L'Auberge rouge (livro)

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L'Auberge rouge
A Estalagem Vermelha (BR)
Autor(es) Honoré de Balzac
Idioma Francês
País  França
Gênero Romance policial
Série Études philosophiques
Localização espacial Paris, Andernach
Editora La Revue de Paris
Lançamento 1831
Edição brasileira
Tradução Vidal de Oliveira
Editora Globo
Cronologia
Maître Cornélius
Sur Catherine de Médicis

L'auberge rouge (em português: A Estalagem Vermelha[1]) é uma novela de 1831 escrita pelo autor francês Honoré de Balzac incluída nos Études philosophiques ("Estudos filosóficos") de sua Comédia Humana.

Presentação[editar | editar código-fonte]

L'auberge rouge é uma das primeiras obras que Balzac assinou com seu nome, daí seu clima ainda levemente gótico. Segundo o depoimento da irmã do escritor, trata-se de uma história real,[2] contada "por um antigo cirurgião militar, amigo do homem condenado injustamente".[3] Para Paulo Rónai, "uma das mais importantes entre as novelas de Balzac."[4]

A frase "na raiz de toda grande fortuna existe um crime", que costuma ser citada como sendo deste livro,[5], na verdade não é dita em lugar nenhum da obra. O máximo que se diz é: "Assim como a virtude, o crime tem seus graus." Existe uma frase parecida, proferida pelo personagem Vautrin, um criminoso, no livro O Pai Goriot, a saber: "O segredo das grandes fortunas sem causa aparente é um crime esquecido porque o serviço foi bem-feito."[6] Só que "grandes fortunas sem causa aparente" não é o mesmo que "toda grande fortuna".

Em resumo, a obra conta a história de dois médicos que passam a noite numa taverna; um terceiro hóspede traz consigo muito dinheiro e aparece morto; todas as provas são contra um dos amigos, que realmente teve a ideia de matá-lo, porém desistiu no último segundo; mesmo assim, aceita sua condenação à morte, pois se sente culpado; sua ideia do assassinato fora transmitida telepaticamente a Taillefer, o outro médico, que é o verdadeiro criminoso e se cala para ficar com a fortuna.

Balzac empregou uma técnica complexa e inovadora, onde a história é contada pela única pessoa que conhecia a trama, estando presentes, entre outros, Taillefer e seu futuro genro, que o desmascara intimamente graças a um pequeno detalhe. Daí, o dilema: é imoral aceitar riquezas sabidamente advindas de um ato criminoso? Outra técnica empregada é a da história dentro de uma história: um narrador conta a história de um jantar onde o convidado alemão, Hermann, conta a história do crime da estalagem vermelha, parte da qual lhe foi contada na prisão por Prosper Magnan.[7]

Segundo Marcel Barrière em seu estudo literário e filosófico de A Comédia Humana, "Balzac, após ter feito a distinção que existe entre o fato e sua ideia geradora, inflige ao homem que concebeu o fato sem o executar a punição humana reservada normalmente à culpabilidade real. Quanto àquele que realmente agiu, escapa à vingança da sociedade, mas não à mais terrível da Providência.[8]

Dos quatro filmes com o título L'Auberge rouge (A Estalagem Vermelha), apenas dois, de 1912 e 1923, do cinema mudo portanto, são baseados na obra de Balzac. Os de 1951 e 2007 baseiam-se nos crimes da estalagem de Peyrebeille e nada têm a ver com a obra balzaquiana.

Enredo[editar | editar código-fonte]

O banqueiro alemão Hermann, de passagem por Paris, janta na companhia da alta sociedade. No final da refeição, ele conta uma estranha história que ouviu durante a sua prisão em Andernach, na época das Guerras Revolucionárias Francesas, onde foi preso pelos franceses por comandar um grupo de resistência.

Trata-se de um crime cometido em 1799. Dois cirurgiões militares passam a noite numa estalagem, partilhando o quarto com um industrial que fugiu das hostilidades e que admite, durante a refeição, ter consigo uma considerável soma em ouro, bem como diamantes. Um dos dois cirurgiões, Prosper (Próspero na edição brasileira de A Comédia Humana organizada por Paulo Rónai) Magnan, muito impressionado com esta revelação, não consegue adormecer e imagina como seria fácil e rentável para ele matar o industrial. Quando enfim adormece, é acordado por um tumulto: o industrial foi realmente assassinado e, mais ainda, com um instrumento cirúrgico.

Prosper Magnan é inocente, mas é preso, condenado e fuzilado.

Enquanto o banqueiro alemão Hermann desenvolve sua história, o narrador de A Estalagem Vermelha escuta. No entanto, ele está sentado em frente a outro convidado que dá sinais de inquietação durante o relato de Hermann: trata-se do verdadeiro assassino, por acaso sentado na mesma mesa. Este homem, Jean-Frédéric (Frederico) Taillefer, é o pai de Victorine (Vitorina) Taillefer, que encontraremos em O Pai Goriot.

Tendo se tornado um rico financista e cumulado de honras, Jean-Frédéric Taillefer desmorona gradualmente à medida que a história avança. A sua opulência, devido a esse crime, não impediu lembranças dolorosas, e Taillefer é acometido de uma crise nervosa da qual morre pouco depois.

O narrador balzaquiano, por sua vez, apaixonado por Victorine Taillefer, reluta em se casar com uma herdeira cuja fortuna está coberta de sangue. Ele pede conselhos aos amigos e a maioria acha que ele não deveria se casar, mas por um motivo interesseiro: eles têm interesse em se casar com ela. O livro termina sem uma solução.[9]

Referências

  1. Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume XVI
  2. Prefácio de Paulo Rónai a A Estalagem Vermelha no Volume XVI de A Comédia Humana por ele organizada.
  3. Mme. Surville, Balzac, sa Vie et ses Œuvres, pág. 103.
  4. Paulo Rónai, Prefácio a A Estalagem Vermelha.
  5. Por exemplo, em Rosivaldo Toscano Jr. «MUITO MAIS QUE UMA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA». Consultado em 15 de outubro de 2023 
  6. O Pai Goriot, volume 4 da edição de A Comédia Humana organizada por Paulo Rónai, tradução de Gomes da Silveira.
  7. "A novela é das de técnica mais engenhosa entre todas as novelas de Balzac: ele aqui, à maneira dos narradores orientais, enxerta uma história dentro da outra, mas, mais artista que eles, sabe mantê-las em estreita ligação até o fim." Paulo Rónai, Prefácio a A Estalagem Vermelha.
  8. Marcel Barrière, L'Œuvre de H. de Balzac, Paris: Calmann Lévy, 1890.
  9. Resumo baseado no verbete correspondente da Wikipédia francesa.

Ligações externa[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]