Saltar para o conteúdo

Inteligibilidade mútua

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Intercompreensão)
As cores semelhantes indicam línguas que pertencem ao mesmo continuum dialetal. As setas indicam alta inteligibilidade mútua.

Em linguística, a inteligibilidade mútua ou intercompreensão é a relação entre os idiomas em que os falantes de línguas diferentes, mas relacionadas, podem compreender uns aos outros com relativa facilidade, sem estudos intencionais ou esforços extraordinários. Às vezes, é usada como um critério para distinguir línguas de dialetos, embora os fatores sociolinguísticos também sejam importantes.

A inteligibilidade entre línguas pode ser assimétrica, quando o falante de um idioma entende os falantes de outro, mas sem que ocorra o inverso. É quando ela é relativamente simétrica que é caracterizada como "mútua". Ela existe em diferentes graus entre muitas línguas aparentadas ou geograficamente próximas do mundo, muitas vezes no contexto de uma continuidade dialetal.

Inteligibilidade, dentro de todas as línguas, pode variar entre indivíduos ou grupos dentro de uma certa população, de acordo com seu conhecimento sobre a etimologia e vocabulário do seu próprio idioma, seu interesse e familiaridade com outras línguas, o domínio da conversação, traços psico cognitivos, o modo de comunicação utilizado (escrito e/ou oral), entre outros.

Línguas mutualmente inteligíveis ou variedades de línguas

[editar | editar código-fonte]

Não há distinção formal entre duas línguas diferentes e duas variedades de uma única língua, mas linguistas geralmente usam inteligibilidade mútua como um dos fatores decisivos para eleger um dos dois casos. Alguns linguistas consideram a inteligibilidade mútua como critério primário para distinguir idiomas de dialetos. Por outro lado, falantes de línguas relacionadas geograficamente podem se comunicar a um nível considerável, mesmo possuindo diferentes graus de inteligibilidade mútua. Como exemplo, no caso de uma corrente linear de dialetos que possui três variedades, onde os falantes perto do centro podem entender as variedades de ambos os extremos, porém os extremos não tem o mesmo privilégio, não sendo considerada tal corrente uma única língua. Caso a variedade central desapareça e somente as dos extremos sobrevivam, as mesmas, então, serão consideradas duas línguas diferentes, mesmo que não tenha ocorrido algum mudança na linguagem.

Além disso, convenções políticas e sociais costumam destruir considerações de inteligibilidade mútua. Por exemplo, as variedades do chinês e do árabe são consideradas uma língua única, apesar de não haver inteligibilidade mútua entre algumas dessas variantes. Em contraste, há uma significante inteligibilidade mútua entre diferentes idiomas escandinavos, mas como cada um deles tem seu próprio formato padrão, são classificados como línguas diferentes. Para lidar com o conflito em casos como o árabe, o chinês e o alemão, às vezes é visto o termo “Dachsprache” (uma língua “guarda-chuva” sociolinguística). Árabe, chinês e alemão são idiomas no senso sociolinguístico, mesmo que alguns falantes não se compreendam sem a ajuda de algum recurso.

Inteligibilidade assimétrica

[editar | editar código-fonte]

Inteligibilidade assimétrica é uma expressão usada por linguistas para descrever duas línguas que são mutualmente inteligíveis, mas quando um grupo tem maior dificuldade de compreendimento do que o outro. Pode haver várias razões para isso. Por exemplo, se uma língua esta relacionada à outra, porém tem sua gramática simplificada, os falantes da língua original podem entender a linguagem simplificada, mas não o contrário.

Em outros casos, dois idiomas têm uma forma de escrita similar, mas são falados de maneira distinta. Se a forma falada de uma das línguas é mais parecida com a forma de escrita comum, falantes da outra língua podem entender mais esse idioma do que o contrário. Isso pode ser observado na circunstância de os povos de língua portuguesa compreenderem a língua espanhola mais facilmente que os povos de língua espanhola compreenderem a língua portuguesa, já que algumas letras (ex. ‹a e i o u r n s›) na língua espanhola tendem a ter uma só pronúncia (ou se há várias pronúncias, são similares), enquanto que na língua portuguesa a pronúncia depende do contexto e da posição dentro de uma palavra.

No entanto, talvez a razão mais comum da aparente inteligibilidade assimétrica é que falantes de uma variedade têm maior exposição a outra variedade do que vice-versa. Por exemplo, falantes do inglês escocês têm maior exposição ao inglês americano através de filmes e programas de televisão, enquanto os falantes de inglês americano tem pouco exposição ao inglês escocês. Portanto, falantes de inglês americano geralmente tem dificuldade de entender o inglês escocês, enquanto falantes do inglês escocês têm pouca dificuldade para entender o inglês americano.

Em alguns casos é difícil distinguir inteligibilidade mútua e conhecimento básico de uma língua. Muitos bielorrussos e ucranianos possuem conhecimento avançado da língua russa e usam-na como segunda língua. Assim podem facilmente compreender o russo, e os russos nativos entendem parcialmente o bielorrusso e o ucraniano.

O norueguês bokmål e o dinamarquês padrão têm inteligibilidade assimétrica, pois falantes do norueguês entendem dinamarquês melhor que o contrário.[1]

Lista de línguas mutuamente inteligíveis

[editar | editar código-fonte]

Forma escrita e falada

[editar | editar código-fonte]

Forma falada somente

[editar | editar código-fonte]

Forma escrita somente

[editar | editar código-fonte]

Dialetos ou registros de uma língua às vezes considerados línguas separadas

[editar | editar código-fonte]

Dialeto continuum

[editar | editar código-fonte]

Devido às dificuldades de imposição de limites em um continuum dialetal, várias línguas românicas são tomadas como exemplo, no registro de linguasphere das comunidades linguísticas do mundo. David Dalby lista 9 grupos linguísticos baseados em inteligibilidade mútua. [47]

Referências

  1. a b c d e f g Gooskens, Charlotte (2007). «The Contribution of Linguistic Factors to the Intelligibility of Closely Related Languages» (PDF). University of Groningen. Journal of Multilingual and Multicultural Development. 28 (6). Consultado em 19 de maio de 2010 
  2. a b Beerkens, Roos (2010). Receptive Multilingualism as a Language Mode in the Dutch-German Border Area. [S.l.]: Waxmann Publishing Co. p. 51. ISBN 978-3-8309-2346-6 
  3. a b [1]
  4. a b «Language Materials Project: Turkish». UCLA International Institute, Center for World Languages. 2007. Consultado em 26 de abril de 2007. Arquivado do original em 11 de outubro de 2007 
  5. a b Sinor, Denis (1969). Inner Asia. History-Civilization-Languages. A syllabus. [S.l.]: Bloomington. pp. 71–96. ISBN 0-87750-081-9 
  6. a b c Alexander M. Schenker. 1993. "Proto-Slavonic," The Slavonic Languages. (Routledge). Pp. 60-121. Pg. 60: "[The] distinction between dialect and language being blurred, there can be no unanimity on this issue in all instances..."
    C.F. Voegelin and F.M. Voegelin. 1977. Classification and Index of the World's Languages (Elsevier). Pg. 311, "In terms of immediate mutual intelligibility, the East Slavic zone is a single language."
    Bernard Comrie. 1981. The Languages of the Soviet Union (Cambridge). Pg. 145-146: "The three East Slavonic languages are very close to one another, with very high rates of mutual intelligibility...The separation of Russian, Ukrainian, and Belorussian as distinct languages is relatively recent...Many Ukrainians in fact speak a mixture of Ukrainian and Russian, finding it difficult to keep the two languages apart...
  7. a b Language profile Macedonian Arquivado em 11 de março de 2009, no Wayback Machine., UCLA International Institute
  8. Wright, Sue (1996). Monolingualism and bilingualism: Lessons from Canada and Spain. [S.l.]: Multilingual Matters Ltd. p. 80. ISBN 1-85359-354-0 
  9. a b GAVILANES LASO, J. L. (1996) Algunas consideraciones sobre la inteligibilidad mutua hispano-portuguesa In: Actas del Congreso Internacional Luso-Español de Lengua y Cultura en la Frontera, Cáceres, Universidad de Extremadura, 175-187.
  10. a b Comparação Português e Castelhano
  11. a b Algumas observações sobre a noção de língua portuguesa
  12. [2]
  13. https://www.ethnologue.com/language/italo-dalmatian languages
  14. a b c Trudgill, Peter (2004). «Glocalisation and the Ausbau sociolinguistics of modern Europe» (PDF). In: Duszak, Anna; Okulska, Urszula. Speaking from the Margin: Global English from a European Perspective. Col: Polish Studies in English Language and Literature 11. [S.l.]: Peter Lang. ISBN 0-8204-7328-6 
  15. a b c Bø, I (1976). «Ungdom od nabolad. En undersøkelse av skolens og fjernsynets betydning for nabrospråksforstålen.». Rogalandsforskning. 4 
  16. a b c d e Dari/Persian/Tajik languages
  17. «Cópia arquivada». Consultado em 25 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2011 
  18. a b Katzner, Kenneth (2002). The languages of the world. [S.l.]: Routledge. p. 105. ISBN 0-415-25003-X 
  19. Taagepera, Rein (1999). The Finno-Ugric republics and the Russian state. [S.l.]: Routledge. p. 100. ISBN 0-415-91977-0 
  20. a b Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome ReferenceA
  21. a b Beswick, Jaine (2005). «Linguistic homogeneity in Galician and Portuguese borderland communities». Estúdios de Sociolinguística. 6 (1): 39–64 
  22. [3]
  23. [4]
  24. a b Kirundi Language
  25. https://www.ethnologue.com/language/lim
  26. Macedonian language Arquivado em 11 de março de 2009, no Wayback Machine. on UCLA
  27. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Tea and a lump o' cake
  28. a b «Tokelauan language». Consultado em 25 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 8 de novembro de 2012 
  29. http://elanguage.net/journals/sal/article/viewFile/1038/1099
  30. a b Avrum Ehrlich, Mark (2009). Encyclopedia of the Jewish Diaspora: origins, experience and culture, Volume 1. [S.l.]: ABC-CLIO. p. 192. ISBN 978-1-85109-873-6 
  31. https://www.ethnologue.com/language/lad
  32. a b Ausbau and Abstand languages
  33. «Cópia arquivada». Consultado em 28 de janeiro de 2019. Cópia arquivada em 1 de maio de 2013 
  34. a b Hahn, Reinard F. (1998). «Uyghur». In: Lars Johanson, Éva Csató. The Turkic Languages. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 379. ISBN 978-0-415-08200-6 
  35. Barbour, Stephen (2000). Language and nationalism in Europe. [S.l.]: Oxford University Press. p. 106. ISBN 978-0-19-925085-1 
  36. http://www.let.rug.nl/gooskens/pdf/pres_exapp2010a_2010.pdf
  37. «Cópia arquivada». Consultado em 28 de janeiro de 2019. Arquivado do original em 9 de maio de 2008 
  38. Fortson, Benjamin W. (2004). Indo-European Language and Culture: An Introduction. [S.l.]: Wiley-Blackwell. p. 315. ISBN 1-4051-0316-7 
  39. Gumperz, John J. (fevereiro de 1957). «Language Problems in the Rural Development of North India». The Journal of Asian Studies. 16 (2): 251–259 
  40. Swan, Michael (2001). Learner English: a teacher's guide to interference and other problems. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 279. ISBN 978-0-521-77939-5 
  41. Greenberg, Robert David (2004). Language and identity in the Balkans: Serbo-Croatian and its disintegration. [S.l.]: Oxford University Press. p. 14. ISBN 978-0-19-925815-4 
  42. Kordić, Snježana (2010). Jezik i nacionalizam Língua e Nacionalismo (PDF). Col: Rotulus Universitas (em servo-croata). Zagreb: Durieux. pp. 101–108. 430 páginas. ISBN 978-953-188-311-5. LCCN 2011520778. OCLC 729837512. OL 15270636W. SSRN 3467646Acessível livremente. doi:10.2139/ssrn.3467646. Consultado em 3 de fevereiro 2019. Cópia arquivada (PDF) em 8 de julho de 2012 
  43. Kordić, Snježana (2004). «Pro und kontra: "Serbokroatisch" heute» [Prós e contras: "servo-croata" hoje em dia] (PDF). In: Krause, Marion; Sappok, Christian. Slavistische Linguistik 2002: Referate des XXVIII. Konstanzer Slavistischen Arbeitstreffens, Bochum 10.-12. setembro de 2002. Col: Slavistishe Beiträge; vol. 434 (em alemão). Munich: Otto Sagner. pp. 110–114. ISBN 3-87690-885-X. OCLC 56198470. SSRN 3434516Acessível livremente. Consultado em 9 de agosto de 2012. Cópia arquivada (PDF) em 4 de agosto de 2012 
  44. "Dictamen de l'Acadèmia Valenciana de la Llengua sobre els principis i criteris per a la defensa de la denominació i l'entitat del valencià" Arquivado em 2008-12-17 no Wayback Machine. Report from Acadèmia Valenciana de la Llengua about denomination and identity of Valencian.
  45. «Moldovan (limba moldovenească / лимба молдовеняскэ)» 
  46. «Cópia arquivada». Consultado em 25 de outubro de 2012. Arquivado do original em 6 de dezembro de 2012 
  47. David Dalby David Dalby, 1999/2000, The Linguasphere register of the world’s languages and speech communities. Observatoire Linguistique, Linguasphere Press. Volume 2, p. 390-410 (zone 51). Oxford.[5]