso musical brasileiro no exterior). Apesar da atuação do Estado na cooptação de sambistas, havia compositores que tentavam driblar o poder censório ditatorial, com letras carregadas de sutilezas e ironias (como em "Recenseamento", de [[Assis Valente]], que embora pareça reproduzir o discurso de exaltação ao ''"Brasil grande e trabalhador"'', desmonta os argumentos oficiais).<ref name="SAMBA-NACIONAL-PARANHOS"/>

=== Influências externas no samba urbano ===
{{Artigos principais|[[Samba de gafieira]], [[Sambalada]], [[Bossa Nova]], [[Sambalanço]]}}

A partir da [[década de 1940]] e ao longo da [[década de 1950]], o samba recebeu novas influências de [[Música da América latina|ritmos latinos]] e [[Música dos EUA|norte-americanos]]. As concentrações urbanas provocaram o aparecimento das primeiras danceterias populares, as chamadas [[gafieira]]s, palco para estilos novos que surgiriam dentro do seio do samba, como são os casos dos sincopados [[samba-choro]] e [[samba de gafieira]]. O samba-de-gafieira foi um sub-gênero surgido sob influência de ritmos latinos e norte-americanos - geralmente instrumentais e tocados por orquestras norte-americanas (adequada para danças praticadas em salões públicos, gafieiras e [[cabaré]]s) - que chegavam ao Brasil em meados da década de 1940 e ao longo da [[década de 1950]]. Nesta década surgiu também a [[sambalada]] - uma espécie de [[samba-canção]] com letras românticas e ritmo lento como as [[balada]]s lançadas no mercado brasileiro.

No final da década de 1950, nasceria o principal a [[Bossa Nova]]. Nascida na zona sul do Rio de Janeiro e fortemente influenciado pelo [[jazz]], a Bossa Nova marcaria a história do samba e da [[música popular brasileira]] com uma acentuação rítmica original - que dividia o fraseado do samba e agregava influências do [[impressionismo erudito]] e do jazz - e um estilo diferente de cantar, intimista e suave.<ref name="AS RE-INVENÇÕES E RE-SIGNIFICAÇÕES DO SAMBA NO PERÍODO QUE CERCA A INAUGURAÇÃO DA BOSSA NOVA">{{Citar web |url=http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/etnomusicologia/etnom_MSGomes.pdf |título=AS RE-INVENÇÕES E RE-SIGNIFICAÇÕES DO SAMBA NO PERÍODO QUE CERCA A INAUGURAÇÃO DA BOSSA NOVA: 1952-1967 - Marcelo Silva Gomes - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> Após precursores como [[Johnny Alf]], [[João Donato]] e músicos como [[Luís Bonfá]] e [[Aníbal Augusto Sardinha|Garoto]], este sub-gênero foi inaugurado por [[João Gilberto]], [[Tom Jobim]] e [[Vinicius de Moraes]], e teria uma geração de discípulos-seguidores como [[Carlos Lyra]], [[Roberto Menescal]], [[Durval Ferreira]] e grupos como [[Tamba Trio]], [[Bossa 3]], [[Zimbo Trio]] e [[Os Cariocas]].

Também no final da [[década de 1950]], surgiria o [[sambalanço]], uma ramificação popular da [[bossa nova]] (que era mais apreciada pela [[classe média]]). Também misturava o samba com ritmos norte-americanos como o [[jazz]]. O sambalanço foi muito tocado em bailes suburbanos das décadas de [[década de 1960|1960]], [[década de 1970|1970]] e [[década de 1980|1980]]. Este estilo projetou artistas como [[Bebeto]], Bedeu, Copa 7, [[Djalma Ferreira]], Os Devaneios, Dhema, [[Ed Lincoln]] e Seu Conjunto, [[Elza Soares]], Grupo Joni Mazza, [[Luis Antonio]], [[Luís Bandeira]], Luiz Wagner, [[Miltinho]], entre outros.

==== Reaproximação com o morro ====
{{Artigo principal|[[Bienal do Samba]]}}
[[Ficheiro:Nelson Sargento.jpg|150px|direita|thumb|<center>Nelson Sargento em show no Sesc Esquina, [[Curitiba]], em [[2007]]. Artista integrou o conjunto [[A Voz do Morro]].</center>]]

Com a [[bossa nova]], o samba se afastou ainda mais de suas raízes populares. A influência do [[jazz]] aprofundou-se e foram incorporadas técnicas musicais eruditas. A partir de um festival no [[Carnegie Hall]] de [[Nova York]], em [[1962]], a Bossa nova alcançou sucesso mundial. Mas ao longo das décadas de [[década de 1960|sessenta]] e [[década de 1970|setenta]], muitos artistas que surgiam - como [[Chico Buarque de Holanda]], [[Billy Blanco]], [[Martinho da Vila]] e [[Paulinho da Viola]] defenderam o retorno do samba a sua batida tradicional, com a reaparição de veteranos como [[Antônio Candeia Filho|Candeia]], [[Cartola (compositor)|Cartola]], [[Nelson Cavaquinho]] e [[Zé Kéti]].

No início da década de 1960 foi criado o ''"Movimento de Revitalização do Samba de Raiz"'', promovido pelo [[Centro Popular de Cultura]], em parceria com a [[União Nacional dos Estudantes]]. Foi o tempo do aparecimento do bar [[Zicartola]], dos espetáculos de samba no Teatro de Arena e no Teatro Santa Rosa e de musicais como ''"Rosa de Ouro"''. Produzido por [[Hermínio Bello de Carvalho]], o "Rosa de Ouro" revelou [[Araci Cortes]] e [[Clementina de Jesus]].

Dentro da bossa nova surgiram dissidências. Uma delas gerou os [[Os Afro-sambas (1966)|Afro-sambas]] de [[Baden Powell de Aquino|Baden Powell]] e [[Vinicius de Moraes]]. Além disso, parte do movimento se aproximou de sambistas tradicionais, especialmente de Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti e, mais adiante, Candeia, [[Monarco]], [[Monsueto]] e Paulinho da Viola.<ref name="sambadmpb" /> A exemplo do sambista [[Paulo da Portela]], que intermediou as relações do morro com a cidade quando o samba era perseguido, Paulinho da Viola - também da [[GRES Portela|Portela]] - seria uma espécie de embaixador do gênero tradicional diante de um público mais vanguardista, entre os quais os [[Tropicália|tropicalistas]]. Também do interior da [[bossa nova]] apareceria [[Jorge Ben]] para dar sua contribuição autoral mesclada com o [[rhythm and blues]] norte-americano, que mais adiante suscitaria o aparecimento de um subgênero apelidado [[suíngue]] (ou [[samba-rock]]).<ref name="sambacliquemusic" />

Durante os anos sessenta, apareceram grupos formados por sambistas com experiências anteriores no universo do samba e músicas gravadas por grandes nomes da MPB. Entre eles, estavam [[Os Cinco Crioulos]] (composto por [[Anescarzinho do Salgueiro]], [[Elton Medeiros]], [[Nelson Sargento]], [[Jair do Cavaquinho]] e [[Paulinho da Viola]], substituído mais tarde por [[Mauro Duarte]]), [[A Voz do Morro]] (composto por Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento, [[Oscar Bigode]], Paulinho da Viola, [[Zé Cruz]] e [[Zé Kéti]]), [[Mensageiros do Samba]] ([[Antônio Candeia Filho|Candeia]] e [[Picolino da Portela]]), [[Os Cinco Só]] (Jair do Cavaquinho, [[Velha]], [[Wilson Moreira]], [[Zito]] e [[Zuzuca do Salgueiro]]).

Fora da cena principal dos chamados [[Festival de Música Popular Brasileira|festivais de Música Popular Brasileira]], o samba encontraria na [[Bienal do Samba]], no final dos anos sessenta, o espaço destinado a grandes nomes do gênero e seguidores. Ainda naquele final de década, aparecia o chamado ''"samba-empolgação"'' dos [[blocos carnavalescos]] [[Bafo da Onça]] ([[Catumbi (bairro do Rio de Janeiro)|Catumbi]]), [[Cacique de Ramos]] ([[Olaria (bairro do Rio de Janeiro)|Olaria]]) e [[Boêmios de Irajá]] ([[Irajá (bairro do Rio de Janeiro)|Irajá]]).<ref name="sambadmpb" />

Ainda na década de 1960, surgiu o [[samba-funk]]. O samba-funk surgiu no final da [[década de 1960]] com o [[pianista]] [[Dom Salvador]] e o seu Grupo Abolição, que mesclavam o samba com o [[funk]] norte-americano recém-chegado em terras brasileiras. Com a ída definitiva de Don Salvador para os [[Estados Unidos]], o grupo encerrou as atividades, mas no começo da [[década de 1970]] alguns ex-integrantes como Luiz Carlos Batera, José Carlos Barroso e Oberdan Magalhães se juntaram a Cristóvão Bastos, Jamil Joanes, Cláudio Stevenson e Lúcio da Silva para formar a [[Banda Black Rio]]. O novo grupo aprofundou o trabalho de Don Salvador na mistura do compasso binário do samba brasileiro com o quaternário do funk americano, calcado na dinâmica de execução, conduzida pela bateria e baixo. Mesmo após o fim da Banda Black Rio, em [[1980]], [[DJ]]s [[britânico]]s passaram a divulgar o trabalho do grupo e o ritmo fora redescoberto em toda a [[Europa]], principalmente na [[Inglaterra]] e [[Alemanha]].<ref name="sambadmpb" />

==== Massificação do samba urbano ====
{{Artigos principais|[[Partido-Alto]], [[Samba-jóia]], [[Pagode (música)]]}}
[[Ficheiro:MartinhoDaVilaPorAndreaFarias.jpg|thumb|150px|esquerda|<center>[[Martinho da Vila]], um dos artistas que popularizaram o estilo [[partido-alto]].</center>]]

No começo da [[década de 1970]], novamente o samba viveria um período de revalorização, que projetaria [[cantor]]as como [[Alcione]], [[Beth Carvalho]] e [[Clara Nunes]] - ambas com grandes vendagens de discos -,<ref name="Samba-jóia-DMPB">{{Citar web |url=http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?tabela=T_FORM_C&nome=Samba |título="No final da década de setenta, surgiria o termo ''"ABC do samba"'', relacionado as três cantoras, quando elas conseguiram bater recordes de venda. Interessante assinalar que também não foram vistas com bons olhos por muitos críticos por ter direcionado seus repertórios para ritmos afro-brasileiros, principalmente o samba, pois como está grafado na história de cada uma delas, nenhuma começou exatamente como sambista"'' - Verbete samba - [[Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira]] |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> além do [[cantor]] [[Roberto Ribeiro]] e dos [[compositor]]es [[João Nogueira]], [[Nei Lopes]] e [[Wilson Moreira]]. O samba passou a ser novamente muito executado nas rádios, com grande destaque para sua vertente [[partido-alto]] e com o domínio das paradas de sucesso por artistas como [[Martinho da Vila]], [[Bezerra da Silva]], Clara Nunes e Beth Carvalho.

Na virada da [[década de 1960]] para a [[década de 1970]], o jovem [[Martinho da Vila]] daria uma nova face aos tradicionais [[samba-enredo|sambas-enredo]] consagrados por autores como [[Silas de Oliveira]] e [[Mano Décio da Viola]], compactando-os e ampliando sua potencialidade no mercado musical. Além disso, Martinho popularizaria o estilo do [[samba-de-partido-alto]] (com canções como ''"Casa de Bamba"'' e ''"Pequeno Burguês"''), lançadas no seu primeiro álbum em [[1969]].

Embora o termo tenha surgido no início do [[século XX]] nas rodas na casa da [[Tia Ciata]] - inicialmente para designar música instrumental -, o termo [[partido alto]] passou a ser utilizado para denominar um tipo de samba que é caracterizado por uma batida de pandeiro altamente percussiva, com uso da palma da mão no centro do instrumento para estalos. A harmonia do partido alto é sempre em tom maior, geralmente tocado por um conjunto de instrumentos de percussão (normalmente [[surdo (instrumento musical)|surdo]], [[pandeiro]] e [[tamborim]]) e acompanhado por um [[cavaquinho]] e/ou por um [[violão]]. Mas este partido-alto assimilado pela [[indústria fonográfica]] era feito de solos escritos, e não mais improvisados e espontâneos, segundo os cânones tradicionais.<ref name="Partido-alto: samba de bamba" />

Também naquela década, muitos críticos musicais cunharam em sentido pejorativo os termos [[samba-jóia]] ou [[sambão-jóia]], para designar um tipo de samba supostamente de qualidade duvidosa ou cafona. Outros críticos perceberam no termo - e nos cantores e compositores a ele relacionado - uma certa importância para a [[MPB]]. Entre alguns nomes do samba-jóia, estavam [[Agepê]] (interprete de ''"Moro onde não mora ninguém"''), [[Antonio Carlos e Jocafi]] (de ''"Você abusou"''), [[Benito Di Paula]] (de ''"Retalhos de cetim"'' e às vezes também classificado como "[[sambolero com um toque latino]]", pois usava freqüentemente em suas apresentações [[piano]], [[timba]], [[chimbal]]),Pandeiro,Tumbadora,Baixo e Timbales [[Luiz Ayrão]] (de ''"Mulher à brasileira"''), [[Jorginho do Império]] (de ''"Dinheiro vai, dinheiro vem"''), [[Os Originais do Samba]] (de ''"Falador Passa Mal"''), [[Tom e Dito]] (de ''"Tamanco malandrinho"''). [[Beth Carvalho]] também emplacaria ''"Vou Festejar"'' e ''"Coisinha do Pai"'', dois sambas chamados "jóias logo aceitos por várias faixas sociais - principalmente pelas mais baixas -, mas considerados por alguns críticos como de ''"qualidade duvidosa"''.<ref name="Samba-jóia-DMPB">{{Citar web |url=http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?tabela=T_FORM_C&nome=Samba |título="Segundo [[Luiz Ayrão]], o termo "Sambão-jóia" apareceu em uma coluna do jornal [[O Estado de S.Paulo]], no final da [[década de 1970]], e atribuía pejorativamente à [[Beth Carvalho]] o título de "Rainha do Sambão-jóia", o que causou um grande estigma e mágoa para alguns desses artistas."'' - Verbete samba - [[Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira]] |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>

Outros críticos, no entanto, valorizavam o fato deste estilo de samba recolocá-lo nas principais emissoras de rádio e TV do país, além de serem responsáveis por vendas expressivas de discos do gênero naquela década.<ref name="sambadmpb" /> Parte da crítica favorável via em ''"Tonga da Mironga do Kabuletê"'' (de [[Toquinho]] e [[Vinícius de Moraes]]) como exemplos de samba-jóia.

Ainda na década, se destacaria na [[cidade de São Paulo]] [[Geraldo Filme]], um dos principais nomes do samba paulistano - ao lado de [[Germano Mathias]], [[Osvaldinho da Cuíca]], [[Tobias da Vai-Vai]], [[Aldo Bueno]] e [[Adoniran Barbosa]], este último já devidamente reconhecido nacionalmente antes de ser relembrado e regravado com mais frequência nos anos setenta. Sambista da [[Barra Funda (bairro de São Paulo)|Barra Funda]], um reduto do samba [[São Paulo (cidade)|paulistano]], Firme era também freqüentador das rodas de ''"Tiririca"'', no Largo da Banana, e montou os espetáculos ''"Balbina de Yansã"'' e ''"Pagodeiros da Paulicéia"'', em parceria com [[Plínio Marcos]].

Em [[Salvador (Bahia)|Salvador]], compositores como [[Riachão (compositor)|Riachão]], Panela, [[Batatinha]], Garrafão e Goiabinha, foram seguidos por [[Tião Motorista]], [[Chocolate da Bahia|Chocolate]], Nélson Balalô, J. Luna, [[Edil Pacheco]], [[Ederaldo Gentil]], [[Walmir Lima]], [[Roque Ferreira]], [[Walter Queiroz]], [[Paulinho Boca de Cantor]] e [[Nelson Rufino]], que mantiveram a tradição dos [[samba de roda|sambas-de-roda]] e [[Samba de coco|samba-coco]].

E ao final da década, [[João Bosco (músico)|João Bosco]] em dupla com o [[poeta]] [[Aldir Blanc]] - dois discípulos dos estilos de [[violão]] tocados por Baden Powell, [[Dorival Caymmi]] e [[Gilberto Gil]] - também ajudariam a renovar o samba tradicional (inclusive o de enredo) - algo que Aldir continuaria a fazer com novos parceiros como [[Guinga]] e [[Moacyr Luz]] na [[década de 1990]].<ref name="sambadmpb" />

[[Ficheiro:ZecaPagodinho.jpg|thumb|150px|direita|<center>[[Zeca Pagodinho]] é um dos sambistas mais populares do Brasil.</center>]]

Depois de um período de esquecimento onde as rádios eram dominadas pela [[Disco Music]] e pelo [[rock brasileiro]], o samba consolidou sua posição no mercado fonográfico na [[década de 1980]]. Compositores urbanos da nova geração ousaram novas combinações, como o paulista [[Itamar Assumpção]], que incorporou a batida do samba ao [[funk]] e ao [[reggae]] em seu trabalho de cunho experimental. Mas foi no início da década de 1980 que o samba reapareceu no cenário brasileiro com um novo movimento, chamado de [[Pagode (música)|pagode]]. Com características do [[choro]] e um andamento de fácil execução para os dançarinos, o pagode é basicamente dividido em duas tendências. A primeira delas é mais ligada ao [[partido-alto]], também chamada de pagode de raiz, que conservava a linhagem sonora e fortemente influenciada por gerações passadas. A segunda tendência, considerada mais ''"popular"'', ficou conhecida como ''"pagode-romântico"'' e passou a ter grande apelo comercial na [[década de 1990]] em diante.

Nascido no final da [[década de 1970|década anterior]], por meio das rodas de samba que um grupo de cantores e compositores faziam embaixo da tamarineira da quadra do Bloco Carnavalesco [[Cacique de Ramos]], o pagode era um samba renovado, que utilizava novos instrumentos que davam uma sonoridade peculiar àquele grupo, como o [[banjo]] com braço de cavaquinho (criado por [[Almir Guineto]]) e o [[tantã]] (criado por [[Sereno]]), e uma linguagem mais popular.

Pontuado pelo banjo e pelo tantã, o pagode seria uma resposta ao ocaso do samba no início dos anos oitenta, que teria obrigado os seus seguidores a se reunirem em fundos de quintal para mostrar suas novas composições diante de uma platéia de vizinhos. Este ramal do samba, movido a partido-alto, revelaria inicialmente nomes como Almir Guineto, [[Jorge Aragão]], [[Jovelina Pérola Negra]] e [[Zeca Pagodinho]] (o único que se firmaria ao fim da onda inicial) - além do [[Grupo Fundo de Quintal]], que revelaria ainda a dupla [[Arlindo Cruz]] e [[Sombrinha]]. Também partideiro, da década anterior, [[Bezerra da Silva]] emplacaria seus chamados ''"sambandidos"'', canções com enredos que documentavam a guerra civil da sociedade partida.<ref name="sambacliquemusic" />

Em meio da euforia consumista do [[Plano Cruzado]], os pagodeiros se mostraram excelentes vendedores de discos - sempre mais de 100 mil cópias por lançamento - e conquistaram seu espaço na grande mídia, de onde não saíram mais do rádio e da TV. Esse pagode, cujo auge mercadológico verificou-se exatamente em [[1986]], teve como mola mestra estética a ampla exposição e revalorização do [[partido-alto]], modalidade de samba, até então de pouquíssima visibilidade. Assim, as rodas de samba de ''"fundos de quintal"'' revelaram ou confirmaram o talento de muitos bons versadores, cultores da velha arte, como a dupla que reunia o conhecido [[Zeca Pagodinho]] e o desconhecido Deni de Lima, sobrinho de Osório Lima, legendário compositor do [[Império Serrano]].<ref name="Partido-alto: samba de bamba" />

De uma curtição exclusivamente suburbana, os pagodes (tanto a festa, com suas comidas e bebidas, quanto o novo estilo) se tornaram moda também nos bairros da [[Zona Sul (Rio de Janeiro)|zona sul do Rio]] e em diversos localidades do Brasil. O ímpeto aos poucos diminuiu, com a consequente queda de poder aquisitivo do seu maior público consumidor – as classes menos abastadas. Mas logo, uma nova modalidade desse subgênero, bem mais comercial e desvinculada das raízes, passaria a ser conhecida como pagode.<ref name="pagodecliquemusic">{{Citar web |url=http://cliquemusic.uol.com.br/br/Servicos/ParaImprimir.asp?Nu_Materia=20 |título=O samba que vem do fundo do quintal - Cliquemusic, [[1 de janeiro]] de [[1999]] |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>

=== Samba urbano no fim do século XX ===
{{Artigos principais|[[Samba-rap]], [[Samba-reggae]]}}
== Pagode dos anos 1990 ==
No final da [[década de 1980]], o [[pagode (música)|pagode]] enchia salões e, no [[década de 1990|início dos anos noventa]]. A [[indústria fonográfica]], já amplamente orientada para a [[globalização]] pop, usurpou o termo pagode, batizando com ele uma forma diferente de fazer samba que guardava poucos elementos com o samba inovador da década anterior, massificando-o de forma enganosa. Essa diluição partia majoritariamente da [[cidade de São Paulo]], o que engendrou o rótulo equivocado de ''"pagode paulista"''.<ref name="Partido-alto: samba de bamba" /> E seus principais arautos foram os músicos de um grupo que, inclusive, segundo as edições em partitura de seus primeiros lançamentos, pretendia estar fazendo o que se chamava de ''"[[samba-rock]]"'', mas na verdade eram mais uma variação mais pop do samba-rock.<ref name="pagodecliquemusic" /> Assim, as grandes [[gravadora]]s criaram um novo tipo de pagode, que muitos chamariam de ''"pagode-romântico"'', ''"pagode comercial"'', ou simplesmente tachado de ''"pagode"''.

Vertente mais distanciada do pagode ''"de raiz"'' do final dos [[década de 1970|anos setenta]], esse pagode ''"romântico"'' se tornaria um fenômeno comercial, com o lançamento de dezenas de artistas e grupos [[São Paulo|paulistas]], [[Povo mineiro|mineiro]] e [[carioca (gentílico)|carioca]], entre os quais,Katinguelê,[[Art Popular]], [[Exaltasamba]], [[Harmonia do Samba]], [[Irradia Samba]] e [[Kaô do Samba]], [[Só Pra Contrariar]], Os Travessos, entre outros. Sua massificação nas emissoras de rádios e [[TV]]s ajudou a melhorar a arrecadação de [[direitos autorais]] e fez com que as músicas norte-americanas ficassem em segundo lugar em arrecadação durante aquela década, algo inédita no Brasil. Apesar disso, este tipo de pagode desagrada grande parte da crítica musical, que questiona especialmente a qualidade das músicas.<ref name="sambadmpb" /> Ainda nos anos noventa, apareceram mais duas fusões de samba com outros gêneros musicais. O primeiro deles foi o [[samba-rap]], criado nas [[favela]]s e [[presídio]]s paulistanos e cariocas. O outro foi o [[samba-reggae]], este surgido a partir de manifestação de grupos baianos, cariocas e paulistas em modificar o pagode tradicional e o transformar em um samba suingado.

== Suingueira ==

Em meados dos anos noventa surgiu no Estado da [[Bahia]] o que se chamava "Samba da Bahia", que mais tarde ficou conhecido como Suingueira. Este estilo é caracterizado como uma mistura de [[Pagode]] e rítmos regionais da Bahia, principalmente com os tocados durante o carnaval e o que se intitula, popularmente, como [[Axé Music]].
Este tipo de música ficou famosa pela intensa vendagem de discos de grupos como [[É o Tchan]], [[Harmonia do Samba]], [[Patrulha do Samba]], [[Psirico]] e muitos outros que se destacara na cena musical baiana.

=== Samba no século XXI ===
[[Arquivo:Marcelo D2.jpg|thumb|160px|[[Marcelo D2]] foi o pioneiro em misturar [[hip hop]] com samba.]]

A partir do ano [[2000]], surgiram alguns artistas que buscavam se reaproximar do samba mais vinculado à estilo consolidado nos morros cariocas, muitas vezes chamado "samba de raiz". Foram os casos de [[Marquinhos de Oswaldo Cruz]], [[Teresa Cristina (cantora)|Teresa Cristina]] e [[Grupo Semente]], entre outros, que contribuíram para a reabilitação da região da [[Lapa (bairro do Rio de Janeiro)|Lapa]], no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Outros nomes surgiram nesse tradicional reduto do samba, como o compositor [[Edu Krieger]], que foi gravado por nomes como [[Roberta Sá]] e [[Maria Rita]], a cantora [[Manu Santos]], novata revelada no festival mais importante da Lapa nos dias atuais, a Mostra de Talentos do Carioca da Gema - que também trouxe nomes como [[Eliza Ador]], [[Roberta Espinosa]], [[Moyseis Marques]] entre vários outros. Em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], o grupo [[Quinteto em Branco e Preto]] desenvolve o evento (no bairro de [[Santo Amaro (distrito de São Paulo)|Santo Amaro]]) ''"Samba da Vela"'' - no qual seus participantes só cantam sambas inéditos de compositores desconhecidos da indústria musical.<ref>[http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,,583178,0.htm Samba da Vela faz 10 anos em SP e prepara novo CD] - O Estado de São Paulo, 19 de julho de 2010</ref><ref>[http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100719/not_imp582996,0.php Em volta da vela, dez anos de sambas inéditos] - O Estado de São Paulo, 19 de julho de 2010</ref> Isso tudo contribuiu para atrair vários artistas do Rio de Janeiro que, além de shows, fixaram residência em bairros da capital, como [[São Mateus (distrito de São Paulo)|São Mateus]].<ref name="sambadmpb" /> Já grupos como o [[Funk Como Le Gusta]] e [[Clube do Balanço]] deram continuidade aos bailes inspirados na época do [[sambalanço]] e do [[samba-rock]].

Em [[2004]], o então [[Ministério da Cultura (Brasil)|ministro da cultura]] [[Gilberto Gil]] apresentou à [[Unesco]] o pedido de tombamento do samba como [[Patrimônio Cultural da Humanidade]], na categoria "Bem Imaterial", através do [[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]].<ref name="Abr-0939001318">{{Citar web |url=http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/10/09/materia.2007-10-09.0939001318/view |título=Iphan declara samba carioca Patrimônio Cultural do Brasil - [[Agência Brasil]], [[9 de outubro]] de [[2007]] |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref><ref name="G1-0,,MUL147300-5606,00">{{Citar web |url=http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL147300-5606,00-IPHAN+DECLARA+SAMBA+CARIOCA+PATRIMONIO+CULTURAL+DO+BRASIL.html |título=Iphan declara samba carioca patrimônio cultural do Brasil - [[Portal G1|G1]], [[9 de outubro]] de [[2007]] |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref> A data foi criada por iniciativa de um [[vereador]] de [[Salvador (Bahia)|Salvador]], Luis Monteiro da Costa, em homenagem a [[Ary Barroso]], que havia composto ''"Na Baixa do Sapateiro"'' embora sem ter conhecido a [[Bahia]]. Assim, 2 de dezembro marcou a primeira visita de Ary Barroso a Salvador. Inicialmente, o Dia do Samba era comemorado apenas em Salvador, mas acabou transformado em data nacional.<ref name="FSPult90u66571">{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u66571.shtml |título=Eventos pela cidade comemoram Dia Nacional do Samba - [[Folha Online]], [[1 de dezembro]] de [[2006]] |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref><ref name="Academia do samba-024">[http://academiadosamba.com.br/memoriasamba/artigos/artigo-024.htm Dia Nacional do Samba] - Academia do Samba</ref>

No [[2005|ano seguinte]], o [[samba-de-roda]] do [[Recôncavo Baiano]] foi proclamado ''"Patrimônio da Humanidade"'' pela Unesco, na categoria de ''"Expressões orais e imateriais"''.<ref name="sambaunesco" /><ref name="FSPult90u55504" /> Em [[2007]], o IPHAN conferiu registro oficial, no Livro de Registro das Formas de Expressão, às matrizes do samba do Rio de Janeiro: [[samba de terreiro]], [[partido-alto]] e [[samba-enredo]].<ref name="Abr-0939001318" /><ref name="G1-0,,MUL147300-5606,00" />

== Instrumentos de samba ==
O samba é tocado basicamente por [[instrumentos de percussão]] e acompanhado por [[instrumentos de corda]]. Em vertentes como o [[samba-exaltação]] e o [[samba-de-gafieira]], foram acrescentados [[instrumentos de sopro]].
{{col-begin}}
{{col-break}}

=== Instrumentos básicos ===
* [[Cavaquinho]]
* [[Violão]]
* [[Pandeiro]]
* [[Surdo (instrumento musical)|Surdo]]
* [[Tamborim]]
* [[Tantã (tambor)|Tantã]]
{{col-break}}
* [[Bandolim]]

=== Em vertentes ===
* [[Cuíca]]
* [[Trompete]]
{{col-end}}

== O samba na cultura popular ==

Da mesma forma que o [[batuque]], já desde o início do [[século XIX]], a palavra ''samba'' se estendeu como designação de qualquer tipo de [[baile]] popular, sinônimo de ''arrasta-pé'', ''bate-chinela'', ''brincadeira'', ''balança-flandre'', ''baiana'', ''cateretê'', ''fandango'', ''fobó'', ''forró'', ''forrobodó'', ''função'', ''fungangá'', ''pagode'', ''xiba'', ''zambê'', entre outros.<ref name="Enciclopédia da Música Brasileira - Erudita, Folclórica e Popular" />

Além de ritmo e compasso definidos musicalmente, traz historicamente em seu bojo toda uma cultura de [[comida]]s (pratos específicos para ocasiões), danças variadas<ref>''No livro'' "O samba na realidade…", ''de Nei Lopes, o autor enumera quatro princípios básicos para o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, do qual era diretor. Um desses princípios diz respeito à movimentação dos sambistas da escola no desfile, o que serve para explicitar a "dança" do samba: "Samba mesmo é no passo curto, é drible de corpo, é 'no faz que vai, mas não vai', é no passo largo cheio de ginga, é no balançar dos braços, é no girar constante da cabeça, mostrando um sorriso contagiante, uma combinação improvisada de movimentos que ninguém do mundo consegue fazer igual ao brasileiro".''</ref> ([[miudinho (dança)|miudinho]], coco, samba de roda, pernada), festas, roupas (sapato bico fino, camisa de linho etc), e ainda a [[pintura naif]], de nomes consagrados como [[Nelson Sargento]], [[Guilherme de Brito]] e [[Heitor dos Prazeres]], além de artistas anônimos das comunidades (pintores, escultores, desenhistas e estilistas) que confeccionam as roupas, fantasias, alegorias carnavalescas e os carros abre-alas das [[escola de samba|escolas de samba]].<ref name="sambadmpb" />

==Samba em outras partes do mundo==
Além de ser um dos gêneros musicais mais populares do [[Brasil]], o samba é bastante conhecido no exterior. É reconhecido também como símbolo brasileiro, ao lado do [[futebol]] e o [[carnaval]]. Esta história começou com o sucesso internacional de ''"[[Aquarela do Brasil]]"'', de [[Ary Barroso]], seguiu com [[Carmen Miranda]] (apoiada pelo governo [[Getúlio Vargas]] e a [[política da boa vizinhança]] [[Estados Unidos da América|norte-americana]]), que levou o samba para os [[Estados Unidos]], passou ainda pela [[bossa nova]], que inseriu definitivamente o Brasil no cenário mundial da música.

O sucesso do samba na [[Europa]] e no [[Japão]] apenas confirma sua capacidade de conquistar fãs, independente do idioma. Atualmente, há centenas de [[escola de samba|escolas de samba]] constituídas em solo europeu (espalhada por países como [[Alemanha]], [[Bélgica]], [[Holanda]], [[França]], [[Suécia]], [[Suíça]]). Já no Japão, as [[gravadora]]s investem maciçamente no lançamento de antigos discos de sambistas consagrados, que acabou por criar um mercado formado apenas por catálogos de gravadoras japonesas.<ref name="sambadmultirio2053">{{Citar web |url=http://www.multirio.rj.gov.br/sec21/chave_artigo.asp?cod_artigo=2053 |título=Batuque globalizado - Programa Século XX1, [[17 de janeiro]] de 2007 |língua= |autor= |obra= |data= |acessodata=}}</ref>

=={{Bibliografia}}==
* ALENCAR, Edigar de.'' Nosso senhor do samba''. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1988.
* GARDEL, André. ''O Encontro Entre Bandeira e Sinhô''. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1996.
* MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. ''O Sol nasceu pra todos:a História Secreta do Samba''. Rio de Janeiro: Litteris, 2011.

{{Referências|col=3}}

== {{Ver também}} ==
{{wikiquote|Samba}}
* [[Carnaval do Brasil]]
* [[Escola de samba]]
* [[Samba de roda]]

== {{Ligações externas}} ==
* {{Link|pt|2=http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?tabela=T_FORM_C&nome=Samba|3=Verbete Samba|4= - [[Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira]]}}
* {{Link|pt|2=http://cliquemusic.uol.com.br/br/Generos/Generos.asp?Nu_Materia=26|3=Verbete Samba|4= - Cliquemusic}}
* {{Link|pt|2=http://www.palmares.gov.br/_temp/sites/000/2/download/artigoosamba.pdf|3=O Samba: cantando a história do Brasil|4= - Fundação Cultural Palmares}}
* {{Link|pt|2=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882001000300014|3=VIANNA, Hermano.O Mistério do Samba|4= - Revista Brasileira de História}}
* {{Link|pt|2=http://almanaque.folha.uol.com.br/samba2.htm|3=As Origens do Samba|4= - [[Folha de S.Paulo|Folha da Manhã]]}}
* {{Link|pt|2=http://almanaque.folha.uol.com.br/samba.htm|3= Samba|4= - [[Folha de S.Paulo|Almanaque da Folha de S.Paulo]]}}
* {{Link|pt|2=http://www1.uol.com.br/bibliot/enciclop/|3= Verbete Samba|4= - [[Folha de S.Paulo|Nova Enciclopédia Ilustrada Folha]]}}
* {{Link|pt|2=http://educacao.uol.com.br/folclore/ult1687u25.jhtm|3=Ritmo é o mais famoso do Brasil|4= - [[UOL|UOL Educação]]}}
*[http://самба.рф Samba brasileira. Portal em russo]

== References ==
<references />
{{Link|pt|2=http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?menu=92&id=126&sub=124|3=História do Samba|4= - Portal Brasil Cultura}}

{{Samba}}
{{Gêneros de música popular do Brasil}}
{{Patrimônio Cultural Inatingível do Brasil}}

{{Portal3|Dança}}

[[Categoria:Samba| ]]

[[an:Samba]]
[[ar:سامبا]]
[[be:Самба, музыка]]
[[be-x-old:Самба]]
[[bg:Самба]]
[[bn:সাম্বা]]
[[br:Samba]]
[[ca:Samba (música)]]
[[cy:Samba]]
[[de:Samba (Musik)]]
[[en:Samba]]
[[eo:Sambo (muziko)]]
[[es:Samba (música)]]
[[fa:سامبا]]
[[fi:Samba]]
[[fr:Samba (musique)]]
[[gl:Samba]]
[[he:סמבה]]
[[hr:Samba (glazba)]]
[[hu:Szamba]]
[[id:Samba]]
[[is:Samba]]
[[it:Samba]]
[[ja:サンバ (ブラジル)]]
[[ko:삼바]]
[[la:Samba]]
[[lt:Samba]]
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Revisão das 17h03min de 13 de junho de 2012

 Nota: Para outros significados de samba, veja Samba (desambiguação).


Samba
Samba
Carnaval no Rio de Janeiro
Origens estilísticas Maxixe, lundu, semba, batucada, jongo, modinha e choro
Contexto cultural Início do século XX, no Rio de Janeiro
Instrumentos típicos Diversos instrumentos de cordas (como cavaquinho e vários tipos violão) e variados instrumentos de percussão (como pandeiro, surdo e tamborim); Algumas vertentes utilizam instrumentos de sopro
Popularidade Muito popular no Brasil, especialmente na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo; bem-conhecido no exterior.
Formas derivadas Bossa nova, Pagode, Samba-canção, Samba-enredo e Samba de partido-alto
Subgêneros
Bossa nova, Pagode, Samba-batido, Samba de breque, Samba-canção, Samba-corrido, Samba-enredo, Samba-exaltação, Samba de partido-alto, Samba-raiado, Samba de roda, Samba de terreiro, Sambalanço
Gêneros de fusão
Samba-choro, Samba-funk, Samba de gafieira, Samba-jazz, Samba-maxixe, Samba-rap, Samba-reggae, Samba-rock, Sambalada, Sambolero
Formas regionais
Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo,Minas Gerais
Outros tópicos
Carnaval do Brasil, Escola de samba

O samba é um gênero musical, do qual deriva um tipo de dança, de raízes africanas surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.[1][2][3]

Dentre suas características originais, está uma forma onde a dança é acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano[4] e levado, na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros que trazidos da África e se instalaram na então capital do Império. O samba de roda baiano, que em 2005 se tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco,[5][6] foi uma das bases para o samba carioca.

Apesar de existir em várias partes do país - especialmente nos Estados da Bahia, do Maranhão, de Minas Gerais e de São Paulo - sob a forma de diversos ritmos e danças populares regionais que se originaram do batuque, o samba como gênero musical é entendido como uma expressão musical urbana do Rio de Janeiro, onde esse formato de samba nasceu e se desenvolveu entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Foi no Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil, que a dança praticada pelos escravos libertos entrou em contato e incorporou outros gêneros musicais tocados na cidade (como a polca, o maxixe, o lundu, o xote, entre outros), adquirindo um caráter totalmente singular. Desta forma, ainda que existissem diversas formas regionais de samba em outras partes do país, samba carioca urbano saiu da categoria local para ser alçado à condição de símbolo da identidade nacional brasileira durante a década de 1930.[7][8][9]

Um marco dentro da história moderna e urbana do samba ocorreu em 1917, no próprio Rio de Janeiro, com a gravação em disco de "Pelo Telefone", considerado o primeiro samba a ser gravado na Brasil (segundo os registros da Biblioteca Nacional). A canção tem a autoria reivindicada por Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga, com co-autoria atribuída a Mauro de Almeida, um então conhecido cronista carnavalesco. Na verdade, "Pelo Telefone" era uma criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa de tia Ciata, mas acabou registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional.[10]"Pelo Telefone" foi a primeira composição a alcançar sucesso com a marca de samba e contribuiria para a divulgação e popularização do gênero. A partir daquele momento, esse samba urbano carioca começou a ser difundido pelo país, inicialmente associado ao carnaval e posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado musical. Surgiram muitos compositores como Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô, mas os sambas destes compositores eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe.

Os contornos modernos desse samba urbano carioca viriam somente no final da década de 1920, a partir de inovações em duas frentes: com um grupo de compositores dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e com compositores dos morros da cidadem como em Mangueira, Salgueiro e São Carlos.[8] Não por acaso, identifica-se esse formato de samba como "genuíno" ou "de raiz". A medida que o samba no Rio de Janeiro consolidava-se como uma expressão musical urbana e moderna, ele passou a ser tocado em larga escala nas rádios, espalhando-se pelos morros cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o samba conquistaria o público de classe média também.

O samba moderno urbano surgido a partir do início do século XX tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado, com aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, e aos quais seriam acrescentados uma ou mais partes, ou estâncias, de versos declamatórios.[3] Tradicionalmente, esse samba é tocado por instrumentos de corda (cavaquinho e vários tipos de violão) e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Por influência das orquestras norte-americanas em voga a partir da Segunda Guerra Mundial, e pelo impacto cultural da música dos EUA no pós-guerra, passaram a ser utilizados também instrumentos como trombones e trompetes, e, por influência do choro, flauta e clarineta.

Com o passar dos anos, surgiram mais vertentes no seio desse samba "nacional" urbano carioca, que ganharam denominações próprias, como o samba de breque, o samba-canção, a bossa nova, o samba-rock, o pagode, entre outras.

História

Antecedentes

Origens do termo samba

O batuque praticado durante o Brasil do século XIX, em pintura de Johann Moritz Rugendas.

Existem várias versões acerca do nascimento do termo "samba". Uma delas afirma ser originário do termo "Zambra" ou "Zamba", oriundo da língua árabe, tendo nascido mais precisamente quando da invasão dos mouros à Península Ibérica no século VIII.[11] Uma outra diz que é originário de um das muitas línguas africanas, possivelmente do quimbundo, onde "sam" significa "dar", e "ba" "receber" ou "coisa que cai". Ainda há uma versão que diz que a palavra samba vem de outra palavra africana, semba, que significa umbigada.

No Brasil, acredita-se que o termo "samba" foi uma corruptela de "semba" (umbigada), palavra de origem africana - possivelmente oriunda de Angola ou Congo, de onde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil.

Um dos registros mais antigos da palavra samba apareceu na revista pernambucana O Carapuceiro, datada de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escrevia contra o que chamou de "samba d'almocreve" - ou seja, não se referindo ao futuro gênero musical, mas sim a um tipo de folguedo (dança dramática) popular de negros daquela época. De acordo com Hiram da Costa Araújo, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros escravos na Bahia eram chamadas de "samba".

Em meados do século XIX, a palavra samba definia diferentes tipos de música introduzidas pelos escravos africanos, sempre conduzida por diversos tipos de batuques, mas que assumiam características próprias em cada Estado brasileiro, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculiaridade de cada região em que foram assentados. Algumas destas danças populares conhecidas foram: bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-chave e samba-de-barravento, na Bahia; coco, no Ceará; tambor-de-crioula (ou ponga), no Maranhão; trocada, coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado, no Pernambuco; bambelô, no Rio Grande do Norte; partido-alto, miudinho, jongo e caxambu, no Rio de Janeiro; samba-lenço, samba-rural, tiririca, miudinho e jongo em São Paulo.[1]

Favela e Tias Baianas

A partir da segunda metade do século XIX, a medida que as populações negra e mestiça na cidade do Rio de Janeiro - oriundos de várias partes do Brasil, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos do final daquele século - cresciam, estes povoavam as imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça Onze, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária. Estes povoamentos formariam comunidades pobres que estas próprias populações denominaram de favela (posteriormente, o termo se tornaria sinônimo de construções irregulares das classes menos favorecidas).

Estas comunidades seriam cenário de uma parte significativa da cultura negra brasileira, especialmente com relação ao candomblé e ao samba amaxixado daquela época. Dentre os primeiros destaques, estavam o músico e dançarino Hilário Jovino Ferreira - responsável pela fundação de vários blocos de afoxé e ranchos carnavalescos - e das "Tias Baianas" - termo como ficaram conhecidas muitas baianas descendentes de escravos no final do século XIX.

Dentre as principais "tias baianas", destacaram-se Tia Amélia (mãe de Donga), Tia Bebiana, Tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmem Xibuca), Tia Prisciliana (mãe de João da Baiana), Tia Rosa Olé, Tia Sadata, Tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana). Talvez a mais conhecida delas tenha sido Hilária Batista de Almeida - a Tia Ciata (Aciata ou ainda Asseata).[1]

Assim, o samba propriamente como gênero musical nasceria no início do século XX nas casas destas "tias baianas", como um estilo descendente do lundu, das festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão.[2]

Existem algumas controvérsias sobre o termo samba-raiado, uma das primeiras designações para o samba. Sabe-se que o samba-raiado é marcado pelo som e sotaque sertanejos/rural baiano trazidos pelas tias baianas ao Rio de Janeiro. Segundo João da Baiana, o samba raiado era o mesmo que chula raiada ou samba de partido-alto. Já para o sambista Caninha, este foi o primeiro nome teria ouvido em casa de tia Dadá. Na mesma época, surgiram o samba-corrido — que possuía uma harmonia mais trabalhada, mas ainda com o sotaque rural baiano – e o samba-chulado, mais rimado e com melodia que caracterizariam o samba urbano carioca.

Cenas baiana e paulista

O samba urbano carioca se firmaria no século XX como o "samba brasileiro" por excelência. No entanto, antes desse tipo de samba se consolidar como o "samba nacional" em todo o Brasil, havia formas tradicionais de sambas na Bahia e em São Paulo.[3]

Samba baiano antigo

O samba baiano rural adquiriu denominações suplementares, conforme as variações coreográficas - por exemplo, o "samba-de-chave", em que o dançarino solista fingia procurar no meio da roda uma chave, e quando a encontrava, era substituído.[3] A estrutura poética do samba baiano obedecia à forma verso-e-refrão - composto de um único verso, solista, a que se segue outro, repetido pelo coro de dançarinos de roda como estribilho. Não havendo refrão, o samba é denominado samba-corrido, variante pouco comum. Os cantos tirados por uma cantador, que é um dos instrumentistas ou o dançarino solista.[3]

Outra peculiaridade do samba baiano era a forma de concurso que a danças às vezes apresenta, que era uma disputa entre os participantes para ver quem melhor executava seus detalhes solistas. Afora a umbigada, comum a todo o samba, o da Bahia apresentava três passos fundamentais: corta-a-joca, separa-o-visgo e apanha-o-bago. Há também outro elemento coreográfico, dançado pelas mulheres: o miudinho (este também aparecia em São Paulo, como dança de solistas en centro de roda.).[3]

Os instrumentos do samba baiano eram o pandeiro, o violão, o chocalho e, às vezes, as castanholas e os berimbaus.[3]

Samba paulista antigo

Em São Paulo, o samba passou do domínio negro para o caboclo. E, na zona rural, pode se apresentar sem a tradicional umbigada. Há também outras variantes coreográficas, podendo os dançarinos se dispor em fileiras opostas - homens de um lado, mulheres de outro. Os instrumentos do samba paulista eram as violas, os adufes e os pandeiros.[3]

Existem referências a este tipo de samba de fileiras em Goiás, com a diferença de que lá foi conservada a umbigada. É possível que a disposição primitiva de roda, em Goiás, tenha sido alterada por influência da quadrilha ou do cateretê. De acordo com o historiador Luís da Câmara Cascudo, é possível observar a influência da cidade no samba pelo fato de ele ser também dançado por par enlaçado.[3]

Modernização e urbanização do samba carioca

Primeira geração: Donga, Sinhô e cia

Ver artigos principais: Pelo Telefone e Partido-Alto

Avó do compositor Bucy Moreira, Tia Ciata foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba carioca. Segundo o folclore de época, para que um samba alcançasse sucesso, ele teria que passar pela casa de Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias. Muitas composições foram criadas e cantadas em improvisos, caso do samba "Pelo telefone" (de Donga e Mauro de Almeida), samba para o qual também havia outras tantas versões, mas que entraria para a história da música brasileira como o primeiro a ser gravado, em 1917.[1]

Composição de Heitor dos Prazeres. Gravação de 1930 por Benedito Lacerda e grupo Gente do Morro.

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Composto por Pixinguinha e Cícero de Almeida. Interpretação de Patrício Teixeira e Trio T.B.T. gravada em 1932.

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Embora outras gravações tenham sido registradas como samba antes de "Pelo Telefone", foi esta composição assinada pela dupla Donga/Mauro de Almeida que é considerada como marco fundador do gênero. Ainda assim, a canção tem autoria discutida e sua proximidade com o maxixe fez com que fosse designada por fim como samba-maxixe. Esta vertente era influenciada pela dança maxixe e tocada basicamente ao piano - diferentemente do samba carioca tocado nos morros - e teve como expoente o compositor Sinhô, auto-intitulado "o rei do samba", que com outros pioneiros como Heitor dos Prazeres e Caninha, estabeleceria os primeiros fundamentos do gênero musical.[2]

Dentro do processo de modernização do samba urbano carioca, surgia também o futuramente conhecido Samba de partido-alto. Com suas origens nas umbigadas africanas e é a forma de samba que mais se aproxima da origem do batuque angolano, do Congo e regiões próximas.[12] O partido-alto costuma ser dividido em duas partes: o refrão e os versos. A primeira parte é o núcleo do qual correm soltos os versos improvisados. Esta cantoria é a arte de criar versos, em geral de improviso e constituído de peças da tradição oral, e cantá-los sobre uma linha melódica preexistente ou também improvisada, praticada, em diversas modalidades.[13] Por ter uma essência baseada na improvisação, o samba de partido-alto passaria a ser muito cantado principalmente nos chamados "pagodes", habituais reuniões festivas, regadas a música, comida e bebida, e mais adiante nos terreiros das futuras escolas de samba cariocas.[12][13]

Segunda Geração: Turma do Estácio e sambistas do morro

Ver artigo principal: Turma do Estácio
Morro da Mangueira: reduto de sambistas como Cartola e Nelson Cavaquinho.

Durante as primeiras décadas do século XX, a especulação imobiliária se espalhava pela cidade do Rio de Janeiro. Com isso, formaram-se diversos morros e favelas no cenário urbano carioca. O samba carioca que havia nascido no centro da cidade galgaria as as encostas dos morros e se alastraria pelos subúrbios da cidade. Estes locais seriam o celeiro de novos talentos musicais e da consolidação moderna do samba urbano carioca surgido com as "tias baianas".[14] Foram inovações tão importantes que perduram até os dias atuais dentro do samba carioca urbano, mais tarde alçado à condição de "nacional".[8][15]

Gravação de 1929 por Almirante (samba composto por Homero Dornelas). Sucesso no carnaval de 1930.

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Gravação de 1931 por Francisco Alves e Mário Reis (samba composto por Ismael Silva, Nilson Bastos e Francisco Alves)).

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Gravação de 1933 por Mario Reis (samba composto por Bide e Marçal). Samba campeão do carnval de 34.

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O grande propulsor de mudanças dentro do samba urbano carioca foi o bairro de Estácio de Sá. O Estácio de Sá era um bairro popular e com grande contingente de pretos e mulatos. Segundo o historiador José Ramos Tinhorão, era reduto de malandros - considerados pelas classes altas - "perigosos".[16] Foi nesse bairro que se gestaria o novo e definitivo samba urbano carioca, com a chamada "Turma do Estácio", onde surgiria a Deixa Falar, a primeira escola de samba brasileira.[17] Inicialmente um rancho carnavalesco, posteriormente um bloco carnavalesco e por fim, uma escola de Samba, a Deixa Falar teria sido a primeiro a desfilar no carnaval carioca ao som de uma orquestra de percussões formada por surdos, tamborins e cuícas, aos quais se juntavam pandeiros e chocalhos. Formada por alguns compositores do bairro do Estácio, entre os quais Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos e mais os malandros-sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem, a "Turma do Estácio" marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve endosso de filhos da classe média, como o ex-estudante de direito Ary Barroso e o ex-estudante de medicina Noel Rosa. Este conjunto instrumental foi chamado de "bateria" e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já era bem diferente dos de Donga, Sinhô e Pixinguinha, ou seja, um samba que adquiria uma característica de música mais "marchada" e que fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no desfile de carnaval. Assim, essa aceleração rítmica distanciava-se, sem deixar de ser batucado, do andamento amaxixado de figuras proeminentes da "primeira geração" do samba urbano carioca, que não se conformavam com o estilo que ganhava mais e mais adeptos. Para essa primeira geração, as modificações da Turma do Estácio eram uma deturpação ao samba.[8] Outra mudança estrutural decorrente do samba da Turma do Estácio foi a valorização das segundas partes da letra e música das composições. Em lugar de usar a típica improvisão das rodas de samba de partido-alto, houve a a consolidação de seqüências preestabelecidas, que teriam um tema (por exemplo: o cotidiano carioca, o amor) e a possibilidade de se encaixar tudo dentro dos padrões de gravações fonográficas da época, de 78 rpm (algo em torno de três minutos).[8]

As inovações rítmicas dos sambistas da Estácio de Sá foram assimiladas por blocos carnavalescos em Osvaldo Cruz e também alcançaram os morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos, já que suas rodas de samba eram freqüentadas por compositores dos morros cariocas, como Cartola e Gradim (da Mangueira), Canuto (do Salgueiro), Ernani Silva, o Sete (do subúrbio de Ramos), e posteriormente outros futuros bambas como Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacé, Chico Santana, Molequinho, Aniceto do Império Serrano. Acompanhados por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo, estes compositores terminariam por influenciar e lapidar as características essenciais desse novo samba carioca urbano.[3] Esse samba feito à moda do Estácio de Sá e dos sambistas dos morros cariocas firmaria-se como o samba carioca "por excelência", e com o passar do tempo, "de raiz", "autêntico".<ref name="Transformação do Samba Carioca no Século XX">{{citar livro|autor=SANDRONI, Carlos|t&#x

  1. a b c d «Verbete Samba - Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira» 🔗 
  2. a b c «Verbete Samba - Cliquemusic» 
  3. «As Origens do Samba - Folha da Manhã, 6 de agosto de 1950» 🔗 
  4. «Samba de roda baiano é proclamado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO - Portal da Unesco, 28 de novembro de 2005» 🔗 
  5. «Unesco declara samba brasileiro obra-prima - Folha Online, 25 de novembro de 2005» 🔗 
  6. "(...)a transformação do samba em música nacional não foi um acontecimento repentino, indo da repressão à louvação em menos de uma década, mas sim o coroamento de uma tradição secular de contatos(...) entre vários grupos sociais na tentativa de inventar a identidade e a cultura popular brasileiras". - VIANNA, Hermano. O Mistério do Samba. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; UFRJ, 1995, p. 34 - ISBN 8571103216.
  7. a b c d e PARANHOS, Adalberto. A invenção do Brasil como terra do samba: os sambistas e sua afirmação social. Revista História (São Paulo), vol. 22, núm. 1; UNESP 2003, pp. 81-113
  8. NAPOLITANO, Marcos. Auxilio luxuoso: Samba simbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural. Latin American Music Review - Volume 25, Number 2, Fall/Winter 2004, pp. 259-263
  9. «Verbete Samba - Nova Enciclopédia Ilustrada Folha» 
  10. Edições Símbolo (ed.). Do batuque à escola de samba: subsídios para a história do samba. 1976. [S.l.: s.n.] pp. 33 a 35  |coautores= requer |autor= (ajuda)
  11. a b LOPES, NEI - Enciclopédia brasileira da diáspora africana - Página 596 - Selo Negro Edições - ISBN 85-87478-21-4
  12. a b LOPES, Nei. Partido-alto: samba de bamba. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.
  13. «A invenção do Brasil como terra do samba: os sambistas e sua afirmação social - SciElo Brasil - Revista História, 2003» 🔗 
  14. VIANNA, Hermano. O Mistério do Samba. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; UFRJ, 1995, p. 34 - ISBN 8571103216.
  15. "Em seus botequins reuniam-se os representantes da massa flutuante da população, que, figurando como excedente de mão-de-obra num quadro econômico-social acanhado, dedicava-se a biscates, ao jogo e à exploração de mulheres da região do Mangue, que lhe ficava próxima." - TINHORÃO, José Ramos. Música Popular — Um Tema em Debate. 3a ed., Editora 34, São Paulo, 1997. Páginas 91 e 92- ISBN 8573260726
  16. "Esses "bambas", como eram conhecidos na época os líderes dessa massa de desocupados ou de trabalhadores precários, eram, pois, os mais visados no caso de qualquer ação policial. Assim, não é de estranhar que tenha partido de um desses representantes típicos das camadas mais baixas da época - Ismael Silva, Rubens e Alcebíades Barcelos, Sílvio Fernandes, o Brancura, e Edgar Marcelino dos Santos - a ideia de criar uma agremiação carnavalesca capaz de gozar da mesma proteção policial conferida aos ranchos e às chamadas Grandes Sociedades, no desfile pela Avenida, na terça-feria gorda." - TINHORÃO, José Ramos. Música Popular — Um Tema em Debate. 3a ed., Editora 34, São Paulo, 1997. Páginas 91 e 92- ISBN 8573260726