História da Grandeza e da Decadência de César Birotteau

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Grandeur et décadence de César Birotteau
Grandeza e decadência de César Birotteau (PT)
Ascensão e queda de César Birotteau (BR)
Autor(es) Honoré de Balzac
Idioma Francês
País  França
Série Scènes de la vie parisienne
Ilustrador Bertall
Editora Charles-Béchet
Lançamento 1839
Edição portuguesa
Tradução Alberto Pimentel (Filho)
Editora Guimarães
Lançamento 1947
Páginas 305
Edição brasileira
Tradução Herculano Villas-Boas
Editora L&PM
Lançamento 2009
Páginas 304
ISBN 9788525417657
Cronologia
La fille aux yeux d'or
La Maison Nucingen

A Grandeur et décadence de César Birotteau [1](em francês Histoire de la Grandeur et de la Décadence de César Birotteau, perfumeur, chevalier de la Légion d'Honneur, adjoint au maire du deuxième arrondissement de Paris, longo título que descreve em uma frase toda a trama) é um romance de Honoré de Balzac, escrito em 1837. Faz parte das Cenas da vida parisiense, da Comédia Humana.

Como é comum nos romances de Balzac, o protagonista foi inspirado por um fato real. O autor tinha por modelo um certo Bully, perfumista por profissão, que inventou uma loção de toalete à base de vinagre à qual deu seu nome. O laboratório de Bully foi saqueado após o levante popular de 1830, o homem ficou arruinado e passou longos anos a reembolsar seus credores e morreu na maior miséria, no hospital.

Balzac adicionou um caso de especulação, transformando a história em um autêntico romance de aventuras no qual César Birotteau encarna o protótipo da pequena burguesia dos anos de 1830. Uma classe social ávida de reconhecimento, de honras, cuja ambição é ascender às esferas mais altas do mundo parisiense.

Sempre pronto a sublinhar a crueldade do mundo, o autor se compraz em fornecer uma visão tocante dessa personagem ingênua (cujo fim será menos duro do que o de seu modelo de partida). E, sobretudo, ele põe em relevo as qualidades de coragem e perseverança através do generoso Popinot, empregado de César Birotteau e seu futuro genro.

"Embora menos famosa que muitas outras obras de Balzac, esta é, no conceito unânime da crítica, um de seus romances mais perfeitos; é também, podemos acrescentar, um dos mais característicos, o modelo por excelência do romance balzaquiano."[2]

Enredo[editar | editar código-fonte]

César Birotteau, perfumista enriquecido por suas descobertas que causaram furor, e que recebera a Legião da Honra, decide transformar sua casa burguesa em um verdadeiro palácio para oferecer, ao fim de 1818, um baile por ocasião da retirada das tropas de ocupação da França. "O baile, brilhante como um fogo de artifício, extinguiu-se às cinco da manhã."[3] Suas despesas suntuárias, que assustam sua esposa e seu fiel empregado Anselmo Popinot (secretamente apaixonado por Mademoiselle Birotteau), dão-lhe uma vertigem de ambição que o levam a arriscar toda sua fortuna. O notário mestre Roguin fareja em Birotteau uma vítima em potencial, e o envolve em um caso de especulação imobiliária no bairro da Madalena de Paris. Birotteau tem, de fato, necessidade de dinheiro porque as obras de reforma de sua casa e o novo estilo de vida que ele deseja ter lá comprometeram seriamente seu patrimônio.

Por uma hábil manobra dupla, o notário escroque desvia todas as economias do perfumista sem lhe dar recibo, antes de desaparecer. O instigador do complô contra o perfumista é um dos seus antigos empregados demitido por furto: du Tillet, agora admitido nas altas esferas das finanças e que alcançou sua vingança solapando o crédito de seu antigo patrão em todos os bancos. Sem possibilidade de obter empréstimos, o perfumista não consegue, apesar da dedicação de seu tio Pillerault e de sua esposa, de sua filha, se livrar dos apuros. Ele é obrigado a vender sua loja A Rainha das Rosas ao caixeiro que substituiu Anselmo Popinot: Célestin Crevel. Mas Anselmo Popinot, que dirige agora uma sucursal, o salvará. Ajudado por seu genial vendedor Félix Gaudissart, ele prepara e comercializa um óleo de sua invenção que é uma sensação por sua vez, como as descobertas de Birotteau. Popinot passa os dias e as noites a fabricar, em segredo, o óleo de avelã, cujo lucro ele reverte para César Birotteau. Ajudado com seis mil francos que oferece Luís XVIII ao fiel realista, Birotteau reembolsa todos seus credores, é finalmente reabilitado em 1823 e retoma sua Legião da Honra. Mas derrubado por essa batalha, ele morre no dia de seu triunfo, deixando o comércio próspero e a dignidade de seu nome em herança à sua filha e ao fiel Popinot.

"Os sofrimentos de César nada têm das dores grandiosas e imateriais dos heróis românticos; as estações de seu calvário são o vencimento de uma letra, a reforma de uma duplicata, uma conta a pagar quando o caixa está vazio."[2]

Na obra Balzac traça um paralelo entre os dois bailes do enredo (o do ápice da carreira do perfumista e o baile de noivado de Popinot com Cesarina ao término da história) e o final da quinta sinfonia de Beethoven, enriquecendo assim "a sua motivação com esses empréstimos à magia de outra arte", segundo Rónai na Introdução à obra. "Essa música ideal explodiu, crepitou em todos os tons musicais e fez soar seus clarins nas meninges daquele cérebro fatigado, para o qual aquilo ia ser o grande epílogo."[3]

Referências

  1. Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume VIII
  2. a b Paulo Rónai, Introdução a História da Grandeza e da Decadência de César Birotteau, Editora Globo.
  3. a b Balzac, História da Grandeza e da Decadência de César Birotteau, Editora Globo.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • (es) Francisco Cabrillo, « La quiebra como tema literario: Balzac ante el Tribunal de Comercio », Revista de Occidente, Apr 2005, n° 287, p. 107-22.
  • (fr) Roger J. B. Clark, « Sur Balzac, Cormon et César Birotteau », French Studies, 1969, n° 23, p. 244-7.
  • (fr) Christian Denis, « César Birotteau et la communication publicitaire », L'Année balzacienne, 1993, n° 14, p. 157-70.
  • (fr) Graham Falconer, « Balzac historien des mentalités ? Lecture de César Birotteau », Réflexions sur l’autoréflexivité balzacienne, Toronto, Centre d’Études du XIXe siècle Joseph Sablé, 2002, p. 55-65.
  • (en) G. M. Fess, « Balzac’s First Thought of César Birotteau », Modern Language Notes, Dec 1934, n° 49 (8), p. 516-19.
  • (fr) Juliette Frølich, « L’Effet Birotteau : Grandeur et décadence », L’Année balzacienne, 1990, n° 11, p. 389-402.
  • (fr) Manabu Goto, « Balzac et la légende beethovénienne : autour de César Birotteau », Études de Langue et Littérature Françaises, Mar 1996, n° 68, p. 72-84.
  • (en) J. P. Greene, « Cosmetics and Conflicting Fictions in Balzac’s César Birotteau », Neophilologus, Apr. 1999, n° 83 (2), p. 197-208.
  • (en) Elaine R. Hedges, « César Birotteau and The Rise of Silas Lapham: A Study in Parallels », Nineteenth-Century Fiction, Sept 1962, n° 17 (2), p. 163-74.
  • (fr) Pierre L. Horn, « L’Épisode des banquiers dans César Birotteau et Jérôme Paturot », L’Année balzacienne, 1978, p. 247-49.
  • (fr) Pierre Laubriet, « L’Élaboration des personnages dans César Birotteau : enseignement des épreuves corrigées », L’Année balzacienne, Paris, Garnier, 1964, p. 251-270
  • (en) Harry Levin, « From Priam to Birotteau », Yale French Studies, 1950, n° 6, p. 75-82.
  • W. G. Moore, « Vers une édition critique de César Birotteau », Revue d’Histoire Littéraire de la France, 1956, n° 56, p. 506-15.
  • (en) Anthony Pugh, « The Ambiguity of César Birotteau », Nineteenth-Century French Studies, 1980, n° 8, p. 173-89.
  • (en) Anthony R. Pugh, « The Genesis of Cesar Birotteau: Questions of Chronology », French Studies, 1968, n° 22, p. 9-25.
  • (de) Achim Schröder, « Honoré de Balzac, César Birotteau (1837): Ein Lehrstück über den ökonomischen Entwicklungsstand der Julimonarchie », Literaturwissenschaftliches Jahrbuch im Auftrage der Görres-Gesellschaft, 2000, n° 41, p. 161-83.
  • (en) Hugh S. Worthington, « The Beethoven Symphony in Balzac’s César Birotteau », Modern Language Notes, Nov 1924, n° 39 (7), p. 414-19.
  • (pt) Honoré de Balzac. "A comédia humana". Org. de Paulo Rónai. Porto Alegre: 1954. Volume VIII.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]