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 Nota: Não confundir com Maria do Amaral Ribeiro.
Maria Ribeiro
Nome completo Maria Ramos
Nascimento c. 1923
Juazeiro, Bahia, Brasil
Nacionalidade brasileira
Ocupação atriz
Atividade 1963 — década de 2000

Maria Ribeiro, pseudônimo de Maria Ramos (Juazeiro, c. 1923),[1][nota 1] é uma atriz brasileira. Ela esteve em atividade entre as décadas de 1960 e 2000, participando de várias produções do cinema brasileiro. Tornou-se conhecida pelo primeiro papel de sua carreira, a protagonista Sinhá Vitória no clássico filme Vidas Secas (1963), dirigido por Nelson Pereira dos Santos.

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Maria Ribeiro, cujo nome real é Maria Ramos, nasceu no início dos anos 1920 em Juazeiro, Bahia, e fez o curso primário em Pirapora, Minas Gerais.[1] Viveu parte de sua infância e juventude às margens do rio São Francisco.[3] Ainda garota, mudou-se junto com uma tia para a cidade do Rio de Janeiro, onde continuou os estudos e, posteriormente, trabalhou num laboratório farmacêutico, serviço que não a empolgou.[1] Quando estava com cerca de 40 anos, empregou-se na Líder Cine Laboratórios,[nota 2] maior empresa de revelação e edição de filmes do Brasil à época;[4] como chefe do departamento de expedição, ela acumulava as funções de recepcionista e faturista.[5][6][7]

Carreira posterior[editar | editar código-fonte]

Vidas Secas[editar | editar código-fonte]

Maria Ribeiro mora no Rio, mas viveu sua infância e sua juventude na beira do rio São Francisco, onde pegou a água, de verdade, para beber, para a família, daquele jeito, compreende?... E eu tinha muita preocupação pela interpretação física, pela maneira de carregar o pote na cabeça, a maneira de carregar a criança, a maneira de carregar o baú e andar. Eu dificilmente acharia uma atriz que tivesse o tipo físico de Sinhá Vitória e que pudesse viver a personagem com realismo.
— Nelson Pereira dos Santos sobre a escalação de Maria Ribeiro para o filme Vidas Secas.[3]

Enquanto trabalhava no laboratório Líder, Maria conheceu vários cineastas pioneiros do Cinema Novo, entre os quais Glauber Rocha, Luiz Carlos Barreto, Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos. Eles, que frequentavam o estabelecimento para obter revelação de negativos e cópias de seus filmes, também faziam do local um ponto de encontro para discussão de novos projetos do movimento. Em certa ocasião, Glauber comentou com Maria que Nelson tinha interesse na participação dela como atriz num futuro filme. Ela não acreditou na seriedade da proposta até o próprio Nelson lhe oferecer um papel no drama Vidas Secas, que estrearia em 1963.[4][5]

Sem experiência prévia com atuação nem formação em artes cênicas, Maria ficou receosa em aceitar a proposta de Nelson, pois temia perder seu emprego de carteira assinada no laboratório, uma vez que seu patrão não estava disposto a autorizá-la a participar da produção. Apesar disso, Nelson insistiu em escalar Maria, chegando a divulgar o caso na imprensa, que passou a fazer reportagens sobre o patrão que não deixava sua funcionária se tornar atriz. Herbert Richers, produtor do filme e colaborador da Líder, decidiu intervir em favor de Santos; Richers telefonou ao empregador de Maria e, dessa forma, conseguiu convencê-lo a liberá-la para as filmagens.[5][8][9]

Maria então seguiu com a equipe para o sertão de Alagoas, onde Vidas Secas, adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos, foi filmado durante quatro meses. Sob forte calor e condições precárias de produção, ela desempenhou o papel feminino principal, Sinhá Vitória, matriarca de uma família de retirantes que foge da seca no sertão nordestino. Maria contracenou com Átila Iório, intérprete do vaqueiro Fabiano, marido de Vitória na trama.[6][8] Vidas Secas recebeu aclamação da crítica mundial, sendo selecionado para o Festival de Cannes em 1964,[10] o que proporcionou à atriz oportunidades de viagens, entrevistas e participação em novos filmes.[1][6]

Outros trabalhos[editar | editar código-fonte]

Em 1965, Ribeiro apareceu no segundo filme de sua carreira, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, adaptação do conto de Guimarães Rosa dirigida por Roberto Santos;[11] ela interpretou Dionará,[12] papel pelo qual foi selecionada como representante feminina da delegação brasileira no Festival de Cannes de 1966.[6][13] Nessa época, ela morou por um ano em Roma, onde obteve um diploma emitido pelo Ente Nazionale Addestramento Lavoratori e Commercio, importante órgão de formação trabalhista da Itália. De volta ao Rio de Janeiro em 1967, tentou abrir um salão de beleza para aplicar conhecimentos de esteticismo e visagismo que havia aprendido na capital italiana.[6]

Continuou atuando nos longas-metragens Os Herdeiros (1970), de Cacá Diegues; Perdida (1976), de Carlos Alberto Prates Correia;[11] e Soledade (1976), adaptação de Paulo Thiago do romance A Bagaceira, de José Américo de Almeida.[14] Ela trabalhou mais duas vezes com Nelson Pereira dos Santos: nos dramas O Amuleto de Ogum (1974) e A Terceira Margem do Rio (1994), este último uma adaptação do livro de contos Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. Nelson a convidou para filmar A Terceira Margem do Rio quando ela voltou ao Brasil após ter morado no durante um tempo na Suíça, para onde retornou posteriormente.[11][15] O filme teve receptividade inicial negativa, a respeito da qual Maria comentou: "O público não foi generoso, mas consciente".[16] Apesar de sua estadia na Europa, ela nunca chegou a atuar no exterior.[5]

Em 2002, a atriz participou do filme As Tranças de Maria, dirigido por Pedro Carlos Rovai e adaptado de um poema de Cora Coralina; a produção foi bem recebida pela crítica, sendo premiada no Festival de Fortaleza, no Ceará, e no Festival de Cinema de Natal, no Rio Grande do Norte.[17][18] Também em 2002, apareceu no curta-metragem documental Como se Morre no Cinema, lançado como extra do DVD comemorativo do quadragésimo aniversário de Vidas Secas; Maria relembrou os bastidores da cena cuja filmagem ela considerou como a mais difícil: a sequência em que sua personagem mata um papagaio, o que exigiu a simulação da morte de uma ave real.[8][19]

Aspectos pessoais[editar | editar código-fonte]

Os anos foram passando, fui envelhecendo. Agora estou aqui, mas já me considerava morta para o cinema.
— Maria Ribeiro durante o 21.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (2002).[5]

Maria Ribeiro é a caçula de sua família; tem duas irmãs e um irmão.[1] É mãe da também atriz Vilma Lindamar.[20] Quando Vilma estava com 17 anos, Maria incentivou-a a fazer um teste para o filme Selva Trágica, de Roberto Farias, porém, ela perdeu o papel para Rejane Medeiros.[21][22] Pouco conhecida no Brasil, Vilma fez sucesso na Europa nos anos 1960, atuando numa série de telefilmes da Itália, no longa italiano Ramon il Messicano (1966) e no francês Angélique et le Sultan (1968).[20][23][24]

No início da carreira, Maria considerava sua aparência física limitante para papéis no cinema: "Meu tipo físico é muito marcante e isto limita um pouco as minhas possibilidades. Os temas regionais são os mais próprios à minha cor bem morena e aos meus traços bem brasileiros".[13] Após participar de seis filmes nas décadas de 60 e 70 e morar um período na Europa, retornou ao Brasil e trabalhou longe das telas até completar o tempo para a aposentadoria. Passou a viver numa cidade no interior da Bahia e costumava sair de lá apenas para passar férias em Genebra. Suas aparições públicas tornaram-se cada vez mais raras, geralmente atendendo a convites de seu amigo Nelson Pereira dos Santos ou comparecendo a eventos de tributo a ele.[2][5]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Ano Título Papel Notas Ref.
1963 Vidas Secas Sinhá Vitória [12]
1965 A Hora e Vez de Augusto Matraga Dionorá
1970 Os Herdeiros Teresa
1974 O Amuleto de Ogum Maria
1976 Perdida Mãe de Estela [25]
Soledade Sertaneja bonita[26] Participação especial [14]
1994 A Terceira Margem do Rio Mãe[12] [11]
2002 As Tranças de Maria Sá Virgila [17]
Como se Morre no Cinema Ela mesma Documentário de curta-metragem [19]

Notas

  1. Maria estava com 95 anos em abril de 2018.[2]
  2. Fundada no Rio de Janeiro em 1944, teve diferentes nomes ao longo de sua vigência: Laboratório Odeon (originalmente), Líder Cine Laboratórios ou Líder Cinematográfica (a partir de 1954)[4][5] e Labocine (de 1998 até seu fechamento em 2015).[4]

Referências

  1. a b c d e «O nome da Semana : Maria Ribeiro : "Sinhá Vitória" sob medida». 5.º Caderno. Correio da Manhã (21641). Ano LXIII. Rio de Janeiro. 20 de outubro de 1963. p. 5. 92 páginas. Consultado em 20 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  2. a b Osete, Ascom Luis (30 de abril de 2018). «Maria Ribeiro, atriz do filme Vidas Secas, participa de exibição da obra nesta segunda em Petrolina». RedeGN. Vale do São Francisco. Consultado em 14 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 23 de maio de 2022 
  3. a b Santos, Nelson Pereira dos; Souza, Pompeu; Emílio, Paulo (1964). «Nelson Pereira, Pompeu de Souza e Paulo Emilio debatem Vidas Secas». Contracampo. Consultado em 19 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 15 de junho de 2022 
  4. a b c d Rodrigues 2021, p. 163.
  5. a b c d e f g Gontijo, Yale (30 de novembro de 2008). «Com sabor de nostalgia». Caderno C. Correio Braziliense. Brasília. p. 3. 9 páginas. Consultado em 20 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  6. a b c d e «Maria Ribeiro: salão de beleza em vez de cinema». Revista de Domingo. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 25 de junho de 1967. p. 3. Consultado em 15 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  7. Loyola, Ignacio de (31 de julho de 1963). «Cine-ronda». Ultima Hora. Curitiba. p. 8. Consultado em 14 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  8. a b c Oricchio, Luiz Zanin (6 de dezembro de 2008). «A atriz saiu do laboratório diretamente para o sertão». Estadão. São Paulo. Consultado em 15 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2021 
  9. Rodrigues 2021, p. 163-164.
  10. «Vidas Secas» (em francês). França: Festival de Cannes. Consultado em 15 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2022 
  11. a b c d «Maria Ribeiro». Mulheres do Cinema Brasileiro. Consultado em 15 de janeiro de 2022. Cópia arquivada em 24 de janeiro de 2022 
  12. a b c AlloCiné, BoxOffice. «Maria Ribeiro (II) : Filmografia». AdoroCinema. Consultado em 16 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 16 de novembro de 2022 
  13. a b Vasconcellos, Roberto, ed. (maio de 1966). «Maria, mulher de Matraga, vai a Cannes por um outro amor». Joia (153). Ano IX. Rio de Janeiro: Bloch Editores. p. 74. 128 páginas. Consultado em 19 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  14. a b Azeredo, Ely (10 de outubro de 1976). «A literatura de José Américo na tela: "Soledade"». Jornal do Brasil (185). Ano LXXXVI. Rio de Janeiro. p. 5. Consultado em 20 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  15. AlloCiné, BoxOffice. «Maria Ribeiro (II)». AdoroCinema. Consultado em 16 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 16 de novembro de 2022 
  16. «Alegria pela metade». Caderno B. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 9 de fevereiro de 1994. p. 8. Consultado em 22 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  17. a b «Cora Coralina chega às telas». Caderno B. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 29 de julho de 2002. p. B8. Consultado em 17 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  18. «Catálogo Cinema Brasil 2007» (PDF). Brasília: Agência Nacional do Cinema. 2008. p. 246-247. Consultado em 26 de novembro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 26 de novembro de 2022 
  19. a b Nin, Joana (janeiro de 2011). «Cinema sobre cinema» (PDF) 53.ª ed. Rio de Janeiro: Centro Técnico Audiovisual; IHL. Filme Cultura: 96. Consultado em 16 de novembro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 16 de novembro de 2022 – via Cinemateca Brasileira; Banco de Conteúdo Culturais 
  20. a b «Quem é Vilma vai a Roma». Manchete (681). Ano 13. Rio de Janeiro: Bloch Editores. 8 de maio de 1965. p. 72. 120 páginas. Consultado em 17 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  21. «Arte de ser mestiça». 1.º Caderno. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 30 de outubro de 1963. p. 9. Consultado em 19 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  22. Jesus, Laércio Cardoso de (2020). «Selva Trágica: da escrita à tela». Nos caminhos do CAATI: Uma análise do filme Selva Trágica sobre os trabalhadores da erva-mate (PDF) (Tese). Universidade Federal da Grande Dourados. pp. 143–147. Consultado em 19 de novembro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 19 de novembro de 2022 
  23. «A filha de Maria». Manchete (807). Ano 15. Rio de Janeiro: Bloch Editores. 7 de outubro de 1967. p. 141. 164 páginas. Consultado em 17 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  24. «Mulher é sempre notícia». Jornal do Brasil (140). Ano LXXVII. Rio de Janeiro. 18 de setembro de 1967. p. 54. Consultado em 21 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  25. Santos, Francisco Alves dos (8 de dezembro de 1976). «Perdida: uma proposta nova do cinema brasileiro». Diário do Paraná (6459). Ano XXII. Curitiba: Diários Associados. p. 1. Consultado em 20 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 
  26. Alencar, Miriam (28 de setembro de 1976). «O romance de uma revolução». Jornal do Brasil (173). Ano LXXXVI. Rio de Janeiro. p. 46. Consultado em 20 de novembro de 2022 – via Hemeroteca Digital Brasileira 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]


Categoria:Nascidos na década de 1920 Categoria:Atrizes de cinema do Brasil Categoria:Naturais de Juazeiro (Bahia) Categoria:Atrizes afro-brasileiras Categoria:Mulheres no cinema