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Alto Sertão Baiano ou Alto Sertão da Bahia é uma região histórica e geográfica localizada no interior do estado brasileiro da Bahia.
Definição
Durante o Período Colonial, a região do Alto Sertão Baiano era conhecida como "Sertão de Cima".[1][2]
A nomenclatura Alto Sertão Baiano não é adotada por órgãos de estatística e planejamento estaduais e federais, mas é bastante utilizada.[2]
De um modo geral, considerando principalmente os aspectos geográficos e a definição de documentos acadêmicos, pode ser classificada englobando os seguintes municípios pertencentes aos seguintes territórios de identidade (TI) baianos:[1][2][3][4][5]
- A totalidade do TI do Sertão Produtivo: Brumado, Caculé, Caetité, Candiba, Contendas do Sincorá, Dom Basílio, Guanambi, Ibiassucê, Ituaçu, Iuiú, Lagoa Real, Livramento de Nossa Senhora, Malhada de Pedras, Palmas de Monte Alto, Pindaí, Rio do Antônio, Sebastião Laranjeiras, Tanhaçu, Tanque Novo, Urandi;
- A totalidade do TI da Bacia do Paramirim: Boquira, Botuporã, Caturama, Érico Cardoso, Ibipitanga, Macaúbas, Paramirim, Rio do Pires;
- Alguns municípios do TI do Velho Chico: Igaporã, Matina, Oliveira dos Brejinhos e Riacho de Santana;
- Alguns municípios do TI do Sudoeste Baiano: Aracatu, Caraíbas, Condeúba, Cordeiros, Guajeru, Jacaraci, Licínio de Almeida, Maetinga, Mortugaba, Piripá, Presidente Jânio Quadros;
- Um município do TI da Chapada Diamantina: Rio de Contas.
História
A região do Alto Sertão Baiano teve como habitantes originários os indígenas jês, genericamente apelidados pelos colonizadores de tapuias, como os cariris e maracás.[6]
Os primeiros não-indígenas a explorarem a região foram provavelmente Gabriel Soares de Sousa e Belchior Dias Moreia, na última década do século XVI e primeira década do século XVII.[7][8]
A região começou a ser colonizada no século XVII, por meio da pecuária, de vaqueiros associados à Casa da Ponte, latifúndio pertencente à família Guedes de Brito.[3][4]
No início do século XVIII, ocorreu a descoberta de jazidas de ouro nas regiões de serras e adjacências dos atuais municípios de Paramirim, Érico Cardoso, Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, o que trouxe para essa área desbravadores portugueses, paulistas, mineiros, baianos e pernambucanos. Muitos dos que foram atraídos para a mineração de ouro passaram também a se dedicar à agropecuária em fazendas no Alto Sertão Baiano. Para trabalhar nessas jazidas e fazendas, foram trazidos muitos africanos escravizados.[3][4][9]
Também no século XVIII, ocorreu a mineração de salitre, composto utilizado na fabricação de explosivos e armas de fogo, na região de Palmas de Monte Alto.[10]
Graças à mineração de ouro na região de Rio de Contas e também em Minas Gerais, começaram a se formar fazendas em outras partes do Alto Sertão Baiano, para abastecer as regiões mineradoras e algumas também serviam de ponto de pouso para os viajantes, tropeiros e mineradores. Em alguns pontos de pouso, surgiram povoados que originaram vilas, como Caetité.[11]
Com a decadência da mineração de ouro, no final do século XVIII e início do XIX, muitos do que residiam nas vilas e povoados mineradores do Alto Sertão Baiano se dispersaram por essa parte do Sertão, não apenas pelas proximidades dos locais onde residiam. Esses antigos moradores de localidades mineradoras passaram a se dedicar à agricultura policultora e à pecuária.[2][3][12]
No final do século XIX e início do século XX, Caetité era uma das vilas mais desenvolvidas do interior da Bahia, sendo conhecida como “Corte no Sertão”.
Após a Revolução Sertaneja (1919-20), na qual coronéis e jagunços do interior da Bahia tentaram impedir a posse do governador J. J. Seabra, o Sertão baiano, incluindo o Alto Sertão, começou a receber mais atenção por parte das autoridades.[13]
Geografia
Geograficamente falando, o Alto Sertão Baiano está encaixado entre o Médio São Francisco, o Planalto de Conquista, a Chapada Diamantina e o Norte de Minas e é considerado uma extensão da Serra do Espinhaço na Bahia, localizada ao sul da Chapada Diamantina.
Sobre as altitudes da região, excedem os 400 metros em quase toda a região, com exceção de algumas porções dos municípios de Ituaçu e Tanhaçu localizados no vale do Rio de Contas.[14]
O clima do Alto Sertão Baiano é, em grande parte, uma transição entre os climas semiárido e tropical semiúmido. Há certas áreas em que o clima é semiárido. Essa região do Sertão da Bahia está totalmente inclusa no chamado Polígono das secas.[2]
Os principais rios do Alto Sertão são o de Contas, Brumado, Paramirim e o Gavião.
Demografia
Segundo o censo demográfico realizado em 2022, a população do Alto Sertão Baiano, considerando os municípios citados na parte da Definição, é de 828.519 habitantes.
No censo de 2022, os municípios mais populosos do Alto Sertão eram Guanambi (87.817), Brumado (70.512) e Caetité (52.012).[15]
Etnicamente, a maioria da população do Alto Sertão Baiano é fruto da miscigenação entre portugueses, indígenas e africanos.[4][7]
Economia
As principais atividades econômicas da região do Alto Sertão Baiano são a agricultura, a pecuária e a mineração.[16][17]
A construção da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), com uma extensão de 1,5 mil quilômetros conectando Figueirópolis (TO) ao porto de Ilhéus (BA), por meio da qual serão transportados grãos e minérios, traz perspectivas econômicas para o Alto Sertão Baiano, já que essa estrada de ferro cruzará municípios da região. No entanto, dentre os problemas ocasionados pelas obras, estão danos às casas e lavouras de moradores da zona rural, incluindo de comunidades tradicionais, e os impactos ao meio ambiente.[16][18][19]
O município de Livramento de Nossa Senhora se destaca pelo cultivo de manga, sendo um dos maiores produtores da fruta no Brasil.[20]
No Alto Sertão Baiano está um dos maiores complexos eólicos da América do Sul - o do Alto Sertão -, localizado entre os municípios de Guanambi, Caetité, Igaporã e Pindaí.[21][22]
Referências
- ↑ a b Nogueira, Gabriela Amorim (2011). “Viver por si”, viver pelos seus: famílias e comunidades de escravos e forros no “Certam de Sima do Sam Francisco” (PDF) (Dissertação de mestrado). Santo Antônio de Jesus: Uneb. p. 18. Arquivado do original (PDF) em 2 de agosto de 2017
- ↑ a b c d e Marinho, Simone Ramos (2017). Club Rio Contense: sociabilidade, instrução e assistência no sertão republicano (Rio de Contas, 1902-1966) (PDF) (Tese de doutorado). Salvador: UFBA. pp. 36–44
- ↑ a b c d Neves, Erivaldo Fagundes (2003). Posseiros, rendeiros e proprietários: estrutura fundiária e dinâmica agromercantil no Alto Sertão da Bahia (1750-1850) (PDF). Recife: UFPE. 435 páginas
- ↑ a b c d Neves, Erivaldo Fagundes (2001). «História de família: origens portuguesas de grupos de consanguinidade do alto sertão da Serra Geral da Bahia». Revista de Pesquisa Histórica Clio. 19 (1): 111-140. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ «Divisão Territorial da Bahia - Territórios de Identidade». Secretaria de Cultura da Bahia. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ Siering, Friedrich Câmera (2008). Conquista e dominação dos povos indígenas: resistência no Sertão dos Maracás (1650- 1701) (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. 147 páginas
- ↑ a b Silva, Ana Paula Soares da (2014). APA Estadual Serra do Barbado: dos empecilhos à possível viabilidade socioambiental de um território no Circuito do Ouro – Chapada Diamantina (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. pp. 21–22
- ↑ Magalhães, Basílio de (1935). Expansão geográfica do Brasil Colonial (PDF) 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional. p. 48
- ↑ Almeida, Kátia Lorena Novais (2012). Escravos e libertos nas minas do Rio de Contas – Bahia, século XVIII (PDF) (Tese de doutorado). Salvador: UFBA. pp. 51–61
- ↑ Faria, Luciano E.; Filgueiras, Carlos A. L. (abril de 2021). «Salitre: o produto químico estratégico no passado do Brasil». Química Nova. 44 (4). ISSN 0100-4042. doi:10.21577/0100-4042.20170695
- ↑ «Sertão Produtivo» (PDF). Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
- ↑ Almeida, Kátia Lorena Novais (2006). Alforrias em Rio de Contas, século XIX (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. p. 41
- ↑ «Revolução Sertaneja festeja centenário». A Tarde. 7 de fevereiro de 2019. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ «Hipsometria - Estado da Bahia» (PDF). SEI. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ Bartolo, Ana Beatriz (28 de junho de 2023). «As cidades mais populosas da Bahia, segundo Censo 2022». Valor Econômico. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ a b Pomponet, André (2015). Perfil Sintético - Sertão Produtivo (PDF). Salvador: Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia. p. 5
- ↑ Pomponet, André (2015). Perfil Sintético - Bacia do Paramirim (PDF). Salvador: Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia. p. 6
- ↑ Soares, Ingrid (2 de julho de 2023). «Obras na Ferrovia Oeste-Leste começam nessa segunda (3/7), anuncia Lula». Correio Braziliense. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ Barbosa, Leandro (29 de agosto de 2023). «Explosões em obra de ferrovia esburacam casas de moradores na Bahia». Intercept Brasil. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ «#Chapada: Livramento de Nossa Senhora está entre os cinco maiores produtos de manga do país». Jornal da Chapada. 5 de outubro de 2021. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ «Maior complexo eólico da América Latina é inaugurado na Bahia». iBahia. 11 de julho de 2012. Consultado em 1 de dezembro de 2023
- ↑ «Caetité: Complexo eólico Alto Sertão II está quase pronto». Sudoeste Notícias. 22 de maio de 2014. Consultado em 2 de dezembro de 2023