Fortaleza de Santo António da Ponta da Mina

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Fortaleza de Santo António da Ponta da Mina
Apresentação
Tipo
Fundação
Estatuto patrimonial
Localização
Localização
Pagué
Q1039
Localizado
Coordenadas
Mapa
Entrada do porto da ilha do Príncipe (gravura inglesa de 1727): à esquerda, a meia-encosta, o Forte da Ponta da Mina.

O Forte de Santo António da Ponta da Mina localiza-se na ponta da Mina, na Ilha do Príncipe, a menor do arquipélago de São Tomé e Príncipe.

Tinha como função a defesa da baía de Santo António e seu porto, o principal da ilha.

História[editar | editar código-fonte]

O estabelecimento de uma Alfândega na Ilha do Príncipe, em 1695, conduz à construção (ou reedificação) da Fortaleza da Ponta da Mina.

De acordo com padre Cunha Matos, a fortificação deveria ser anterior a essa data, referindo que "(...) nessa data [1695] consistia em vários parapeitos de fachina, que cobriam algumas peças de artilharia, que defendiam a entrada do porto.

E acrescenta que, ainda nessa data, veio de Portugal uma Companhia de Infantaria para guarnecer a fortaleza.

Em 1706 e em 1709 a cidade de Santo António foi invadida por Franceses, que para evitar o fogo da fortaleza, encravaram-lhe a artilharia.

Em 1719 a cidade foi atacada e incendiada pelo pirata inglês Bartholomew Roberts, também conhecido como John Roberts e Black Bart, em represália pela morte do seu capitão, Howell Davis.

A descrição de Cunha Matos (1815)[editar | editar código-fonte]

Em 1815, Cunha Matos, militar português, descreveu a defesa da ilha:

"A ilha do Príncipe é defendida pelas fortalezas da Ponta da Mina, e de Santa Ana: da primeira dependem o reducto de Nazareth, a praça baixa de Nossa Senhora , e a bateria de São João.
A fortaleza da Ponta da Mina está edificada em um monte, que forma a ponta do sul do porto da cidade: as embarcações passam, e fundeam muito próximo a ella.
Consta esta fortaleza de duas baterias, uma superior chamada 'Bateria Real' e outra inferior assentada em um pequeno monte chamada 'Bateria do Príncipe'.
A 'Bateria Real' apresenta ao mar a parte convexa de um parapeito semi-circular d'alvenaria, onde se acham assentadas 16 peças de artilharia de bronze, de calibre 3 até 14.
N’esta bateria ha um pequeno deposito de pólvora, e sobre um terreno elevado fica o quartel da guarnição, e junto a elle o grande armazém da pólvora de péssima construcção: este armazém é redondo, e semelhante a um moinho de vento, tem pela sua má construção arruinado muitos centos d'arrobas de pólvora.
Da 'Bateria Real' desce-se por um zig-zag para a 'Bateria do Príncipe', que fica a oeste d’ella.
A dita 'Bateria do Príncipe' é um quadrado longo de pedra e cal: tem 120 palmos de comprido, e 33 de largura: a altura interior do parapeito 9 palmos; tem assentadas da banda do norte 5 peças de ferro, de calibre 6; à face d'oeste tem duas peças do mesmo calibre, a do sul uma de 4, e a do leste encostada ao monte em que fica a 'Bateria Real'.
A 'Bateria do Príncipe' é mais vantajosa para a defeza do porto, do que a 'Real', porque esta acha-se a 500 pés acima do nível do mar, e a 'Bateria do Príncipe' a 200 pés.
A leste, e 50 toesas distante distante da 'Bateria Real', está um um reducto chamado 'Praça Baixa de Nossa Senhora' 35 pés acima do nível do mar: tem três peças de ferro de calibre 3, e é muito útil á defensa do porto.
Em um outeiro contíguo, e que domina a fortaleza da Ponta da Mina pela parte do sudoeste há um bom reducto chamado 'Nossa Senhora da Nazareth': obra mais interessante, que todas as outras da ilha do Príncipe, e por falta da qual tomaram os Franceses sem nenhum obstáculo nos annos de 1706 e 1709: tem 2 peças de bronze de calibre 4, e fosso com ponte levadiça. D'este reducto enfiam-se todas as obras fortificadas da ilha do Príncipe, e a tiros d'espingarda se defendem a 'Bateria Real', a do 'Príncipe', e a 'Praça Baixa de Nossa Senhora'.
Um tiro d'espingarda a oeste da fortaleza da Ponta da Mina, há uma bateria chamada 'de S. João' na qual estão assestadas duas peças de ferro de calibre 6.
Defronte d'esta bahia a cincoenta toesas ancoram quasi todas as embarcações, que entram no porto da ilha do Príncipe."

O Relatório do tenente Conceição e Sousa (1879)[editar | editar código-fonte]

Na segunda metade do século XIX, o Relatório do tenente Conceição e Sousa, por sua vez, informava:

"Fica esta fortaleza situada em uma excelente posição estratégica, distante uma milha da cidade, na margem direita da baía de Santo António, no extremo da ponta que avança para a mesma baía na direcção NO, e que se denomina Ponta da Mina.
Tem esta ponta no local da fortaleza, a altura de 50 metros acima do nível do mar e a largura superior de 42 metros. As suas vertentes do lado sul e norte despenham-se abruptas para a baía, e no sentido mesmo do seu comprimento a sua inclinação é superior a 35%.
De sua elevada e inacessível posição domina esta fortaleza toda a extensão do porto, compreendida entre a ponta denominada do Capitão a NE, e a da Praia Salgada a ESSE, e fecha toda e qualquer comunicação marítima com a cidade; cobrindo-a assim de um golpe de mão do inimigo.
Conta esta fortaleza de uma bateria poligonal que coroa a ponta, tendo 17 canhoneiras com outras tantas peças e dum reduto construído na vertente NO da ponta, o qual fica 17 metros acima do nível do mar e a 96 distante da bateria com a qual se comunica por meio d’uma rampa em ziguezagues.
Tem este reduto oito canhoneiras e a sua face SO uma banqueta para o fogo de fuzilaria, para defender o desembarque na praia próxima.
São estas duas obras construídas de alvenaria, incluindo os parapeitos como todas as fortificações dos tempos antigos, tendo por isso os inconvenientes inerentes à sua construção.
O seu estado actual – Esta fortaleza está ao presente num estado o mais deplorável. O quartel do destacamento composto de dois pequenos quartos, além de ser insuficiente, precisa ser reconstruído, por estar em mau estado, o paiol serve ao presente de cozinha às praças; as peças estão estendidas no chão e escondidas no meio da erva, por falta de reparos; a rampa que comunica a bateria com o reduto está arruinada; as canhoneiras estão em mau estado de conservação; e com pouco mais tempo as muralhas, se lhe não acodem a tempo, se reduzirão a um montão de ruínas.
As peças que existem nesta fortaleza são 31, sendo 7 de bronze e as restantes de ferro fundido. Foram todas fundidas no reinado de D. Pedro II. Tinham sido cravadas suponho pelos franceses em 1709, existindo algumas ainda neste estado.
Construções necessárias – Proponho a construção de um quartel para destacamento, composto duma caserna suficiente para 8 praças, um quarto para o comandante do destacamento, um dito para a arrecadação, um dito para convalescentes, podendo comportar oito leitos e finalmente uma cozinha.
Sendo o local da fortaleza considerado relativamente mais saudável do que a cidade, achei conveniente a construção do já citado quarto para convalescentes. Proponho igualmente a construção de uma estrada que comunique a bateria com o reduto e este com a praia, devendo ser formada de rampas e escadas, único meio com que se obviará o inconveniente da sua actual comunicação, cuja inclinação chega em alguns pontos a ser superior a 30%.
Proponho finalmente a construção de 21 reparos para as peças.
Reparações – As reparações a fazer consistem: No reduto: assentamento delgado na plataforma, reboco das canhoneiras e madeiramento para a casa da guarda existente no mesmo. Na bateria: colocação de lajedo na plataforma, reboco nas canhoneiras, reparações na escada e na rampa existentes no interior da mesma, e finalmente no levantamento dalguns muros que fazem parte desta obra.
A importância do orçamento que remeto à Direcção das Obras Públicas da Província para solicitar a necessária autorização, para se levar avante estes indispensáveis melhoramentos, que a honra da nação e a sua vitalidade nos impõe, é, excluindo o custo dos reparos das peças, 7.130$000 réis. Seria conveniente também a substituição das 19 peças de ferro fundido, que estão em mau estado." (Relatório apresentado ao Governador da Província pelo engenheiro-ajudante tenente José Elias da Conceição e Sousa, chefe das secção de Obras Públicas da Ilha do Príncipe, datado de 20 de Junho de 1879. apud: MELO, 1947:28-32)

Parte dessas obras só teriam lugar entre 1885 e 1886, sendo a fortaleza considerada arruinada em 1890.

Do século XX aos nossos dias[editar | editar código-fonte]

Novos reparos tiveram lugar em 1905, 1907 e 1910, insuficientes para a sua recuperação, vindo a cair em abandono.

As últimas cinco peças de bronze da fortaleza foram recolhidas à cidade na primeira metade do século XX, tendo feito fogo quando da passagem do General António Óscar de Fragoso Carmona pela ilha em 1938.

Atualmente a fortaleza encontra-se em ruínas, ocultas pela vegetação, com a antiga artilharia de ferro espalhada pelo solo, tendo sobrevivido de pé apenas o antigo Paiol de Pólvora, habitado em meados do século XX pelo faroleiro.

Com relação ao Forte de Santa Ana, indicado mas não descrito pelo padre Cunha Matos, pode ter-se localizado em uma ponta do lado norte da baía, fronteira à Ponta da Mina, onde recentemente estudantes da University of Salford identificaram um sítio arqueológico com as características de um antigo forte.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia Histórica das Ilhas de S. Tomé, Prícipe, Ano Bom e Fernando Pó (4a. ed.). São Tomé: Imprensa Nacional, 1916.
  • MELO, José Brandão Pereira de. A Fortaleza de Santo António da Ponta da Mina. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1969. (Coleção Figuras e Feitos de Além-Mar, no. 5) 87p.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]