Casa dos Estudantes do Império

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Casa dos Estudantes do Império
(CEI)
Casa dos Estudantes do Império
Homenagem da Câmara Municipal de Lisboa à Casa dos Estudantes do Império
Tipo Instituição estudantil estatal
Fundação 1943
Extinção 1965
Sede Lisboa
Línguas oficiais Português
Fundador(a) Estudantes da lusofonia africana e asiática

A Casa dos Estudantes do Império (CEI) foi uma instituição estatal que funcionava de maneira semelhante a uma república estudantil, mantida para albergar os vários estudantes das colónias portuguesas que vinham estudar na metrópole.

Mantinha uma sede em Lisboa, com delegações autónomas em Coimbra e no Porto.

Estabelecida em 1943, foi oficializada em 1944 pelo regime salazarista, no intuito de fortalecer a "mentalidade imperial e do sentimento da portugalidade entre os estudantes das colónias",[1] respondendo igualmente a uma necessidade de congregar num único espaço de convivência os estudantes das até então colónias portuguesas, que não possuíam instituições de ensino superior ou para auxiliar àqueles que necessitavam complementar os créditos académicos em Portugal. Foi fechada pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) a 6 de setembro de 1965.[2][3]

Histórico[editar | editar código-fonte]

A Casa dos Estudantes do Império foi o resultado da fusão de várias associações estudantis denominadas "Casa dos Estudantes" surgidas em Portugal, em pleno fervor da Segunda Guerra Mundial.[4]

A primeira a ser fundada foi a Casa dos Estudantes de Angola (CEA), a 1 de dezembro de 1943, em Lisboa, por alguns estudantes dos liceus e das Universidades de Lisboa, de Coimbra e do Porto. Entre os seus fundadores estiveram alguns indivíduos que anteriormente tinham pertencido a Organização Socialista de Angola. Em 1944 surgiram a Casa dos Estudantes da Índia, a Casa dos Estudantes de Macau e a Casa dos Estudantes de Cabo Verde, que funcionavam nas dependências da CEA; no mesmo ano surge a Casa dos Estudantes de Moçambique, que tinha um funcionamento independente, em torno do núcleo dos estudantes de Lourenço Marques (atual Maputo) em Coimbra.[5]

Interessado em controlar o movimento associativo dos estudantes coloniais, o Estado Novo promoveu então a unificação das varias instituições de apoio aos jovens coloniais numa única instituição, a Casa dos Estudantes do Império. A oficialização da Casa dos Estudantes do Império ocorreu durante uma visita à CEA, a 3 de julho de 1944,[6] do ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado, acompanhado do representante da Mocidade Portuguesa e das outras associações de prenome "Casa dos Estudantes" (Aguinaldo Veiga, de Cabo Verde; Vasco Benedito Gomes, da Índia; Gonçalo de Sousa e Macedo Mesquitela, de Macau; e Francisco Maria Martins, de Moçambique). Na visita, o ministro formalizou a proposta da fusão de todas as casas numa instituição denominada "Casa dos Estudantes do Império", a ser mantida em conjunto por dotações da iniciativa privada e pelo Estado português.[5]

A primeira direção, investida pelo Ministério das Colónias, tinha como presidente Alberto Marques Mano de Mesquita. Esta durou pouco, pois em 1945 a maioria dos estudantes, na assembleia geral no Liceu Camões, derrubou a diretoria por considerar ingerente a intervenção do Estado Novo sobre a CEI e igualmente descontentes com a má gestão orçamental. Considera-se que a partir daí, os órgãos da CEI passaram a respirar ares democráticos.[7]

Desde a queda da gestão de Mano de Mesquita, o Estado Novo apercebeu-se da dificuldade de controlar a Casa dos Estudantes do Império; a CEI sempre recusou frontalmente a tutela política do regime salazarista. Dado isto, a CEI acabou por desempenhar um papel muito forte por um pensamento comum e uma consciencialização política das elites das colónias portuguesas.[7] Isto foi possível graças à forte proximidade da CEI com o Partido Comunista Português (PCP) e com o Movimento de Unidade Democrática (MUD), que acabou por cooptar estes jovens da colónia e da própria metrópole para o campo da oposição política ao Estado Novo.[5] Para além da ação política, o CEI foi um terreno muito fértil para a literatura das então colónias portuguesas,[8] tendo abrigado a José Craveirinha, Sócrates Dáskalos, Antero de Abreu e Urbano Fresta, David e José Bernardino, Alexandre Dáskalos, Alda Lara, Carlos Ervedosa, Fernando Mourão, Fernando Costa Andrade, entre outros.

Berço do Movimento Anticolonial[editar | editar código-fonte]

A CEI acabou por fomentar a ação política da parte dos estudantes negros e mestiços presentes na metrópole;[9] tendo sentido a necessidade de criar uma instituição própria, à margem da CEI, deram origem ao Centro de Estudos Africanos, em Lisboa, em 1954.[10]

Posteriormente, alguns desses jovens formaram o Movimento Anticolonial (MAC), que colocou-se num plano político de oposição frontal ao regime colonial português. Do MAC saíram alguns dos fundadores e dos dirigentes de certos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas, entre eles:[11]

Membros por nacionalidade[editar | editar código-fonte]

Segundo a listagem do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a Casa dos Estudantes do Império teve os seguintes números de afiliados por nacionalidade:[11]

  • Portugal: 821 estudantes
  • Sem nacionalidade declarada: 497 estudantes
colónias
ex-colónias
outros países, colónias e regiões

Referências

  1. «Casa dos Estudantes do Império». Revista Eletrónica Disruptiva. Consultado em 4 de agosto de 2017 
  2. Ramalho, Vítor. «Casa dos Estudantes do Império». União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas. Consultado em 4 de agosto de 2017 
  3. Vitor Ramalho. «Casa dos Estudantes do Império». UCCLA. Consultado em 26 de abril de 2023 
  4. Gonçalves, Jonuel José (2013). «1943 em Angola». Universidade de Brasília. Revista Perspetivas do Desenvolvimento: Um enfoque multidimensional. 1 (1) 
  5. a b c Pimenta, Fernando Tavares (2008). «Representações políticas da cultura colonial dos brancos de Angola» (PDF). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. Revista Estudos do Século XX (8): 293-304. ISSN 1645-3530. doi:10.14195/1647-8622_8_19 
  6. Castelo, Cláudia (2010). «A Casa dos Estudantes do Império: Lugar de memória anticolonial». Lisboa: Centro de Estudos Africanos do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. Atas do 7.º Congresso Ibérico de Estudos Africanos – 50 anos das independências africanas: Desafios para a modernidade (9) 
  7. a b Ferreira, Pedro (2013). «Casa dos Estudantes do Império: Pelo regime e contra o regime». Centro de Investigação e Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Atas do I Congresso de História Contemporânea 
  8. Margarido, Alfredo (dezembro de 2005). «A Sombra dos Moçambicanos na Casa dos Estudantes do Império» (PDF). Revista Latitudes (25): 14-16 
  9. Jr, Gabriel Baguet (23 de maio de 2015). «Colóquio Internacional revisita a história da Casa dos Estudantes do Império». Portal de Angola 
  10. Carlos, João (13 de outubro de 2012). «Casa dos Estudantes do Império: berço de líderes africanos em Lisboa». Deutsche Welle 
  11. a b «Listagem dos associados da Casa dos Estudantes do Império, existentes na Torre do Tombo, em Lisboa». União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas. Consultado em 20 de maio de 2017 
  12. Vieira, Sérgio (8 de setembro de 2013). «Recapitulando vivências: A Casa dos Estudantes do Império». Jornal Domingo 

Ver também[editar | editar código-fonte]