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Bertha Lutz: diferenças entre revisões

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Especializou-se em anfíbios, foi pesquisadora do [[Museu Nacional do Rio de Janeiro]] e uma das figuras mais significativas do [[feminismo]] e da educação no [[Brasil]] do [[século XX]]. Ela integrou a delegação brasileira à [[Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional|Conferência de São Francisco]] em 1945, onde lutou para incluir menções sobre [[igualdade de gênero]] no texto da [[Carta das Nações Unidas]]. Embora quatro mulheres tenham assinado a Carta, apenas Bertha e a delegada da [[República Dominicana]], [[Minerva Bernardino]], defenderam os [[direitos femininos]].
Especializou-se em anfíbios, foi pesquisadora do [[Museu Nacional do Rio de Janeiro]] e uma das figuras mais significativas do [[feminismo]] e da educação no [[Brasil]] do [[século XX]]. Ela integrou a delegação brasileira à [[Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional|Conferência de São Francisco]] em 1945, onde lutou para incluir menções sobre [[igualdade de gênero]] no texto da [[Carta das Nações Unidas]]. Embora quatro mulheres tenham assinado a Carta, apenas Bertha e a delegada da [[República Dominicana]], [[Minerva Bernardino]], defenderam os [[direitos femininos]].

A carreira política de Bertha começou em 1934, quando ela se candidatou à [[Câmara dos Deputados do Brasil|Câmara dos Deputado]] pela legenda do [[Partido Autonomista do Distrito Federal]], representando a Liga Eleitoral Independente, criada por ela em 1932 e ligada à [[Federação Brasileira pelo Progresso Feminino]]. Obteve a primeira suplência e tomou posse em 28 de junho de 1936, após a morte do deputado titular Cândido Pessoa.<ref name="Cpdoc"/> Ela foi segunda mulher brasileira a ocupar o cargo de deputada, mas seu mandato foi interrompido pelo [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]].<ref name="Estudos Feministas"/>


Lutz também era [[cientista]] e foi a principal autora da publicação ''Lutz's Rapids Frog'', que descreveu o ''[[Paratelmatobius lutzii]]'' (Lutz and Carvalho, 1958).<ref>{{citar web|título=Coisa de Mulher |url=http://www.sobrage.org.br/cm8.html |obra=Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina (sobrage.org.br) |data= |urlmorta= sim|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070212063040/http://www.sobrage.org.br/cm8.html |arquivodata=12-02-2007}}</ref><ref>{{citar web |url=http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2015/03/08/conheca-mulheres-que-se-tornaram-grandes-cientistas.htm?fotoNav=1#fotoNav=7 |título=Conheça mulheres que se tornaram grandes cientistas - Bertha Lutz (1894-1976) |website=Portal BOL |acessodata=8 de março de 2015}}</ref> Ela foi homenageada de várias maneiras. Seu nome foi usado em várias espécies de anfíbios, nomes de logradouros, escolas e premiações.
Lutz também era [[cientista]] e foi a principal autora da publicação ''Lutz's Rapids Frog'', que descreveu o ''[[Paratelmatobius lutzii]]'' (Lutz and Carvalho, 1958).<ref>{{citar web|título=Coisa de Mulher |url=http://www.sobrage.org.br/cm8.html |obra=Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina (sobrage.org.br) |data= |urlmorta= sim|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070212063040/http://www.sobrage.org.br/cm8.html |arquivodata=12-02-2007}}</ref><ref>{{citar web |url=http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2015/03/08/conheca-mulheres-que-se-tornaram-grandes-cientistas.htm?fotoNav=1#fotoNav=7 |título=Conheça mulheres que se tornaram grandes cientistas - Bertha Lutz (1894-1976) |website=Portal BOL |acessodata=8 de março de 2015}}</ref> Ela foi homenageada de várias maneiras. Seu nome foi usado em várias espécies de anfíbios, nomes de logradouros, escolas e premiações.
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== Carreira ==
== Carreira ==

=== Trajetória acadêmica ===
=== Trajetória acadêmica ===
==== Biologia ====
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Bertha fez o ensino superior na Europa, formando-se em [[ciências naturais]] pela [[Universidade de Paris]] (Sorbonne) em 1918, com especialização em [[anfíbio]]s [[anuro]]s. Durante sua permanência na universidade, tomou contato com o movimento feminista inglês.<ref name=":1">Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). ABREU, Alzira Alves de. Editora FGV, 2015.</ref> No dia 3 de setembro de 1919, foi aprovada em um concurso e nomeada secretária do [[Museu Nacional (Rio de Janeiro)|Museu Nacional]].<ref>{{citar web|título=Bertha Lutz, naturalista, bióloga, sufragista e feminista |url=http://www.museunacional.ufrj.br/semear/berthalutz.html |publicado=Seção de Memória e Arquivo - Museu Nacional - UFRJ |website=www.museunacional.ufrj.br |data= |acessodata=05-05-2019}}</ref> Tornou-se, então, a segunda mulher brasileira a fazer parte do serviço público do país. Mais tarde, foi promovida a chefe do departamento de Botânica do Museu, posição que ocupou até se aposentar, em 1964.<ref name="JS" />
Bertha fez o ensino superior na Europa, formando-se em [[ciências naturais]] pela [[Universidade de Paris]] (Sorbonne) em 1918, com especialização em [[anfíbio]]s [[anuro]]s. Durante sua permanência na universidade, tomou contato com o movimento feminista inglês.<ref name=":1">Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). ABREU, Alzira Alves de. Editora FGV, 2015.</ref> No dia 3 de setembro de 1919, foi aprovada em um concurso e nomeada secretária do [[Museu Nacional (Rio de Janeiro)|Museu Nacional]].<ref>{{citar web|título=Bertha Lutz, naturalista, bióloga, sufragista e feminista |url=http://www.museunacional.ufrj.br/semear/berthalutz.html |publicado=Seção de Memória e Arquivo - Museu Nacional - UFRJ |website=www.museunacional.ufrj.br |data= |acessodata=05-05-2019}}</ref> Tornou-se, então, a segunda mulher brasileira a fazer parte do serviço público do país. Mais tarde, foi promovida a chefe do departamento de Botânica do Museu, posição que ocupou até se aposentar, em 1964.<ref name="JS" />


Em 1943, foi ao estado do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] para observar [[batráquio]]s. No ano seguinte, foi até [[Teresópolis]] para recolher material [[herpetológico]] e fazer observações no [[Parque Nacional da Serra dos Órgãos]]. Em 1945, voltou à cidade para coletar material embriológico, quando foi designada para representar o Brasil como delegada na Conferência Internacional das Nações Unidas, na Califórnia. Ao retornar, em outubro, focou-se em estudos de [[herpetologia]] no interior do [[Mato Grosso]]. Em 1947, coletou batráquios em [[Itatiaia]], [[Teresópolis]] e outros municípios. Em 1949, viajou pelos estados de [[Minas Gerais]], [[Espírito Santo (Brasil)|Espírito Santo]], Rio de Janeiro, [[Paraná]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]] para observar sobre [[anuros]], além de também ter representado o Museu Nacional na reunião da Sociedade Brasileira de Biologia, em [[Salvador]], na [[Bahia]].<ref name="Museu Nacional">{{citar web |url=https://www.museunacional.ufrj.br/semear/berthalutz.html |titulo=Bertha Lutz, naturalista, bióloga, sufragista e feminista |autor= Gustavo Alves Cardoso Moreira |editor=Seção de Memória e Arquivo (Semear) do [[Museu Nacional (Brasil)|Museu Nacional]] da [[Universidade Federal do Rio de Janeiro]] (UFRJ)|data=2013|local=[[Rio de Janeiro]] |acessodata=6 de julho de 2021}}</ref>
Formou-se em [[direito]] em 1933, pela Faculdade do Rio de Janeiro, que depois foi incorporada à [[Universidade Federal do Rio de Janeiro]] (UFRJ). Tentou se tornar professora da instituição com a tese ''A Nacionalidade da Mulher Casada perante o Direito Internacional Privado'',<ref name=":0">{{Citar web|URL=http://lhs.unb.br/bertha/?p=490|título=A nacionalidade da mulher casada: uma tese|acessadoem=26/04/2014}}</ref> em que abordava a perda da nacionalidade feminina quando a mulher se casava com um estrangeiro. Bertha também foi membro do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas do Brasil (1939-1951) e do Conselho Florestal Federal (1956).<ref name=":5" /> Em agosto de 1965, recebeu o título de [[Professor emérito|professora emérita]] da UFRJ.<ref>{{citar web|url=http://lhs.unb.br/bertha/?p=281|título=Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em agosto de 1965 - Bertha Lutz – Museu Virtual|website=lhs.unb.br|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>

Intercalando com sua carreira na política e na diplomacia, Bertha manteve-se ativa na área da [[biologia]]. Em 1943, foi ao estado do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] para observar [[batráquio]]s. No ano seguinte, foi até [[Teresópolis]] para recolher material [[herpetológico]] e fazer observações no [[Parque Nacional da Serra dos Órgãos]]. Em 1945, voltou à cidade para coletar material embriológico, quando foi designada para representar o Brasil como delegada na Conferência Internacional das Nações Unidas, na Califórnia. Ao retornar, em outubro, focou-se em estudos de [[herpetologia]] no interior do [[Mato Grosso]]. Em 1947, coletou batráquios em [[Itatiaia]], [[Teresópolis]] e outros municípios. Em 1949, viajou pelos estados de [[Minas Gerais]], [[Espírito Santo (Brasil)|Espírito Santo]], Rio de Janeiro, [[Paraná]], [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]] para observar sobre [[anuros]], além de também ter representado o Museu Nacional na reunião da Sociedade Brasileira de Biologia, em [[Salvador]], na [[Bahia]].<ref name="Museu Nacional">{{citar web |url=https://www.museunacional.ufrj.br/semear/berthalutz.html |titulo=Bertha Lutz, naturalista, bióloga, sufragista e feminista |autor= Gustavo Alves Cardoso Moreira |editor=Seção de Memória e Arquivo (Semear) do [[Museu Nacional (Brasil)|Museu Nacional]] da [[Universidade Federal do Rio de Janeiro]] (UFRJ)|data=2013|local=[[Rio de Janeiro]] |acessodata=6 de julho de 2021}}</ref>


No início de 1952, recebeu uma bolsa de estudos do [[Museu Britânico]], voltando às suas atividades no Museu Nacional em julho. Em junho de 1954, percorreu várias partes do Brasil colecionando material científico. Ao longo de 1956, coletou material ecológico nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. No começo de 1957, coletou batráquios nas serras da [[Serra da Mantiqueira|Mantiqueira]] e do [[Serra do Mar|Mar]] e, no segundo semestre, passou por várias partes do [[Região Sudeste do Brasil|Sudeste]] e do [[Região Sul do Brasil|Sul]].<ref name="Museu Nacional"/> Em 1958, dedicou-se à elaboração de uma [[monografia]] sobre os [[hilídeos]] brasileiros e apresentou um trabalho no Congresso de Herpetologia realizado em [[San Diego]], na [[Califórnia]]. Em 1962, foi presidente de honra da assembleia da Associação Latino-Americana de Herpetologia. Em 1963, completou seus estudos sobre os ''Hyla catharinae'', descrevendo ainda duas espécies novas em [[Copeia]]. Na mesma época, fez conferência sobre Distribuição Geográfica dos Animais e Modalidades de Conservação da Natureza, escreveu um capítulo sobre anuros para uma enciclopédia estadunidense de animais venenosos, apresentou uma proposta de criação da cadeira de conservação da natureza no Conselho Federal Florestal e fez a revisão dos répteis da coleção Adolpho Lutz.<ref name="Museu Nacional"/>
No início de 1952, recebeu uma bolsa de estudos do [[Museu Britânico]], voltando às suas atividades no Museu Nacional em julho. Em junho de 1954, percorreu várias partes do Brasil colecionando material científico. Ao longo de 1956, coletou material ecológico nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. No começo de 1957, coletou batráquios nas serras da [[Serra da Mantiqueira|Mantiqueira]] e do [[Serra do Mar|Mar]] e, no segundo semestre, passou por várias partes do [[Região Sudeste do Brasil|Sudeste]] e do [[Região Sul do Brasil|Sul]].<ref name="Museu Nacional"/> Em 1958, dedicou-se à elaboração de uma [[monografia]] sobre os [[hilídeos]] brasileiros e apresentou um trabalho no Congresso de Herpetologia realizado em [[San Diego]], na [[Califórnia]]. Em 1962, foi presidente de honra da assembleia da Associação Latino-Americana de Herpetologia. Em 1963, completou seus estudos sobre os ''Hyla catharinae'', descrevendo ainda duas espécies novas em [[Copeia]]. Na mesma época, fez conferência sobre Distribuição Geográfica dos Animais e Modalidades de Conservação da Natureza, escreveu um capítulo sobre anuros para uma enciclopédia estadunidense de animais venenosos, apresentou uma proposta de criação da cadeira de conservação da natureza no Conselho Federal Florestal e fez a revisão dos répteis da coleção Adolpho Lutz.<ref name="Museu Nacional"/>


Bertha também foi membro do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas do Brasil (1939-1951) e do Conselho Florestal Federal (1956).<ref name=":5" /> Em agosto de 1965, recebeu o título de [[Professor emérito|professora emérita]] da UFRJ.<ref>{{citar web|url=http://lhs.unb.br/bertha/?p=281|título=Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em agosto de 1965 - Bertha Lutz – Museu Virtual|website=lhs.unb.br|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>
=== Feminismo e diplomacia ===

==== Educação ====
[[Imagem:Colégio_Pedro_II_-_Centro.jpg|thumb|Bertha conseguiu a admissão de meninas no externato do [[Colégio Pedro II]],<ref name=":2" />]]
Além de suas contribuições para a área da biologia e de seu empenho para impulsionar os ideais feministas no Brasil, a presença de Bertha Lutz foi marcante no campo da Educação. Em 1920, ela foi nomeada inspetora do ensino secundário pelo barão de Ramiz Galvão e enviada para o Ginásio Masculino de Lorena (SP).<ref name=":1" /> Dois anos depois, como delegada do Museu Nacional ao Congresso de Educação, conseguiu a admissão de meninas no externato do [[Colégio Pedro II]], uma das instituições de ensino mais tradicionais no país, desde o Império até os dias atuais.<ref name=":2" />

Com o apoio do Ministério da Agricultura, Bertha realizou um estudo sobre a difusão de conhecimentos domésticos e agrícolas junto à população rural. Para ela, este era uma passo essencial para ajudar na organização das cooperativas industriais regionais femininas. Bertha viajou para os Estados Unidos (1923) e para a Bélgica (1929) com o intuito de analisar as experiências destes países com educação doméstica agrícola, e inclusive recebeu um prêmio do governo belga, em 1923, pela relevância de seus estudos.<ref name=":2" />

Assim que retornou da viagem de observação nos EUA, Bertha Lutz entregou ao Ministro da Agricultura um relatório sobre a sua experiência e as propostas de estruturação organizacional do ensino agronômico que elaborara a partir dela. As medidas dividiam-se em dois eixos: criação de escolas superiores de economia doméstica e de um serviço de extensão para difusão dos conhecimentos de economia doméstica rural entre a população feminina do campo.<ref name=":3"/> Em 1924, a pesquisadora ajudou na fundação da [[Associação Brasileira de Educação]], cuja ata de criação contou com a assinatura de sete homens e três mulheres.<ref>{{citar web|url=http://livros01.livrosgratis.com.br/me4693.pdf|título="A atuação e contribuição de Bertha Lutz para a educação brasileira", Yolanda Lôbo, 2010|publicado=livros01.livrosgratis.com.br |acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>

=== Feminismo ===
{{Imagem múltipla
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|image1 = Bertha Lutz na Conferência de São Francisco 02.jpg
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|caption1 =Bertha Lutz durante a [[Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional|Conferência de São Francisco]], em 1945
|caption1 = Bertha Lutz na IX Assembleia da Comissão Interamericana de Mulheres, junho de 1956
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|image2 = Quadragésimo quinto aniversário da Federação Brasileira para o Progresso Feminino.jpg
|caption2 = Bertha Lutz na IX Assembleia da Comissão Interamericana de Mulheres, junho de 1956
|caption2 = Bertha Lutz discursa no 45º aniversário da [[Federação Brasileira pelo Progresso Feminino]], agosto de 1967
|image3 = Quadragésimo quinto aniversário da Federação Brasileira para o Progresso Feminino.jpg
|caption3 = Bertha Lutz discursa no 45º aniversário da [[Federação Brasileira pelo Progresso Feminino]], agosto de 1967
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O movimento sufragista brasileiro teve uma grande vitória em 24 de fevereiro de 1932, data em que o presidente [[Getúlio Vargas]], por meio do Decreto nº 21.076, instalou o novo Código Eleitoral e garantiu o direito de voto feminino no país.<ref>[http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21076-24-fevereiro-1932-507583-publicacaooriginal-1-pe.html Decreto nº 21.076]. [[Câmara dos Deputados do Brasil]]. Acessaod em 27 de janeiro de 2021.</ref>
O movimento sufragista brasileiro teve uma grande vitória em 24 de fevereiro de 1932, data em que o presidente [[Getúlio Vargas]], por meio do Decreto nº 21.076, instalou o novo Código Eleitoral e garantiu o direito de voto feminino no país.<ref>[http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21076-24-fevereiro-1932-507583-publicacaooriginal-1-pe.html Decreto nº 21.076]. [[Câmara dos Deputados do Brasil]]. Acessaod em 27 de janeiro de 2021.</ref>


Formou-se em [[direito]] em 1933, pela Faculdade do Rio de Janeiro, que depois foi incorporada à [[Universidade Federal do Rio de Janeiro]] (UFRJ). Tentou se tornar professora da instituição com a tese ''A Nacionalidade da Mulher Casada perante o Direito Internacional Privado'', em que abordava a perda da nacionalidade feminina quando a mulher se casava com um estrangeiro.<ref name=":0">{{Citar web|URL=http://lhs.unb.br/bertha/?p=490|título=A nacionalidade da mulher casada: uma tese|acessadoem=26/04/2014}}</ref>
Em 1933, a bióloga fundou a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas.<ref name="JS" /> No mesmo ano, representou o Brasil na VII Conferência Pan-americana,<ref>[http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/24/conferencias-pan-americanas GUEDES, Maria Tarcila Ferreira. Conferências Pan-Americanas In: REZENDE, Maria Beatriz; GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs). ''Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural''. 1. ed. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2015. (verbete)]. ISBN 978-85-7334-279-6. Acessado em 27 de junho de 2021.</ref> em Montevidéu (Uruguai). Também foi representante brasileira na Conferência Internacional do Trabalho de 1944, realizada nos Estados Unidos.<ref>{{citar web |url=http://lhs.unb.br/bertha/?p=898|titulo=Bertha Lutz e a Conferência Internacional do Trabalho, 1944|editor=Museu Bertha Lutz |acessodata=27 de julho de 2021}}</ref>


Ainda em 1933, a bióloga fundou a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas.<ref name="JS" /> No mesmo ano, representou o Brasil na VII Conferência Pan-americana,<ref>[http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/24/conferencias-pan-americanas GUEDES, Maria Tarcila Ferreira. Conferências Pan-Americanas In: REZENDE, Maria Beatriz; GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs). ''Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural''. 1. ed. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2015. (verbete)]. ISBN 978-85-7334-279-6. Acessado em 27 de junho de 2021.</ref> em Montevidéu (Uruguai). Também foi representante brasileira na Conferência Internacional do Trabalho de 1944, realizada nos Estados Unidos.<ref>{{citar web |url=http://lhs.unb.br/bertha/?p=898|titulo=Bertha Lutz e a Conferência Internacional do Trabalho, 1944|editor=Museu Bertha Lutz |acessodata=27 de julho de 2021}}</ref>
Integrou a delegação do Brasil à [[Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional|Conferência de São Francisco]], em 1945, cujo intuito era redigir o texto definitivo da [[Carta das Nações Unidas]]. Durante o evento, Bertha se empenhou, junto a outras delegações da [[América do Sul]], para assegurar que a Carta fosse revista periodicamente. Entretanto, seu grande mérito foi a luta para incluir menções sobre igualdade de gênero no texto do documento. Embora quatro mulheres tenham assinado a Carta, apenas Bertha e a delegada da [[República Dominicana]], [[Minerva Bernardino]], defenderam os [[direitos das mulheres]].<ref name="ONU">{{citar web|url=https://nacoesunidas.org/exclusivo-diplomata-brasileira-foi-essencial-para-mencao-a-igualdade-de-genero-na-carta-da-onu/|título=EXCLUSIVO: Diplomata brasileira foi essencial para menção à igualdade de gênero na Carta da ONU|data=9 de novembro de 2016|editor=[[Nações Unidas]]|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>


=== Política ===
Devido a sua atuação na Conferência de São Francisco, Bertha foi convidada pelo [[Itamaraty]] a integrar a delegação brasileira à Conferência do Ano Internacional da Mulher, organizada pela [[Organização das Nações Unidas|ONU]] e realizada no México entre junho e julho de 1975.<ref>[http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/relatorio_conferencia_mexico.pdf "Relatório da 1ª Conferência Mundial sobre Mulher] – México (1975). [[ONU Mulheres]]. Acessado em 27 de junho de 2021.</ref>


[[Imagem:Posse de Bertha Lutz como Deputada na Câmara Federal.jpg|miniatura|Na posse de Bertha Lutz como deputada na [[Câmara dos Deputados do Brasil|Câmara Federal]], uma fotografia com amigas e parentes, em 1936]]
=== Atuação parlamentar ===
[[Imagem:Posse de Bertha Lutz como Deputada na Câmara Federal.jpg|esquerda|miniatura|Na posse de Bertha Lutz como deputada na [[Câmara dos Deputados do Brasil|Câmara Federal]], uma fotografia com amigas e parentes, em 1936]]
A carreira política de Bertha Lutz começou efetivamente em 1934, quando se candidatou à Câmara dos Deputados pela legenda do [[Partido Autonomista do Distrito Federal]], representando a Liga Eleitoral Independente, criada por ela em 1932 e ligada à [[Federação Brasileira pelo Progresso Feminino]]. Obteve a primeira suplência e tomou posse em 28 de junho de 1936, após a morte do deputado titular Cândido Pessoa.<ref>[http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/candido-pessoa-cavalcanti-de-albuquerque Cândido Pessoa]. [[Fundação Getúlio Vargas]]. Acessado em 27 de junho de 2021. </ref> A decretação do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] por Getúlio Vargas, em novembro de 1937, e o consequente fechamento do Congresso Nacional puseram fim ao seu mandato.<ref>[http://www.sbpcnet.org.br/site/publicacoes/outras-publicacoes/livro_pioneiras.pdf "Pioneiras da ciência no Brasil". MELO, Hildete Pereira de; RODRIGUES, Lígia M.C.S.] Acessado em 27 de junho de 2021.</ref>


A carreira política de Bertha Lutz começou efetivamente em 1934, quando se candidatou à Câmara dos Deputados pela legenda do [[Partido Autonomista do Distrito Federal]], representando a Liga Eleitoral Independente, criada por ela em 1932 e ligada à [[Federação Brasileira pelo Progresso Feminino]]. Obteve a primeira suplência e tomou posse em 28 de junho de 1936, após a morte do deputado titular Cândido Pessoa.<ref name="Cpdoc">[http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/candido-pessoa-cavalcanti-de-albuquerque Cândido Pessoa]. [[Fundação Getúlio Vargas]]. Acessado em 27 de junho de 2021. </ref> Ela foi segunda mulher brasileira a ocupar o cargo de deputada, na primeira legislatura com presença feminina após a primeira Constituição a dar direito de voto às mulheres<ref name="Estudos Feministas">{{citar web |titulo=As mulheres dos estatutos no Congresso Nacional Brasileiro |url=https://www.scielo.br/j/ref/a/59Ft8QqfwQLtRdTNTND6tYS/?lang=pt |editor=Revista Estudos Feministas|autor=Bruna Potechi|acessodata=29 de julho de 2021}}</ref>
As principais bandeiras de luta durante seu período como parlamentar foram mudanças na legislação trabalhista, em especial relacionadas aos direitos femininos, como equiparação de salários e direito à licença-maternidade, e a luta contra o trabalho infantil. Também foi ativa na defesa do conhecimento científico brasileiro, da formação científica, do combate a doenças, da proteção à natureza e conservação da fauna e da flora.<ref name=":5">{{Citar periódico|ultimo=Sousa|primeiro=Lia Gomes Pinto de|ultimo2=Sombrio|primeiro2=Mariana Moraes de Oliveira|ultimo3=Lopes|primeiro3=Maria Margaret|data=junho de 2005|titulo=Para ler Bertha Lutz|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-83332005000100016&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Cadernos Pagu|numero=24|paginas=315–325|doi=10.1590/S0104-83332005000100016|issn=0104-8333|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>
[[Imagem:Bertha Lutz 02.jpg|thumb|upright|Bertha Lutz durante a [[meia idade]]]]


No entanto, a decretação do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] por Getúlio Vargas, em novembro de 1937, e o consequente fechamento do Congresso Nacional puseram fim ao seu mandato.<ref>[http://www.sbpcnet.org.br/site/publicacoes/outras-publicacoes/livro_pioneiras.pdf "Pioneiras da ciência no Brasil". MELO, Hildete Pereira de; RODRIGUES, Lígia M.C.S.] Acessado em 27 de junho de 2021.</ref>
Antes de tomar posse na Câmara, Bertha participou da Comissão Preparatória do Anteprojeto do novo texto constitucional, que aconteceu em [[Petrópolis]] em 1932. Elaborou sugestões para a Constituição (promulgada em 1934), as quais foram discutidas em reuniões da FBPF e estão reunidas no documento ''13 Princípios Básicos de Direito Constitucional''. As propostas defendiam os direitos políticos e jurídicos das mulheres, dando ênfase às questões relativas ao trabalho, à educação, à maternidade e à infância. Foram levadas à Assembleia Constituinte por [[Carlota Pereira de Queirós|Carlota Pereira de Queiroz]], única mulher a participar deste processo legislativo, e muitas delas incorporadas.<ref name=":3">{{citar periódico|url=https://www.academia.edu/33508630/Educa%C3%A7%C3%A3o_e_profissionaliza%C3%A7%C3%A3o_de_mulheres_trajet%C3%B3ria_cient%C3%ADfica_e_feminista_de_Bertha_Lutz_no_Museu_Nacional_do_Rio_de_Janeiro_1919-1937_|título=Educação e profissionalização de mulheres: trajetória científica e feminista de Bertha Lutz no Museu Nacional do Rio de Janeiro (1919-1937)|primeiro =Lia|último =Sousa|publicado=academia.edu|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>


Antes de tomar posse na Câmara, Bertha já havia participado da Comissão Preparatória do Anteprojeto do novo texto constitucional, que aconteceu em [[Petrópolis]] em 1932. Elaborou sugestões para a Constituição ([[Constituição brasileira de 1934|promulgada em 1934]]), as quais foram discutidas em reuniões da FBPF e estão reunidas no documento ''13 Princípios Básicos de Direito Constitucional''. As propostas defendiam os direitos políticos e jurídicos das mulheres, dando ênfase às questões relativas ao trabalho, à educação, à maternidade e à infância. Foram levadas à Assembleia Constituinte por [[Carlota Pereira de Queirós]], a primeira deputada eleita no Brasil e a única mulher a participar deste processo legislativo, e muitas delas incorporadas.<ref name=":3">{{citar periódico|url=https://www.academia.edu/33508630/Educa%C3%A7%C3%A3o_e_profissionaliza%C3%A7%C3%A3o_de_mulheres_trajet%C3%B3ria_cient%C3%ADfica_e_feminista_de_Bertha_Lutz_no_Museu_Nacional_do_Rio_de_Janeiro_1919-1937_|título=Educação e profissionalização de mulheres: trajetória científica e feminista de Bertha Lutz no Museu Nacional do Rio de Janeiro (1919-1937)|primeiro =Lia|último =Sousa|publicado=academia.edu|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>
Dentro da Câmara, lutou pela criação de um Ministério Nacional da Mulher, foi presidente da Comissão de Estatuto da Mulher e apresentou o projeto do Departamento de Maternidade, Infância, Trabalho Feminino e Lar. Este foi aprovado, mas não saiu do papel devido ao fechamento do Congresso em 1937.<ref name=":3" />


=== Contribuições para a educação ===
==== Atuação parlamentar ====
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[[Imagem:Colégio_Pedro_II_-_Rio_de_Janeiro.jpg|thumb|esquerda|Bertha conseguiu a admissão de meninas no externato do [[Colégio Pedro II]],<ref name=":2" />]]
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Além de suas contribuições para a área da Biologia e de seu empenho para impulsionar os ideais feministas no Brasil, a presença de Bertha Lutz foi marcante no campo da Educação. Em 1920, ela foi nomeada inspetora do ensino secundário pelo barão de Ramiz Galvão e enviada para o Ginásio Masculino de Lorena (SP).<ref name=":1" /> Dois anos depois, como delegada do Museu Nacional ao Congresso de Educação, conseguiu a admissão de meninas no externato do [[Colégio Pedro II]], uma das instituições de ensino mais tradicionais no país, desde o Império até os dias atuais.<ref name=":2" />
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As principais bandeiras de luta durante seu período como parlamentar foram mudanças na legislação trabalhista, em especial relacionadas aos direitos femininos, como equiparação de salários e direito à [[licença-maternidade]], e a luta contra o trabalho infantil. Também foi ativa na defesa do conhecimento científico brasileiro, da formação científica, do combate a doenças, da proteção à natureza e conservação da fauna e da flora.<ref name=":5">{{Citar periódico|ultimo=Sousa|primeiro=Lia Gomes Pinto de|ultimo2=Sombrio|primeiro2=Mariana Moraes de Oliveira|ultimo3=Lopes|primeiro3=Maria Margaret|data=junho de 2005|titulo=Para ler Bertha Lutz|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-83332005000100016&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Cadernos Pagu|numero=24|paginas=315–325|doi=10.1590/S0104-83332005000100016|issn=0104-8333|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>
Com o apoio do Ministério da Agricultura, Bertha realizou um estudo sobre a difusão de conhecimentos domésticos e agrícolas junto à população rural. Para ela, este era uma passo essencial para ajudar na organização das cooperativas industriais regionais femininas. Bertha viajou para os Estados Unidos (1923) e para a Bélgica (1929) com o intuito de analisar as experiências destes países com educação doméstica agrícola, e inclusive recebeu um prêmio do governo belga, em 1923, pela relevância de seus estudos.<ref name=":2" />

Dentro da Câmara dos Deputados, também lutou pela criação de um Ministério Nacional da Mulher e apresentou o projeto do Departamento de Maternidade, Infância, Trabalho Feminino e Lar. Este foi aprovado, mas não saiu do papel devido ao fechamento do Congresso em 1937.<ref name=":3" /> Em seu período como parlamentar, Bertha também foi autora do projeto de lei do Estatuto da Mulher. Ao lado de Carlota Pereira de Queiros, estabeleceu e presidiu uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados para redigir um estatuto "com o fim expresso de regulamentar os dispositivos da legislação ordinária de acordo com os direitos e obrigações constitucionais da cidadã".<ref name="Estudos Feministas"/>

Em outubro de 1937, o projeto de lei foi apresentado à Comissão Especial do Estatuto da Mulher, que já existia desde setembro de 1936 por iniciativa de Bertha. Nele são enfatizados os direitos atribuídos à mulher na Constituição de 1934, sendo que o [[sufrágio feminino]] é usado como um divisor de águas, visto que, apesar do texto constitucional ter dado à mulher igual condição que ao homem, legislações anteriores, como o Código Penal, o Código Civil e o Código Comercial, ainda não tratavam dessa igualdade.<ref name="Estudos Feministas"/>

O Código Civil em vigor naquela época datava de 1916 e considerava as mulheres, especialmente as casadas, como "incapazes", enquanto o Código Comercial, que datava do período do [[Império do Brasil|Império]], impedia as mulheres de serem corretoras ou leiloeiras. Já no Código Penal, que era de 1890, crimes como [[estupro]] e [[adultério]] estavam relacionados à "honra da família", onde a "moral da vítima" era crucial na sentença.

No entanto, apesar de se declararem feministas, ambas as parlamentares mantinham discursos alinhados à [[Igreja Católica]] para manter alianças políticas. Ainda que defendesse a igualdade para as mulheres, o projeto do Estatuto da Mulher mantinha em seu conteúdo "diferenças biológicas, de educação, formação, punição e morais" entre homens e mulheres e pouco questionava os lugares ocupados pela mulher na sociedade. A posição de que a manutenção do lar e da família era inata à mulher, discurso que conseguia apoio até de [[Getúlio Vargas]], era considerada conservadora e gerou críticas de jornais na época.<ref name="Estudos Feministas"/>

O projeto de lei que fora apresentado em 1 de outubro de 1937 deixa de tramitar com o fechamento do Congresso pelo Estado Novo e as divergências entre Carlota e Bertha, como a criação de um Departamento Nacional da Mulher, dificultaram o avanço do Estatuto da Mulher.<ref name="Estudos Feministas"/>

==== Atuação internacional ====
[[Imagem:Bertha Lutz na Conferência de São Francisco 02.jpg|thumb|Bertha Lutz durante a [[Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional|Conferência de São Francisco]], em 1945]]

Bertha integrou a delegação do Brasil à [[Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional|Conferência de São Francisco]], em 1945, cujo intuito era redigir o texto definitivo da [[Carta das Nações Unidas]]. Durante o evento, Bertha se empenhou, junto a outras delegações da [[América do Sul]], para assegurar que a Carta fosse revista periodicamente.<ref name="ONU"/>


Entretanto, seu grande mérito foi a luta para incluir menções sobre igualdade de gênero no texto do documento. Embora quatro mulheres tenham assinado a Carta, apenas Bertha e a delegada da [[República Dominicana]], [[Minerva Bernardino]], defenderam os [[direitos das mulheres]].<ref name="ONU">{{citar web|url=https://nacoesunidas.org/exclusivo-diplomata-brasileira-foi-essencial-para-mencao-a-igualdade-de-genero-na-carta-da-onu/|título=EXCLUSIVO: Diplomata brasileira foi essencial para menção à igualdade de gênero na Carta da ONU|data=9 de novembro de 2016|editor=[[Nações Unidas]]|acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>
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Bernardino e Lutz foram reconhecidas como "instrumentais" na inclusão das frases "igualdade de direitos entre homens e mulheres", "fé nos direitos humanos fundamentais" e "dignidade e valor da pessoa humana" no preâmbulo do [[Carta das Nações Unidas]].<ref>{{Citar livro|título=The unfinished story of women and the United Nations|ultimo=Pietilä|primeiro=Hilkka|data=2007|editora=United Nations Non-governmental Liaison Service|localização=New York}}</ref>
Assim que retornou da viagem de observação nos EUA, Bertha Lutz entregou ao Ministro da Agricultura um relatório sobre a sua experiência e as propostas de estruturação organizacional do ensino agronômico que elaborara a partir dela. As medidas dividiam-se em dois eixos: criação de escolas superiores de economia doméstica e de um serviço de extensão para difusão dos conhecimentos de economia doméstica rural entre a população feminina do campo.<ref name=":3"/>


Devido a sua atuação na Conferência de São Francisco, Bertha foi convidada pelo [[Itamaraty]] a integrar a delegação brasileira à Conferência do Ano Internacional da Mulher, organizada pela [[Organização das Nações Unidas]] e realizada no México entre junho e julho de 1975.<ref>[http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/relatorio_conferencia_mexico.pdf "Relatório da 1ª Conferência Mundial sobre Mulher] – México (1975). [[ONU Mulheres]]. Acessado em 27 de junho de 2021.</ref>
Em 1924, a pesquisadora ajudou na fundação da [[Associação Brasileira de Educação]], cuja ata de criação contou com a assinatura de sete homens e três mulheres.<ref>{{citar web|url=http://livros01.livrosgratis.com.br/me4693.pdf|título="A atuação e contribuição de Bertha Lutz para a educação brasileira", Yolanda Lôbo, 2010|publicado=livros01.livrosgratis.com.br |acessodata=27 de junho de 2021}}</ref>


== Vida pessoal e morte ==
== Vida pessoal e morte ==

Revisão das 18h10min de 29 de julho de 2021

 Nota: Se procura pela premiação, veja Diploma Bertha Lutz.
Bertha Lutz
Bertha Lutz
Conhecido(a) por importância no feminismo, biologia e na educação no Brasil
Nascimento 2 de agosto de 1894
São Paulo
Morte 16 de setembro de 1976 (82 anos)
Rio de Janeiro
Residência Brasil
Nacionalidade brasileira
Alma mater Sorbonne
Instituições Museu Nacional (Rio de Janeiro)
Campo(s) Biologia

Bertha Maria Júlia Lutz (São Paulo, 2 de agosto de 1894Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1976) foi uma ativista feminista, bióloga e política brasileira. Era filha de Adolfo Lutz, cientista e pioneiro da medicina tropical.

Especializou-se em anfíbios, foi pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro e uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX. Ela integrou a delegação brasileira à Conferência de São Francisco em 1945, onde lutou para incluir menções sobre igualdade de gênero no texto da Carta das Nações Unidas. Embora quatro mulheres tenham assinado a Carta, apenas Bertha e a delegada da República Dominicana, Minerva Bernardino, defenderam os direitos femininos.

A carreira política de Bertha começou em 1934, quando ela se candidatou à Câmara dos Deputado pela legenda do Partido Autonomista do Distrito Federal, representando a Liga Eleitoral Independente, criada por ela em 1932 e ligada à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Obteve a primeira suplência e tomou posse em 28 de junho de 1936, após a morte do deputado titular Cândido Pessoa.[1] Ela foi segunda mulher brasileira a ocupar o cargo de deputada, mas seu mandato foi interrompido pelo Estado Novo.[2]

Lutz também era cientista e foi a principal autora da publicação Lutz's Rapids Frog, que descreveu o Paratelmatobius lutzii (Lutz and Carvalho, 1958).[3][4] Ela foi homenageada de várias maneiras. Seu nome foi usado em várias espécies de anfíbios, nomes de logradouros, escolas e premiações.

Juventude

Bertha Lutz nasceu em São Paulo no dia 2 de agosto de 1894, filha de Adolfo Lutz, cientista de origem suíça e pioneiro nas área de medicina tropical, epidemiologia e na pesquisa de doenças infecciosas, e de Amy Marie Gertrude Fowler, uma enfermeira britânica. Além de Bertha, o casal teve como filhos Guálter Adolfo Lutz e Laura Bertha Lutz.[5]

Carreira

Trajetória acadêmica

Biologia

Bertha ao lado de Marie Curie e Irene Joliot-Curie no Museu Nacional, 1926
Bertha Lutz recebendo o título de Doutor Honoris Causa do Mills College, São Francisco, Califórnia, 1945 (Arquivo Nacional)

Bertha fez o ensino superior na Europa, formando-se em ciências naturais pela Universidade de Paris (Sorbonne) em 1918, com especialização em anfíbios anuros. Durante sua permanência na universidade, tomou contato com o movimento feminista inglês.[6] No dia 3 de setembro de 1919, foi aprovada em um concurso e nomeada secretária do Museu Nacional.[7] Tornou-se, então, a segunda mulher brasileira a fazer parte do serviço público do país. Mais tarde, foi promovida a chefe do departamento de Botânica do Museu, posição que ocupou até se aposentar, em 1964.[5]

Em 1943, foi ao estado do Rio de Janeiro para observar batráquios. No ano seguinte, foi até Teresópolis para recolher material herpetológico e fazer observações no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Em 1945, voltou à cidade para coletar material embriológico, quando foi designada para representar o Brasil como delegada na Conferência Internacional das Nações Unidas, na Califórnia. Ao retornar, em outubro, focou-se em estudos de herpetologia no interior do Mato Grosso. Em 1947, coletou batráquios em Itatiaia, Teresópolis e outros municípios. Em 1949, viajou pelos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para observar sobre anuros, além de também ter representado o Museu Nacional na reunião da Sociedade Brasileira de Biologia, em Salvador, na Bahia.[8]

No início de 1952, recebeu uma bolsa de estudos do Museu Britânico, voltando às suas atividades no Museu Nacional em julho. Em junho de 1954, percorreu várias partes do Brasil colecionando material científico. Ao longo de 1956, coletou material ecológico nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. No começo de 1957, coletou batráquios nas serras da Mantiqueira e do Mar e, no segundo semestre, passou por várias partes do Sudeste e do Sul.[8] Em 1958, dedicou-se à elaboração de uma monografia sobre os hilídeos brasileiros e apresentou um trabalho no Congresso de Herpetologia realizado em San Diego, na Califórnia. Em 1962, foi presidente de honra da assembleia da Associação Latino-Americana de Herpetologia. Em 1963, completou seus estudos sobre os Hyla catharinae, descrevendo ainda duas espécies novas em Copeia. Na mesma época, fez conferência sobre Distribuição Geográfica dos Animais e Modalidades de Conservação da Natureza, escreveu um capítulo sobre anuros para uma enciclopédia estadunidense de animais venenosos, apresentou uma proposta de criação da cadeira de conservação da natureza no Conselho Federal Florestal e fez a revisão dos répteis da coleção Adolpho Lutz.[8]

Bertha também foi membro do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas do Brasil (1939-1951) e do Conselho Florestal Federal (1956).[9] Em agosto de 1965, recebeu o título de professora emérita da UFRJ.[10]

Educação

Bertha conseguiu a admissão de meninas no externato do Colégio Pedro II,[11]

Além de suas contribuições para a área da biologia e de seu empenho para impulsionar os ideais feministas no Brasil, a presença de Bertha Lutz foi marcante no campo da Educação. Em 1920, ela foi nomeada inspetora do ensino secundário pelo barão de Ramiz Galvão e enviada para o Ginásio Masculino de Lorena (SP).[6] Dois anos depois, como delegada do Museu Nacional ao Congresso de Educação, conseguiu a admissão de meninas no externato do Colégio Pedro II, uma das instituições de ensino mais tradicionais no país, desde o Império até os dias atuais.[11]

Com o apoio do Ministério da Agricultura, Bertha realizou um estudo sobre a difusão de conhecimentos domésticos e agrícolas junto à população rural. Para ela, este era uma passo essencial para ajudar na organização das cooperativas industriais regionais femininas. Bertha viajou para os Estados Unidos (1923) e para a Bélgica (1929) com o intuito de analisar as experiências destes países com educação doméstica agrícola, e inclusive recebeu um prêmio do governo belga, em 1923, pela relevância de seus estudos.[11]

Assim que retornou da viagem de observação nos EUA, Bertha Lutz entregou ao Ministro da Agricultura um relatório sobre a sua experiência e as propostas de estruturação organizacional do ensino agronômico que elaborara a partir dela. As medidas dividiam-se em dois eixos: criação de escolas superiores de economia doméstica e de um serviço de extensão para difusão dos conhecimentos de economia doméstica rural entre a população feminina do campo.[12] Em 1924, a pesquisadora ajudou na fundação da Associação Brasileira de Educação, cuja ata de criação contou com a assinatura de sete homens e três mulheres.[13]

Feminismo

Bertha Lutz na IX Assembleia da Comissão Interamericana de Mulheres, junho de 1956
Bertha Lutz discursa no 45º aniversário da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, agosto de 1967

Em 1919, Bertha fundou no Rio de Janeiro[14] a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, formada por um grupo de mulheres de classe média e alta escolaridade.[15]

Em 1922, organizou o I Congresso Feminista do Brasil e representou as mulheres brasileiras na Assembleia Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos Estados Unidos, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana das Mulheres. Após retornar ao Brasil, ajudou a fundar a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), da qual foi presidente até 1942 e cuja principal bandeira era a reivindicação do voto feminino.[11] A Federação é considerada a principal instituição coletiva de mulheres no país até a década de 1970, e de onde derivaram diversas outras associações.[16]

Em 1929, Bertha e outras integrantes da FBPF criaram a União Universitária Feminina,[17] que em 1961 passou a se chamar Associação Brasileira de Mulheres Universitárias. Um dos objetivos primordiais da organização era incentivar o estudo superior pela população feminina. Em 1937, a União foi convidada formalmente a participar da criação da União Nacional dos Estudantes (UNE).[18]

O movimento sufragista brasileiro teve uma grande vitória em 24 de fevereiro de 1932, data em que o presidente Getúlio Vargas, por meio do Decreto nº 21.076, instalou o novo Código Eleitoral e garantiu o direito de voto feminino no país.[19]

Formou-se em direito em 1933, pela Faculdade do Rio de Janeiro, que depois foi incorporada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tentou se tornar professora da instituição com a tese A Nacionalidade da Mulher Casada perante o Direito Internacional Privado, em que abordava a perda da nacionalidade feminina quando a mulher se casava com um estrangeiro.[20]

Ainda em 1933, a bióloga fundou a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas.[5] No mesmo ano, representou o Brasil na VII Conferência Pan-americana,[21] em Montevidéu (Uruguai). Também foi representante brasileira na Conferência Internacional do Trabalho de 1944, realizada nos Estados Unidos.[22]

Política

Na posse de Bertha Lutz como deputada na Câmara Federal, uma fotografia com amigas e parentes, em 1936

A carreira política de Bertha Lutz começou efetivamente em 1934, quando se candidatou à Câmara dos Deputados pela legenda do Partido Autonomista do Distrito Federal, representando a Liga Eleitoral Independente, criada por ela em 1932 e ligada à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Obteve a primeira suplência e tomou posse em 28 de junho de 1936, após a morte do deputado titular Cândido Pessoa.[1] Ela foi segunda mulher brasileira a ocupar o cargo de deputada, na primeira legislatura com presença feminina após a primeira Constituição a dar direito de voto às mulheres[2]

No entanto, a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em novembro de 1937, e o consequente fechamento do Congresso Nacional puseram fim ao seu mandato.[23]

Antes de tomar posse na Câmara, Bertha já havia participado da Comissão Preparatória do Anteprojeto do novo texto constitucional, que aconteceu em Petrópolis em 1932. Elaborou sugestões para a Constituição (promulgada em 1934), as quais foram discutidas em reuniões da FBPF e estão reunidas no documento 13 Princípios Básicos de Direito Constitucional. As propostas defendiam os direitos políticos e jurídicos das mulheres, dando ênfase às questões relativas ao trabalho, à educação, à maternidade e à infância. Foram levadas à Assembleia Constituinte por Carlota Pereira de Queirós, a primeira deputada eleita no Brasil e a única mulher a participar deste processo legislativo, e muitas delas incorporadas.[12]

Atuação parlamentar

Bertha Lutz durante o Congresso Nacional Feminino de 1936
Bertha durante o almoço oferecido a Maria Luísa Bittencourt, eleita Deputada Constituinte na Bahia, 1936

As principais bandeiras de luta durante seu período como parlamentar foram mudanças na legislação trabalhista, em especial relacionadas aos direitos femininos, como equiparação de salários e direito à licença-maternidade, e a luta contra o trabalho infantil. Também foi ativa na defesa do conhecimento científico brasileiro, da formação científica, do combate a doenças, da proteção à natureza e conservação da fauna e da flora.[9]

Dentro da Câmara dos Deputados, também lutou pela criação de um Ministério Nacional da Mulher e apresentou o projeto do Departamento de Maternidade, Infância, Trabalho Feminino e Lar. Este foi aprovado, mas não saiu do papel devido ao fechamento do Congresso em 1937.[12] Em seu período como parlamentar, Bertha também foi autora do projeto de lei do Estatuto da Mulher. Ao lado de Carlota Pereira de Queiros, estabeleceu e presidiu uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados para redigir um estatuto "com o fim expresso de regulamentar os dispositivos da legislação ordinária de acordo com os direitos e obrigações constitucionais da cidadã".[2]

Em outubro de 1937, o projeto de lei foi apresentado à Comissão Especial do Estatuto da Mulher, que já existia desde setembro de 1936 por iniciativa de Bertha. Nele são enfatizados os direitos atribuídos à mulher na Constituição de 1934, sendo que o sufrágio feminino é usado como um divisor de águas, visto que, apesar do texto constitucional ter dado à mulher igual condição que ao homem, legislações anteriores, como o Código Penal, o Código Civil e o Código Comercial, ainda não tratavam dessa igualdade.[2]

O Código Civil em vigor naquela época datava de 1916 e considerava as mulheres, especialmente as casadas, como "incapazes", enquanto o Código Comercial, que datava do período do Império, impedia as mulheres de serem corretoras ou leiloeiras. Já no Código Penal, que era de 1890, crimes como estupro e adultério estavam relacionados à "honra da família", onde a "moral da vítima" era crucial na sentença.

No entanto, apesar de se declararem feministas, ambas as parlamentares mantinham discursos alinhados à Igreja Católica para manter alianças políticas. Ainda que defendesse a igualdade para as mulheres, o projeto do Estatuto da Mulher mantinha em seu conteúdo "diferenças biológicas, de educação, formação, punição e morais" entre homens e mulheres e pouco questionava os lugares ocupados pela mulher na sociedade. A posição de que a manutenção do lar e da família era inata à mulher, discurso que conseguia apoio até de Getúlio Vargas, era considerada conservadora e gerou críticas de jornais na época.[2]

O projeto de lei que fora apresentado em 1 de outubro de 1937 deixa de tramitar com o fechamento do Congresso pelo Estado Novo e as divergências entre Carlota e Bertha, como a criação de um Departamento Nacional da Mulher, dificultaram o avanço do Estatuto da Mulher.[2]

Atuação internacional

Bertha Lutz durante a Conferência de São Francisco, em 1945

Bertha integrou a delegação do Brasil à Conferência de São Francisco, em 1945, cujo intuito era redigir o texto definitivo da Carta das Nações Unidas. Durante o evento, Bertha se empenhou, junto a outras delegações da América do Sul, para assegurar que a Carta fosse revista periodicamente.[24]

Entretanto, seu grande mérito foi a luta para incluir menções sobre igualdade de gênero no texto do documento. Embora quatro mulheres tenham assinado a Carta, apenas Bertha e a delegada da República Dominicana, Minerva Bernardino, defenderam os direitos das mulheres.[24]

Bernardino e Lutz foram reconhecidas como "instrumentais" na inclusão das frases "igualdade de direitos entre homens e mulheres", "fé nos direitos humanos fundamentais" e "dignidade e valor da pessoa humana" no preâmbulo do Carta das Nações Unidas.[25]

Devido a sua atuação na Conferência de São Francisco, Bertha foi convidada pelo Itamaraty a integrar a delegação brasileira à Conferência do Ano Internacional da Mulher, organizada pela Organização das Nações Unidas e realizada no México entre junho e julho de 1975.[26]

Vida pessoal e morte

Ela viveu até os 82 anos sem casar nem ter filhos, e morreu em 1976, no Rio de Janeiro.[27]

Impacto cultural

Vídeo sobre Bertha feito pela TV Brasil em 2018

Lutz é considerada uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX.[5] Ela foi homenageada de várias maneiras. Seu nome foi usado em várias espécies de anfíbios, nomes de logradouros, escolas e premiações.[28]

O Laboratório de Análise Internacional ‘Bertha Lutz’ da Universidade de São Paulo (LAI-USP), também foi nomeado em homenagem à cientista brasileira. Ele foi criado por alunos do curso de relações internacionais da instituição com o objetivo de estimular as atividades de graduação.[29]

Em 2017, seu sobrenome foi homenageado a partir da nomeação da espécie de perereca Aplastodiscus lutzorum[30] e em 2020 seu nome foi escolhido para uma nova espécie de raia, a Hypanus berthalutzea.[31]

Diploma Bertha Lutz

Ver artigo principal: Diploma Bertha Lutz
Bertha Lutz durante a juventude

O Diploma Bertha Lutz foi instituído pelo Senado Federal do Brasil para agraciar mulheres que tenham oferecido relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no Brasil. O diploma homenageia Bertha e foi instituído com base em projeto de 1998 apresentado pela senadora Emília Fernandes. É conferido, anualmente, em sessão do Senado especialmente convocada para esse fim, a realizar-se durante as atividades do Dia Internacional da Mulher, e premia cinco mulheres de diferentes áreas de atuação. A apreciação das indicações e a escolha das agraciadas é feita pelo Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, composto por um representante de cada partido político com assento no Senado Federal.[32]

Documentário

Em 2021, a HBO lançou o documentário Bertha Lutz — A mulher na carta da ONU, sobre o importante papel da bióloga e feminista brasileira em assegurar que questões de gênero fossem contempladas nas bases da Organização das Nações Unidas (ONU). A ideia do documentário surgiu a partir das pesquisas da argelina Fatima Sator e da norueguesa Elise Luhr Dietrichson, que estudavam na Universidade de Londres quando encontraram uma série de cartas escritas por Bertha Lutz.[33]

Ver também

Referências

  1. a b Cândido Pessoa. Fundação Getúlio Vargas. Acessado em 27 de junho de 2021.
  2. a b c d e f Bruna Potechi. Revista Estudos Feministas, ed. «As mulheres dos estatutos no Congresso Nacional Brasileiro». Consultado em 29 de julho de 2021 
  3. «Coisa de Mulher». Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina (sobrage.org.br). Arquivado do original em 12 de fevereiro de 2007 
  4. «Conheça mulheres que se tornaram grandes cientistas - Bertha Lutz (1894-1976)». Portal BOL. Consultado em 8 de março de 2015 
  5. a b c d «Bertha Lutz». Senado Notícias. Senado Federal. Outubro de 2015 
  6. a b Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). ABREU, Alzira Alves de. Editora FGV, 2015.
  7. «Bertha Lutz, naturalista, bióloga, sufragista e feminista». www.museunacional.ufrj.br. Seção de Memória e Arquivo - Museu Nacional - UFRJ. Consultado em 5 de maio de 2019 
  8. a b c Gustavo Alves Cardoso Moreira (2013). Seção de Memória e Arquivo (Semear) do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ed. «Bertha Lutz, naturalista, bióloga, sufragista e feminista». Rio de Janeiro. Consultado em 6 de julho de 2021 
  9. a b Sousa, Lia Gomes Pinto de; Sombrio, Mariana Moraes de Oliveira; Lopes, Maria Margaret (junho de 2005). «Para ler Bertha Lutz». Cadernos Pagu (24): 315–325. ISSN 0104-8333. doi:10.1590/S0104-83332005000100016. Consultado em 27 de junho de 2021 
  10. «Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em agosto de 1965 - Bertha Lutz – Museu Virtual». lhs.unb.br. Consultado em 27 de junho de 2021 
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Leitura adicional

  • Marques, Teresa Cristina de Novaes (2000). Bertha Lutz. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. ISBN 978-85-402-0783-7  (o acesso integral ao texto é gratuito); e
  • Lôbo, Yolanda (2010). Bertha Lutz (PDF). Brasília, DF: Ministério da Educação. ISBN 978-85-7019-529-6 
  • Hahner, June E. Emancipating the Female Sex: The Struggle for Women's Rights in Brazil, 1850–1940. (1990)
  • Roth, Cassia, and Ellen Dubois. "Feminism, Frogs and Fascism: The Transnational Activism of Brazil's Bertha Lutz." Gender & History 32.1 (2020): 208-226 online.

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