José Luandino Vieira
José Luandino Vieira | |
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Nome completo | José Vieira Mateus da Graça |
Nascimento | 4 de maio de 1935 (89 anos) Vila Nova de Ourém, Portugal |
Nacionalidade | Portuguesa Angolana (desde 1975) |
Ocupação | Escritor e tradutor |
Principais trabalhos | Luuanda, Macandumba |
Prémios | Prémio Camões (2006) |
José Luandino Vieira, pseudónimo literário de José Vieira Mateus da Graça (Lagoa do Furadouro, Vila Nova de Ourém, 4 de maio de 1935)[1], é um escritor e tradutor luso-angolano.[2][3].
Biografia
[editar | editar código-fonte]Originário da Lagoa do Furadouro, na vila de Ourém, aos três anos de idade José Vieira Mateus da Graça, que viria a adotar o nome literário de José Luandino Vieira, viajou para Angola, juntamente com os seus pais.
Passou toda a infância e juventude em Luanda, onde fez os estudos secundários. Com o eclodir da Guerra Colonial, ingressou nas fileiras do MPLA, participando na luta armada contra Portugal. Já antes estivera detido pela PIDE, por se manifestar contra a ditadura, em 1959; voltaria a ser detido em 1961, e subsequentemente condenado a 14 anos de prisão. Até 1964 passou por várias cadeias em Luanda, até que no último desses anos foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde passou oito anos.
Em 21 de Maio de 1965, encontrando-se Luandino preso há quatro anos, a Sociedade Portuguesa de Escritores, então presidida por Jacinto do Prado Coelho, deliberou atribuir-lhe o Grande Prémio de Novela, pela sua obra Luuanda. Depois de os jornais portugueses noticiarem o galardão, a Direcção dos Serviços de Censura detectou a gaffe política e proibiu qualquer referência ao prémio sem um enquadramento crítico face ao escritor, aos membros do júri e à própria SPE, cuja sede foi assaltada e destruída na noite de 21 de Maio, alegadamente por "desconhecidos", mas na realidade elementos da polícia política PIDE e da Legião Portuguesa. Por despacho datado do mesmo dia 21 de Maio, o Ministro da Educação Nacional, Inocêncio Galvão Teles, extinguiu a Sociedade Portuguesa de Escritores.[4] Na sua edição de 23 de Maio, o Jornal do Fundão noticiou os prémios, elogiando fortemente os vencedores, incluindo Luandino, e recusando qualquer referência ao estatuto criminal do escritor. Em consequência, o periódico foi suspenso durante seis meses e multado, tendo a sua caução aumentado exponencialmente até cumprir a obrigação de apresentar as provas à delegação de Lisboa dos Serviços de Censura e não de Castelo Branco. Só viria a retomar a normalidade no final de Novembro de 1965, após exposições do diretor ao Presidente do Conselho.[5]
Em 2009, numa rara entrevista concedida ao jornal Público, Luandino confidenciou que as notícias do prémio chegaram tardiamente ao Tarrafal, pois o director do campo de detenção retardou a informação. Como o escritor estava impossibilitado de candidatar a obra, bem como o seu editor, foi com surpresa que percebeu que a obra fora, mesmo assim, distinguida, graças à intervenção do crítico literário Alexandre Pinheiro Torres.[6]
Saiu em regime de liberdade condicional em 1972, passando a viver em Lisboa, sujeito à medida de segurança residência sob vigia. Foi trabalhar com o editor Sá Costa (até à Revolução de Abril) e iniciou a publicação da sua obra, escrita, na grande maioria, nas prisões por onde passou.
Em 1975 regressou a Angola. O regime da agora independente República Popular de Angola — de que Luandino é um ideólogo, pois assume a função de diretor do Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA (1975-1979) — atribui a Luandino Vieira responsabilidades ligadas ao setor audiviosual e cinematográfico; começa por ser diretor da Televisão Popular de Angola (1975-1978), e passa depois a dirigir o Instituto Angolano de Cinema (1979-1984). Foi igualmente cofundador da União dos Escritores Angolanos, de que foi secretário-geral (1975-1980 e 1985-1992), e secretário-geral adjunto da Associação dos Escritores Afroasiáticos (1979-1984).
Na sequência das eleições de 1992, porém, e desiludido com o reinício da guerra civil angolana, Luandino Vieira acabou por regressar ao seu país natal. Radicou-se numa zona rural do Minho, próximo de Vila Nova de Cerveira.
A recusa do Prémio Camões
[editar | editar código-fonte]Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Camões, o maior galardão literário da língua portuguesa. Luandino recusou o prémio alegando, segundo um comunicado de imprensa, «motivos íntimos e pessoais». Entrevistas posteriores, sobretudo ao Jornal de Letras, esclareceram que o autor não aceitara o prémio por se considerar um escritor morto e, como tal, entendia que o mesmo deveria ser entregue a alguém que continuasse a produzir. Ainda assim publicou dois novos livros em 2006.
Cargos que exerceu
[editar | editar código-fonte]- 1975 - 1978 - organizou e dirigiu a Televisão Popular de Angola
- 1979 - dirigiu o Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA.
- 1975 - 1980 - secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (Membro Fundador)
- 1979 - 1984 - dirigiu o Instituto Angolano do Cinema.
- 1979 - 1984 - secretário-geral Adjunto da Associação dos Escritores Afroasiáticos
- 1985 - 1992 - secretário-geral da União dos Escritores de Angola
Colaborações jornalísticas
[editar | editar código-fonte]- Mensagem, da Casa dos Estudantes do Império, delegação de Lisboa, (Lisboa, 1950; 1961-1963)
- O Estudante (Luanda, 1961)
- Cultura (Luanda, 1961)
- Boletim Cultural do Huambo (Nova Lisboa, 1958)
- Jornal de Angola (Luanda 1961-1963)
- Jornal do Congo (Carmona, 1962)
- Vértice (Coimbra, 1973)
- Jornal de Luanda (1973 -?)
Obras
[editar | editar código-fonte]Contos
[editar | editar código-fonte]- A cidade e a infância (Contos), 1957; 1986
- Duas histórias de pequenos burgueses (Contos), 1961
- Luuanda (Contos), 1963; 2004
- Vidas novas (Contos), 1968; 1997
- Velhas histórias (Contos), 1974; 2006
- Duas histórias (Contos), 1974
- No antigamente, na vida (Contos), 1974; 2005
- Macandumba (Contos), 1978; 2005
- Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto & eu (Contos), 1981; 1989
- História da baciazinha de Quitaba (Conto), 1986
Novela
[editar | editar código-fonte]- A vida verdadeira de Domingos Xavier, 1961; 2003
- João Vêncio. Os seus amores, 1979; 2004
Romance
[editar | editar código-fonte]- Nosso Musseque (Romance), 2003
- Nós, os do Makulusu (Romance), 1974; 2004
- O livro dos rios, 1º vol. da trilogia De rios velhos e guerrilheiros (Romance), 2006
Infanto-juvenil
[editar | editar código-fonte]- A guerra dos fazedores de chuva com os caçadores de nuvens. Guerra para crianças (infanto-juvenil), 2006
Tradução
[editar | editar código-fonte]- A Clockwork Orange (Laranja Mecânica) de Anthony Burgess, 1973
Outras
[editar | editar código-fonte]- Kapapa: pássaros e peixes, 1998
- À espera do luar, 1998
- Papéis da prisão, 2015
Prémios
[editar | editar código-fonte]- Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores (Prémio Camilo Castelo Branco) (1965)
- Prémio Sociedade Cultural de Angola (1961),
- Casa dos Estudantes do Império - Lisboa (1963)
- Prémio Mota Veiga (1963)
- Associação de Naturais de Angola (1963).
- Prémio Camões (2006)
- Escritor Galego Universal (2021) pela AELG.[7]
Algumas opiniões sobre o autor
[editar | editar código-fonte]- "A sua obra, importantíssima, foi precursora da literatura angolana e tem raízes na terra e na cultura do país" - José Saramago
- "Luandino Vieira é também um marco revolucionário pelo movimento que criou em Portugal a favor da liberdade de expressão" - Lídia Jorge
- "Luandino Vieira é um nome tão grande da literatura em língua portuguesa que a sua distinção já há muitos anos era esperada". "A sua obra tem um enorme valor, e este prémio é um reconhecimento da dinâmica das literaturas africanas e do vigor da Língua Portuguesa em África" - José Eduardo Agualusa.
- "(…) autor que conta na literatura de língua portuguesa e porque foi a certa altura quase um símbolo de rebelião" - Eduardo Lourenço
- "Luandino Vieira dedicou toda a sua vida ao povo angolano, expressando, através dos seus escritos, o sofrimento e as alegrias do povo" - Arlindo Isabel, director da Editorial Nzila.
Referências
- ↑ «Luandino Vieira recusou Prémio Camões por já não escrever há muito tempo». RTP. 3 de março de 2007. Consultado em 10 de outubro de 2023
- ↑ «Luandino Vieira, cinco décadas depois da censura». Rtp.pt. 30 de junho de 2015. Consultado em 14 de fevereiro de 2018
- ↑ «Prémio Camões: Lista de premiados». Porto Canal com Lusa. 30 de maio de 2016. Consultado em 14 de fevereiro de 2018
- ↑ Luuanda, de Luandino
- ↑ Como um prémio de novela encerrou o Jornal do Fundão
- ↑ "Os anos de cadeia foram muito bons para mim", entrevista ao jornal Público, 1 de Maio de 2009
- ↑ Diario, Nós. «A AELG nomea José Luandino Vieira "Escritor Galego Universal"». Nós Diario (em galego). Consultado em 17 de abril de 2021
Ligações externas
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Precedido por Lygia Fagundes Telles |
Prémio Camões 2006 |
Sucedido por António Lobo Antunes |