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Um grafo tridimensional de percolação local

Em física estatística e matemática, a teoria da percolação descreve o comportamento de grupos conectados em um grafo aleatório. As aplicações da teoria da percolação à ciência dos materiais e outros domínios são discutidas no verbete percolação.

Introdução[editar | editar código-fonte]

Uma questão representativa (e a origem do nome) é a seguinte. Suponha que um líquido é despejado no topo de um material poroso. O líquido será capaz de fazer seu caminho de poro a poro e atingir o fundo? Esta questão física é modelada matematicamente como uma rede tridimensional de n x n x n vértices, geralmente chamados de "locais", em que a aresta ou "ligação" entre dois vizinhos pode estar aberta (permitindo a passagem do líquido) com probabilidade p, ou fechada com probabilidade 1 – p, assumindo-se que são independentes. Por isso, para uma dada p, qual é a probabilidade de que um caminho aberto (sendo um caminho uma sequência de "ligações" abertas) exista do topo ao fundo? O comportamento para um n grande é de interesse primário. Este problema, agora chamado de percolação de ligação, foi introduzido na literatura de matemática por Broadbent & Hammersley (1957),[1] e tem sido estudado intensivamente por matemáticos e físicos desde então.

Em um modelo matemático levemente diferente para obter um grafo aleatório, o local está "ocupado" com probabilidade p ou "vazio" (no caso em que suas arestas foram removidas) com probabilidade 1-p; o problema correspondente é chamado de percolação local. A questão é a mesma: para uma dada p, qual é a probabilidade de que um caminho exista do topo ao fundo?

Certamente, as mesmas questões podem ser feitas a qualquer dimensão da rede. Como é muito típico, na verdade, é mais fácil examinar redes infinitas do que redes grandes. Neste caso, a questão correspondente é: existe um grupo aberto infinito? Isto é, há um caminho de pontos conectados de infinito comprimento "através" da rede? Pela lei zero-um de Kolmogorov, para qualquer p dada, a probabilidade de que um grupo infinito exista é zero ou um. Já que esta probabilidade é uma função crescente de p (prova via argumento de acoplamento), deve haver um p crítico (denotado por pc) abaixo do qual a probabilidade é sempre 0 e acima do qual a probabilidade é sempre 1. Na prática, esta criticidade é muito fácil de observar. Mesmo para um n tão baixo quanto 100, a probabilidade de um caminho aberto do topo ao fundo aumenta bruscamente de muito próxima de zero a muito próxima de um em um curto intervalo de valores de p.

Em alguns casos, pc pode ser calculado explicitamente. Por exemplo, para o reticulado quadrado Z2 em duas dimensões, pc = 1/2 para percolação de ligação, um fato que foi uma questão aberta por mais de 20 anos e que foi finalmente resolvido por Harry Kesten no começo da década de 1980.[2] Um caso limite para reticulados em muitas dimensões é dado pelo reticado de Bethe (um tipo específico de grafo de Cayley), cujo limiar está em pc = 1/(z − 1) para um número de coordenação z. Para a maioria dos grafo reticulados infinitos, pc não pode ser calculada com exatidão.

Detalhe de uma percolação de ligação no reticulado quadrado em duas dimensões com probabilidade de percolação p = 0.51

Universalidade[editar | editar código-fonte]

O princípio da universalidade afirma que o valor numérico da pc é determinado pela estrutura local do grafo, enquanto que o tipo de comportamento dos grupos observado abaixo da, na e acima da pc é independente da estrutura local e, por isso, em algum sentido, é mais natural considerar estes comportamentos do que a pc propriamente. Esta universalidade também quer dizer que, para uma dada dimensão, os vários expoentes críticos, a dimensão fractal dos grupos em pc é independente do tipo de reticulado e do tipo da percolação (isto é, de ligação ou local). No entanto, recentemente, a percolação tem sido realizada em um retículo estocástico plano ponderado e descobriu-se que, ainda que a dimensão do retículo estocástico plano ponderado coincida com a dimensão do espaço em que está inserido, sua classe de universalidade é diferente daquela de todos os reticulados planos conhecidos.[3]

Fases[editar | editar código-fonte]

Subcrítica e supercrítica[editar | editar código-fonte]

O principal fato na fase subcrítica é o "decaimento exponential". Isto é, quando p < pc, a probabilidade de que um ponto específico (por exemplo, a origem) esteja contido em um grupo aberto de tamanho r (o que significa um conjunto máximo conectado de arestas "abertas" do grafo) decai a zero exponencialmente em r. Isto foi provado para a percolação em três ou mais dimensões por Menshikov (1986)[4] e independentemente por Aizenman & Barsky (1987)[5]. Em duas dimensões, formou parte da prova de Kesten de que pc = 1/2.[6]

O grafo dual do reticulado quadrado Z2 também é um reticulado quadrado. Isto segue do fato de que, em duas dimensões, a fase supercrítica é dual em relação a um processo de percolação subcrítica. Isto oferece essencialmente informação completa sobre o modelo supercrítico com d = 2. O principal resultado para a fase supercrítica em três ou mais dimensões é que, para N suficientemente grande, há um grupo aberto infinito na laje bidimensional Z2 × [0, N]d−2. Isto foi provado por Grimmett & Marstrand (1990).[7]

Em duas dimensões com p < 1/2, há, com probabilidade um, um grupo fechado infinito (um grupo fechado é o conjunto máximo conectado de arestas "fechadas" do grafo). Assim, a fase subcrítica pode ser definida como ilhas abertas finitas em um oceano infinito fechado. Quando p > 1/2, ocorre simplesmente o oposto, com ilhas fechadas finitas em um oceano aberto infinito. A imagem é mais complicada quando d ≥ 3 sendo pc < 1/2, havendo coexistência entre grupos abertos e fechados infinitos para p entre pc e 1 − pc.

Crítica[editar | editar código-fonte]

O modelo tem uma singularidade no ponto crítico p = pc acreditada como sendo do tipo de uma lei de potência. A teoria do escalamento prevê a existência de expoentes críticos, dependendo do número d de dimensões, que determina a classe da singularidade. Quando d = 2, estas previsões são corroboradas por argumentos da teoria do campo conformal e da evolução de Schramm–Loewner e incluem valores numéricos previstos para os expoentes. Em sua maioria, estas previsões são conjeturais, exceto quando o número d de dimensões satisfaça as condições d = 2 ou d ≥ 19. Elas incluem:

  • Não há grupos infinitos (abertos ou fechados).
  • A probabilidade de que haja um caminho aberto a partir de algum ponto fixo (por exemplo, a origem) a uma distância r decresce polinomialmente, isto é, está na ordem de r α para algum α.
    • α não depende do reticulado particular escolhido ou de outros parâmetros locais. Depende apenas da dimensão d (esta é uma instância do princípio da universalidade).
    • αd decresce de d = 2 até d = 6 e então permanece fixo.
    • α2 = −5/48.
    • α6 = −1.
  • A forma de um grupo grande em duas dimensões é conformemente invariante.[8]

Em dimensão ≥ 19, estes fatos são em grande parte provados pelo uso de uma técnica conhecida como expansão de renda. Acredita-se que uma versão da expansão de renda deve ser válida para 7 ou mais dimensões, talvez com implicações também para o caso limiar de 6 dimensões. A conexão da percolação com a expansão de renda é encontrada em Hara & Slade (1990).[9]

Em dimensão 2, o primeiro fato ("não há percolação na fase crítica") é provado para muitos reticulados, usando dualidade. Progressos substanciais têm sido feitos na percolação bidimensional pela conjetura de Oded Schramm de que o limite escalar de um grupo grande pode ser descrito em termos de uma evolução de Schramm-Loewner. A conjetura foi provada por Smirnov (2001)[10] no caso especial da percolação local no retículo triangular.

Modelos diferentes[editar | editar código-fonte]

  • O primeiro modelo estudado foi a percolação de Bernoulli. Neste modelo, todas as ligações são independentes. Este modelo é chamado de percolação de ligação pelos físicos.
  • Uma generalização foi introduzida em seguida pelo modelo de grupo aleatório de Fortuin-Kasteleyn, que têm muitas conexões com o modelo Ising e outros modelos Potts.
  • A percolação de Bernoulli (ou de ligação) em grafos completos é um exemplo de grafo aleatório. A probabilidade crítica é p = 1/N, em que N é um número de vértices (locais) do grafo.
  • A percolação de bootstrap remove células ativas dos grupos quando eles têm muito poucos vizinhos ativos e olha para a conectividade das células remanescentes.[11]
  • A percolação direcionada, que tem conexões com o processo de contato.
  • A percolação de primeira passagem.
  • A percolação por invasão.
  • A percolação com conexões de dependência foi introduzida por Parshani et al.[12]
  • Modelo de opinião.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Broadbent, S. R.; Hammersley, J. M. (2008). «Percolation processes». Mathematical Proceedings of the Cambridge Philosophical Society. 53 (03). 629 páginas. Bibcode:1957PCPS...53..629B. ISSN 0305-0041. doi:10.1017/S0305004100032680 
  2. Bollobás, Béla; Riordan, Oliver (2006). «Sharp thresholds and percolation in the plane». Random Structures and Algorithms. 29 (4): 524–548. ISSN 1042-9832. doi:10.1002/rsa.20134 
  3. M. K. Hassan and M. M. Rahman, “Percolation on a multifractal scale-free planar stochastic lattice and its universality class” Phys. Rev. E (Rapid Communication) 92 040101(R) (2015) https://doi.org/10.1103/PhysRevE.92.040101; M. K. Hassan and M. M. Rahman, “Universality class of site and bond percolation on multi-multifractal scale-free planar stochastic lattice” Phys. Rev. E, 94 042109 (2016) https://doi.org/10.1103/PhysRevE.94.042109
  4. Menshikov, Mikhail (1986). «Coincidence of critical points in percolation problems». Soviet Mathematics Doklady (33): 856–859 
  5. Aizenman, Michael; Barsky, David J. (1 de setembro de 1987). «Sharpness of the phase transition in percolation models». Communications in Mathematical Physics (em inglês). 108 (3): 489–526. ISSN 0010-3616. doi:10.1007/BF01212322 
  6. Kesten, Harry (1982). «Percolation Theory for Mathematicians». doi:10.1007/978-1-4899-2730-9 
  7. Grimmett, G. R.; Marstrand, J. M. (1990). «The Supercritical Phase of Percolation is Well Behaved». Proceedings of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering Sciences. 430 (1879): 439–457. ISSN 1364-5021. doi:10.1098/rspa.1990.0100 
  8. Grimmett, Geoffrey (1999). «Percolation». 321. ISSN 0072-7830. doi:10.1007/978-3-662-03981-6 
  9. Hara, Takashi; Slade, Gordon (1990). «Mean-field critical behaviour for percolation in high dimensions». Communications in Mathematical Physics. 128 (2): 333–391. Bibcode:1990CMaPh.128..333H. ISSN 0010-3616. doi:10.1007/BF02108785 
  10. Smirnov, Stanislav (2001). «Critical percolation in the plane: conformal invariance, Cardy's formula, scaling limits». Comptes Rendus de l'Académie des Sciences - Series I - Mathematics. 333 (3): 239–244. Bibcode:2001CRASM.333..239S. ISSN 0764-4442. doi:10.1016/S0764-4442(01)01991-7 
  11. Adler, Joan (1991), «Bootstrap percolation», Physica A: Statistical Mechanics and its Applications, 171 (3): 453–470, doi:10.1016/0378-4371(91)90295-n .
  12. Parshani, R.; Buldyrev, S. V.; Havlin, S. (2010). «Critical effect of dependency groups on the function of networks». Proceedings of the National Academy of Sciences. 108 (3): 1007–1010. Bibcode:2011PNAS..108.1007P. ISSN 0027-8424. arXiv:1010.4498Acessível livremente. doi:10.1073/pnas.1008404108 
  13. Shao, Jia; Havlin, Shlomo; Stanley, H. Eugene (2009). «Dynamic Opinion Model and Invasion Percolation». Physical Review Letters. 103 (1). Bibcode:2009PhRvL.103a8701S. ISSN 0031-9007. doi:10.1103/PhysRevLett.103.018701 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]