Novo Ateísmo
Novo Ateísmo é um movimento social e político que começou no início da década de 2000 em favor do ateísmo e do secularismo e que é promovido por escritores ateus modernos que defendem a ideia de que "a religião não deve ser simplesmente tolerada, deve ser combatida, criticada e exposta por argumentos racionais, sempre que a sua influência surge."[1]
Há incerteza sobre o quanto a influência do movimento tem tido sobre demografia religiosa em todo o mundo. Na Inglaterra e no País de Gales, em 2011, houve um aumento de grupos, associações de estudantes, publicações e aparições públicas de ateus, o que coincidiu com o fato de que o grupo irreligioso da sociedade é o de maior crescimento demográfico, seguido pelos islâmicos e evangélicos.[2]
O Novo Ateísmo adequa-se e muitas vezes sobrepõe-se ao humanismo secular e ao antiteísmo, particularmente em sua crítica do que muitos Novos Ateus consideram ser a doutrinação das crianças e a perpetuação de ideologias baseadas na crença no sobrenatural.
História
[editar | editar código-fonte]Em 2004, a publicação de The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason (O Fim da Fé :Religião, Terrorismo e o Futuro da Razão) de Sam Harris, um best-seller nos Estados Unidos, marcou a primeira de uma série de sucessos literários por autores ateístas. Harris foi motivado pelos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, o qual ele estabeleceu como diretamente relacionado ao islamismo, ao mesmo tempo criticando diretamente o cristianismo e o judaísmo. Dois anos mais tarde Harris seguiu com Carta a Uma Nação Cristã, que também faz uma critica severa ao cristianismo. Também em 2006, Richard Dawkins prosseguiu com o documentário de televisão The Root of All Evil? e publicou Deus, um delírio, que esteve na lista de mais vendidos do The New York Times por 51 semanas.[3][4]
Principais publicações
[editar | editar código-fonte]Estes são alguns dos livros significativos no campo do Novo Ateísmo:
- The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason por Sam Harris (2004)
- Atheist Manifesto: The Case Against Christianity, Judaism, and Islam por Michel Onfray (2005)
- Infidel: My Life por Ayaan Hirsi Ali (2006)
- The God Delusion por Richard Dawkins (2006)
- Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon por Daniel Dennett (2006)
- God: The Failed Hypothesis por Victor J. Stenger (2007)
- God Is Not Great: How Religion Poisons Everything por Christopher Hitchens (2007)
- Godless: How an Evangelical Preacher Became One of America's Leading Atheists por Dan Barker (2008)
- The God Argument por A. C. Grayling (2013)
Figuras proeminentes
[editar | editar código-fonte]"Quatro Cavaleiros do Não Apocalipse"
[editar | editar código-fonte]Durante "The God Debate", em 2010, com Christopher Hitchens vs Dinesh D'Souza, o grupo de ateus proeminentes (Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris e Daniel Dennett) foram referidos como os "Quatro Cavaleiros do Não Apocalipse", uma referência aos Cavaleiros do Apocalipse mencionadas no Livro do Apocalipse na Bíblia. Harris é o autor de livros de não-ficção best-sellers, como O Fim da Fé, Carta a Uma Nação Cristã e A Paisagem Moral, bem como co-fundador do Projeto Razão.[5]
Richard Dawkins é o autor de The God Delusion, que foi precedida por um documentário de televisão do Channel 4 intitulado The Root of All Evil?. Ele também é o fundador da Fundação Richard Dawkins para a Razão e a Ciência.[6]
Divirto-me com a estratégia, quando me perguntam se sou ateu, de lembrar que o autor da pergunta também é ateu no que diz respeito a Zeus, Apolo, Amon Ra, Mitra, Baal, Thor, Wotan, o Bezerro de Ouro e o Monstro de Esparguete Voador. Eu só fui um deus além.
Richard Dawkins, em "The God Delusion", pág.53
Christopher Hitchens foi o autor de Deus Não É Grande e foi nomeado entre os "100 intelectuais públicos" pela Foreign Policy e pela Prospect. Além disso Hitchens foi membro do conselho consultivo da Coalizão Secular para a América.[7]
Daniel Dennett, autor de A Ideia Perigosa de Darwin,[8] Quebrando o Encanto[9] e muitos outros, além de também apoiar o Projeto Clero,[10] uma organização que fornece apoio a pessoas do clero nos Estados Unidos que deixaram de acreditar em Deus e não podem participar plenamente das atividades de suas comunidades.[11]
Outros
[editar | editar código-fonte]Após a morte de Hitchens, Ayaan Hirsi Ali passou a ser descrita como a "Quarta Cavaleira do Não Apocalipse".[12] Hirsi Ali nasceu em Mogadíscio, na Somália, e fugiu para os Países Baixos em 1992, para escapar de um casamento arranjado.[13] Ela se envolveu na política holandesa, rejeitou a fé e se tornou uma importante ativista contra a ideologia islâmica, especialmente a respeito das mulheres, como exemplificado por seus livros Infidel e The Caged Virgin.[14]
Hirsi Ali posteriormente envolveu-se na produção do filme Submission, pelo qual seu amigo Theo van Gogh foi assassinado a tiro em uma ciclovia de Amsterdã por um fundamentalista islâmico. O extremista também deixou uma ameaça de morte a Hirsi Ali presa em um punhal fincado no peito de van Gogh.[15] Isto levou Hirsi Ali a se esconder e mais tarde a imigrar para os Estados Unidos, onde agora reside e continua a ser uma crítica prolífica do islamismo,[16] das religiões em geral e ao tratamento dado às mulheres na religião e nas sociedades islâmicas,[17] além de ser uma defensora da liberdade de expressão e da liberdade para ofender.[18][19]
Apesar dos "Quatro Cavaleiros" serem, indiscutivelmente, os proponentes mais importantes do Novo Ateísmo, há uma série de outras correntes de notáveis novos ateus, como Lawrence M. Krauss (autor de A Universe from Nothing),[20] Jerry Coyne (Why Evolution is True[21] e seu blogue complementar,[22] que inclui especificamente polêmicas contra questões religiosas), Greta Christina (Why are you Atheists so Angry?),[23] Victor J. Stenger (The New Atheism),[24] Michael Shermer (Why People Believe Weird Things),[25] David Silverman (presidente da American Atheists e autor de Fighting God: An Atheist Manifesto for a Religious World), Ibn Warraq (Why I Am Not a Muslim),[26] Matt Dillahunty (apresentador do webcast de TV a cabo chamado A Experiência Ateia),[27] Bill Maher (escritor e estrela do documentário de 2008 chamado Religulous),[28] Steven Pinker (notável cientista cognitivo, linguista, psicólogo e autor)[29] e Julia Galef (co-apresentadora do podcast Rationally Speaking).
Argumentos
[editar | editar código-fonte]Os novos ateus escrevem principalmente a partir de uma perspectiva científica. Ao contrário de autores anteriores, muitos dos quais achavam que a ciência era indiferente, ou mesmo incapaz de lidar com o conceito de "Deus", Richard Dawkins argumenta o contrário, alegando que a "Hipótese de Deus" é uma hipótese científica válida,[30] que produz efeitos no universo físico e, como qualquer outra hipótese, pode ser testada e refutada. Outros novos ateus, como Victor J. Stenger, propõem que o Deus abraâmico é uma hipótese científica que pode ser testada por métodos padrão da ciência. Tanto Dawkins quanto Stenger concluem que esta hipótese falha diante de tais testes[31] e argumentam que o naturalismo é suficiente para explicar tudo o que observamos no universo, das galáxias mais distantes, a origem da vida, as espécies e os funcionamentos internos do cérebro e da consciência. Em nenhum lugar, argumentam eles, é necessário introduzir Deus ou o sobrenatural para compreender a realidade. Novos Ateus têm sido associados ao argumento do ocultamento divino e à ideia de que "ausência de evidência é evidência de ausência".
Testes científicos da religião
[editar | editar código-fonte]Os novos ateus afirmam que muitas reivindicações religiosas ou sobrenaturais (como o nascimento virginal de Jesus e a vida após a morte) são afirmações científicas por natureza. Eles argumentam, assim como deístas e cristãos progressistas, por exemplo, que a questão da suposta ascendência de Jesus não é uma questão de "valores" ou "moral", mas uma questão de investigação científica.[32] Os novos ateus acreditam que a ciência é agora capaz de investigar pelo menos algumas, se não todas, as reivindicações sobrenaturais.[33] Instituições como a Mayo Clinic e a Universidade de Duke estão tentando encontrar suporte empírico para o poder de cura da oração de intercessão.[34] De acordo com Stenger, estas experiências não encontraram nenhuma evidência de que a oração de intercessão funciona.[35]
Argumentos lógicos
[editar | editar código-fonte]Stenger também argumenta em seu livro God: The Failed Hypothesis que um Deus onisciente, onibenevolente e onipotente, que ele chamou de um "Deus 3O", não pode logicamente existir.[36] Uma série semelhante de refutações lógicas da existência de um Deus com vários atributos podem ser encontradas na obra The Impossibility of God de Michael Martin e de Ricki Monnier,[37] ou no artigo de Theodore M. Drange, "Incompatible-Properties Arguments".[38]
Magistérios não-interferentes
[editar | editar código-fonte]Os novos ateus são particularmente críticos da visão de "magistérios não-interferentes" defendida por Stephen Jay Gould sobre a existência de um "domínio em que uma forma de ensino tem as ferramentas apropriadas para o discurso significativo e a resolução".[39] Na proposta de Gould, ciência e religião devem limitar-se a domínios distintos e não sobrepostos: a ciência seria limitada à esfera empírica, incluindo teorias desenvolvidas para descrever observações, enquanto a religião abordaria questões de valor moral. Os líderes do Novo Ateísmo afirmam que esta ideia não descreve fatos empíricos sobre a intersecção entre ciência e religião. Em um artigo publicado na revista Free Inquiry[32] e mais tarde em seu livro de 2006 Deus, um delírio, Dawkins escreve que as religiões abraâmicas lidam constantemente com assuntos científicos. Matt Ridley observa que a religião faz mais do que falar sobre significados morais e a ciência não está proibida de fazer o mesmo. Afinal de contas, a moral envolve o comportamento humano, um fenômeno observável, e a ciência é o estudo de fenômenos observáveis. Ridley observa que há investigação científica substancial sobre as origens evolutivas da ética e da moralidade.[40]
Ciência e moralidade
[editar | editar código-fonte]A ideia de que a ciência e os fatos objetivos atualmente desconhecidos podem instruir a moralidade humana de uma forma globalmente comparável foi popularizada por Sam Harris. No livro A Paisagem Moral,[41] Harris propõe que o bem-estar humano e, inversamente, o sofrimento podem ser pensados como uma paisagem com picos e vales que representam inúmeras maneiras de conseguir extremos na experiência humana e que existem estados objetivos de bem-estar.
Política
[editar | editar código-fonte]O Novo Ateísmo é politicamente engajado de várias maneiras, como campanhas para reduzir a influência da religião na esfera pública, tentativas para promover a mudança cultural sobre a aceitação generalizada do ateísmo e esforços para promover a ideia de uma "identidade ateia". As divisões estratégicas internas sobre estas questões também têm sido notáveis, assim como as questões sobre a diversidade do movimento em termos de equilíbrio entre gêneros e raças.[42]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Hooper, Simon. «The rise of the New Atheists». CNN. Consultado em 16 de março de 2010
- ↑ «Census 2011: religion, race and qualifications - see how England & Wales have changed». The Guardian
- ↑ «The God Delusion One-Year Countdown». RichardDawkins.net. Consultado em 5 de outubro de 2007. Cópia arquivada em 28 de agosto de 2008
- ↑ The New Atheism Is Dead, Long Live Atheism por ADAM LEE (2019)
- ↑ Harris, Sam (2012). Free Will. [S.l.]: The Free Press. 96 páginas. ISBN 1451683405
- ↑ Dawkins, Richard (2007). The God Delusion. [S.l.]: Black Swan. ISBN 978-0-552-77429-1
- ↑ Hitchens, Christopher (2007). God is Not Great: how religion poisons everything. [S.l.]: Atlantic Books; First Trade Edition. 320 páginas. ISBN 1843545748
- ↑ Dennett, Daniel (1996). Darwin's Dangerous Idea. [S.l.: s.n.] 592 páginas. ISBN 014016734X
- ↑ Dennett, Daniel (2007). Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon. [S.l.]: Penguin. 464 páginas. ISBN 0141017775
- ↑ Dennet, Daniel. «Clergy Project». Consultado em 9 de março de 2016. Arquivado do original em 22 de janeiro de 2013
- ↑ «Clergy Project Home Page»
- ↑ "Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris & Ayaan Hirsi Ali"
- ↑ «Ayaan Hirsi Ali»
- ↑ Hirsi Ali, Ayaan (2008). The Caged Virgin. [S.l.: s.n.] ISBN 0743288343
- ↑ «Controversial filmmaker shot dead» (em inglês). 2 de novembro de 2004
- ↑ Hirsi Ali, Ayaan (2 de Junho de 2012). «The Global War on Christians in the Muslim world». Newsweek
- ↑ Burke, Kathleen (14 de Maio de 2012). «Ayaan Hirsi Ali on Protecting Women From Militant Islam». Smithsonian Magazine
- ↑ Hirsi Ali, Ayaan (17 de Setembro de 2012). «Ayaan Hirsi Ali on the Islamist´s Foinal Stand». Newsweek
- ↑ Ali, Ayaan Hirsi (20 de Abril de 2015). «Defending the Right to Offend». Huffington Post
- ↑ Krauss, Lawrence (2012). A Universe from Nothing. [S.l.]: Simon & Schuster; First Thus edition. 224 páginas. ISBN 1471112683
- ↑ Coyne, Jerry (2010). Why Evolution is True. [S.l.]: OUP Oxford. 336 páginas. ISBN 0199230854
- ↑ Coyne, Jerry. «WEIT»
- ↑ Christina, Greta (2012). Why Are you Atheists so Angry. [S.l.: s.n.] 184 páginas. ISBN 0985281529
- ↑ Stenger, Victor (2009). The New Atheism. [S.l.]: Prometheus Books. 282 páginas. ISBN 9781591027515
- ↑ Shermer, Michael. Why People Believe Weird Things. [S.l.]: Souvenir Press (14 Sep 2007). 384 páginas. ISBN 0285638033
- ↑ Warraq, Ibn (2003). Why I am not a Muslim. [S.l.]: Prometheus Books. 428 páginas. ISBN 1591020115
- ↑ Robertson, David (11 de março de 2014), «Should Christians be nice in dealing with nasty atheists?», Christian Today
- ↑ «Bill Maher - Celebrity Atheist List». www.celebatheists.com. Consultado em 29 de setembro de 2015
- ↑ Paulson, Steve. «Proud atheists». Consultado em 29 de setembro de 2015
- ↑ Dawkins, Richard (2008). The God Delusion. Boston: Houghton Mifflin
- ↑ Stenger, 2008
- ↑ a b Dawkins, Richard. «When Religion Steps on Science's Turf : The Alleged Separation Between the Two Is Not So Tidy». Free Inquiry magazine. 18 (2)
- ↑ Fishman, Yonatan. «Can Science Test Supernatural Worldviews?» (PDF)
- ↑ Stenger, Victor J. «Supernatural Science». mukto-mona
- ↑ Stenger, Victor J. (2009). The new atheism : taking a stand for science and reason. Amherst, New York: Prometheus Books. p. 70. ISBN 1-59102-751-9
- ↑ Stenger, Victor J. (2007). «1». God : the failed hypothesis : how science shows that God does not exist [Nachdr.] ed. Amherst (New York): Prometheus Books. ISBN 1-59102-481-1
- ↑ Martin, Michael; Monnier, Ricki (2003). The Impossibility of God. [S.l.]: Prometheus Books
- ↑ «Incompatible-Properties Arguments». Philo (2): 49–60. 1998
- ↑ Gould, Stephen Jay (1999). Rocks of Ages: Science and Religion in the Fullness of Life, The Library of Contemporary Thought. New York: Ballantine Pub. Group
- ↑ Ridley, Matt (1998). The Origins of Virtue: Human Instincts and the Evolution of Cooperation. [S.l.]: Penguin
- ↑ Harris, Sam (2012). The Moral Landscape. [S.l.]: Black Swan. ISBN 0552776386
- ↑ Kettell, Steven (2013). «Faithless: The Politics of New Atheism». Secularism and Non Religion. 2: 61–78