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Alto Sertão Baiano: diferenças entre revisões

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Revisão das 00h18min de 2 de dezembro de 2023

Alto Sertão Baiano ou Alto Sertão da Bahia é uma região histórica e geográfica localizada no interior do estado brasileiro da Bahia.

Definição

Durante o Período Colonial, a região do Alto Sertão Baiano era conhecida como "Sertão de Cima".[1][2]

A nomenclatura Alto Sertão Baiano não é adotada por órgãos de estatística e planejamento estaduais e federais, mas é bastante utilizada.[2]

De um modo geral, considerando principalmente os aspectos geográficos e a definição de documentos acadêmicos, pode ser classificada englobando os seguintes municípios pertencentes aos seguintes territórios de identidade (TI) baianos:[1][2][3][4][5]

História

A região do Alto Sertão Baiano teve como habitantes originários os indígenas jês, genericamente apelidados pelos colonizadores de tapuias, como os cariris e maracás.[6]

Os primeiros não-indígenas a explorarem a região foram provavelmente Gabriel Soares de Sousa e Belchior Dias Moreia, na última década do século XVI e primeira década do século XVII.[7][8]

A região começou a ser colonizada no século XVII, por meio da pecuária, de vaqueiros associados à Casa da Ponte, latifúndio pertencente à família Guedes de Brito.[3][4]

No início do século XVIII, ocorreu a descoberta de jazidas de ouro nas regiões de serras e adjacências dos atuais municípios de Paramirim, Érico Cardoso, Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, o que trouxe para essa área desbravadores portugueses, paulistas, mineiros, baianos e pernambucanos. Muitos dos que foram atraídos para a mineração de ouro passaram também a se dedicar à agropecuária em fazendas no Alto Sertão Baiano. Para trabalhar nessas jazidas e fazendas, foram trazidos muitos africanos escravizados.[3][4][9]

Também no século XVIII, ocorreu a mineração de salitre, composto utilizado na fabricação de explosivos e armas de fogo, na região de Palmas de Monte Alto.[10]

Graças à mineração de ouro na região de Rio de Contas e também em Minas Gerais, começaram a se formar fazendas em outras partes do Alto Sertão Baiano, para abastecer as regiões mineradoras e algumas também serviam de ponto de pouso para os viajantes, tropeiros e mineradores. Em alguns pontos de pouso, surgiram povoados que originaram vilas, como Caetité.[11]

Com a decadência da mineração de ouro, no final do século XVIII e início do XIX, muitos do que residiam nas vilas e povoados mineradores do Alto Sertão Baiano se dispersaram por essa parte do Sertão, não apenas pelas proximidades dos locais onde residiam. Esses antigos moradores de localidades mineradoras passaram a se dedicar à agricultura policultora e à pecuária.[2][3][12]

No final do século XIX e início do século XX, Caetité era uma das vilas mais desenvolvidas do interior da Bahia, sendo conhecida como “Corte no Sertão”.

Após a Revolução Sertaneja (1919-20), na qual coronéis e jagunços do interior da Bahia tentaram impedir a posse do governador J. J. Seabra, o Sertão baiano, incluindo o Alto Sertão, começou a receber mais atenção por parte das autoridades.[13]

Geografia

Geograficamente falando, o Alto Sertão Baiano está encaixado entre o Médio São Francisco, o Planalto de Conquista, a Chapada Diamantina e o Norte de Minas e é considerado uma extensão da Serra do Espinhaço na Bahia, localizada ao sul da Chapada Diamantina.  

Sobre as altitudes da região, excedem os 400 metros em quase toda a região, com exceção de algumas porções dos municípios de Ituaçu e Tanhaçu localizados no vale do Rio de Contas.[14]

O clima do Alto Sertão Baiano é, em grande parte, uma transição entre os climas semiárido e tropical semiúmido. Há certas áreas em que o clima é semiárido. Essa região do Sertão da Bahia está totalmente inclusa no chamado Polígono das secas.[2]

Os principais rios do Alto Sertão são o de Contas, Brumado, Paramirim e o Gavião.

Demografia

Segundo o censo demográfico realizado em 2022, a população do Alto Sertão Baiano, considerando os municípios citados na parte da Definição, é de 828.519 habitantes.

No censo de 2022, os municípios mais populosos do Alto Sertão eram Guanambi (87.817), Brumado (70.512) e Caetité (52.012).[15]

Etnicamente, a maioria da população do Alto Sertão Baiano é fruto da miscigenação entre portugueses, indígenas e africanos.[4][7]

Economia

As principais atividades econômicas da região do Alto Sertão Baiano são a agricultura, a pecuária e a mineração.[16][17]

A construção da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), com uma extensão de 1,5 mil quilômetros conectando Figueirópolis (TO) ao porto de Ilhéus (BA), por meio da qual serão transportados grãos e minérios, traz perspectivas econômicas para o Alto Sertão Baiano, já que essa estrada de ferro cruzará municípios da região. No entanto, dentre os problemas ocasionados pelas obras, estão danos às casas e lavouras de moradores da zona rural, incluindo de comunidades tradicionais, e os impactos ao meio ambiente.[16][18][19]

O município de Livramento de Nossa Senhora se destaca pelo cultivo de manga, sendo um dos maiores produtores da fruta no Brasil.[20]

No Alto Sertão Baiano está um dos maiores complexos eólicos da América do Sul - o do Alto Sertão -, localizado entre os municípios de Guanambi, Caetité, Igaporã e Pindaí.[21][22]

Referências

  1. a b Nogueira, Gabriela Amorim (2011). “Viver por si”, viver pelos seus: famílias e comunidades de escravos e forros no “Certam de Sima do Sam Francisco” (PDF) (Dissertação de mestrado). Santo Antônio de Jesus: Uneb. p. 18. Arquivado do original (PDF) em 2 de agosto de 2017 
  2. a b c d e Marinho, Simone Ramos (2017). Club Rio Contense: sociabilidade, instrução e assistência no sertão republicano (Rio de Contas, 1902-1966) (PDF) (Tese de doutorado). Salvador: UFBA. pp. 36–44 
  3. a b c d Neves, Erivaldo Fagundes (2003). Posseiros, rendeiros e proprietários: estrutura fundiária e dinâmica agromercantil no Alto Sertão da Bahia (1750-1850) (PDF). Recife: UFPE. 435 páginas 
  4. a b c d Neves, Erivaldo Fagundes (2001). «História de família: origens portuguesas de grupos de consanguinidade do alto sertão da Serra Geral da Bahia». Revista de Pesquisa Histórica Clio. 19 (1): 111-140. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  5. «Divisão Territorial da Bahia - Territórios de Identidade». Secretaria de Cultura da Bahia. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  6. Siering, Friedrich Câmera (2008). Conquista e dominação dos povos indígenas: resistência no Sertão dos Maracás (1650- 1701) (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. 147 páginas 
  7. a b Silva, Ana Paula Soares da (2014). APA Estadual Serra do Barbado: dos empecilhos à possível viabilidade socioambiental de um território no Circuito do Ouro – Chapada Diamantina (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. pp. 21–22 
  8. Magalhães, Basílio de (1935). Expansão geográfica do Brasil Colonial (PDF) 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional. p. 48 
  9. Almeida, Kátia Lorena Novais (2012). Escravos e libertos nas minas do Rio de Contas – Bahia, século XVIII (PDF) (Tese de doutorado). Salvador: UFBA. pp. 51–61 
  10. Faria, Luciano E.; Filgueiras, Carlos A. L. (abril de 2021). «Salitre: o produto químico estratégico no passado do Brasil». Química Nova. 44 (4). ISSN 0100-4042. doi:10.21577/0100-4042.20170695 
  11. «Sertão Produtivo» (PDF). Secretaria de Cultura do Estado da Bahia 
  12. Almeida, Kátia Lorena Novais (2006). Alforrias em Rio de Contas, século XIX (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. p. 41 
  13. «Revolução Sertaneja festeja centenário». A Tarde. 7 de fevereiro de 2019. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  14. «Hipsometria - Estado da Bahia» (PDF). SEI. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  15. Bartolo, Ana Beatriz (28 de junho de 2023). «As cidades mais populosas da Bahia, segundo Censo 2022». Valor Econômico. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  16. a b Pomponet, André (2015). Perfil Sintético - Sertão Produtivo (PDF). Salvador: Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia. p. 5 
  17. Pomponet, André (2015). Perfil Sintético - Bacia do Paramirim (PDF). Salvador: Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia. p. 6 
  18. Soares, Ingrid (2 de julho de 2023). «Obras na Ferrovia Oeste-Leste começam nessa segunda (3/7), anuncia Lula». Correio Braziliense. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  19. Barbosa, Leandro (29 de agosto de 2023). «Explosões em obra de ferrovia esburacam casas de moradores na Bahia». Intercept Brasil. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  20. «#Chapada: Livramento de Nossa Senhora está entre os cinco maiores produtos de manga do país». Jornal da Chapada. 5 de outubro de 2021. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  21. «Maior complexo eólico da América Latina é inaugurado na Bahia». iBahia. 11 de julho de 2012. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  22. «Caetité: Complexo eólico Alto Sertão II está quase pronto». Sudoeste Notícias. 22 de maio de 2014. Consultado em 2 de dezembro de 2023